quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O Passado e o Futuro ambos residem no presente

O Passado e o Futuro ambos residem no presente

Quando pensamos sobre o passado, sentimentos de lamentos ou vergonha podem surgir. Quando pensamos sobre o futuro, sentimentos de desejo ou medo podem vir a tona. Mas todos os sentimentos surgem no momento presente e todos eles afetam o momento presente. A maioria do tempo, seu efeito não contribui para nossa felicidade ou alegria. Temos que aprender como encarar estes sentimentos. A principal coisa que precisamos lembrar é que o passado e o futuro estão ambos no presente e se tomarmos conta do momento presente então também transformaremos o passado e o futuro.

Como podemos transformar o passado? No passado podemos ter dito ou feito algo destrutivo ou que possa ter ferido alguém e agora lamentamos. De acordo com a psicologia budista, lamento é uma “emoção indeterminada”. Isto significa que pode ser construtiva ou destrutiva. Quando sabemos que algo que dissemos ou fizemos causou dano, podemos fazer surgir uma mente de arrependimento, prometendo que no futuro não repetiremos o mesmo erro. Neste caso, nosso sentimento de lamento é saudável. Se, por outro lado, o sentimento de lamento continua a nos perturbar, tornando impossível que nos concentremos ou qualquer outra coisa, nos tirando toda paz e alegria de nossas vidas, então este sentimento de lamento tem um efeito não saudável.

Quando o lamento se torna não saudável, deveríamos inicialmente distinguir se a causa estava baseada em algo que fizemos ou dissemos ou em algo que deixamos de dizer ou fazer. Se no passado, dissemos ou fizemos algo destrutivo, podemos chamar isso de um “erro de ação”. Dissemos ou fizemos algo com falta de plena atenção, e isso causou dano.

Às vezes cometemos um “erro de omissão”. Causamos dano por não dizer ou fazer o que precisava ser feito ou dito, e isto nos trouxe lamento e tristeza. Nossa falta de plena atenção estava presente e seus resultados ainda estão presentes. Nossa dor, vergonha e lamento são uma parte importante desse resultado. Se observarmos o presente profundamente e tomarmos conta dele, podemos transformá-lo. Fazemos isso por meio da plena consciência, determinação, ações corretas e fala correta. Tudo isso acontece no momento presente. Quando transformamos o presente desta maneira, também transformamos o passado e ao mesmo tempo, construímos o futuro.

Se dissermos que tudo está perdido, tudo está destruído ou que o sofrimento já aconteceu, nos não estamos vendo que o passado se tornou o presente. É claro que o sofrimento já foi causado e as feridas desse sofrimento podem tocar exatamente na nossa alma, mas ao invés de lamentarmos ou sofrermos pelo que fizemos no passado, deveríamos tomar conta do presente e transformá-lo. Os traços de uma seca ruim só podem ser apagados por uma generosa chuva e ela só pode cair no momento presente.

No budismo o arrependimento é baseado no entendimento que a ação errada se origina na mente. Há um gatha do arrependimento:

Todas as ações errôneas surgem por causa da mente.
Se a mente é transformada, podem as ações errôneas continuarem?
Depois do arrependimento, meu coração está leve
Como a nuvem flutuando livre no céu.

Devido à nossa falta de plena consciência, como nossa mente estava obscurecida pelo desejo, raiva e ciúme, agirmos de forma errada. Isto é o que significa “Todas as ações errôneas surgem por causa da mente“. Mas se as ações errôneas surgem da nossa mente, podem também serem transformadas pela nossa mente. Se nossa mente é transformada, então os objetos percebidos pela nossa mente também serão transformados.

Tais transformações estão disponíveis se soubermos como retornar ao momento presente. Uma vez que tivermos transformado nossa mente, nosso coração ficará tão leve como uma nuvem flutuante e nos tornaremos fonte de paz e alegria para nós mesmos e para os outros. Ontem talvez por causa de alguma bobagem ou raiva dissemos algo que fez nossa mãe triste. Mas hoje nossa mente está transformada e nosso coração leve, e podemos ver nossa mão sorrindo para nós, mesmo se ela não está mais viva. Se pudermos sorrir dentro de nós mesmos, nossa mãe também poderá sorrir conosco.

Se pudermos transformar nosso passado, poderemos também transformar o futuro. Nossas ansiedades e temores do futuro fazem o presente escuro. Não há dúvidas que o futuro será escuro também, porque o futuro é feito do presente. Tomar conta do presente é a melhor forma de tomar conta do futuro. Às vezes, como ficamos tão preocupados com o que acontecerá no dia seguinte, nos reviramos a noite toda incapazes de dormir. Preocupamo-nos que se não dormirmos durante a noite ficaremos cansados no próximo dia e incapazes de atuar com o melhor de nossa habilidade.

Quanto mais nos preocupamos, mais difícil é para dormirmos. Nossas preocupações e medos do futuro destroem o presente. Mas se pararmos de pensar sobre o amanhã e apenas ficarmos na nossa cama e seguirmos nossa respiração, realmente desfrutando da oportunidade que temos de descansar, não apenas iremos saborear os momentos de paz e alegria sob os cobertores quentes, mas também iremos cair no sono facilmente e naturalmente. Este tipo de sono é uma grande ajuda para fazer do dia seguinte um grande sucesso.

Quando ouvimos que as florestas do planeta estão doentes e morrendo rapidamente, podemos nos sentir ansiosos. Estamos preocupados com o futuro porque estamos conscientes do que está acontecendo no presente momento. Nossa consciência pode nos motivar a fazer algo para parar a destruição de nosso ambiente. Obviamente, nossa preocupação pelo futuro é diferente dos temores e ansiedade que apenas nos drenam forças. Temos que saber como desfrutar a presença das árvores bonitas e saudáveis de forma a sermos capazes de fazer alguma coisa para protegê-las e preservá-las.

Quando jogamos uma casca de banana no lixo, se formos plenamente atentos, saberemos que a casca se tornará composto e renascerá como um tomate ou uma salada de alface em apenas poucos meses. Mas se jogarmos uma sacola de plástico no lixo, graças a nossa consciência, saberemos que a sacola não se tornará um tomate ou uma salada de alfaces muito rapidamente. Alguns tipos de lixo precisam de 400 ou 500 anos para se decompor. O lixo nuclear precisa de 250.000 anos antes de deixar de ser perigoso e retornar ao solo. Se vivermos no momento presente de forma desperta, tomando conta do momento presente com todo nosso coração, não faremos coisas que nos destruirão no futuro. Esta é a forma mais concreta de fazer o que é construtivo no futuro.

Na nossa vida diária, podemos também produzir venenos para nossas mentes e estes venenos destruirão não apenas a nós mas também àqueles que vivem conosco, no presente e no futuro também. Budismo fala sobre três venenos: desejo, aversão e ignorância. Adicionalmente há outros venenos cuja capacidade de ferir é grande: ciúme, preconceito, orgulho, suspeita e teimosia.

Na nossa relação diária conosco mesmos e nosso ambiente qualquer um destes venenos pode se manifestar, queimar e destruir nossa paz e alegria, assim como a paz e alegria daqueles ao nosso redor. Estes venenos podem persistir e poluir nossas mentes, causando amargas conseqüências no futuro.

Portanto viver no momento presente é também aceitar e encarar estes venenos assim que surgirem, manifestarem e retornarem ao inconsciente e praticar a meditação de observação para transformá-los. Esta é uma prática budista. Viver no momento presente é também ver as coisas saudáveis e maravilhosas de forma a nutri-las e protegê-las. Felicidade é o resultado direto de encarar as coisas e ficar em contato. Esta felicidade é o material do qual um lindo futuro é manufaturado.


(Do livro “Our appointment with life”– Thich Nhat Hanh)
(Traduzido por Leonardo Dobbin)
Comente esse texto em
http://sangavirtual.blogspot.com

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O Faisão

O Faisão

No sutra das cem parábolas, o Buda conta uma história sobre palavras e conceitos. Um homem tolo ficou doente e quando o médico veio vê-lo, ele disse que apenas faisão poderia curar sua doença. Depois que o médico saiu, o paciente repetiu a palavra “faisão” por horas e horas e dia após dia. Meses se passaram, mas ele ainda não tinha ficado curado. Um dia, um amigo veio visitá-lo e ouvindo o homem repetir a palavra “faisão” repetidas vezes, perguntou a ele o porquê.

O homem doente disse ao amigo o que o médico tinha dito e, com pena dele, seu amigo pegou um lápis e desenhou um faisão. Ele mostrou ao homem tolo e lhe disse, “É com isto que um faisão se parece. Você tem que comer isto se quiser curar sua doença. Apenas repetir a palavra ‘faisão’ não é suficiente”.

Assim que o amigo saiu, o homem tolo colocou o desenho do faisão na sua boca, mastigou e engoliu. Por não conseguir um bom resultado com isso, ele contratou um artista que desenhou centenas de outros faisões e ele mastigou e engoliu todos eles. Mas sua doença apenas piorava e finalmente ele entrou em contato com o médico novamente.

Quando o médico viu o que havia acontecido, ficou com muita pena. Ele pegou a mão do homem tolo e foi com ele no mercado. Lá compraram dois faisões, ele acompanhou o homem até a sua casa, o ajudou a preparar a refeição e pediu ao homem para comer na sua frente. Depois disso o homem tolo ficou curado.

Quando ouvimos esta história podemos pensar como o homem era incrivelmente estúpido. Mas quando olhamos com maior profundidade, podemos ver que nós mesmos não somos muito melhores. Como nos falta inteligência e habilidade, estudamos o Dharma e o discutimos por diversão ou simplesmente para nos exibirmos. Não estamos determinados o suficiente para nos libertarmos dos nossos sofrimentos mais profundos. Permanecemos apegados a palavras e idéias, tanto nos nossos estudos quanto na nossa prática. Pode também faltar inteligência e habilidade na maneira como contamos nossas respirações, praticamos a meditação da bondade amorosa ou recitamos mantras. Podemos ficar presos na forma. Não é fácil fazer surgir entendimento desperto.

Os ensinamentos do Buda não nos são oferecidos como visões ou noções para nos agarrarmos, mas como instrumentos de prática. Se ficarmos presos em visões e noções perderemos os verdadeiros ensinamentos. O Sutra “Conhecendo a melhor maneira de segurar uma cobra” (*) é um tipo de ensino de plena consciência. Ele nos lembra de sermos cuidadosos, atentos e abertos ao recebermos os ensinamentos do Buda, entendendo-os de forma que possamos fazer uso deles de forma a nos transformar e nos ajudar a ter mais paz, iluminação e liberdade.

Praticamos para ter alegria e felicidade. Praticamos para trazer alívio para uma situação difícil. E quando a plena consciência é poderosa o suficiente, nossa concentração será significativa e poderá nos ajudar a ter insight, entendimento e sabedoria que podem nos libertar da dor, lamento e medo. O propósito último da prática budista é ganhar insight de forma a ter libertação das nossas aflições – nosso medo, raiva, desejo e desespero. Trazer alívio é bom, sofremos menos, mas o problema ainda permanece.

Apenas quando temos insight poderemos verdadeiramente ser libertados. No budismo falamos de emancipação ou salvação através do insight, não por graça, apesar de o insight ser uma espécie de graça. Na aparência parece ser algo contraditório, mas se olharmos em profundidade, veremos que o insight é um tipo de graça – o maior tipo de graça, porque nos ajuda a nos libertar. O Buda disse que se não formos atentos, se não trouxermos todo o nosso coração e mente, todo o nosso ser para o estudo dos sutras e escuta do Dharma, poderemos entendê-los de uma maneira errada. A libertação só é possível quando somos capazes de corrigir nossas impressões.
Ensinamentos, idéias são como um fósforo. O fósforo gera a chama, que é o insight. Um ensinamento, uma noção, não é insight. Mas se praticarmos, podemos produzir o insight vivo, a sabedoria viva. Muitos de nós, incluindo muitos estudiosos budistas ficam presos a palavras e conceitos. Apegamos-nos a palavras, doutrinas, ensinamentos e não somos livres, nos tornamos dogmáticos. Mas uma vez que temos insight, ele queima nossas idéias e noções, assim como a chama queima o fósforo que lhe deu vida.

Nunca deveríamos considerar qualquer ensinamento ou ideologia como a verdade absoluta, são apenas meios de ganhar insight. Não deveríamos matar ou ser mortos por causa de uma idéia. Se nos tornamos dogmáticos, poderemos nos tornar ditadores, querendo que todos aceitem o que dizemos, acreditamos que temos a verdade e quem não concorda conosco é nosso inimigo.

Isto cria mais guerra, conflito e discriminação. A maioria das guerras nasceu do fanatismo a religiões ou ideologias. Este ensinamento do Buda - desapego a visões - é uma prática profunda de paz. Nós estamos prontos para soltar nossa visão de forma a ganhar insight. Este também é o espírito da ciência. Se um cientista fica preso a uma descoberta e pensa que é a verdade absoluta, não tem esperança de achar algo mais profundo, algo superior. Temos que queimar todas as noções para que o insight fique presente. Um verdadeiro praticante nunca é dogmático, nunca se apega a idéias e noções, mas faz uso delas para produzir insights, a visão correta.

O sutra “Conhecendo a melhor maneira de segurar uma cobra” nos lembra que práticas como os Três Selos do Dharma – impermanência, não-eu e nirvana – são úteis, com a condição que você saiba como aprendê-las. Caso contrário, estas noções se tornam muito perigosas e uma vez que você é capturado por elas, é muito difícil sair. Há muitos budistas que estão presos a idéias, palavras e conceitos. Eles perderam o budismo, apesar de se dizerem verdadeiros budistas. Este sutra é um grande ensino de plena consciência para todos nós, nos lembrando para termos cuidado, sermos abertos e não sermos dogmáticos e com a mente estreita de forma de termos uma chance de entender e receber o verdadeiro ensinamento do Buda.

Os ensinamentos da impermanência, não-eu e nirvana são comuns a todas as escolas de budismo. Estes ensinamentos são suficientemente profundos. Se praticarmos inteligentemente, poderemos usar estas noções para ganhar o insight que precisamos. Penso que este é o grande presente do Buda. Ser capaz de receber ou não depende de cada um de nós.

Budismo não é uma filosofia ou uma descrição da realidade. Budismo é apenas um conjunto de dispositivos, meios hábeis que nos ajudam a praticar e ganhar o insight que precisamos para nossa libertação e para nos soltar de nossas aflições. Se pudermos ajeitar nossa vida para ficaremos menos ocupados, teremos uma chance maior de aprofundarmos nosso entendimento do Dharma e o colocar em prática.

No budismo dizemos: a libertação é possível através do insight. Impermanência, não-eu e nirvana são como ferramentas nos dadas para limparmos o terreno e plantar a vegetação. A ferramenta não é para ser colocada no altar para adoração, tem que ser usada. O sutra “Conhecendo a melhor maneira de segurar uma cobra” é um lembrete gentil, mas efetivo que os ensinamentos do Buda são ferramentas maravilhosas para nos ajudar a nos trazer mais fundo no coração da realidade.
extraido de
http://www.viverconsciente.com/textos/o_faisao.htm
(Do livro “Thundering Silence”– Thich Nhat Hanh)
(Traduzido por Leonardo Dobbin)
Comente esse texto em
http://sangavirtual.blogspot.com
(*) Para maiores informações sobre o sutra leia o livro Thundering Silence de Thich Nhat Hanh

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Thich Nhat Hanh

As Catorze Práticas da Plena Consciência


Do Mestre Zen Thich Nhat Hanh




1. Não idolatrar nenhuma doutrina, teoria, seja ela qual for, incluindo o budismo. Os sistemas de pensamento budistas devem ser considerados como guias para a prática e não como a verdade absoluta.

2. Não pensar que se possui um saber imutável ou a verdade absoluta. Há que evitar a estreiteza da mente e o apego aos pontos de vista pessoais. Aprender a praticar a via do não apego de maneira a permanecer aberto aos pontos de vista dos outros. A verdade só pode ser encontrada na vida e não nos conceitos. Há que estar disponível para continuar a aprender ao longo de toda a vida e a observar a vida em si mesmo e no mundo.

3. Não forçar os outros, incluindo as crianças, a adoptar os nossos pontos de vista seja por que meios forem: autoridade, ameaça, dinheiro, propaganda ou educação. Respeitar as diferenças entre os seres humanos e a liberdade de opinião de cada qual. Saber, no entanto, utilizar o diálogo para ajudar a renunciar ao fanatismo e à estreiteza do espírito.

4. Não evitar o contacto com o sofrimento nem fechar os olhos diante dele. Não perder a plena consciência sobre a existência do sofrimento no mundo. Encontrar meios de aproximação para com os que sofrem, seja mediante contactos pessoais, visitas, imagens, sons. Despertar e despertar os outros para a realidade do sofrimento no mundo.

5. Não acumular dinheiro nem bens quando milhões de seres sofrem de fome. Não converter a glória, o proveito, a riqueza ou os prazeres sensuais na finalidade da vida. Viver simplesmente e compartir o tempo, a energia e os recursos pessoais com os que necessitam.

6. Não conservar a cólera ou o ódio. Aprender a examinar e a transformar a cólera e o ódio quando ainda não são mais que sementes nas profundidades da consciência. Ao manifestar-se a cólera e o ódio, devemos focar a atenção na respiração e observar de modo penetrante a fim de ver e compreender a natureza desta cólera ou ódio, assim como a natureza das pessoas que se supõe serem a sua causa. Aprender a ver os seres com os olhos da compaixão.

7. Não se perder, deixando-se levar pela dispersão ou pelas circunstâncias envolventes. Praticar a respiração consciente e focar a atenção no que está a acontecer neste instante presente. Entrar em contacto com aquilo que é maravilhoso, pleno de vigor e de frescura. Semear em si mesmo sementes de paz, de alegria e de compreensão de maneira a favorecer o processo de transformação nas profundidades da consciência.

8. Não pronunciar palavras que possam semear a discórdia e provocar a ruptura da comunidade. Mediante palavras serenas e de actos apaziguadores, fazer todos os esforços possíveis para reconciliar e resolver todos os conflitos, por pequenos que sejam.

9. Não dizer falsidades para preservar o interesse próprio ou para impressionar os outros. Não proferir palavras que semeiem a divisão e o ódio. Não difundir notícias sem ter a certeza de que são seguras. Falar sempre com honestidade e de maneira construtiva. Ter a coragem de dizer a verdade sobre as situações injustas mesmo que a nossa própria segurança fique ameaçada.

10. Não utilizar a comunidade religiosa para o interesse pessoal nem a transformar em partido político. A comunidade em que vivemos deve, contudo, tomar uma posição clara contra a opressão e a injustiça e esforçar-se por mudar a situação sem se envolver em conflitos partidários.

11. Não exercer profissões que possam causar dano aos seres humanos ou à natureza. Não investir em companhias que explorem os seres humanos. Eleger uma ocupação que ajude a realizar o ideal próprio de vida com compaixão.

12. Não matar. Não deixar que outros matem. Utilizar todos os meios possíveis para proteger a vida e prevenir a guerra. Trabalhar para o estabelecimento da paz.

13. Não querer possuir nada que pertença a outrem. Respeitar os bens dos outros, mas impedir qualquer tentativa de enriquecimento à custa do sofrimento de outros seres vivos.

14. Não maltratar o corpo. Aprender a respeitá-lo. Não o considerar unicamente como um instrumento. Preservar as energias vitais (sexual, respiração e sistema nervoso) através da prática da Via. A expressão sexual não se justifica sem verdadeiro amor e sem compromisso. Em relação às relações sexuais, tomar consciência do sofrimento que podem causar no futuro a outras pessoas. Para assegurar a felicidade dos outros há que respeitar os seus direitos e compromissos. Estar plenamente consciente das suas próprias responsabilidades na hora de trazer ao mundo novos seres. Meditar sobre o mundo a que trazemos estes seres.




Tradução da versão espanhola praticada em Jiko-An (Centro Zen em Sierra Nevada, Espanha)


fonte: http://budadharma.paginas.sapo.pt/praticas.htm

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Paixões negativas e suas consequências


Três tipos de paixões negativas e suas consequências



[31] o Buda disse ao Bodhisattva Maitreya e aos devas e humanos, “A virtude e sabedoria dos shravakas e bodhisattvas na terra de Amitayus é indescritível. A sua terra é sublime, ditosa, serena e pura. Porque não haveis de praticar o bem diligentemente, reflectir na naturalidade da Via e perceber que ela está acima de todas as discriminações, presente sem limites? Cada um de vós deve fazer um grande esforço para a alcançar. Lutai para escapar do Samsara e nascer na Terra de Suprema Felicidade. Então, as causas dos cinco planos negativos terão sido destruídas, desaparecerão naturalmente e assim podereis progredir sem entraves na vossa busca da Via. A Terra Pura é fácil de alcançar, mas muito poucos o conseguem. Não rejeita ninguém, mas atrai os seres natural e infalivelmente. Porque não abandonais os assuntos mundanos e vos esforçais por entrar na Via? Se o fizerdes, obtereis uma vida infinitamente longa e de felicidade sem limites.

“As pessoas do mundo, de fraca virtude, lutam por assuntos que não são urgentes. No meio da maldade abjecta e de aflições extremas, afadigam-se penosamente pelas suas vidas. Quer sejam nobres ou corruptos, ricos ou pobres, novos ou velhos, homens ou mulheres, todos se preocupam com as suas posses e fortuna. Nisto não existe diferença entre o rico e o pobre; ambos têm as suas ansiedades. Com desânimo e tristeza crescentes, acumulam pensamentos de angústia ou, arrastados por desejos imperiosos, correm como loucos por todas as direcções e não têm tempo para descanso ou paz.

“Se, por exemplo, possuem campos, preocupam-se com eles. Estão também ansiosos acerca dos seis tipos de animais domésticos, tais como vacas e cavalos, acerca dos seus servos e servas, de dinheiro, bens, roupa e mobília. Com problemas crescentes eles suspiram repetidamente e a sua ansiedade aumenta e aterroriza-os. Infortúnios súbitos podem cair sobre eles: todas as suas posses podem ser destruídas pelo fogo, levadas por inundações, roubadas por ladrões ou tomadas por adversários ou credores. Então, uma dor lancinante aflige-os e perturba incessantemente os seus corações. A raiva apodera-se da sua mente, mantém-nos em constante agitação e apertando a suas garras, endurece os seus corações e nunca os abandona.

“Quando as suas vidas acabam em tais condições agonizantes, têm de deixar tudo e todos para trás. Mesmo nobres e homens de fortuna têm estas preocupações. Com muita ansiedade e medo suportam estas tribulações. irrompendo em suores frios ou febres sofrem uma dor ininterrupta.

“Os pobres e desfavorecidos estão constantemente desamparados. Se, por exemplo, não têm terras, são infelizes e desejam-nas. Se não têm nenhum dos seis tipos de animais domésticos, tais como vacas e cavalos, ou se não têm servos ou servas, dinheiro, fortuna, roupas, comida ou outros bens, são infelizes e querem também tudo isso. Se possuem algumas destas coisas, outras podem faltar. Se têm isto, não têm aquilo e assim desejam possuir tudo. Mas, mesmo que por qualquer acaso venham a possuir tudo isso, será brevemente destruído ou perdido. Então, deprimidos e desgostosos, lutam para obterem de novo essas coisas, o que pode não ser possível. Cismar nisto nada resolve. Exaustos física e mentalmente, tornam-se inquietos em todos as suas acções e a ansiedade persegue-os. Irrompendo em febres e suores frios, sofrem dor ininterrupta. Essas condições podem resultar na perda súbita das suas vidas ou numa morte prematura. Como não praticaram qualquer bem em particular, não seguiram a Via nem agiram virtuosamente, quando morrem, partem sozinhos para um mundo inferior. Ainda que estejam destinados a diferentes estados de existência, nenhum deles entende a lei do karma que para aí os envia.

"As pessoas do mundo, pais e filhos, irmãos e irmãs e outros membros da família e parentes, devem respeitar-se e amar-se mutuamente, abstendo-se de ódio e inveja. Devem partilhar coisas com os outros e não serem avarentos ou miseráveis, falar sempre palavras amigáveis com um sorriso agradável, e não se magoarem uns aos outros.

"Se alguém discorda dos outros e fica irado, por mais pequena que seja a má vontade e a inimizade nesta vida, um tal conflito pode não resultar imediatamente em destruição mútua. Mas a animosidade persistente e a fúria ficam impressas na mente, e deixam assim marcas indeléveis na consciência, de modo que os envolvidos nessas situações vão nascer ao mesmo tempo para se vingarem uns dos outros.

"Além disso, no meio dos desejos e apegos mundanos, cada um chega e parte sozinho, nasce e morre sozinho. Após a morte, prossegue para um estado de existência agradável ou desagradável. Cada um recebe as suas consequências kármicas e ninguém pode tomar o seu lugar. De acordo com os seus diferentes actos bons e maus, as pessoas estão destinadas a planos de felicidade ou de sofrimento. Inalteravelmente ligados ao próprio karma, partem sozinhos para esses reinos. Após chegarem ao outro mundo, não podem ver-se uns aos outros. A lei do bem e do mal persegue-os naturalmente e onde quer que possam renascer estão sempre separados pela escuridão e pela distância. Uma vez que os caminhos dos seus karmas são diferentes, é impossível prever quando chegará o momento do seu reencontro e assim é difícil encontrarem-se de novo. Poderão alguma vez voltar a ver-se?

"Porque não abandonam todos os esforços e os enredos mundanos enquanto são fortes e saudáveis, para seguirem o bem e procurarem diligentemente a libertação do Samsara? Se o fizerem, serão capazes de obter vida infinita. Porque não seguem a Via? O que existe neste mundo que possa ser desejado? Que prazer existe que valha a pena procurar?

"Assim as pessoas do mundo não acreditam em seguirem o bem e receberem a recompensa ou em praticarem a Via e alcançarem a Iluminação; tão pouco acreditam na transmigração e na retribuição pelas más acções ou na recompensa pelas boas, e rejeitam totalmente esta noção.

"Além disso, procedendo assim, apegam-se às suas próprias opiniões ainda mais tenazmente. As gerações seguintes aprendem com as anteriores a agir da mesma forma. Os pais, perpetuando as suas noções erróneas, passam-nas aos filhos. Uma vez que os pais e avós desde o princípio não praticaram acções boas, ignoraram a Via, cometeram acções insensatas e foram obscurecidos, insensíveis e duros, os seus descendentes são agora incapazes de perceber a verdade do nascimento-e-morte e a lei do karma. Não têm ninguém que lhes fale acerca disto. Ninguém procura conhecer a causa da sorte ou do infortúnio, da alegria e da miséria, ainda que estes estados resultem desses actos.

"A realidade do nascimento-e-morte é tal que a dor da separação é sentida por todas as gerações. Um pai chora a morte dos seus filhos, os filhos choram a morte dos seus pais. Irmãos, irmãs, maridos e esposas lamentam a morte uns dos outros. De acordo com a lei básica da impermanência, se a morte ocorrerá segundo a ordem de idades ou de forma inversa é imprevisível. Tudo tem de passar. Nada permanece para sempre. Poucos acreditam nisto, mesmo que alguns mestres os exortem. E assim o curso do nascimento-e-morte continua sempre.

"Porque são estúpidas e insensíveis, tais pessoas não aceitam os ensinamentos do Buda; falta-lhes precaução e pensam apenas em satisfazer os seus desejos. São iludidos devido aos seus apegos apaixonados, inconscientes da Via, mal orientados e presas da raiva e da inimizade, decididos a acumularem riqueza e a gratificarem os seus desejos carnais como lobos. E assim, incapazes de seguirem a Via, estão de novo sujeitos a sofrer nos reinos inferiores num ciclo interminável de nascimento-e-morte. Quão miserável e triste isto é!

"Na mesma família, quando um dos pais, filhos, irmãos, irmãs, marido ou mulher morre, os que ficam lamentam a sua perda e o seu apego ao falecido persiste. Profunda tristeza invade os seus corações e, tomados pela dor, pensam desgostosos nos que partiram. Os dias e os anos passam mas a sua angústia continua. Mesmo se alguém lhes ensina a Via, as suas mentes não despertam. Cismando nas queridas memórias dos falecidos, não se livram do apego. Ignorantes, inertes e presas da ilusão, são incapazes de pensar profundamente, de manter a compostura, de praticar a Via com diligência e de se dissociarem dos assuntos mundanos. Conforme erram aqui e ali, chegam ao seu fim e morrem antes de entrarem na Via. Então, que pode ser feito por eles?

"Porque são espiritualmente impuras, profundamente perturbadas e confusas, as pessoas entregam-se às suas paixões. Uma vez mais, muitos são ignorantes da Via e poucos se apercebem disso. Todos se ocupam sem descanso, sem nada em que se possam apoiar. Quer sejam morais ou corruptos, de alta ou baixa condição, ricos ou pobres, nobres ou plebeus, todos estão preocupados com os seus afazeres. Mantêm pensamentos venenosos, criando uma atmosfera de malevolência extensa e carregada. Planeiam actividades subversivas, contrárias à lei universal e aos desejos das pessoas.

"A injustiça e o vício seguem-se inevitavelmente e prosseguem o seu curso sem restrição ou vigilância até o mau karma se acumular até ao limite. Sem estarem à espera do fim das suas vidas, encontram a morte súbita e caem nos reinos inferiores, onde sofrerão tormentos dilacerantes durante muitas vidas. Não conseguirão escapar durante muitos milhares de kotis de kalpas. Que dor indescritível! Como isto é lamentável!"

fonte: http://budadharma.paginas.sapo.pt/amitaba_II.htm

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Admoestação


Posterior admoestação de Shakyamuni



[40] Buda disse a Maitreya, “Explicarei ainda mais. Tais são as aflições dos cinco males neste mundo. (http://apenasconhecimento.blogspot.com/2010/10/cinco-males.html) Os cinco sofrimentos e os cinco fogos surgem deles continuamente. As pessoas não praticam senão o mal e não cultivam raízes de virtude e por isso é natural que vão todas para os mundos negativos. Mesmo nesta vida sofrem de doenças incuráveis. Desejando a morte, não podem morrer; apegados à vida não podem viver. Assim são um exemplo para os outros de como é a retribuição pelos maus actos. Depois da morte, arrastados pelo seu mau karma, caem nos três planos negativos, onde sofrem incontáveis torturas e são entregues às chamas.

“Após um longo tempo nascem de novo neste mundo, apenas para fomentar o ódio uns contra os outros. Ao princípio o ódio é ligeiro mas finalmente desenvolve-se até se tornar um mal maior. Tudo isto é devido ao seu apego ganancioso pela riqueza e pelos prazeres sensuais e pela sua recusa em partilhar com os outros. Além disso, pensamentos obstinados surgem dos desejos nascidos da estupidez. A sua sujeição às paixões negativas nunca será cortada. Na busca do ganho egoísta, não têm possibilidade de reflectirem nos seus males e voltarem-se para o bem. Quando são abastados e prósperos, estão contentes e não aprendem a ser modestos e virtuosos. Por consequência, a sua pompa e poder são de curta duração; quando estes se esgotam têm de sofrer novas aflições. O seu sofrimento está destinado a aumentar nos tempos vindouros.

“A lei do karma opera assim como uma rede que tudo alcança, nas suas malhas apanha inevitavelmente todos os malfeitores. A rede, tecida com fios longos e curtos, cobre o mundo inteiro de alto a baixo, e aqueles nela apanhados sentem-se completamente sem saída e tremem de medo. Esta rede existe desde há muito. Que doloroso e dilacerante!”

O Buda disse a Maitreya, “As pessoas deste mundo são tais como as descrevi. Todos os Budas se compadecem delas e com os seus divinos poderes destroem os seus males e conduzem todas à ventura. Se desistires das noções erróneas, se te firmares nas escrituras e preceitos e praticares a Via sem cometer qualquer falta, serás então finalmente capaz de alcançar o caminho da emancipação e do Nirvana.”

O Buda continuou, “Tu e os outros devas e humanos do presente e as pessoas das gerações futuras, tendo recebido os ensinamentos de Buda, devem reflectir sobre eles e, enquanto as seguem, devem permanecer rectos em pensamento e levar a cabo acções virtuosas. Os governantes devem guiar-se pela moralidade, reger com beneficência e estabelecer que todos devem manter uma conduta própria, prestar reverência aos sábios, respeitar os homens de virtude, ser benevolentes e gentis para com os outros e ter cuidado de não descurar os ensinamentos e admoestações do Buda. Todos devem procurar a emancipação, cortar as raízes do Samsara e os seus vários males e assim aspirarem a escapar dos caminhos de sofrimento imensurável, medo e dor nos três planos negativos.

“Neste mundo, deveis plantar extensamente raízes de virtude, ser benevolentes, dar generosamente, abster-se de quebrar os preceitos, ser paciente e diligente, ensinar as pessoas com sinceridade e sabedoria, fazer acções virtuosas e praticar o bem. Se observarem estritamente os preceitos de abstinência com um pensamento recto e atenção plena, ainda que por apenas uma dia e uma noite, o mérito assim adquirido superará o de praticar do bem na terra de Amitayus durante cem anos. A razão é que nessa Terra de Buda de Espontaneidade e sem esforço, todos os habitantes praticam o bem sem cometer nem um mal da espessura de um cabelo. Se neste mundo praticarem o bem por dez dias e noites, o mérito ultrapassará o de praticarem o bem nas Terras de Buda das outras direcções durante um milhar de anos. A razão é que nas Terras de Buda das outras direcções, muitos praticam o bem e poucos cometem o mal. São terras onde tudo é providenciado naturalmente como resultado dos méritos e virtudes de cada um e assim nenhum mal é cometido. Mas neste mundo muito mal é cometido, e poucos são providos naturalmente; as pessoas têm de trabalhar duramente para obterem o que querem. Uma vez que pretendem enganar-se uns aos outros, as suas mentes são perturbadas, os seus corpos exaustos e eles bebem amarguras e comem dificuldades. Desta forma, de tão preocupados com os seus afazeres não têm um tempo para descansar.

“Com piedade por ti e por todos os outros devas e humanos, aceitei uma grande dor para vos exortar a praticar boas acções. Dei-vos instruções apropriadas às vossas capacidades. Vocês aceitaram sem falhas os meus ensinamentos e praticaram-nos e entraram assim na Via de acordo com a vossa vontade.

Onde quer que o Buda esteja, não existe estado, aldeia ou cidade que não seja abençoada pelas suas virtudes. Todo o país repousa em paz e harmonia.. O sol e a lua cintilam com brilho puro; o vento sopra e a chuva cai na altura certa. Não existem calamidades ou epidemias e assim o país torna-se abastado e o seu povo goza de paz. Os soldados e as armas tornam-se inúteis; as pessoas praticam a benevolência e cultivam diligentemente uma modéstia cortês.”

O Buda continuou, “A minha preocupação com vocês, devas e humanos, é maior que o cuidado dos pais pelos filhos. Tornei-me um Buda neste mundo, destruí os cinco males, removi os cinco sofrimentos e extingui os cinco fogos. Combati o mal com o bem, erradiquei o sofrimento do nascimento-e-morte e permiti que as pessoas obtivessem as cinco virtudes e alcançassem a paz do Nirvana incondicional. Mas depois de eu partir deste mundo, o meu ensinamento declinará gradualmente e as pessoas cairão presas da lisonja e engano e cometerão vários males, resultando no recrudescimento dos cinco sofrimentos e dos cinco fogos. À medida que o tempo for passando, os seus sofrimentos intensificar-se-ão. Uma vez que é impossível descrever isto detalhadamente, fiz apenas um breve resumo.

O Buda disse a Maitreya, “Deve cada um ponderar bem nisto, ensinar e admoestar-se mutuamente e estar de sobreaviso quanto a desrespeitar as instruções do Buda.

O Bodhisattva Maitreya, com as palmas das mãos unidas, disse, “Ó Buda, como é sincera e grave a tua admoestação! As pessoas do mundo são tais como as descreveste. Ó Tathagata, compadeceste-te de nós e protegeste-nos sem discriminação e procuraste libertar-nos a todos do sofrimento. Tendo aceite as repetidas exortações do Buda, serei cuidadoso em não lhes desobedecer.”

fonte: http://budadharma.paginas.sapo.pt/amitaba_II.htm

Cinco Males

Admoestação contra cinco males:



[34] Buda disse a Maitreya, “Se aqui neste mundo forem rectos em pensamento e acção e se abstiverem de praticar o mal, alcançarão então a suprema virtude, insuperável em todas as terras pelas dez direcções. Porque assim é? Devas e humanos nas Terras de Buda praticam naturalmente o bem e raramente cometem o mal e assim é fácil ensiná-los e treiná-los. Uma vez que me tornei um Buda neste mundo, encontro-me agora no meio dos cinco males, dos cinco sofrimentos e dos cinco fogos. Isto é extremamente doloroso para mim. Ensinarei multidões de seres, fazendo-os abandonar os cinco males, evitar os cinco sofrimentos e escapar dos cinco fogos. Treinarei as suas mentes e levá-los-ei a praticar as cinco boas acções, de modo a que adquiram mérito e virtude e alcancem emancipação, longevidade e Nirvana.”

O Buda continuou, “Quais são os cinco males? Quais são os cinco sofrimentos? Quais são os cinco fogos? Qual é a forma de extinguir os cinco males e levar as pessoas a praticar as cinco boas acções de modo a que possam obter mérito e virtude e alcançar emancipação, longevidade e Nirvana?”


1) Primeiro mal



[35] O Buda disse, “Este é o primeiro mal. Devas, humanos e seres menores, incluindo os rastejantes, são inclinados a fazer o mal. Não existe ser que não o seja. Os fortes subjugam os fracos; ferem-se com gravidade e matam-se uns aos outros, todos devoram a sua presa. Sem saberem como praticar o bem, praticam o mal e cometem actos indignos e desregrados. Mais tarde recebem a retribuição, é natural que estejam destinados aos planos negativos. Os semi-deuses mantêm registos dos actos dos transgressores e garantem que sejam punidos. É por isso que alguns são destituídos, corruptos, pedintes, sós, surdos, mudos, cegos, estúpidos, malvados, loucos ou deficientes. Outros são dignos, nobres, abastados, inteligentes ou espertos. Isto é o resultado de bons e meritórios actos de benevolência e do cumprimento dos seus deveres filiais em vidas passadas.

“Neste mundo as prisões são criadas pela lei e aqueles que não as temem e cometem ofensas são mandados para aí como punição. Por mais desesperadamente que tentem escapar, é impossível fazê-lo. Tal é a retribuição neste mundo, mas nas vidas futuras, a punição para esses malfeitores é mais longa e severa. O sofrimento da transmigração através dos planos obscuros é comparável à mais severa e dolorosa punição alguma vez imposta pela lei.

“Assim, através do funcionamento natural do karma, passam por imensuráveis sofrimentos nos três planos negativos. Em transmigrações sucessivas nascem sob formas diferentes; a duração das suas vidas umas vezes é curta outras longa. Os seus seres transitórios, energia vital e consciência transmigram mediante o funcionamento natural do karma. Ainda que cada indivíduo nasça sozinho, aqueles que estão ligados por um karma comum nascem juntos e vingam-se uns dos outros. Assim, esta condição persiste interminavelmente e, até que o efeito do seu mau karma se esgote, não há possibilidade de evitar os seus inimigos. Errando no Samsara, não têm possibilidade de escapar ou de alcançar a emancipação. A dor que têm de suportar é indescritível. Uma vez que esta lei actua naturalmente em toda a parte entre o céu e a terra, mesmo se os bons e maus actos não trazem imediatamente recompensa ou retribuição, terão resultados mais cedo ou mais tarde. A isto chamo o primeiro grande mal, o primeiro sofrimento e o primeiro fogo. Estas aflições são tais que são comparáveis a um grande fogo a queimar as pessoas vivas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtido, alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos plano celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o primeiro grande bem.”


2) Segundo mal



[36] O Buda continuou, "O segundo mal é que as pessoas do mundo - pais, filhos, irmãos, irmãs, membros de uma família, maridos e esposas - não têm princípios morais, infringem as leis, compartam-se com arrogância, cometem actos licenciosos e desregrados, perseguem o seu próprio prazer, divertem-se a seu gosto e enganam-se uns aos outros. Os seus pensamentos contradizem os seus actos; falam sem sinceridade, lisonjeiam outros com intenções traiçoeiras, adulam os outros com palavras astutas, invejam a reputação dos sábios, desrespeitam os virtuosos e apanham as pessoas com meios desonestos.

"Os mestres são insensatos na escolha dos seus servidores, que, explorando a situação, aproveitam qualquer oportunidade para a fraude e o engano. Os governantes iníquos, são enganados pelos ministros e afastam levianamente os subordinados leais e fiéis. Isto é contrário à vontade dos Céus. Os ministros traem os seus governantes, os filhos enganam os pais; irmãos, irmãs, maridos e esposas, familiares e amigos, enganam-se uns aos outros. Guardam ganância, raiva e estupidez e, desejando muitas posses, procuram a sua vantagem pessoal. Todos têm igual coração, quer sejam pessoas de posição elevada e respeitável ou de classes baixas e desprezadas. Levam as suas casas e a si mesmos à ruína e destroem de forma imprudente os seus semelhantes. Ainda que existam familiares, amigos, aldeões, citadinos, grupos de pessoas ignorantes e vulgares a trabalharem em conjunto, todos procuram o seu próprio lucro, fomentando assim a raiva e hostilidade dos outros. Quando as pessoas enriquecem, ficam miseráveis e sem caridade. Apegadas gananciosamente à sua fortuna, afadigam-se de corpo e mente para retê-la. Quando o seu fim chega, não encontram qualquer apoio. Em última instância nascem e partem sozinhos, sem ninguém que os acompanhe. A alegria ou a miséria resultante das acções boas ou más segue-os nas suas próximas vidas. Assim renascem em estados agradáveis ou dolorosos. Mesmo que mais tarde mostrem arrependimento, que benefício pode isso trazer?

“As pessoas do mundo, de mau coração e sem entendimento, odeiam e maltratam as boas pessoas e não lhes têm qualquer respeito. São apegadas a praticar o mal e cometem deliberadamente acções desonestas. Cobiçam sempre a fortuna dos outros e albergam intenções de roubar. Depois de gastarem e esbanjarem o que roubaram a outros, procuram recuperá-lo. Devido às suas próprias motivações ocultas e à sua desonestidade, estudam manhosamente as expressões das faces dos outros. Como são incapazes de pensar, quando as coisas correm mal desanimam com o desgosto.

“Neste mundo existem prisões estabelecidas pela lei onde os transgressores são enviados para serem punidos, de acordo com os seus crimes. Nas suas vidas anteriores nem acreditaram na Via nem cultivaram raízes de virtude. Também nesta vida, se praticaram o mal, os semi-deuses sabem disso e mantêm registo dos seus actos; quando morrem caem nos planos negativos. Assim, devido ao funcionamento natural da lei do karma, existem três planos negativos e inumeráveis sofrimentos através dos quais os malfeitores devem passar, vida após vida, durante muitos kalpas, sem fim à vista. É realmente difícil alcançarem alívio. A dor que têm de sofrer é indescritível. A isto chama-se o segundo grande mal, o segundo sofrimento e o segundo fogo. As aflições são tais que podem ser comparadas a um grande fogo a queimar as pessoas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtidos, alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos plano celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o segundo grande bem.”


3) Terceiro mal



[37] Buda continuou, “Este é o terceiro mal: as pessoas do mundo vivem juntas, habitando este plano entre o céu e a terra, com uma duração de vida limitada. Por um lado, entre os níveis superiores existem pessoas sábias, ricas, honradas, nobres e abastadas. Por outro, entre os níveis mais baixos, existem pessoas pobres, aviltadas, rudes e insensatas. Além disso, existem malfeitores que têm sempre pensamentos viciosos e só se ocupam da sua gratificação pessoal; estão cheios de preocupações, enterrados na luxúria e no apego, sem descanso na sua vida diária, gananciosos e miseráveis e desejosos de possuir aquilo a que não têm direito. Eles procuram mulheres atraentes, comportam-se licenciosamente e cometem actos obscenos com elas, detestam as suas próprias mulheres e frequentam bordéis secretamente. Por conseguinte, depois de dissiparem todos os seus bens, começam a infringir a lei. Formam bandos, iniciam motins, envolvem-se em lutas, atacam ilegalmente e matam pessoas e saqueiam propriedades.

“Alguns têm planos maléficos quanto aos bens dos outros. Como não se dedicam às suas próprias ocupações, obtêm coisas através do roubo. Febrilmente agitados, intimidam e roubam as pessoas para sustentarem as suas próprias mulheres e filhos com os bens assim obtidos. Obedecendo apenas aos ditames das suas paixões, tornam-se viciados em prazeres imorais. Também não respeitam os anciãos do clã, causando assim dor e angústia aos membros e parentes de outras famílias; além disso, não obedecem às leis do Estado.

“Mas esses erros são conhecidos pelos outros e também pelos demónios. O Sol e a Lua reconhecem-nos e os semi-deuses mantêm registos das suas acções. Assim, devido ao funcionamento natural do karma, existem três planos negativos e inumeráveis sofrimentos através dos quais os malfeitores devem passar, vida após vida, durante muitos kalpas, sem fim à vista. É realmente difícil alcançarem alívio. A dor que têm de sofrer é indescritível. A isto chama-se o terceiro grande mal, o terceiro sofrimento e o terceiro fogo. As aflições são tais que podem ser comparadas a um grande fogo a queimar as pessoas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtidos, alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos planos celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o terceiro grande bem.”


4) O quarto mal



[38]Buda continuou, “Este é o quarto mal: As pessoas do mundo não pensam em fazer o bem. Incitam-se uns aos outros a cometer vários tipos de acções negativas - proferem palavras desagradáveis e abusivas, dizem mentiras e envolvem-se em conversas fúteis. Caluniam os outros e causam querelas. Odeiam e invejam os bons homens e arruínam os sábios, enquanto se deleitam na retaguarda. São negligentes para com os pais, depreciam os mestres e anciãos, perdem a confiança dos amigos e são dissimulados. Tendo-se em alta estima, acham-se virtuosos mas agem teimosamente e de forma arrogante, desprezando os outros. Inconscientes do seu próprio mal, nunca se envergonham de si mesmos. Vangloriam-se da sua força física, exigem dos outros respeito e medo. Não querem saber do Céu, da Terra, dos semi-deuses ou do Sol e da Lua, desdenham a prática de qualquer bem. São por isso difíceis de treinar e converter. Tendo-se em alta estima impõe a sua maneira pessoal de ver. Arrogantes e sem medo de nada, assumem sempre uma atitude altiva. Mas os semi-deuses mantêm registo dos seus erros. Talvez haja algum acto meritório nas suas vidas passadas e possam assim contar com o efeito desse pequeno acúmulo de bem. Mas uma vez que cometem o mal de novo nesta vida, a sua reserva de méritos depressa se esgota; as divindades benéficas abandonam-nos, deixam-nos sós e sem ninguém de quem depender. Quando a sua vida acaba, o mal recai sobre eles e força-os, segundo o funcionamento natural do karma, a descer aos planos negativos. Uma vez mais, como dita o registo exacto das suas acções na mão dos semi-deuses, as suas transgressões e ofensas kármicas condena-os ao plano infernal. A retribuição pelo mal vem naturalmente e nada a pode impedir. Têm de ir para os caldeirões vermelhos em brasa, onde os seus corpos são derretidos com o máximo tormento e angústia. Mesmo se nessa altura se arrependem das suas más acções, que benefício terá isso? A lei dos céus segue o seu curso inevitavelmente sem qualquer erro.

“Assim, devido ao funcionamento natural do karma, existem três planos negativos e inumeráveis sofrimentos através dos quais os malfeitores devem passar, vida após vida, durante muitos kalpas, sem fim à vista. É realmente difícil alcançarem alívio. A dor que têm de sofrer é indescritível. A isto chama-se o quarto grande mal, o quarto sofrimento e o quarto fogo. As aflições são tais que podem ser comparadas a um grande fogo a queimar as pessoas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtido, alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos planos celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o quarto grande bem.”


5) O quinto mal



[39] Buda continuou, “Este é o quinto mal: As pessoas do mundo são indecisas e indolentes, relutantes em fazer o bem, sem auto-disciplina e não trabalham afincadamente nas suas ocupações, de modo que as suas famílias e dependentes são levadas a sofrer de fome e frio. Quando repreendidas pelos pais, ripostam zangados e com olhares desdenhosos. Com tais conflitos estão longe da paz; conseguem ser tão violentos e enlouquecidos como inimigos em luta e, como resultado, os pais desejam não ter tido filhos.

“No lidar com os outros são licenciosos e caprichosos, provocam incómodos e problemas a muitos. Mesmo quando moralmente estão em dívida para com outros, negligenciam os seus deveres e não têm qualquer intenção de cumprir as suas obrigações. Sem meios, e levados aos fins mais desesperados, não têm forma de recuperar a sua fortuna. Ainda que sejam ávidos de obter muito lucro e de se apropriarem das riquezas dos outros, gastam o seu dinheiro em prazeres imorais. Conforme isto se torna um hábito, acostumam-se a obter bens ilegalmente e a gastarem a sua riqueza mal adquirida em luxos pessoais; entregam-se ao vinho e à comida abundante, comem e bebem em excesso. Libertinos e quezilentos, envolvem-se em querelas insensatas. Incapazes de compreender os outros, impõe-lhes a sua vontade pela força.

Quando encontram pessoas boas, odeiam-nas e abusam delas. Sem ética nem decoro, não reflectem na sua conduta e por isso são presunçosos e insistentes, recusando-se a seguir os conselhos e avisos dos outros. Não têm consideração pelos familiares, do mais próximo até ao parente em sexto grau, e não têm meios de subsistência. Não olham à benevolência dos pais e não sentem obrigações para com os mestres e amigos. Só pensam em fazer mal; a boca fala continuamente com malícia e o corpo está sempre a praticar o mal. Em toda a vida não fizeram uma única boa acção.

“Além disso, não acreditam nos sábios antigos, nem nos ensinamentos budistas, nem no caminho da prática que conduz à emancipação. Também não acreditam que após a morte se renasce noutro plano de existência, que os bons actos trazem boas recompensas ou que os maus actos trazem consequências negativas. Conspiram para matar um arhat, para causar dissenções na Sangha e pensam mesmo em matar os pais, irmãos, irmãs ou outros familiares. Por esta razão, mesmo os familiares, do mais próximo ao parente em sexto grau, odeiam-nos a ponto de quererem vê-los mortos.

“Estas pessoas do mundo têm todas a mesma mente. São insensatas e ignorantes, sem o conhecimento necessário para saberem de onde nasceram nem para onde vão depois de morrer. Sem humanidade para com os outros nem obediência aos mais velhos, revoltam-se contra o mundo inteiro. No entanto, desejam boa sorte e procuram uma vida longa, apenas para no final encontrarem a morte. Mesmo se alguém os avisa compassivamente, tentando encaminhá-los para pensamentos de bondade, e lhes tenta ensinar que existem naturalmente bons e maus planos no Samsara, não acreditam. Por mais que se tente é impossível. As suas mentes estão fechadas e recusam-se a ouvir os outros ou a compreender os seus ensinamentos. Quando as suas vidas chegam ao fim, o medo e o arrependimento surgem alternadamente. Sem terem praticado anteriormente qualquer bem, enchem-se de remorsos ao atingir o fim. Mas que benefício terá isso então?

“Entre o céu e a terra, os cinco planos são claramente distinguíveis. São vastos e profundos, estendendo-se ilimitadamente. Em resposta às boas ou más acções, seguem-se a alegria ou a miséria. O resultado do karma de cada um tem de ser suportado pelo próprio e ninguém pode tomar o seu lugar. Esta é a lei natural. O infortúnio segue as más acções como retribuição e é impossível de evitar. As boas pessoas fazem boas acções e assim gozam prazer após prazer e prosseguem da luz para mais luz. Os malfeitores cometem crimes e assim sofrem dor após a dor e vagueiam da escuridão para uma escuridão mais funda. Ninguém senão o Buda sabe isto completamente. Mesmo que alguém os avise e ensine, muito poucos acreditam; assim, os ciclos do nascimento e morte nunca param e os maus caminhos continuam interminavelmente. As consequências kármicas de tais pessoas mundanas excedem qualquer descrição detalhada

“Assim, devido ao funcionamento natural do karma, existem três planos negativos e inumeráveis sofrimentos através dos quais os malfeitores devem passar, vida após vida, durante muitos kalpas, sem fim à vista. É realmente difícil alcançarem alívio. A dor que têm de sofrer é indescritível. A isto chama-se o quinto grande mal, o quinto sofrimento e o quinto fogo. As aflições são tais que podem ser comparadas a um grande fogo a queimar as pessoas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtido alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos planos celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o quinto grande bem.”

fonte: http://budadharma.paginas.sapo.pt/amitaba_II.htm

sábado, 23 de outubro de 2010

Os Quarenta e Oito Preceitos Secundários

Os Quarenta e Oito Preceitos Secundários

Então Buda disse aos Bodhisattvas, “Agora que expliquei os Dez Preceitos Maiores( http://apenasconhecimento.blogspot.com/2010/10/os-dez-preceitos-maiores.html)vou falar-vos acerca dos quarenta e oito preceitos secundários.”

1. [Acerca de] Desrespeito para com Mestres e Amigos

Um discípulo de Buda que esteja destinado a tornar-se um imperador, um Rei Sábio Que Faz Girar a Roda ou um funcionário superior, deve primeiro receber os preceitos de Bodhisattva. Estará então sob a protecção de todas as divindades e espíritos, e os Budas ficarão satisfeitos. Assim que tenha recebido os preceitos, o discípulo deve desenvolver uma mente filial e respeitosa. Sempre que encontre um Mestre Mais Antigo, um monge ou um companheiro praticante de conduta e ideias iguais às suas, deve levantar-se e cumprimentá-lo com o máximo respeito. Deve então respeitosamente fazer oferendas aos monges-convidados. Deve estar pronto para penhorar a si mesmo, ao seu reino, cidades ou mesmo família, bem como às suas jóias ou outros pertences. Se, em vez disso, desenvolver em si presunção e arrogância, ilusão ou cólera, recusando levantar-se e cumprimentar o monge-convidado e fazer-lhe oferendas respeitosamente, comete uma ofensa secundária.

2. [Acerca de] Consumir Bebidas Alcoólicas

Um discípulo de Buda não deve intencionalmente consumir bebidas alcoólicas pois estas são fonte de incontáveis ofensas. Se oferece ainda que um copo de vinho a outra pessoa, a retribuição será não ter mãos durante quinhentos renascimentos. Como pode então consumir álcool? De facto, um Bodhisattva não deve encorajar nenhuma pessoa ou qualquer ser senciente a consumir álcool, muito menos consumir ele próprio quaisquer bebidas alcoólicas. Se, em vez disso, ele deliberadamente o faz ou encoraja outros a fazê-lo, comete uma ofensa secundária.

3. [Acerca de] Comer Carne

Um discípulo de Buda não deve deliberadamente comer carne. Não deve comer a carne de qualquer ser senciente. O comedor de carne perde a semente da Grande Compaixão, corta a semente da Natureza de Buda e faz com que os seres [animais ou transcendentais] o evitem. Aqueles que assim procedem são culpados de incontáveis ofensas. Se o discípulo deliberadamente come carne, comete uma ofensa secundária.

4. [Acerca d’] As Cinco Ervas Pungentes

Um discípulo de Buda não deve comer as cinco ervas pungentes – alho, cebolinho, alho porro, cebola e assa-fétida. Isto é válido mesmo se acrescentadas como tempero a outros pratos principais. Assim, se ele deliberadamente as consome, comete uma ofensa secundária.

5. [Acerca de] Não Ensinar o Arrependimento

Se um discípulo de Buda vir qualquer ser violar os Cinco Preceitos, os Oito Preceitos, os Dez Preceitos, outras proibições, ou cometer alguma das Sete Graves Ofensas ou qualquer ofensa que conduza às Oito Adversidades, seja qual for a violação dos preceitos, deve aconselhar o prevaricador a arrepender-se e emendar-se. Se, em vez disso, o Bodhisattva não procede assim mas continua a viver conjuntamente com o prevaricador na mesma assembleia, a partilhar as mesmas oferendas dos leigos, a participar nas mesmas cerimónias Uposattha e a recitar os preceitos - deixando de referir a ofensa dessa pessoa e de a encorajar a emendar-se, o discípulo comete uma ofensa secundária.

6. [Acerca de] Deixar de Solicitar o Dharma ou de Fazer Oferendas

Se um Mestre Mais Antigo, um monge Mahayana ou um irmão praticante vier de longe até ao templo, residência, cidade ou aldeia de um discípulo de Buda, o discípulo deve respeitosamente dar-lhe as boas vindas e visitá-lo. Deve prover todas as necessidades dele em qualquer altura, ainda que isso lhe possa custar três medidas de ouro! Além disso, o discípulo de Buda deve respeitosamente pedir ao mestre visitante que exponha o Dharma três vezes por dia curvando-se perante ele sem qualquer pensamento de ressentimento ou fadiga. Deve estar disposto a sacrificar-se pelo Dharma e nunca deixar de o requerer. Se não proceder desta forma, comete uma ofensa secundária.

7. [Acerca de] Faltar a Ensinamentos do Dharma

Um discípulo Bodhisattva novo na Ordem deve levar consigo cópias dos sutras apropriados ou dos códigos preceituais para qualquer lugar onde esses sutras, comentários ou códigos morais estejam a ser explicados, de forma a ouvir, estudar e inquirir acerca do Dharma. Deve deslocar-se a qualquer ponto, seja a uma casa, debaixo de uma árvore, num templo, nas florestas ou montanhas ou em qualquer outro sitio. Se deixa de proceder assim, comete uma ofensa secundária.

8. [Acerca de] Afastar-se do Mahayana

Se um discípulo de Buda renega os eternos sutras e códigos morais do Mahayana, declarando que não foram proferidos pelo Buda, mas em vez disso segue e observa os dos Dois Veículos e dos não-Budistas iludidos, comete uma ofensa secundária.

9. [Acerca de] Não Tratar dos Doentes

Se um discípulo de Buda vir alguém doente, deve constantemente cuidar das necessidades dessa pessoa como se estivesse a fazer oferendas a um Buda. De todos os oito Campos de Méritos, tratar dos doentes é o mais importante. Um discípulo de Buda deve tomar conta do doente até que este recupere, quer se trate do seu pai, mãe, mestre ou discípulo no Dharma e qualquer que seja o tipo de doença. Se, em vez disso, fica zangado e rancoroso e deixa de o fazer ou se recusa a socorrer doentes ou incapacitados nos templos, cidades e aldeias, florestas ou montanhas ou ao longo dos caminhos, comete uma ofensa secundária.

10. [Acerca de] Guardar Armas Mortais

Um discípulo de Buda não deve guardar armas tais como facas, tacos, setas, lanças, machados ou quaisquer outras armas, nem pode possuir redes, armadilhas ou quaisquer outros engenhos que possam ser usados para matar seres sencientes. Se o fizer deliberadamente comete uma ofensa secundária. *** Os primeiros dez preceitos secundários acabam de ser descritos. Os discípulos de Buda devem estudá-los e observá-los respeitosamente. Serão explicados em detalhe nos próximos capítulos. ***

11. [Acerca de] Servir de Emissário

Um discípulo de Buda não deve, para benefício pessoal ou por más intenções, actuar como emissário de um país em guerra ou fomentar confrontos militares provocando assim o massacre de incontáveis seres. Enquanto discípulo de Buda, não pode sequer movimentar-se entre forças militares, ou de um exército para outro, muito menos actuar como agente voluntário da guerra. Se o fizer deliberadamente, comete uma ofensa secundária.

12. [Acerca de] Envolver-se em Negócios Ilícitos

Um discípulo de Buda não deve deliberadamente negociar em escravos ou vender qualquer ser para servidão, nem deve negociar em animais domésticos, caixões ou madeira para caixões. Não deve envolver-se pessoalmente neste tipo de negócios, muito menos encorajar outros a fazê-lo. De outra forma comete uma ofensa secundária.

13. [Acerca de] Calúnia e Difamação

Um discípulo de Buda não deve, sem causa e com más intenções, caluniar pessoas virtuosas, tais como Mestres Mais Antigos, monges ou monjas, reis, príncipes ou outras pessoas rectas, dizendo que cometeram as Sete Graves Ofensas ou que quebraram os Dez Preceitos Maiores do Bodhisattva. Deve ser compassivo e filial e tratar todas as pessoas virtuosas como se fossem seu pai, mãe, irmãos ou outros parentes próximos. Se em vez disso os calunia e prejudica comete uma ofensa secundária.

14. [Acerca de] Atear Fogos

Um discípulo de Buda não deve, motivado por intenções negativas, atear fogos para limpar florestas e queimar vegetação nas montanhas ou planícies, durante o período que medeia entre o quarto e o nono mês do ano lunar. Esses fogos [são particularmente danosos para os animais durante esse período e podem alastrar] até às casas, povoados e cidades, templos e mosteiros, campos e culturas, bem como até às moradas [invisíveis] de divindades ou fantasmas. Não deve intencionalmente pegar fogo a qualquer espaço onde exista vida. Se o fizer deliberadamente comete uma ofensa secundária.

15. [Acerca de] Ensinar o Dharma Não Mahayana

Um discípulo de Buda deve ensinar a todo e qualquer um, desde discípulos, parentes ou amigos espirituais, até não-Budistas e seres malévolos, como devem receber e cumprir os Sutras e códigos morais do Mahayana. Deve ensinar-lhes os princípios do Mahayana e ajudá-los a desenvolver a Mente Bodhi - bem como as Dez Moradas, as Dez Práticas e as Dez Dedicações, explicando a ordem e a função de cada uma destas Trinta Mentes (níveis da mente). Se, em vez disso, o discípulo, com intenções malévolas e hostis, lhes ensina perversamente os sutras e códigos morais dos Dois Veículos, bem como os comentários de não-Budistas iludidos, comete uma ofensa secundária.

16. [Acerca de] Explicação Infundada do Dharma

Um Bodhisattva Mestre do Dharma deve primeiro, com uma mente sadia, estudar as regras de conduta, sutras e códigos morais do Mahayana e compreender a fundo os seus significados. Depois, sempre que algum noviço venha de longe para pedir instrução, deve explicar-lhe, de acordo com o Dharma, as práticas ascéticas do Bodhisattva, tais como queimar o próprio corpo, braço ou dedo [como um acto extremo na busca da Iluminação Suprema]. Se um noviço não estiver preparado para seguir estas práticas, não é um verdadeiro Bodhisattva. Além disso, um Bodhisattva deve estar disposto a sacrificar o seu corpo e entranhas em benefício de animais esfomeados ou espíritos ávidos [como acto extremo de compaixão na salvação dos seres sencientes]. Depois destas explicações, o Bodhisattva mestre do Dharma deve ensinar os noviços de forma metódica, de modo a despertar a mente deles. Se, em vez disso, em proveito pessoal, se recusa a ensiná-los ou os ensina de modo confuso, citando passagens fora de ordem ou contexto, ou os ensina de um modo que despreze as Três Jóias, comete uma ofensa secundária.

17. [Acerca de] Extorquir Doações

Um discípulo de Buda não deve, para conseguir comida, bebida, dinheiro, bens ou fama, aproximar-se ou fazer-se amigo de reis, príncipes ou altos funcionários e [valendo-se dessas relações] extorquir dinheiro, bens ou outros benefícios. Estas acções são chamadas impróprias, pedidos excessivos ou falta de compaixão e de sentimentos filiais. Um discípulo que proceda assim comete uma ofensa secundária.

18. [Acerca de] Actuar Como um Mestre Desqualificado

Um discípulo de Buda deve estudar as Doze Divisões do Dharma e recitar os preceitos do Bodhisattva frequentemente. Deve observar estritamente estes preceitos nos Seis Períodos do dia e da noite e compreender inteiramente os seus princípios e significado, bem como a essência da natureza de Buda. Se em vez disso, um discípulo de Buda, sem entender nem que seja apenas uma sentença ou um verso dos códigos morais ou as causas e condições relacionadas com os preceitos, faz de conta que os entende, está a enganar-se a si e aos outros. Um discípulo que não compreende nada do Dharma e no entanto actua como transmissor dos preceitos, comete uma ofensa secundária.

19. [Acerca de] Discurso Hipócrita

Um discípulo de Buda não deve, com intenções maliciosas, [bisbilhotar ou espalhar rumores e calúnias,] criar discórdia e desdém entre pessoas virtuosas. Um exemplo é depreciar um monge que observa os preceitos do Bodhisattva, quando ele [a fazer oferendas aos Budas] segura um pequeno queimador de incenso na sua testa. Um discípulo de Buda que assim proceda comete uma ofensa secundária.

20. [Acerca de] Deixar de Libertar Seres Viventes

Um discípulo de Buda deve ter uma mente compassiva e cultivar a prática de libertar os seres sencientes. Deve reflectir desta forma: "Através das eras do tempo, todos os seres masculinos foram já meus pais, todos os seres femininos foram minhas mães. Nasci deles. se agora os abater estaria a matar os meus pais e a comer a carne que já foi minha. Isto é assim porque todos os elementos, terra, água, fogo e ar - os quatro constituintes de toda a vida - foram previamente partes do meu corpo e da minha substância. Devo por isso cultivar sempre a prática de libertar os seres sencientes e incentivar outros a fazer o mesmo - conforme os seres sencientes renasçam para sempre, vida após vida. Se um Bodhisattva vê um animal que esteja prestes a ser abatido, deve procurar um meio de o salvar e de o ajudar a escapar ao sofrimento e à morte. Um discípulo deve sempre ensinar os preceitos do Bodhisattva para proteger os seres sencientes. No dia da morte do seu pai, mãe e irmãos ou no aniversário da morte, deve convidar Mestres do Dharma para explicarem os sutras e preceitos do Bodhisattva. Isto vai gerar méritos e virtudes e ajudar os falecidos quer a renascerem na Terra Pura e a verem o Buda, quer a assegurarem um renascimento num plano humano ou celestial. Se em vez disso um discípulo não o fizer, comete uma ofensa secundária. ***

21. [Acerca de] Ser Violento e Vingativo

Um discípulo de Buda não deve retribuir raiva com raiva, golpe com golpe. Não deve procurar vingança, mesmo que o seu pai, mãe, irmãos ou parentes chegados sejam mortos - nem deve fazê-lo mesmo que o governante ou rei do seu país seja morto. Tirar a vida a um ser para vingar a morte de outro é contrário aos sentimentos filiais [uma vez que estamos todos relacionados por eras de nascimento e morte]. Além disso, não deve manter outros na servidão, muito menos bater-lhes ou desrespeitá-los, criando assim mau karma da mente, fala e corpo, principalmente as ofensas da fala. Muito menos deve cometer deliberadamente as Sete Graves Ofensas. Por isso, se um monge Bodhisattva não tem compaixão e procura deliberadamente vingança, mesmo por uma injustiça cometida para com os seus parentes próximos, comete uma ofensa secundária.

22. [Acerca de] Ser Arrogante e Não Requerer o Dharma

Um discípulo de Buda que tenha abandonado a sua casa recentemente e ainda seja um noviço no Dharma não deve ser presunçoso. Não deve recusar instrução sobre os sutras ou códigos morais da parte de um Mestre do Dharma mais antigo, por causa da sua própria inteligência, instrução mundana, posição elevada, idade avançada, linhagem nobre, grande compreensão, grandes méritos, fortuna e posses, etc. Ainda que esses Mestres sejam de nascimento humilde, novos em idade, pobres ou sofram deficiências físicas, podem mesmo assim ter virtude genuína e compreensão profunda dos sutras e códigos morais. O Bodhisattva noviço não deve julgar os Mestres do Dharma com base nas origens familiares deles e recusar-se a pedir-lhes instrução sobre as verdades do Mahayana. Se assim fizer comete uma ofensa secundária.

23. [Acerca de] Ensinar o Dharma de Má Vontade

Depois da minha extinção, se um discípulo, com uma mente sadia, quiser receber os preceitos do Bodhisattva, pode formular o voto de o fazer perante imagens de Budas e Bodhisattvas e praticar o arrependimento perante essas imagens durante sete dias. Se então tiver uma visão isso é um sinal de que recebeu os preceitos. Caso contrário, deve continuar durante catorze dias, vinte e um dias ou mesmo durante um ano, à espera de presenciar um sinal auspicioso. Depois de presenciar tal sinal, pode, em frente das imagens de Budas e Bodhisattvas, receber os preceitos. Se não presenciou tal sinal auspicioso, mesmo que tenha aceite os preceitos perante as imagens do Buda, não os recebeu de facto. No entanto, a visão de um sinal auspicioso não é necessária se o discípulo receber os preceitos directamente de um Mestre do Dharma que os tenha, por sua vez, recebido. Porque assim é? Porque este é um caso de transmissão de Mestre para Mestre e por isso tudo o que é necessário é uma mente de extrema sinceridade e respeito por parte do discípulo. Se, no raio de 350 milhas, o discípulo não puder encontrar um Mestre capaz de lhe transmitir os preceitos do Bodhisattva, pode tentar recebê-los em frente das imagens de Budas e Bodhisattvas. No entanto, deve presenciar um sinal auspicioso. Se um Mestre do Dharma, com base no seu conhecimento extenso dos sutras e códigos morais do Mahayana ou de qualquer relação de proximidade com reis, príncipes e altos funcionários, se recusar a dar respostas apropriadas ao Bodhisattva estudante que procura o significado dos sutras e dos códigos morais, ou então responder de má vontade, com ressentimento e arrogância, comete uma ofensa secundária.

24. [Acerca de] Não Praticar os Ensinamentos do Mahayana

Se um discípulo de Buda não estudar os sutras e códigos morais do Mahayana assiduamente e não cultivar a visão correcta, natureza correcta e o correcto Corpo do Dharma, é como se tivesse abandonado as Sete Jóias Preciosas a troco de [meras pedras] - textos mundanos e dos Dois Veículos ou comentários não-Budistas. Fazer isso é criar as causas e condições que impedem a Via da Iluminação e cortam a sua própria natureza de Buda. É deixar de seguir o caminho do Bodhisattva. Se um discípulo procede intencionalmente desta forma, comete uma ofensa secundária.

25. [Acerca de] Liderança Inepta da Assembleia

Depois da minha extinção, se um discípulo servir como Abade, Mestre-do-Dharma Mais Antigo, Mestre dos Preceitos, Mestre de Meditação ou Tutor Convidado deve desenvolver uma mente compassiva e estabelecer pacificamente as diferenças no seio da Assembleia - administrando os recursos das Três Jóias, gastando com frugalidade como se os recursos fossem seus. Se em vez disso, criar desordem, provocar querelas e disputas ou dissipar os recursos da Assembleia, comete uma ofensa secundária.

26. [Acerca de] Aceitar Oferendas Pessoais

Quando um discípulo de Buda reside num templo, se um Bodhisattva ou monge visitante chegar aos salões de meditação, aos aposentos dos retiros de Verão, aos aposentos da Grande Assembleia ou às dependências privadas [reservadas para uso da Sangha], o discípulo deve acolher o monge visitante e providenciar-lhe os bens essenciais tais como comida e bebida, alojamento, cama, cadeiras e outros. Se o anfitrião não possuir os meios necessários, deve estar disposto a penhorar a si mesmo ou a cortar e vender a própria carne. Sempre que haja oferendas de refeições ou cerimónias em casa de leigos, os monges visitantes devem receber uma parte igual das oferendas. O Abade deve enviar os monges, quer residentes quer visitantes, a casa do benfeitor por ordem [de acordo com a sua antiguidade sacerdotal ou os seus méritos ou virtudes]. Se apenas for permitido aos monges residentes aceitar o convite e não aos monges visitantes, o Abade comete uma ofensa grave. Não é digno de ser um monge ou um filho de Buda e é culpado de uma ofensa secundária.

27. [Acerca de] Fazer Convites Discriminatórios

Um discípulo de Buda, seja um Bodhisattva monge, leigo ou outro benfeitor, deve, quando convidar monges ou monjas para conduzirem sessões de oração, contactar o templo e informar o monge responsável dizendo: “Convidar os membros da Sangha de acordo com a ordem própria é equivalente a convidar Arhats das dez direcções. Fazer um convite discriminatório ainda que [a um grupo de] quinhentos Arhats ou monges Bodhisattva não criará tanto mérito quanto convidar um monge comum, se essa for a sua vez”. Não existe lugar nos ensinamentos dos Sete Budas para convites discriminatórios. Proceder dessa forma é seguir práticas não-Budistas e contradizer o sentimento filial [para com todos os seres]. Se um discípulo deliberadamente faz um convite discriminatório, comete uma ofensa secundária.

29. [Acerca de] Seguir Modos de Vida Impróprios

Um discípulo de Buda não deve envolver-se no negócio da prostituição, vendendo os favores e encantos de homens e mulheres; também não deve cozinhar para si próprio, moer e triturar grão. Não deve actuar como adivinho ou fisiognomista [determinar as compatibilidades nos noivados], exercer a interpretação de sonhos e actividades afins. Nem deve praticar as artes mágicas, trabalhar como treinador de falcões ou de cães de caça, nem ganhar a vida a compor venenos de cobras mortais, insectos ou de ouro e prata. Estas ocupações são falhas de misericórdia, compaixão e de sentimentos filiais [para com os seres sencientes]. Por isso, se um Bodhisattva se envolver intencionalmente nestas ocupações comete uma ofensa secundária.

30. [Acerca de] Gerir Negócios Para os Leigos

Um discípulo de Buda não deve, com intenções malévolas, caluniar a Jóia Tripla. Não deve fingir respeitá-la e procurar instruções dela, ensinando a Verdade da Vacuidade, quando as suas acções estão no plano da Existência. Além disso, não deve também tratar de assuntos para os leigos ou actuar como intermediário ou apostador - criando assim o karma do apego. Além disso, durante os seis dias de jejum vegetariano, o discípulo deve abster-se completamente de toda e qualquer acção de matar, roubar ou quebrar os preceitos. De outra forma o discípulo comete uma ofensa secundária. *** Um Bodhisattva deve estudar e observar respeitosamente os dez preceitos anteriores. Estão explicados em pormenor no Capítulo respeitante às “Proibições”.

31. [Acerca de] Não Resgatar Clérigos em Conjunto com Objectos Sagrados

Depois do meu passamento, nos períodos malignos que se seguirão, existirão não-Budistas, más pessoas, ladrões e gatunos que hão-de roubar e vender objectos, estátuas e pinturas de Budas, Bodhisattvas e [aqueles a quem é devido respeito tais como] os seus pais ou manuscritos de sutras e códigos morais. Poderão até chegar a vender monges, monjas ou praticantes da Via do Bodhisattva [capturando-os como prisioneiros de guerra] para servir de empregados ou servos de funcionários e outros. Um discípulo de Buda, vendo estes factos lamentáveis, deve desenvolver uma mente compassiva e procurar formas de salvar e proteger todas as pessoas e bens, recolhendo fundos onde tal seja possível para este propósito. Se um Bodhisattva não procede assim, comete uma ofensa secundária.

32. [Acerca de] Ferir Seres Sencientes Um discípulo de Buda não deve vender facas, tacos, arcos, setas ou outros instrumentos letais nem manter escalas ou instrumentos de medida alterados. Não deve aproveitar-se de qualquer alta posição governamental que ocupe para confiscar propriedades e posses nem deve, com má intenção, restringir ou aprisionar outros ou sabotar-lhes o sucesso. Além disso, não deve criar gatos, cães, raposas, porcos ou outros animais como estes. Se intencionalmente os mantém, comete uma ofensa secundária.

33. [Acerca de] Assistir a Actividades Impróprias

Um discípulo de Buda não deve, com más intenções, assistir a lutas entre pessoas ou a confrontos entre exércitos, rebeldes, bandos ou outros. Não deve ouvir os sons de conchas, tambores, chifres, guitarras, flautas, alaúdes, canções ou outras músicas, nem deve tomar parte em qualquer forma de jogo, quer de dados, tabuleiro ou outros. Além disso, não deve praticar a leitura da sina ou adivinhação nem deve ser cúmplice de foras da lei. Não deve participar em nenhuma destas actividades. Se em vez disso participa nelas intencionalmente, comete uma ofensa secundária.

34. [Acerca de] Abandono Temporário da Mente Bodhi Um discípulo de Buda deve observar os preceitos do Bodhisattva todos os dias, quer esteja parado, a andar, sentado ou reclinado. Deve ser decidido quanto a manter os preceitos, com a força de um diamante, o desespero de um náufrago agarrado a uma pequena tábua a tentar atravessar o oceano ou com os princípios do “Bhiksu preso por ervas”. Além disso, deve sempre ter uma fé total nos ensinamentos do Mahayana. Consciente de que todos os seres sencientes são futuros Budas enquanto que os Budas são Budas realizados; deve desenvolver a Mente Bodhi e mantê-la em todo e qualquer pensamento, sem recuo. Se um Bodhisattva tem ainda que um simples pensamento em direcção aos Dois Veículos ou às doutrinas não-Budistas, comete uma ofensa secundária.

35. [Acerca de] Não Fazer Grandes Votos

Um Bodhisattva deve fazer muitos grandes votos - ser filial para com os seus pais e Mestres do Dharma, encontrar bons conselheiros espirituais, amigos e colegas que lhe ensinem os sutras e códigos morais do Mahayana bem como as Dez Moradas, as Dez Condutas, as Dez Dedicações e os Dez Chãos. Deve além disso fazer votos de compreender claramente estes ensinamentos de modo a poder praticar de acordo com o Dharma, mantendo decididamente os preceitos dos Budas. Deve, se necessário, abdicar da sua vida em lugar de abandonar esta decisão ainda que por um único momento. Se um Bodhisattva não faz votos como estes comete uma ofensa secundária.

36. [Acerca de] Não fazer Resoluções

Assim que o Bodhisattva tenha feito estes Grandes Votos, deve manter estritamente os preceitos dos Budas e fazer as seguintes resoluções: 1 - Prefiro saltar para um fogo abrasador, um abismo profundo ou uma montanha de facas do que envolver-me em acções impuras com qualquer mulher, violando assim os sutras e códigos morais dos Budas dos Três Períodos de Tempo. 2 - Prefiro envolver-me cem vezes com uma rede de ferro em brasa do que deixar este corpo, caso quebre os preceitos, usar as roupas oferecidas pelos fieis. - Prefiro engolir uma bola de ferro em brasa ou beber ferro derretido durante centenas de milhares de kalpas a deixar esta boca, caso quebre os preceitos, consumir comida e bebida oferecidas pelos fiéis. - Prefiro deitar-me numa fogueira ou numa rede de ferro em brasa do que deixar este corpo, caso quebre os preceitos, deitar-se em camas ou cobertores oferecidos pelos fiéis. - Prefiro saltar para um caldeirão de óleo a ferver e assar por centenas de milhares de kalpas a deixar este corpo, caso quebre os preceitos, receber abrigo em parques, jardins ou campos dos fiéis. 3 - Prefiro ser pulverizado da cabeça aos pés por um martelo de ferro a deixar este corpo, caso quebre os preceitos, aceitar respeito e reverência dos fiéis. 4 - Prefiro ter os dois olhos arrancados por centenas de milhares de espadas e lanças, a quebrar os preceitos ao olhar para formas belas. [Do mesmo modo, devo manter a minha mente sem ser maculada por sons, fragrâncias, comida ou sensações agradáveis.] 5 - Faço além disso o voto de que todos os seres alcançarão o estado de Buda. Se um discípulo de Buda não faz as grandes resoluções anteriores, comete uma ofensa secundária.

37. [Acerca de] Viajar em Áreas Perigosas

[Como monge], um discípulo de Buda deve levar a cabo práticas ascéticas duas vezes por ano. Deve sentar-se em meditação, de Verão e de Inverno, e fazer um retiro de Verão. Durante esses períodos, deve transportar sempre consigo dezoito bens essenciais tais como um ramo de salgueiro (para escovar os dentes), água de cinzas (para sabonete), os três mantos monásticos tradicionais, um queimador de incenso, uma tigela mendicante, um tapete de sentar, um filtro de água, roupa de cama, cópias de sutras e códigos morais bem como estátuas de Budas e de Bodhisattvas. Quando pratica austeridades ou quando viaja, seja por trinta ou por trezentas milhas, um discípulo de Buda deve trazer sempre consigo os dezoito bens essenciais. Os dois períodos de austeridades vão do 15º dia do primeiro mês lunar até ao 15º dia do terceiro mês e do 15º dia do oitavo mês lunar até ao 15º dia do décimo mês. Durante os períodos de austeridades ele precisa destes dezoito bens essenciais assim como uma ave necessita das suas duas asas. Duas vezes por mês, o noviço Bodhisattva deve assistir a uma cerimónia Uposattha e recitar os Dez Preceitos Maiores e os Quarenta e Oito Preceitos Secundários. Essas recitações devem ser feitas perante imagens de Budas e Bodhisattvas. Se apenas uma pessoa assiste à cerimónia, ele deve então proceder à recitação. Se duas, três, ou mesmo centenas de milhares assistirem à cerimónia, ainda assim apenas uma pessoa deve recitar. Todos devem ouvir em silêncio. O recitador deve sentar-se num nível mais elevado do que o da audiência e todos devem vestir mantos clericais. Durante o retiro de Verão, toda e qualquer actividade deve ser tratada de acordo com o Dharma. Quando praticar as austeridades, o discípulo Budista deve evitar áreas perigosas tais como reinos instáveis, países governados por reis malévolos, terrenos escarpados, lugares ermos e remotos, áreas habitadas por bandidos, ladrões, leões, tigres, lobos, cobras venenosas ou sujeitas a temporais, cheias e fogos. O discípulo deve evitar todas essas áreas perigosas quando praticar as austeridades ou cumprir o retiro de Verão. De outra forma comete uma ofensa secundária.

38. [Acerca de] Ordem dos Lugares na Assembleia. Um discípulo de Buda deve sentar-se no seu lugar próprio na Assembleia. Aqueles que receberam os preceitos antes devem sentar-se primeiro, os que receberam os preceitos depois sentam-se atrás. Quer seja velho, novo, um Bhiksu ou Bhiksuni, uma pessoa de posição, um rei, um príncipe, um eunuco ou um servo, etc., cada um deve sentar-se de acordo com a ordem em que recebeu os preceitos. Os discípulos de Buda não devem ser como os não-Budistas ou as pessoas iludidas que baseiam a sua ordem de sentar na idade ou se sentam sem qualquer ordem - de modo bárbaro. No meu Buda Dharma a ordem dos lugares é baseada na antiguidade de ordenação. Por isso, se um Bodhisattva não seguir a ordem dos lugares de acordo com o Dharma, comete uma ofensa secundária.

39. [Acerca de] Não Cultivar Méritos e Sabedoria

Um discípulo de Buda deve constantemente aconselhar as pessoas a estabelecer mosteiros, templos e pagodes em montanhas e florestas, jardins e campos. Deve também construir stupas para os Budas e edifícios para os retiros de meditação de Inverno e de Verão. Todas as condições necessárias para a prática do Dharma devem ser estabelecidas. Além disso, o discípulo de Buda deve explicar os sutras do Mahayana e os preceitos do Bodhisattva a todos os seres sencientes. Em tempos de doença, calamidades nacionais, guerra eminente ou aquando da morte dos pais, irmãos e irmãs, Mestres do Dharma e Mestres dos Preceitos, um Bodhisattva deve ler e explicar os sutras do Mahayana e os preceitos do Bodhisattva semanalmente durante sete semanas. O discípulo deve ler, recitar e explicar os sutras do Mahayana e os preceitos do Bodhisattva em todas as reuniões de oração, nos seus afazeres e durante períodos de calamidade - incêndios, cheias, tempestades, navios perdidos no mar em águas turbulentas e assolados por demónios. Da mesma forma, deve fazê-lo de modo a transcender o mau karma, os Três Mundos Inferiores, as Oito Dificuldades, as Sete Graves Ofensas, todas as formas de prisão ou o excessivo desejo sexual, raiva, ilusões ou doença. Se um Bodhisattva não procede como indicado, comete uma ofensa secundária. *** O Bodhisattva deve estudar e respeitosamente observar os nove preceitos mencionados acima, tal como é explicado no Capítulo “Altar de Brahma”.

40. [Acerca de] Discriminação na Transmissão dos Preceitos

Um discípulo de Buda não deve ser selectivo ou mostrar preferências na transmissão dos preceitos do Bodhisattva. Toda e qualquer pessoa pode receber os preceitos - reis, príncipes, altos funcionários, Bhiksus, Bhiksunis, leigos, leigas, libertinos, prostitutas, os deuses dos dezoito Paraísos de Brahma ou dos seis Paraísos do Desejo, pessoas assexuadas, bissexuais, eunucos, escravos ou demónios e fantasmas de todos os tipos. Os discípulos de Buda devem ser instruídos a usar mantos e a dormirem em roupas de cor neutra, obtida pela mistura das cores azul, amarelo, vermelho, preto e púrpura, todas juntas. Além disso, as roupas dos monges e monjas Budistas devem ser, em todos os países, diferentes das roupas usadas por pessoas comuns. Antes de alguém ser autorizado a receber os preceitos do Bodhisattva, deve-lhe ser perguntado: “Cometeste alguma das Ofensas Gravosas?” O mestre dos preceitos não deve permitir àqueles que tiverem cometido tais ofensas receber os preceitos. Aqui estão as Sete Ofensas Gravosas: Derramar o sangue de um Buda, matar um Arhat, matar o próprio pai, matar a própria mãe, matar um Mestre do Dharma, Matar um Mestre dos Preceitos ou quebrar a harmonia da Sangha. À excepção daqueles que tenham cometido Ofensas Gravosas, todos podem receber os preceitos. As regras do Dharma da Ordem Budista proíbem monges e monjas de se curvarem perante os pais, familiares, demónios e fantasmas. Quem quer que compreenda as explicações do Mestre dos Preceitos pode receber os preceitos do Bodhisattva. Por isso, se uma pessoa percorre trinta ou trezentas milhas em busca do Dharma e o Mestre dos Preceitos, com uma mente malévola e rancorosa, não lhos confere prontamente, esse mestre comete uma ofensa secundária.

41. [Acerca de] Ensinar com Fins Lucrativos

Se um discípulo de Buda, quando ensina outros e desenvolve a fé deles no Mahayana, descobrir que alguém em particular quer receber os preceitos do Bodhisattva, deve proceder como um mestre e instruir essa pessoa a procurar dois mestres, um Mestre do Dharma e um Mestre dos Preceitos. Estes dois mestres devem perguntar ao candidato se cometeu algum das Sete Ofensas Gravosas nesta vida. Se cometeu não pode receber os Preceitos, se não os cometeu pode receber os Preceitos. Se quebrou algum dos Preceitos Maiores, deve ser instruído a arrepender-se perante estátuas de Budas e de Bodhisattvas. Deve fazê-lo seis vezes por dia e recitar os Dez Preceitos Maiores e os quarenta e Oito Preceitos Secundários, prestando respeito com extrema sinceridade aos Budas dos Três Períodos de Tempo. Deve continuar desta forma até receber uma resposta auspiciosa, que pode ocorrer após sete dias, catorze dias, vinte dias, vinte e um dias ou mesmo um ano. Exemplos de sinais auspiciosos incluem: sentir o Buda afagar a coroa da cabeça do praticante, ver luzes, halos, flores e outros fenómenos raros como estes. Ao contrário de qualquer um dos Preceitos Maiores do Bodhisattva, se o candidato violou algum dos Quarenta e Oito Preceitos Secundários, pode confessar a sua infracção e arrepender-se sinceramente perante monges ou monjas Bodhisattvas. Depois disto, a sua ofensa será erradicada. O Mestre Oficiante, no entanto, deve compreender inteiramente os sutras e códigos morais do Mahayana, os Preceitos Principais do Bodhisattva bem como os secundários, o que constitui ou não uma ofensa, a verdade dos Significados Primordiais bem como os vários estágios da prática do Bodhisattva - as Dez Moradas, as Dez Condutas, as Dez Transferências, os Dez Chãos e a Maravilhosa e Uniforme Iluminação. Deve também saber que tipo e grau de contemplação é necessário para entrar e sair destes estágios e deve estar familiarizado com os Dez Membros da Iluminação bem como com as outras variadas contemplações. Se, sem estar familiarizado com o anterior e, devido a ganância por fama, discípulos ou oferendas, finge entender os sutras e códigos morais, está a enganar-se a si próprio e aos outros. Daí que, se actua intencionalmente como Mestre dos Preceitos, transmitindo os preceitos a outros, comete uma ofensa secundária.

42. [Acerca de] Recitar os Preceitos a Pessoas Malévolas

Um discípulo de Buda não deve, por ganância, recitar os grandes preceitos dos Budas perante aqueles que não os receberam, não-Budistas ou pessoas de opiniões heterodoxas. Com a excepção de reis ou governantes supremos, não deve recitar os preceitos perante essas pessoas. Pessoas que sustentam opiniões heterodoxas e não aceitam os preceitos dos Budas são animalescas por natureza. Não hão-de, em vida após vida, encontrar as Três Jóias. São tão insensíveis como árvores e pedras; não são diferentes de tocos de madeira. Daí que, se o discípulo de Buda recitar os preceitos dos Sete Budas perante essas pessoas, comete uma ofensa secundária.

43. [Acerca de] Pensar em Violar os Preceitos

Se um discípulo de Buda se junta à Ordem com uma fé pura, recebe os correctos preceitos dos Budas, mas desenvolve então pensamentos de violar os preceitos, é indigno de receber quaisquer oferendas dos fiéis, indigno de caminhar no solo da sua própria terra natal e indigno de beber a sua água. Cinco mil fantasmas bloqueiam constantemente o seu caminho, chamando-lhe “Ladrão!” Estes fantasmas seguem-no sempre até à casa das pessoas, povoações e cidades, varrendo as suas pegadas. Todos amaldiçoam um tal discípulo chamando-lhe “Ladrão no interior do Dharma”. Todos os seres sencientes desviam os seus olhos, sem o quererem ver. Um discípulo de Buda que viola os preceitos não é diferente de um animal ou de um toco de madeira. Por isso, se um discípulo viola intencionalmente os correctos preceitos, comete uma ofensa secundária.

44. [Acerca de] Não Honrar Sutras e Códigos Morais

Um discípulo de Buda deve sempre, com concentração, receber, observar, ler e recitar os sutras e códigos morais do Mahayana. Deve copiar os sutras e códigos morais em casca, papel, tecido fino ou tiras de bamboo, não hesitando em usar a sua própria pele como papel, o seu sangue como tinta e a sua medula para a misturar, ou até quebrar os seus ossos para servirem de aparo. Deve usar jóias preciosas, incenso sem preço, flores e outras coisas preciosas para fazer e adornar capas e caixas onde guardar os sutras e códigos morais. Por isso, se não fizer oferendas de acordo com o Dharma, comete uma ofensa secundária.

45. [Acerca de] Não Ensinar os Seres Sencientes Um discípulo de Buda deve desenvolver uma mente de Grande Compaixão. Sempre que entrar em casa de alguém, em aldeias, vilas ou cidades e vir seres sencientes, deve dizer em voz alta, ”Vocês, seres sencientes, devem todos tomar os Três Refúgios e receber os Dez Preceitos (Maiores do Bodhisattva)”. Quando calhar de passar por porcos, cavalos, vacas, ovelhas e outros tipos de animais deve concentrar-se e dizer alto, “Agora sois animais; deveis desenvolver a Mente Bodhi.” Um Bodhisattva, onde quer que vá, seja a escalar uma montanha, entrar numa floresta, atravessar um rio ou andar por um campo, deve ajudar todos os seres sencientes a desenvolverem a Mente Bodhi. Se um discípulo de Buda não ensina e salva, de todo o coração, os seres sencientes desta forma, comete uma ofensa secundária.

46. [Acerca de] Ensinar o Dharma de Forma Imprópria

Um discípulo de Buda deve ter sempre uma mente de Grande Compaixão para ensinar e transformar os seres sencientes. Seja em visita a doadores aristocráticos e abastados, seja pronunciando-se numa reunião do Dharma, não deve permanecer de pé enquanto explica o Dharma aos leigos, mas deve ocupar um lugar elevado em frente da assembleia. Um Bhiksu ao proceder como instrutor do Dharma não deve estar de pé enquanto se dirige à Quádrupla Assembleia. Durante essas palestras, o Mestre do Dharma deve sentar-se num lugar elevado, com flores e incenso à sua volta, enquanto a Quádrupla Assembleia deve ouvir num lugar mais baixo. A Assembleia deve respeitar e seguir o Mestre como filhos dedicados seguem os seus pais ou como os Brâmanes adoram o fogo. Se um Mestre do Dharma não segue estas regras enquanto expõe o Dharma comete uma ofensa secundária.

47. [Acerca de] Regulamentações Contra o Dharma

Um discípulo de Buda que tenha recebido os preceitos dos Budas com uma fé saudável e correcta, não deve usar uma qualquer posição elevada que possua (tal como rei, príncipe, funcionário, etc.) para minar o código moral dos Budas. Não pode estabelecer leis e regulamentações impedindo os quatro tipos de discípulos leigos de se juntarem à Ordem e de praticarem a Via, nem pode proibir a criação e feitura de imagens de Budas e Bodhisattvas, estátuas e stupas ou a impressão e distribuição de sutras e códigos. Da mesma forma, não pode estabelecer leis e regulamentações que coloquem tutelas na Quádrupla Assembleia. Se discípulos leigos altamente colocados se entregam a acções contrárias ao Dharma, não são diferentes de vassalos ao serviço de governantes [ilegítimos]. Um Bodhisattva deve receber respeito e oferendas de todos. Se em vez disso é forçado a submeter-se a funcionários, isto é contrário ao Dharma, contrário ao código moral. Por isso, um rei ou funcionário que tenha recebido os preceitos do Bodhisattva com uma mente sadia, deve evitar ofensas lesivas para as Três Jóias. Se em vez disso comete intencionalmente esses actos, é culpado de uma ofensa secundária.

48. [Acerca de] Destruir o Dharma Um discípulo de Buda que se torna monge com intenções sadias não deve, por desejo de fama ou de lucro, explicar os preceitos a reis e funcionários de uma forma [capciosa], fazendo com que os monges, monjas ou leigos que tenham recebido os preceitos do Bodhisattva sejam presos ou recrutados à força. Se um Bodhisattva age dessa forma, não é diferente de um verme num corpo de leão, comendo-lhe a carne. Isto é algo que um verme que viva fora do leão não pode fazer. Da mesma forma, apenas os discípulos de Buda podem abater o Dharma - nenhum não-Budista ou demónio o consegue.

Aqueles que receberam os preceitos do Buda devem protegê-los e observá-los tal como uma mãe tomaria conta do seu único filho ou um filho dedicado cuidaria dos seus pais. Não devem fazer cair o Dharma.

Se um Bodhisattva ouve não-Budistas ou pessoas mal intencionadas a maldizerem e desprezarem os preceitos dos Budas, deve sentir-se como se o seu coração fosse trespassado por trezentas setas ou o seu corpo apunhalado com cem facas ou sovado por cem paus. Preferiria sofrer ele mesmo nos infernos durante cem kalpas do que ouvir seres malignos desprezarem os preceitos do Buda. Quanto pior seria se o discípulo fosse a quebrar ele mesmo os preceitos ou incitar outro a fazê-lo! Por isso, se violar os preceitos intencionalmente, o discípulo comete uma ofensa secundária.


fonte: http://budadharma.paginas.sapo.pt/sutra_rede.htm