sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Cinco Males

Admoestação contra cinco males:



[34] Buda disse a Maitreya, “Se aqui neste mundo forem rectos em pensamento e acção e se abstiverem de praticar o mal, alcançarão então a suprema virtude, insuperável em todas as terras pelas dez direcções. Porque assim é? Devas e humanos nas Terras de Buda praticam naturalmente o bem e raramente cometem o mal e assim é fácil ensiná-los e treiná-los. Uma vez que me tornei um Buda neste mundo, encontro-me agora no meio dos cinco males, dos cinco sofrimentos e dos cinco fogos. Isto é extremamente doloroso para mim. Ensinarei multidões de seres, fazendo-os abandonar os cinco males, evitar os cinco sofrimentos e escapar dos cinco fogos. Treinarei as suas mentes e levá-los-ei a praticar as cinco boas acções, de modo a que adquiram mérito e virtude e alcancem emancipação, longevidade e Nirvana.”

O Buda continuou, “Quais são os cinco males? Quais são os cinco sofrimentos? Quais são os cinco fogos? Qual é a forma de extinguir os cinco males e levar as pessoas a praticar as cinco boas acções de modo a que possam obter mérito e virtude e alcançar emancipação, longevidade e Nirvana?”


1) Primeiro mal



[35] O Buda disse, “Este é o primeiro mal. Devas, humanos e seres menores, incluindo os rastejantes, são inclinados a fazer o mal. Não existe ser que não o seja. Os fortes subjugam os fracos; ferem-se com gravidade e matam-se uns aos outros, todos devoram a sua presa. Sem saberem como praticar o bem, praticam o mal e cometem actos indignos e desregrados. Mais tarde recebem a retribuição, é natural que estejam destinados aos planos negativos. Os semi-deuses mantêm registos dos actos dos transgressores e garantem que sejam punidos. É por isso que alguns são destituídos, corruptos, pedintes, sós, surdos, mudos, cegos, estúpidos, malvados, loucos ou deficientes. Outros são dignos, nobres, abastados, inteligentes ou espertos. Isto é o resultado de bons e meritórios actos de benevolência e do cumprimento dos seus deveres filiais em vidas passadas.

“Neste mundo as prisões são criadas pela lei e aqueles que não as temem e cometem ofensas são mandados para aí como punição. Por mais desesperadamente que tentem escapar, é impossível fazê-lo. Tal é a retribuição neste mundo, mas nas vidas futuras, a punição para esses malfeitores é mais longa e severa. O sofrimento da transmigração através dos planos obscuros é comparável à mais severa e dolorosa punição alguma vez imposta pela lei.

“Assim, através do funcionamento natural do karma, passam por imensuráveis sofrimentos nos três planos negativos. Em transmigrações sucessivas nascem sob formas diferentes; a duração das suas vidas umas vezes é curta outras longa. Os seus seres transitórios, energia vital e consciência transmigram mediante o funcionamento natural do karma. Ainda que cada indivíduo nasça sozinho, aqueles que estão ligados por um karma comum nascem juntos e vingam-se uns dos outros. Assim, esta condição persiste interminavelmente e, até que o efeito do seu mau karma se esgote, não há possibilidade de evitar os seus inimigos. Errando no Samsara, não têm possibilidade de escapar ou de alcançar a emancipação. A dor que têm de suportar é indescritível. Uma vez que esta lei actua naturalmente em toda a parte entre o céu e a terra, mesmo se os bons e maus actos não trazem imediatamente recompensa ou retribuição, terão resultados mais cedo ou mais tarde. A isto chamo o primeiro grande mal, o primeiro sofrimento e o primeiro fogo. Estas aflições são tais que são comparáveis a um grande fogo a queimar as pessoas vivas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtido, alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos plano celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o primeiro grande bem.”


2) Segundo mal



[36] O Buda continuou, "O segundo mal é que as pessoas do mundo - pais, filhos, irmãos, irmãs, membros de uma família, maridos e esposas - não têm princípios morais, infringem as leis, compartam-se com arrogância, cometem actos licenciosos e desregrados, perseguem o seu próprio prazer, divertem-se a seu gosto e enganam-se uns aos outros. Os seus pensamentos contradizem os seus actos; falam sem sinceridade, lisonjeiam outros com intenções traiçoeiras, adulam os outros com palavras astutas, invejam a reputação dos sábios, desrespeitam os virtuosos e apanham as pessoas com meios desonestos.

"Os mestres são insensatos na escolha dos seus servidores, que, explorando a situação, aproveitam qualquer oportunidade para a fraude e o engano. Os governantes iníquos, são enganados pelos ministros e afastam levianamente os subordinados leais e fiéis. Isto é contrário à vontade dos Céus. Os ministros traem os seus governantes, os filhos enganam os pais; irmãos, irmãs, maridos e esposas, familiares e amigos, enganam-se uns aos outros. Guardam ganância, raiva e estupidez e, desejando muitas posses, procuram a sua vantagem pessoal. Todos têm igual coração, quer sejam pessoas de posição elevada e respeitável ou de classes baixas e desprezadas. Levam as suas casas e a si mesmos à ruína e destroem de forma imprudente os seus semelhantes. Ainda que existam familiares, amigos, aldeões, citadinos, grupos de pessoas ignorantes e vulgares a trabalharem em conjunto, todos procuram o seu próprio lucro, fomentando assim a raiva e hostilidade dos outros. Quando as pessoas enriquecem, ficam miseráveis e sem caridade. Apegadas gananciosamente à sua fortuna, afadigam-se de corpo e mente para retê-la. Quando o seu fim chega, não encontram qualquer apoio. Em última instância nascem e partem sozinhos, sem ninguém que os acompanhe. A alegria ou a miséria resultante das acções boas ou más segue-os nas suas próximas vidas. Assim renascem em estados agradáveis ou dolorosos. Mesmo que mais tarde mostrem arrependimento, que benefício pode isso trazer?

“As pessoas do mundo, de mau coração e sem entendimento, odeiam e maltratam as boas pessoas e não lhes têm qualquer respeito. São apegadas a praticar o mal e cometem deliberadamente acções desonestas. Cobiçam sempre a fortuna dos outros e albergam intenções de roubar. Depois de gastarem e esbanjarem o que roubaram a outros, procuram recuperá-lo. Devido às suas próprias motivações ocultas e à sua desonestidade, estudam manhosamente as expressões das faces dos outros. Como são incapazes de pensar, quando as coisas correm mal desanimam com o desgosto.

“Neste mundo existem prisões estabelecidas pela lei onde os transgressores são enviados para serem punidos, de acordo com os seus crimes. Nas suas vidas anteriores nem acreditaram na Via nem cultivaram raízes de virtude. Também nesta vida, se praticaram o mal, os semi-deuses sabem disso e mantêm registo dos seus actos; quando morrem caem nos planos negativos. Assim, devido ao funcionamento natural da lei do karma, existem três planos negativos e inumeráveis sofrimentos através dos quais os malfeitores devem passar, vida após vida, durante muitos kalpas, sem fim à vista. É realmente difícil alcançarem alívio. A dor que têm de sofrer é indescritível. A isto chama-se o segundo grande mal, o segundo sofrimento e o segundo fogo. As aflições são tais que podem ser comparadas a um grande fogo a queimar as pessoas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtidos, alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos plano celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o segundo grande bem.”


3) Terceiro mal



[37] Buda continuou, “Este é o terceiro mal: as pessoas do mundo vivem juntas, habitando este plano entre o céu e a terra, com uma duração de vida limitada. Por um lado, entre os níveis superiores existem pessoas sábias, ricas, honradas, nobres e abastadas. Por outro, entre os níveis mais baixos, existem pessoas pobres, aviltadas, rudes e insensatas. Além disso, existem malfeitores que têm sempre pensamentos viciosos e só se ocupam da sua gratificação pessoal; estão cheios de preocupações, enterrados na luxúria e no apego, sem descanso na sua vida diária, gananciosos e miseráveis e desejosos de possuir aquilo a que não têm direito. Eles procuram mulheres atraentes, comportam-se licenciosamente e cometem actos obscenos com elas, detestam as suas próprias mulheres e frequentam bordéis secretamente. Por conseguinte, depois de dissiparem todos os seus bens, começam a infringir a lei. Formam bandos, iniciam motins, envolvem-se em lutas, atacam ilegalmente e matam pessoas e saqueiam propriedades.

“Alguns têm planos maléficos quanto aos bens dos outros. Como não se dedicam às suas próprias ocupações, obtêm coisas através do roubo. Febrilmente agitados, intimidam e roubam as pessoas para sustentarem as suas próprias mulheres e filhos com os bens assim obtidos. Obedecendo apenas aos ditames das suas paixões, tornam-se viciados em prazeres imorais. Também não respeitam os anciãos do clã, causando assim dor e angústia aos membros e parentes de outras famílias; além disso, não obedecem às leis do Estado.

“Mas esses erros são conhecidos pelos outros e também pelos demónios. O Sol e a Lua reconhecem-nos e os semi-deuses mantêm registos das suas acções. Assim, devido ao funcionamento natural do karma, existem três planos negativos e inumeráveis sofrimentos através dos quais os malfeitores devem passar, vida após vida, durante muitos kalpas, sem fim à vista. É realmente difícil alcançarem alívio. A dor que têm de sofrer é indescritível. A isto chama-se o terceiro grande mal, o terceiro sofrimento e o terceiro fogo. As aflições são tais que podem ser comparadas a um grande fogo a queimar as pessoas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtidos, alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos planos celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o terceiro grande bem.”


4) O quarto mal



[38]Buda continuou, “Este é o quarto mal: As pessoas do mundo não pensam em fazer o bem. Incitam-se uns aos outros a cometer vários tipos de acções negativas - proferem palavras desagradáveis e abusivas, dizem mentiras e envolvem-se em conversas fúteis. Caluniam os outros e causam querelas. Odeiam e invejam os bons homens e arruínam os sábios, enquanto se deleitam na retaguarda. São negligentes para com os pais, depreciam os mestres e anciãos, perdem a confiança dos amigos e são dissimulados. Tendo-se em alta estima, acham-se virtuosos mas agem teimosamente e de forma arrogante, desprezando os outros. Inconscientes do seu próprio mal, nunca se envergonham de si mesmos. Vangloriam-se da sua força física, exigem dos outros respeito e medo. Não querem saber do Céu, da Terra, dos semi-deuses ou do Sol e da Lua, desdenham a prática de qualquer bem. São por isso difíceis de treinar e converter. Tendo-se em alta estima impõe a sua maneira pessoal de ver. Arrogantes e sem medo de nada, assumem sempre uma atitude altiva. Mas os semi-deuses mantêm registo dos seus erros. Talvez haja algum acto meritório nas suas vidas passadas e possam assim contar com o efeito desse pequeno acúmulo de bem. Mas uma vez que cometem o mal de novo nesta vida, a sua reserva de méritos depressa se esgota; as divindades benéficas abandonam-nos, deixam-nos sós e sem ninguém de quem depender. Quando a sua vida acaba, o mal recai sobre eles e força-os, segundo o funcionamento natural do karma, a descer aos planos negativos. Uma vez mais, como dita o registo exacto das suas acções na mão dos semi-deuses, as suas transgressões e ofensas kármicas condena-os ao plano infernal. A retribuição pelo mal vem naturalmente e nada a pode impedir. Têm de ir para os caldeirões vermelhos em brasa, onde os seus corpos são derretidos com o máximo tormento e angústia. Mesmo se nessa altura se arrependem das suas más acções, que benefício terá isso? A lei dos céus segue o seu curso inevitavelmente sem qualquer erro.

“Assim, devido ao funcionamento natural do karma, existem três planos negativos e inumeráveis sofrimentos através dos quais os malfeitores devem passar, vida após vida, durante muitos kalpas, sem fim à vista. É realmente difícil alcançarem alívio. A dor que têm de sofrer é indescritível. A isto chama-se o quarto grande mal, o quarto sofrimento e o quarto fogo. As aflições são tais que podem ser comparadas a um grande fogo a queimar as pessoas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtido, alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos planos celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o quarto grande bem.”


5) O quinto mal



[39] Buda continuou, “Este é o quinto mal: As pessoas do mundo são indecisas e indolentes, relutantes em fazer o bem, sem auto-disciplina e não trabalham afincadamente nas suas ocupações, de modo que as suas famílias e dependentes são levadas a sofrer de fome e frio. Quando repreendidas pelos pais, ripostam zangados e com olhares desdenhosos. Com tais conflitos estão longe da paz; conseguem ser tão violentos e enlouquecidos como inimigos em luta e, como resultado, os pais desejam não ter tido filhos.

“No lidar com os outros são licenciosos e caprichosos, provocam incómodos e problemas a muitos. Mesmo quando moralmente estão em dívida para com outros, negligenciam os seus deveres e não têm qualquer intenção de cumprir as suas obrigações. Sem meios, e levados aos fins mais desesperados, não têm forma de recuperar a sua fortuna. Ainda que sejam ávidos de obter muito lucro e de se apropriarem das riquezas dos outros, gastam o seu dinheiro em prazeres imorais. Conforme isto se torna um hábito, acostumam-se a obter bens ilegalmente e a gastarem a sua riqueza mal adquirida em luxos pessoais; entregam-se ao vinho e à comida abundante, comem e bebem em excesso. Libertinos e quezilentos, envolvem-se em querelas insensatas. Incapazes de compreender os outros, impõe-lhes a sua vontade pela força.

Quando encontram pessoas boas, odeiam-nas e abusam delas. Sem ética nem decoro, não reflectem na sua conduta e por isso são presunçosos e insistentes, recusando-se a seguir os conselhos e avisos dos outros. Não têm consideração pelos familiares, do mais próximo até ao parente em sexto grau, e não têm meios de subsistência. Não olham à benevolência dos pais e não sentem obrigações para com os mestres e amigos. Só pensam em fazer mal; a boca fala continuamente com malícia e o corpo está sempre a praticar o mal. Em toda a vida não fizeram uma única boa acção.

“Além disso, não acreditam nos sábios antigos, nem nos ensinamentos budistas, nem no caminho da prática que conduz à emancipação. Também não acreditam que após a morte se renasce noutro plano de existência, que os bons actos trazem boas recompensas ou que os maus actos trazem consequências negativas. Conspiram para matar um arhat, para causar dissenções na Sangha e pensam mesmo em matar os pais, irmãos, irmãs ou outros familiares. Por esta razão, mesmo os familiares, do mais próximo ao parente em sexto grau, odeiam-nos a ponto de quererem vê-los mortos.

“Estas pessoas do mundo têm todas a mesma mente. São insensatas e ignorantes, sem o conhecimento necessário para saberem de onde nasceram nem para onde vão depois de morrer. Sem humanidade para com os outros nem obediência aos mais velhos, revoltam-se contra o mundo inteiro. No entanto, desejam boa sorte e procuram uma vida longa, apenas para no final encontrarem a morte. Mesmo se alguém os avisa compassivamente, tentando encaminhá-los para pensamentos de bondade, e lhes tenta ensinar que existem naturalmente bons e maus planos no Samsara, não acreditam. Por mais que se tente é impossível. As suas mentes estão fechadas e recusam-se a ouvir os outros ou a compreender os seus ensinamentos. Quando as suas vidas chegam ao fim, o medo e o arrependimento surgem alternadamente. Sem terem praticado anteriormente qualquer bem, enchem-se de remorsos ao atingir o fim. Mas que benefício terá isso então?

“Entre o céu e a terra, os cinco planos são claramente distinguíveis. São vastos e profundos, estendendo-se ilimitadamente. Em resposta às boas ou más acções, seguem-se a alegria ou a miséria. O resultado do karma de cada um tem de ser suportado pelo próprio e ninguém pode tomar o seu lugar. Esta é a lei natural. O infortúnio segue as más acções como retribuição e é impossível de evitar. As boas pessoas fazem boas acções e assim gozam prazer após prazer e prosseguem da luz para mais luz. Os malfeitores cometem crimes e assim sofrem dor após a dor e vagueiam da escuridão para uma escuridão mais funda. Ninguém senão o Buda sabe isto completamente. Mesmo que alguém os avise e ensine, muito poucos acreditam; assim, os ciclos do nascimento e morte nunca param e os maus caminhos continuam interminavelmente. As consequências kármicas de tais pessoas mundanas excedem qualquer descrição detalhada

“Assim, devido ao funcionamento natural do karma, existem três planos negativos e inumeráveis sofrimentos através dos quais os malfeitores devem passar, vida após vida, durante muitos kalpas, sem fim à vista. É realmente difícil alcançarem alívio. A dor que têm de sofrer é indescritível. A isto chama-se o quinto grande mal, o quinto sofrimento e o quinto fogo. As aflições são tais que podem ser comparadas a um grande fogo a queimar as pessoas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtido alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos planos celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o quinto grande bem.”

fonte: http://budadharma.paginas.sapo.pt/amitaba_II.htm