sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Admoestação


Posterior admoestação de Shakyamuni



[40] Buda disse a Maitreya, “Explicarei ainda mais. Tais são as aflições dos cinco males neste mundo. (http://apenasconhecimento.blogspot.com/2010/10/cinco-males.html) Os cinco sofrimentos e os cinco fogos surgem deles continuamente. As pessoas não praticam senão o mal e não cultivam raízes de virtude e por isso é natural que vão todas para os mundos negativos. Mesmo nesta vida sofrem de doenças incuráveis. Desejando a morte, não podem morrer; apegados à vida não podem viver. Assim são um exemplo para os outros de como é a retribuição pelos maus actos. Depois da morte, arrastados pelo seu mau karma, caem nos três planos negativos, onde sofrem incontáveis torturas e são entregues às chamas.

“Após um longo tempo nascem de novo neste mundo, apenas para fomentar o ódio uns contra os outros. Ao princípio o ódio é ligeiro mas finalmente desenvolve-se até se tornar um mal maior. Tudo isto é devido ao seu apego ganancioso pela riqueza e pelos prazeres sensuais e pela sua recusa em partilhar com os outros. Além disso, pensamentos obstinados surgem dos desejos nascidos da estupidez. A sua sujeição às paixões negativas nunca será cortada. Na busca do ganho egoísta, não têm possibilidade de reflectirem nos seus males e voltarem-se para o bem. Quando são abastados e prósperos, estão contentes e não aprendem a ser modestos e virtuosos. Por consequência, a sua pompa e poder são de curta duração; quando estes se esgotam têm de sofrer novas aflições. O seu sofrimento está destinado a aumentar nos tempos vindouros.

“A lei do karma opera assim como uma rede que tudo alcança, nas suas malhas apanha inevitavelmente todos os malfeitores. A rede, tecida com fios longos e curtos, cobre o mundo inteiro de alto a baixo, e aqueles nela apanhados sentem-se completamente sem saída e tremem de medo. Esta rede existe desde há muito. Que doloroso e dilacerante!”

O Buda disse a Maitreya, “As pessoas deste mundo são tais como as descrevi. Todos os Budas se compadecem delas e com os seus divinos poderes destroem os seus males e conduzem todas à ventura. Se desistires das noções erróneas, se te firmares nas escrituras e preceitos e praticares a Via sem cometer qualquer falta, serás então finalmente capaz de alcançar o caminho da emancipação e do Nirvana.”

O Buda continuou, “Tu e os outros devas e humanos do presente e as pessoas das gerações futuras, tendo recebido os ensinamentos de Buda, devem reflectir sobre eles e, enquanto as seguem, devem permanecer rectos em pensamento e levar a cabo acções virtuosas. Os governantes devem guiar-se pela moralidade, reger com beneficência e estabelecer que todos devem manter uma conduta própria, prestar reverência aos sábios, respeitar os homens de virtude, ser benevolentes e gentis para com os outros e ter cuidado de não descurar os ensinamentos e admoestações do Buda. Todos devem procurar a emancipação, cortar as raízes do Samsara e os seus vários males e assim aspirarem a escapar dos caminhos de sofrimento imensurável, medo e dor nos três planos negativos.

“Neste mundo, deveis plantar extensamente raízes de virtude, ser benevolentes, dar generosamente, abster-se de quebrar os preceitos, ser paciente e diligente, ensinar as pessoas com sinceridade e sabedoria, fazer acções virtuosas e praticar o bem. Se observarem estritamente os preceitos de abstinência com um pensamento recto e atenção plena, ainda que por apenas uma dia e uma noite, o mérito assim adquirido superará o de praticar do bem na terra de Amitayus durante cem anos. A razão é que nessa Terra de Buda de Espontaneidade e sem esforço, todos os habitantes praticam o bem sem cometer nem um mal da espessura de um cabelo. Se neste mundo praticarem o bem por dez dias e noites, o mérito ultrapassará o de praticarem o bem nas Terras de Buda das outras direcções durante um milhar de anos. A razão é que nas Terras de Buda das outras direcções, muitos praticam o bem e poucos cometem o mal. São terras onde tudo é providenciado naturalmente como resultado dos méritos e virtudes de cada um e assim nenhum mal é cometido. Mas neste mundo muito mal é cometido, e poucos são providos naturalmente; as pessoas têm de trabalhar duramente para obterem o que querem. Uma vez que pretendem enganar-se uns aos outros, as suas mentes são perturbadas, os seus corpos exaustos e eles bebem amarguras e comem dificuldades. Desta forma, de tão preocupados com os seus afazeres não têm um tempo para descansar.

“Com piedade por ti e por todos os outros devas e humanos, aceitei uma grande dor para vos exortar a praticar boas acções. Dei-vos instruções apropriadas às vossas capacidades. Vocês aceitaram sem falhas os meus ensinamentos e praticaram-nos e entraram assim na Via de acordo com a vossa vontade.

Onde quer que o Buda esteja, não existe estado, aldeia ou cidade que não seja abençoada pelas suas virtudes. Todo o país repousa em paz e harmonia.. O sol e a lua cintilam com brilho puro; o vento sopra e a chuva cai na altura certa. Não existem calamidades ou epidemias e assim o país torna-se abastado e o seu povo goza de paz. Os soldados e as armas tornam-se inúteis; as pessoas praticam a benevolência e cultivam diligentemente uma modéstia cortês.”

O Buda continuou, “A minha preocupação com vocês, devas e humanos, é maior que o cuidado dos pais pelos filhos. Tornei-me um Buda neste mundo, destruí os cinco males, removi os cinco sofrimentos e extingui os cinco fogos. Combati o mal com o bem, erradiquei o sofrimento do nascimento-e-morte e permiti que as pessoas obtivessem as cinco virtudes e alcançassem a paz do Nirvana incondicional. Mas depois de eu partir deste mundo, o meu ensinamento declinará gradualmente e as pessoas cairão presas da lisonja e engano e cometerão vários males, resultando no recrudescimento dos cinco sofrimentos e dos cinco fogos. À medida que o tempo for passando, os seus sofrimentos intensificar-se-ão. Uma vez que é impossível descrever isto detalhadamente, fiz apenas um breve resumo.

O Buda disse a Maitreya, “Deve cada um ponderar bem nisto, ensinar e admoestar-se mutuamente e estar de sobreaviso quanto a desrespeitar as instruções do Buda.

O Bodhisattva Maitreya, com as palmas das mãos unidas, disse, “Ó Buda, como é sincera e grave a tua admoestação! As pessoas do mundo são tais como as descreveste. Ó Tathagata, compadeceste-te de nós e protegeste-nos sem discriminação e procuraste libertar-nos a todos do sofrimento. Tendo aceite as repetidas exortações do Buda, serei cuidadoso em não lhes desobedecer.”

fonte: http://budadharma.paginas.sapo.pt/amitaba_II.htm

Cinco Males

Admoestação contra cinco males:



[34] Buda disse a Maitreya, “Se aqui neste mundo forem rectos em pensamento e acção e se abstiverem de praticar o mal, alcançarão então a suprema virtude, insuperável em todas as terras pelas dez direcções. Porque assim é? Devas e humanos nas Terras de Buda praticam naturalmente o bem e raramente cometem o mal e assim é fácil ensiná-los e treiná-los. Uma vez que me tornei um Buda neste mundo, encontro-me agora no meio dos cinco males, dos cinco sofrimentos e dos cinco fogos. Isto é extremamente doloroso para mim. Ensinarei multidões de seres, fazendo-os abandonar os cinco males, evitar os cinco sofrimentos e escapar dos cinco fogos. Treinarei as suas mentes e levá-los-ei a praticar as cinco boas acções, de modo a que adquiram mérito e virtude e alcancem emancipação, longevidade e Nirvana.”

O Buda continuou, “Quais são os cinco males? Quais são os cinco sofrimentos? Quais são os cinco fogos? Qual é a forma de extinguir os cinco males e levar as pessoas a praticar as cinco boas acções de modo a que possam obter mérito e virtude e alcançar emancipação, longevidade e Nirvana?”


1) Primeiro mal



[35] O Buda disse, “Este é o primeiro mal. Devas, humanos e seres menores, incluindo os rastejantes, são inclinados a fazer o mal. Não existe ser que não o seja. Os fortes subjugam os fracos; ferem-se com gravidade e matam-se uns aos outros, todos devoram a sua presa. Sem saberem como praticar o bem, praticam o mal e cometem actos indignos e desregrados. Mais tarde recebem a retribuição, é natural que estejam destinados aos planos negativos. Os semi-deuses mantêm registos dos actos dos transgressores e garantem que sejam punidos. É por isso que alguns são destituídos, corruptos, pedintes, sós, surdos, mudos, cegos, estúpidos, malvados, loucos ou deficientes. Outros são dignos, nobres, abastados, inteligentes ou espertos. Isto é o resultado de bons e meritórios actos de benevolência e do cumprimento dos seus deveres filiais em vidas passadas.

“Neste mundo as prisões são criadas pela lei e aqueles que não as temem e cometem ofensas são mandados para aí como punição. Por mais desesperadamente que tentem escapar, é impossível fazê-lo. Tal é a retribuição neste mundo, mas nas vidas futuras, a punição para esses malfeitores é mais longa e severa. O sofrimento da transmigração através dos planos obscuros é comparável à mais severa e dolorosa punição alguma vez imposta pela lei.

“Assim, através do funcionamento natural do karma, passam por imensuráveis sofrimentos nos três planos negativos. Em transmigrações sucessivas nascem sob formas diferentes; a duração das suas vidas umas vezes é curta outras longa. Os seus seres transitórios, energia vital e consciência transmigram mediante o funcionamento natural do karma. Ainda que cada indivíduo nasça sozinho, aqueles que estão ligados por um karma comum nascem juntos e vingam-se uns dos outros. Assim, esta condição persiste interminavelmente e, até que o efeito do seu mau karma se esgote, não há possibilidade de evitar os seus inimigos. Errando no Samsara, não têm possibilidade de escapar ou de alcançar a emancipação. A dor que têm de suportar é indescritível. Uma vez que esta lei actua naturalmente em toda a parte entre o céu e a terra, mesmo se os bons e maus actos não trazem imediatamente recompensa ou retribuição, terão resultados mais cedo ou mais tarde. A isto chamo o primeiro grande mal, o primeiro sofrimento e o primeiro fogo. Estas aflições são tais que são comparáveis a um grande fogo a queimar as pessoas vivas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtido, alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos plano celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o primeiro grande bem.”


2) Segundo mal



[36] O Buda continuou, "O segundo mal é que as pessoas do mundo - pais, filhos, irmãos, irmãs, membros de uma família, maridos e esposas - não têm princípios morais, infringem as leis, compartam-se com arrogância, cometem actos licenciosos e desregrados, perseguem o seu próprio prazer, divertem-se a seu gosto e enganam-se uns aos outros. Os seus pensamentos contradizem os seus actos; falam sem sinceridade, lisonjeiam outros com intenções traiçoeiras, adulam os outros com palavras astutas, invejam a reputação dos sábios, desrespeitam os virtuosos e apanham as pessoas com meios desonestos.

"Os mestres são insensatos na escolha dos seus servidores, que, explorando a situação, aproveitam qualquer oportunidade para a fraude e o engano. Os governantes iníquos, são enganados pelos ministros e afastam levianamente os subordinados leais e fiéis. Isto é contrário à vontade dos Céus. Os ministros traem os seus governantes, os filhos enganam os pais; irmãos, irmãs, maridos e esposas, familiares e amigos, enganam-se uns aos outros. Guardam ganância, raiva e estupidez e, desejando muitas posses, procuram a sua vantagem pessoal. Todos têm igual coração, quer sejam pessoas de posição elevada e respeitável ou de classes baixas e desprezadas. Levam as suas casas e a si mesmos à ruína e destroem de forma imprudente os seus semelhantes. Ainda que existam familiares, amigos, aldeões, citadinos, grupos de pessoas ignorantes e vulgares a trabalharem em conjunto, todos procuram o seu próprio lucro, fomentando assim a raiva e hostilidade dos outros. Quando as pessoas enriquecem, ficam miseráveis e sem caridade. Apegadas gananciosamente à sua fortuna, afadigam-se de corpo e mente para retê-la. Quando o seu fim chega, não encontram qualquer apoio. Em última instância nascem e partem sozinhos, sem ninguém que os acompanhe. A alegria ou a miséria resultante das acções boas ou más segue-os nas suas próximas vidas. Assim renascem em estados agradáveis ou dolorosos. Mesmo que mais tarde mostrem arrependimento, que benefício pode isso trazer?

“As pessoas do mundo, de mau coração e sem entendimento, odeiam e maltratam as boas pessoas e não lhes têm qualquer respeito. São apegadas a praticar o mal e cometem deliberadamente acções desonestas. Cobiçam sempre a fortuna dos outros e albergam intenções de roubar. Depois de gastarem e esbanjarem o que roubaram a outros, procuram recuperá-lo. Devido às suas próprias motivações ocultas e à sua desonestidade, estudam manhosamente as expressões das faces dos outros. Como são incapazes de pensar, quando as coisas correm mal desanimam com o desgosto.

“Neste mundo existem prisões estabelecidas pela lei onde os transgressores são enviados para serem punidos, de acordo com os seus crimes. Nas suas vidas anteriores nem acreditaram na Via nem cultivaram raízes de virtude. Também nesta vida, se praticaram o mal, os semi-deuses sabem disso e mantêm registo dos seus actos; quando morrem caem nos planos negativos. Assim, devido ao funcionamento natural da lei do karma, existem três planos negativos e inumeráveis sofrimentos através dos quais os malfeitores devem passar, vida após vida, durante muitos kalpas, sem fim à vista. É realmente difícil alcançarem alívio. A dor que têm de sofrer é indescritível. A isto chama-se o segundo grande mal, o segundo sofrimento e o segundo fogo. As aflições são tais que podem ser comparadas a um grande fogo a queimar as pessoas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtidos, alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos plano celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o segundo grande bem.”


3) Terceiro mal



[37] Buda continuou, “Este é o terceiro mal: as pessoas do mundo vivem juntas, habitando este plano entre o céu e a terra, com uma duração de vida limitada. Por um lado, entre os níveis superiores existem pessoas sábias, ricas, honradas, nobres e abastadas. Por outro, entre os níveis mais baixos, existem pessoas pobres, aviltadas, rudes e insensatas. Além disso, existem malfeitores que têm sempre pensamentos viciosos e só se ocupam da sua gratificação pessoal; estão cheios de preocupações, enterrados na luxúria e no apego, sem descanso na sua vida diária, gananciosos e miseráveis e desejosos de possuir aquilo a que não têm direito. Eles procuram mulheres atraentes, comportam-se licenciosamente e cometem actos obscenos com elas, detestam as suas próprias mulheres e frequentam bordéis secretamente. Por conseguinte, depois de dissiparem todos os seus bens, começam a infringir a lei. Formam bandos, iniciam motins, envolvem-se em lutas, atacam ilegalmente e matam pessoas e saqueiam propriedades.

“Alguns têm planos maléficos quanto aos bens dos outros. Como não se dedicam às suas próprias ocupações, obtêm coisas através do roubo. Febrilmente agitados, intimidam e roubam as pessoas para sustentarem as suas próprias mulheres e filhos com os bens assim obtidos. Obedecendo apenas aos ditames das suas paixões, tornam-se viciados em prazeres imorais. Também não respeitam os anciãos do clã, causando assim dor e angústia aos membros e parentes de outras famílias; além disso, não obedecem às leis do Estado.

“Mas esses erros são conhecidos pelos outros e também pelos demónios. O Sol e a Lua reconhecem-nos e os semi-deuses mantêm registos das suas acções. Assim, devido ao funcionamento natural do karma, existem três planos negativos e inumeráveis sofrimentos através dos quais os malfeitores devem passar, vida após vida, durante muitos kalpas, sem fim à vista. É realmente difícil alcançarem alívio. A dor que têm de sofrer é indescritível. A isto chama-se o terceiro grande mal, o terceiro sofrimento e o terceiro fogo. As aflições são tais que podem ser comparadas a um grande fogo a queimar as pessoas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtidos, alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos planos celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o terceiro grande bem.”


4) O quarto mal



[38]Buda continuou, “Este é o quarto mal: As pessoas do mundo não pensam em fazer o bem. Incitam-se uns aos outros a cometer vários tipos de acções negativas - proferem palavras desagradáveis e abusivas, dizem mentiras e envolvem-se em conversas fúteis. Caluniam os outros e causam querelas. Odeiam e invejam os bons homens e arruínam os sábios, enquanto se deleitam na retaguarda. São negligentes para com os pais, depreciam os mestres e anciãos, perdem a confiança dos amigos e são dissimulados. Tendo-se em alta estima, acham-se virtuosos mas agem teimosamente e de forma arrogante, desprezando os outros. Inconscientes do seu próprio mal, nunca se envergonham de si mesmos. Vangloriam-se da sua força física, exigem dos outros respeito e medo. Não querem saber do Céu, da Terra, dos semi-deuses ou do Sol e da Lua, desdenham a prática de qualquer bem. São por isso difíceis de treinar e converter. Tendo-se em alta estima impõe a sua maneira pessoal de ver. Arrogantes e sem medo de nada, assumem sempre uma atitude altiva. Mas os semi-deuses mantêm registo dos seus erros. Talvez haja algum acto meritório nas suas vidas passadas e possam assim contar com o efeito desse pequeno acúmulo de bem. Mas uma vez que cometem o mal de novo nesta vida, a sua reserva de méritos depressa se esgota; as divindades benéficas abandonam-nos, deixam-nos sós e sem ninguém de quem depender. Quando a sua vida acaba, o mal recai sobre eles e força-os, segundo o funcionamento natural do karma, a descer aos planos negativos. Uma vez mais, como dita o registo exacto das suas acções na mão dos semi-deuses, as suas transgressões e ofensas kármicas condena-os ao plano infernal. A retribuição pelo mal vem naturalmente e nada a pode impedir. Têm de ir para os caldeirões vermelhos em brasa, onde os seus corpos são derretidos com o máximo tormento e angústia. Mesmo se nessa altura se arrependem das suas más acções, que benefício terá isso? A lei dos céus segue o seu curso inevitavelmente sem qualquer erro.

“Assim, devido ao funcionamento natural do karma, existem três planos negativos e inumeráveis sofrimentos através dos quais os malfeitores devem passar, vida após vida, durante muitos kalpas, sem fim à vista. É realmente difícil alcançarem alívio. A dor que têm de sofrer é indescritível. A isto chama-se o quarto grande mal, o quarto sofrimento e o quarto fogo. As aflições são tais que podem ser comparadas a um grande fogo a queimar as pessoas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtido, alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos planos celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o quarto grande bem.”


5) O quinto mal



[39] Buda continuou, “Este é o quinto mal: As pessoas do mundo são indecisas e indolentes, relutantes em fazer o bem, sem auto-disciplina e não trabalham afincadamente nas suas ocupações, de modo que as suas famílias e dependentes são levadas a sofrer de fome e frio. Quando repreendidas pelos pais, ripostam zangados e com olhares desdenhosos. Com tais conflitos estão longe da paz; conseguem ser tão violentos e enlouquecidos como inimigos em luta e, como resultado, os pais desejam não ter tido filhos.

“No lidar com os outros são licenciosos e caprichosos, provocam incómodos e problemas a muitos. Mesmo quando moralmente estão em dívida para com outros, negligenciam os seus deveres e não têm qualquer intenção de cumprir as suas obrigações. Sem meios, e levados aos fins mais desesperados, não têm forma de recuperar a sua fortuna. Ainda que sejam ávidos de obter muito lucro e de se apropriarem das riquezas dos outros, gastam o seu dinheiro em prazeres imorais. Conforme isto se torna um hábito, acostumam-se a obter bens ilegalmente e a gastarem a sua riqueza mal adquirida em luxos pessoais; entregam-se ao vinho e à comida abundante, comem e bebem em excesso. Libertinos e quezilentos, envolvem-se em querelas insensatas. Incapazes de compreender os outros, impõe-lhes a sua vontade pela força.

Quando encontram pessoas boas, odeiam-nas e abusam delas. Sem ética nem decoro, não reflectem na sua conduta e por isso são presunçosos e insistentes, recusando-se a seguir os conselhos e avisos dos outros. Não têm consideração pelos familiares, do mais próximo até ao parente em sexto grau, e não têm meios de subsistência. Não olham à benevolência dos pais e não sentem obrigações para com os mestres e amigos. Só pensam em fazer mal; a boca fala continuamente com malícia e o corpo está sempre a praticar o mal. Em toda a vida não fizeram uma única boa acção.

“Além disso, não acreditam nos sábios antigos, nem nos ensinamentos budistas, nem no caminho da prática que conduz à emancipação. Também não acreditam que após a morte se renasce noutro plano de existência, que os bons actos trazem boas recompensas ou que os maus actos trazem consequências negativas. Conspiram para matar um arhat, para causar dissenções na Sangha e pensam mesmo em matar os pais, irmãos, irmãs ou outros familiares. Por esta razão, mesmo os familiares, do mais próximo ao parente em sexto grau, odeiam-nos a ponto de quererem vê-los mortos.

“Estas pessoas do mundo têm todas a mesma mente. São insensatas e ignorantes, sem o conhecimento necessário para saberem de onde nasceram nem para onde vão depois de morrer. Sem humanidade para com os outros nem obediência aos mais velhos, revoltam-se contra o mundo inteiro. No entanto, desejam boa sorte e procuram uma vida longa, apenas para no final encontrarem a morte. Mesmo se alguém os avisa compassivamente, tentando encaminhá-los para pensamentos de bondade, e lhes tenta ensinar que existem naturalmente bons e maus planos no Samsara, não acreditam. Por mais que se tente é impossível. As suas mentes estão fechadas e recusam-se a ouvir os outros ou a compreender os seus ensinamentos. Quando as suas vidas chegam ao fim, o medo e o arrependimento surgem alternadamente. Sem terem praticado anteriormente qualquer bem, enchem-se de remorsos ao atingir o fim. Mas que benefício terá isso então?

“Entre o céu e a terra, os cinco planos são claramente distinguíveis. São vastos e profundos, estendendo-se ilimitadamente. Em resposta às boas ou más acções, seguem-se a alegria ou a miséria. O resultado do karma de cada um tem de ser suportado pelo próprio e ninguém pode tomar o seu lugar. Esta é a lei natural. O infortúnio segue as más acções como retribuição e é impossível de evitar. As boas pessoas fazem boas acções e assim gozam prazer após prazer e prosseguem da luz para mais luz. Os malfeitores cometem crimes e assim sofrem dor após a dor e vagueiam da escuridão para uma escuridão mais funda. Ninguém senão o Buda sabe isto completamente. Mesmo que alguém os avise e ensine, muito poucos acreditam; assim, os ciclos do nascimento e morte nunca param e os maus caminhos continuam interminavelmente. As consequências kármicas de tais pessoas mundanas excedem qualquer descrição detalhada

“Assim, devido ao funcionamento natural do karma, existem três planos negativos e inumeráveis sofrimentos através dos quais os malfeitores devem passar, vida após vida, durante muitos kalpas, sem fim à vista. É realmente difícil alcançarem alívio. A dor que têm de sofrer é indescritível. A isto chama-se o quinto grande mal, o quinto sofrimento e o quinto fogo. As aflições são tais que podem ser comparadas a um grande fogo a queimar as pessoas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtido alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos planos celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o quinto grande bem.”

fonte: http://budadharma.paginas.sapo.pt/amitaba_II.htm

sábado, 23 de outubro de 2010

Os Quarenta e Oito Preceitos Secundários

Os Quarenta e Oito Preceitos Secundários

Então Buda disse aos Bodhisattvas, “Agora que expliquei os Dez Preceitos Maiores( http://apenasconhecimento.blogspot.com/2010/10/os-dez-preceitos-maiores.html)vou falar-vos acerca dos quarenta e oito preceitos secundários.”

1. [Acerca de] Desrespeito para com Mestres e Amigos

Um discípulo de Buda que esteja destinado a tornar-se um imperador, um Rei Sábio Que Faz Girar a Roda ou um funcionário superior, deve primeiro receber os preceitos de Bodhisattva. Estará então sob a protecção de todas as divindades e espíritos, e os Budas ficarão satisfeitos. Assim que tenha recebido os preceitos, o discípulo deve desenvolver uma mente filial e respeitosa. Sempre que encontre um Mestre Mais Antigo, um monge ou um companheiro praticante de conduta e ideias iguais às suas, deve levantar-se e cumprimentá-lo com o máximo respeito. Deve então respeitosamente fazer oferendas aos monges-convidados. Deve estar pronto para penhorar a si mesmo, ao seu reino, cidades ou mesmo família, bem como às suas jóias ou outros pertences. Se, em vez disso, desenvolver em si presunção e arrogância, ilusão ou cólera, recusando levantar-se e cumprimentar o monge-convidado e fazer-lhe oferendas respeitosamente, comete uma ofensa secundária.

2. [Acerca de] Consumir Bebidas Alcoólicas

Um discípulo de Buda não deve intencionalmente consumir bebidas alcoólicas pois estas são fonte de incontáveis ofensas. Se oferece ainda que um copo de vinho a outra pessoa, a retribuição será não ter mãos durante quinhentos renascimentos. Como pode então consumir álcool? De facto, um Bodhisattva não deve encorajar nenhuma pessoa ou qualquer ser senciente a consumir álcool, muito menos consumir ele próprio quaisquer bebidas alcoólicas. Se, em vez disso, ele deliberadamente o faz ou encoraja outros a fazê-lo, comete uma ofensa secundária.

3. [Acerca de] Comer Carne

Um discípulo de Buda não deve deliberadamente comer carne. Não deve comer a carne de qualquer ser senciente. O comedor de carne perde a semente da Grande Compaixão, corta a semente da Natureza de Buda e faz com que os seres [animais ou transcendentais] o evitem. Aqueles que assim procedem são culpados de incontáveis ofensas. Se o discípulo deliberadamente come carne, comete uma ofensa secundária.

4. [Acerca d’] As Cinco Ervas Pungentes

Um discípulo de Buda não deve comer as cinco ervas pungentes – alho, cebolinho, alho porro, cebola e assa-fétida. Isto é válido mesmo se acrescentadas como tempero a outros pratos principais. Assim, se ele deliberadamente as consome, comete uma ofensa secundária.

5. [Acerca de] Não Ensinar o Arrependimento

Se um discípulo de Buda vir qualquer ser violar os Cinco Preceitos, os Oito Preceitos, os Dez Preceitos, outras proibições, ou cometer alguma das Sete Graves Ofensas ou qualquer ofensa que conduza às Oito Adversidades, seja qual for a violação dos preceitos, deve aconselhar o prevaricador a arrepender-se e emendar-se. Se, em vez disso, o Bodhisattva não procede assim mas continua a viver conjuntamente com o prevaricador na mesma assembleia, a partilhar as mesmas oferendas dos leigos, a participar nas mesmas cerimónias Uposattha e a recitar os preceitos - deixando de referir a ofensa dessa pessoa e de a encorajar a emendar-se, o discípulo comete uma ofensa secundária.

6. [Acerca de] Deixar de Solicitar o Dharma ou de Fazer Oferendas

Se um Mestre Mais Antigo, um monge Mahayana ou um irmão praticante vier de longe até ao templo, residência, cidade ou aldeia de um discípulo de Buda, o discípulo deve respeitosamente dar-lhe as boas vindas e visitá-lo. Deve prover todas as necessidades dele em qualquer altura, ainda que isso lhe possa custar três medidas de ouro! Além disso, o discípulo de Buda deve respeitosamente pedir ao mestre visitante que exponha o Dharma três vezes por dia curvando-se perante ele sem qualquer pensamento de ressentimento ou fadiga. Deve estar disposto a sacrificar-se pelo Dharma e nunca deixar de o requerer. Se não proceder desta forma, comete uma ofensa secundária.

7. [Acerca de] Faltar a Ensinamentos do Dharma

Um discípulo Bodhisattva novo na Ordem deve levar consigo cópias dos sutras apropriados ou dos códigos preceituais para qualquer lugar onde esses sutras, comentários ou códigos morais estejam a ser explicados, de forma a ouvir, estudar e inquirir acerca do Dharma. Deve deslocar-se a qualquer ponto, seja a uma casa, debaixo de uma árvore, num templo, nas florestas ou montanhas ou em qualquer outro sitio. Se deixa de proceder assim, comete uma ofensa secundária.

8. [Acerca de] Afastar-se do Mahayana

Se um discípulo de Buda renega os eternos sutras e códigos morais do Mahayana, declarando que não foram proferidos pelo Buda, mas em vez disso segue e observa os dos Dois Veículos e dos não-Budistas iludidos, comete uma ofensa secundária.

9. [Acerca de] Não Tratar dos Doentes

Se um discípulo de Buda vir alguém doente, deve constantemente cuidar das necessidades dessa pessoa como se estivesse a fazer oferendas a um Buda. De todos os oito Campos de Méritos, tratar dos doentes é o mais importante. Um discípulo de Buda deve tomar conta do doente até que este recupere, quer se trate do seu pai, mãe, mestre ou discípulo no Dharma e qualquer que seja o tipo de doença. Se, em vez disso, fica zangado e rancoroso e deixa de o fazer ou se recusa a socorrer doentes ou incapacitados nos templos, cidades e aldeias, florestas ou montanhas ou ao longo dos caminhos, comete uma ofensa secundária.

10. [Acerca de] Guardar Armas Mortais

Um discípulo de Buda não deve guardar armas tais como facas, tacos, setas, lanças, machados ou quaisquer outras armas, nem pode possuir redes, armadilhas ou quaisquer outros engenhos que possam ser usados para matar seres sencientes. Se o fizer deliberadamente comete uma ofensa secundária. *** Os primeiros dez preceitos secundários acabam de ser descritos. Os discípulos de Buda devem estudá-los e observá-los respeitosamente. Serão explicados em detalhe nos próximos capítulos. ***

11. [Acerca de] Servir de Emissário

Um discípulo de Buda não deve, para benefício pessoal ou por más intenções, actuar como emissário de um país em guerra ou fomentar confrontos militares provocando assim o massacre de incontáveis seres. Enquanto discípulo de Buda, não pode sequer movimentar-se entre forças militares, ou de um exército para outro, muito menos actuar como agente voluntário da guerra. Se o fizer deliberadamente, comete uma ofensa secundária.

12. [Acerca de] Envolver-se em Negócios Ilícitos

Um discípulo de Buda não deve deliberadamente negociar em escravos ou vender qualquer ser para servidão, nem deve negociar em animais domésticos, caixões ou madeira para caixões. Não deve envolver-se pessoalmente neste tipo de negócios, muito menos encorajar outros a fazê-lo. De outra forma comete uma ofensa secundária.

13. [Acerca de] Calúnia e Difamação

Um discípulo de Buda não deve, sem causa e com más intenções, caluniar pessoas virtuosas, tais como Mestres Mais Antigos, monges ou monjas, reis, príncipes ou outras pessoas rectas, dizendo que cometeram as Sete Graves Ofensas ou que quebraram os Dez Preceitos Maiores do Bodhisattva. Deve ser compassivo e filial e tratar todas as pessoas virtuosas como se fossem seu pai, mãe, irmãos ou outros parentes próximos. Se em vez disso os calunia e prejudica comete uma ofensa secundária.

14. [Acerca de] Atear Fogos

Um discípulo de Buda não deve, motivado por intenções negativas, atear fogos para limpar florestas e queimar vegetação nas montanhas ou planícies, durante o período que medeia entre o quarto e o nono mês do ano lunar. Esses fogos [são particularmente danosos para os animais durante esse período e podem alastrar] até às casas, povoados e cidades, templos e mosteiros, campos e culturas, bem como até às moradas [invisíveis] de divindades ou fantasmas. Não deve intencionalmente pegar fogo a qualquer espaço onde exista vida. Se o fizer deliberadamente comete uma ofensa secundária.

15. [Acerca de] Ensinar o Dharma Não Mahayana

Um discípulo de Buda deve ensinar a todo e qualquer um, desde discípulos, parentes ou amigos espirituais, até não-Budistas e seres malévolos, como devem receber e cumprir os Sutras e códigos morais do Mahayana. Deve ensinar-lhes os princípios do Mahayana e ajudá-los a desenvolver a Mente Bodhi - bem como as Dez Moradas, as Dez Práticas e as Dez Dedicações, explicando a ordem e a função de cada uma destas Trinta Mentes (níveis da mente). Se, em vez disso, o discípulo, com intenções malévolas e hostis, lhes ensina perversamente os sutras e códigos morais dos Dois Veículos, bem como os comentários de não-Budistas iludidos, comete uma ofensa secundária.

16. [Acerca de] Explicação Infundada do Dharma

Um Bodhisattva Mestre do Dharma deve primeiro, com uma mente sadia, estudar as regras de conduta, sutras e códigos morais do Mahayana e compreender a fundo os seus significados. Depois, sempre que algum noviço venha de longe para pedir instrução, deve explicar-lhe, de acordo com o Dharma, as práticas ascéticas do Bodhisattva, tais como queimar o próprio corpo, braço ou dedo [como um acto extremo na busca da Iluminação Suprema]. Se um noviço não estiver preparado para seguir estas práticas, não é um verdadeiro Bodhisattva. Além disso, um Bodhisattva deve estar disposto a sacrificar o seu corpo e entranhas em benefício de animais esfomeados ou espíritos ávidos [como acto extremo de compaixão na salvação dos seres sencientes]. Depois destas explicações, o Bodhisattva mestre do Dharma deve ensinar os noviços de forma metódica, de modo a despertar a mente deles. Se, em vez disso, em proveito pessoal, se recusa a ensiná-los ou os ensina de modo confuso, citando passagens fora de ordem ou contexto, ou os ensina de um modo que despreze as Três Jóias, comete uma ofensa secundária.

17. [Acerca de] Extorquir Doações

Um discípulo de Buda não deve, para conseguir comida, bebida, dinheiro, bens ou fama, aproximar-se ou fazer-se amigo de reis, príncipes ou altos funcionários e [valendo-se dessas relações] extorquir dinheiro, bens ou outros benefícios. Estas acções são chamadas impróprias, pedidos excessivos ou falta de compaixão e de sentimentos filiais. Um discípulo que proceda assim comete uma ofensa secundária.

18. [Acerca de] Actuar Como um Mestre Desqualificado

Um discípulo de Buda deve estudar as Doze Divisões do Dharma e recitar os preceitos do Bodhisattva frequentemente. Deve observar estritamente estes preceitos nos Seis Períodos do dia e da noite e compreender inteiramente os seus princípios e significado, bem como a essência da natureza de Buda. Se em vez disso, um discípulo de Buda, sem entender nem que seja apenas uma sentença ou um verso dos códigos morais ou as causas e condições relacionadas com os preceitos, faz de conta que os entende, está a enganar-se a si e aos outros. Um discípulo que não compreende nada do Dharma e no entanto actua como transmissor dos preceitos, comete uma ofensa secundária.

19. [Acerca de] Discurso Hipócrita

Um discípulo de Buda não deve, com intenções maliciosas, [bisbilhotar ou espalhar rumores e calúnias,] criar discórdia e desdém entre pessoas virtuosas. Um exemplo é depreciar um monge que observa os preceitos do Bodhisattva, quando ele [a fazer oferendas aos Budas] segura um pequeno queimador de incenso na sua testa. Um discípulo de Buda que assim proceda comete uma ofensa secundária.

20. [Acerca de] Deixar de Libertar Seres Viventes

Um discípulo de Buda deve ter uma mente compassiva e cultivar a prática de libertar os seres sencientes. Deve reflectir desta forma: "Através das eras do tempo, todos os seres masculinos foram já meus pais, todos os seres femininos foram minhas mães. Nasci deles. se agora os abater estaria a matar os meus pais e a comer a carne que já foi minha. Isto é assim porque todos os elementos, terra, água, fogo e ar - os quatro constituintes de toda a vida - foram previamente partes do meu corpo e da minha substância. Devo por isso cultivar sempre a prática de libertar os seres sencientes e incentivar outros a fazer o mesmo - conforme os seres sencientes renasçam para sempre, vida após vida. Se um Bodhisattva vê um animal que esteja prestes a ser abatido, deve procurar um meio de o salvar e de o ajudar a escapar ao sofrimento e à morte. Um discípulo deve sempre ensinar os preceitos do Bodhisattva para proteger os seres sencientes. No dia da morte do seu pai, mãe e irmãos ou no aniversário da morte, deve convidar Mestres do Dharma para explicarem os sutras e preceitos do Bodhisattva. Isto vai gerar méritos e virtudes e ajudar os falecidos quer a renascerem na Terra Pura e a verem o Buda, quer a assegurarem um renascimento num plano humano ou celestial. Se em vez disso um discípulo não o fizer, comete uma ofensa secundária. ***

21. [Acerca de] Ser Violento e Vingativo

Um discípulo de Buda não deve retribuir raiva com raiva, golpe com golpe. Não deve procurar vingança, mesmo que o seu pai, mãe, irmãos ou parentes chegados sejam mortos - nem deve fazê-lo mesmo que o governante ou rei do seu país seja morto. Tirar a vida a um ser para vingar a morte de outro é contrário aos sentimentos filiais [uma vez que estamos todos relacionados por eras de nascimento e morte]. Além disso, não deve manter outros na servidão, muito menos bater-lhes ou desrespeitá-los, criando assim mau karma da mente, fala e corpo, principalmente as ofensas da fala. Muito menos deve cometer deliberadamente as Sete Graves Ofensas. Por isso, se um monge Bodhisattva não tem compaixão e procura deliberadamente vingança, mesmo por uma injustiça cometida para com os seus parentes próximos, comete uma ofensa secundária.

22. [Acerca de] Ser Arrogante e Não Requerer o Dharma

Um discípulo de Buda que tenha abandonado a sua casa recentemente e ainda seja um noviço no Dharma não deve ser presunçoso. Não deve recusar instrução sobre os sutras ou códigos morais da parte de um Mestre do Dharma mais antigo, por causa da sua própria inteligência, instrução mundana, posição elevada, idade avançada, linhagem nobre, grande compreensão, grandes méritos, fortuna e posses, etc. Ainda que esses Mestres sejam de nascimento humilde, novos em idade, pobres ou sofram deficiências físicas, podem mesmo assim ter virtude genuína e compreensão profunda dos sutras e códigos morais. O Bodhisattva noviço não deve julgar os Mestres do Dharma com base nas origens familiares deles e recusar-se a pedir-lhes instrução sobre as verdades do Mahayana. Se assim fizer comete uma ofensa secundária.

23. [Acerca de] Ensinar o Dharma de Má Vontade

Depois da minha extinção, se um discípulo, com uma mente sadia, quiser receber os preceitos do Bodhisattva, pode formular o voto de o fazer perante imagens de Budas e Bodhisattvas e praticar o arrependimento perante essas imagens durante sete dias. Se então tiver uma visão isso é um sinal de que recebeu os preceitos. Caso contrário, deve continuar durante catorze dias, vinte e um dias ou mesmo durante um ano, à espera de presenciar um sinal auspicioso. Depois de presenciar tal sinal, pode, em frente das imagens de Budas e Bodhisattvas, receber os preceitos. Se não presenciou tal sinal auspicioso, mesmo que tenha aceite os preceitos perante as imagens do Buda, não os recebeu de facto. No entanto, a visão de um sinal auspicioso não é necessária se o discípulo receber os preceitos directamente de um Mestre do Dharma que os tenha, por sua vez, recebido. Porque assim é? Porque este é um caso de transmissão de Mestre para Mestre e por isso tudo o que é necessário é uma mente de extrema sinceridade e respeito por parte do discípulo. Se, no raio de 350 milhas, o discípulo não puder encontrar um Mestre capaz de lhe transmitir os preceitos do Bodhisattva, pode tentar recebê-los em frente das imagens de Budas e Bodhisattvas. No entanto, deve presenciar um sinal auspicioso. Se um Mestre do Dharma, com base no seu conhecimento extenso dos sutras e códigos morais do Mahayana ou de qualquer relação de proximidade com reis, príncipes e altos funcionários, se recusar a dar respostas apropriadas ao Bodhisattva estudante que procura o significado dos sutras e dos códigos morais, ou então responder de má vontade, com ressentimento e arrogância, comete uma ofensa secundária.

24. [Acerca de] Não Praticar os Ensinamentos do Mahayana

Se um discípulo de Buda não estudar os sutras e códigos morais do Mahayana assiduamente e não cultivar a visão correcta, natureza correcta e o correcto Corpo do Dharma, é como se tivesse abandonado as Sete Jóias Preciosas a troco de [meras pedras] - textos mundanos e dos Dois Veículos ou comentários não-Budistas. Fazer isso é criar as causas e condições que impedem a Via da Iluminação e cortam a sua própria natureza de Buda. É deixar de seguir o caminho do Bodhisattva. Se um discípulo procede intencionalmente desta forma, comete uma ofensa secundária.

25. [Acerca de] Liderança Inepta da Assembleia

Depois da minha extinção, se um discípulo servir como Abade, Mestre-do-Dharma Mais Antigo, Mestre dos Preceitos, Mestre de Meditação ou Tutor Convidado deve desenvolver uma mente compassiva e estabelecer pacificamente as diferenças no seio da Assembleia - administrando os recursos das Três Jóias, gastando com frugalidade como se os recursos fossem seus. Se em vez disso, criar desordem, provocar querelas e disputas ou dissipar os recursos da Assembleia, comete uma ofensa secundária.

26. [Acerca de] Aceitar Oferendas Pessoais

Quando um discípulo de Buda reside num templo, se um Bodhisattva ou monge visitante chegar aos salões de meditação, aos aposentos dos retiros de Verão, aos aposentos da Grande Assembleia ou às dependências privadas [reservadas para uso da Sangha], o discípulo deve acolher o monge visitante e providenciar-lhe os bens essenciais tais como comida e bebida, alojamento, cama, cadeiras e outros. Se o anfitrião não possuir os meios necessários, deve estar disposto a penhorar a si mesmo ou a cortar e vender a própria carne. Sempre que haja oferendas de refeições ou cerimónias em casa de leigos, os monges visitantes devem receber uma parte igual das oferendas. O Abade deve enviar os monges, quer residentes quer visitantes, a casa do benfeitor por ordem [de acordo com a sua antiguidade sacerdotal ou os seus méritos ou virtudes]. Se apenas for permitido aos monges residentes aceitar o convite e não aos monges visitantes, o Abade comete uma ofensa grave. Não é digno de ser um monge ou um filho de Buda e é culpado de uma ofensa secundária.

27. [Acerca de] Fazer Convites Discriminatórios

Um discípulo de Buda, seja um Bodhisattva monge, leigo ou outro benfeitor, deve, quando convidar monges ou monjas para conduzirem sessões de oração, contactar o templo e informar o monge responsável dizendo: “Convidar os membros da Sangha de acordo com a ordem própria é equivalente a convidar Arhats das dez direcções. Fazer um convite discriminatório ainda que [a um grupo de] quinhentos Arhats ou monges Bodhisattva não criará tanto mérito quanto convidar um monge comum, se essa for a sua vez”. Não existe lugar nos ensinamentos dos Sete Budas para convites discriminatórios. Proceder dessa forma é seguir práticas não-Budistas e contradizer o sentimento filial [para com todos os seres]. Se um discípulo deliberadamente faz um convite discriminatório, comete uma ofensa secundária.

29. [Acerca de] Seguir Modos de Vida Impróprios

Um discípulo de Buda não deve envolver-se no negócio da prostituição, vendendo os favores e encantos de homens e mulheres; também não deve cozinhar para si próprio, moer e triturar grão. Não deve actuar como adivinho ou fisiognomista [determinar as compatibilidades nos noivados], exercer a interpretação de sonhos e actividades afins. Nem deve praticar as artes mágicas, trabalhar como treinador de falcões ou de cães de caça, nem ganhar a vida a compor venenos de cobras mortais, insectos ou de ouro e prata. Estas ocupações são falhas de misericórdia, compaixão e de sentimentos filiais [para com os seres sencientes]. Por isso, se um Bodhisattva se envolver intencionalmente nestas ocupações comete uma ofensa secundária.

30. [Acerca de] Gerir Negócios Para os Leigos

Um discípulo de Buda não deve, com intenções malévolas, caluniar a Jóia Tripla. Não deve fingir respeitá-la e procurar instruções dela, ensinando a Verdade da Vacuidade, quando as suas acções estão no plano da Existência. Além disso, não deve também tratar de assuntos para os leigos ou actuar como intermediário ou apostador - criando assim o karma do apego. Além disso, durante os seis dias de jejum vegetariano, o discípulo deve abster-se completamente de toda e qualquer acção de matar, roubar ou quebrar os preceitos. De outra forma o discípulo comete uma ofensa secundária. *** Um Bodhisattva deve estudar e observar respeitosamente os dez preceitos anteriores. Estão explicados em pormenor no Capítulo respeitante às “Proibições”.

31. [Acerca de] Não Resgatar Clérigos em Conjunto com Objectos Sagrados

Depois do meu passamento, nos períodos malignos que se seguirão, existirão não-Budistas, más pessoas, ladrões e gatunos que hão-de roubar e vender objectos, estátuas e pinturas de Budas, Bodhisattvas e [aqueles a quem é devido respeito tais como] os seus pais ou manuscritos de sutras e códigos morais. Poderão até chegar a vender monges, monjas ou praticantes da Via do Bodhisattva [capturando-os como prisioneiros de guerra] para servir de empregados ou servos de funcionários e outros. Um discípulo de Buda, vendo estes factos lamentáveis, deve desenvolver uma mente compassiva e procurar formas de salvar e proteger todas as pessoas e bens, recolhendo fundos onde tal seja possível para este propósito. Se um Bodhisattva não procede assim, comete uma ofensa secundária.

32. [Acerca de] Ferir Seres Sencientes Um discípulo de Buda não deve vender facas, tacos, arcos, setas ou outros instrumentos letais nem manter escalas ou instrumentos de medida alterados. Não deve aproveitar-se de qualquer alta posição governamental que ocupe para confiscar propriedades e posses nem deve, com má intenção, restringir ou aprisionar outros ou sabotar-lhes o sucesso. Além disso, não deve criar gatos, cães, raposas, porcos ou outros animais como estes. Se intencionalmente os mantém, comete uma ofensa secundária.

33. [Acerca de] Assistir a Actividades Impróprias

Um discípulo de Buda não deve, com más intenções, assistir a lutas entre pessoas ou a confrontos entre exércitos, rebeldes, bandos ou outros. Não deve ouvir os sons de conchas, tambores, chifres, guitarras, flautas, alaúdes, canções ou outras músicas, nem deve tomar parte em qualquer forma de jogo, quer de dados, tabuleiro ou outros. Além disso, não deve praticar a leitura da sina ou adivinhação nem deve ser cúmplice de foras da lei. Não deve participar em nenhuma destas actividades. Se em vez disso participa nelas intencionalmente, comete uma ofensa secundária.

34. [Acerca de] Abandono Temporário da Mente Bodhi Um discípulo de Buda deve observar os preceitos do Bodhisattva todos os dias, quer esteja parado, a andar, sentado ou reclinado. Deve ser decidido quanto a manter os preceitos, com a força de um diamante, o desespero de um náufrago agarrado a uma pequena tábua a tentar atravessar o oceano ou com os princípios do “Bhiksu preso por ervas”. Além disso, deve sempre ter uma fé total nos ensinamentos do Mahayana. Consciente de que todos os seres sencientes são futuros Budas enquanto que os Budas são Budas realizados; deve desenvolver a Mente Bodhi e mantê-la em todo e qualquer pensamento, sem recuo. Se um Bodhisattva tem ainda que um simples pensamento em direcção aos Dois Veículos ou às doutrinas não-Budistas, comete uma ofensa secundária.

35. [Acerca de] Não Fazer Grandes Votos

Um Bodhisattva deve fazer muitos grandes votos - ser filial para com os seus pais e Mestres do Dharma, encontrar bons conselheiros espirituais, amigos e colegas que lhe ensinem os sutras e códigos morais do Mahayana bem como as Dez Moradas, as Dez Condutas, as Dez Dedicações e os Dez Chãos. Deve além disso fazer votos de compreender claramente estes ensinamentos de modo a poder praticar de acordo com o Dharma, mantendo decididamente os preceitos dos Budas. Deve, se necessário, abdicar da sua vida em lugar de abandonar esta decisão ainda que por um único momento. Se um Bodhisattva não faz votos como estes comete uma ofensa secundária.

36. [Acerca de] Não fazer Resoluções

Assim que o Bodhisattva tenha feito estes Grandes Votos, deve manter estritamente os preceitos dos Budas e fazer as seguintes resoluções: 1 - Prefiro saltar para um fogo abrasador, um abismo profundo ou uma montanha de facas do que envolver-me em acções impuras com qualquer mulher, violando assim os sutras e códigos morais dos Budas dos Três Períodos de Tempo. 2 - Prefiro envolver-me cem vezes com uma rede de ferro em brasa do que deixar este corpo, caso quebre os preceitos, usar as roupas oferecidas pelos fieis. - Prefiro engolir uma bola de ferro em brasa ou beber ferro derretido durante centenas de milhares de kalpas a deixar esta boca, caso quebre os preceitos, consumir comida e bebida oferecidas pelos fiéis. - Prefiro deitar-me numa fogueira ou numa rede de ferro em brasa do que deixar este corpo, caso quebre os preceitos, deitar-se em camas ou cobertores oferecidos pelos fiéis. - Prefiro saltar para um caldeirão de óleo a ferver e assar por centenas de milhares de kalpas a deixar este corpo, caso quebre os preceitos, receber abrigo em parques, jardins ou campos dos fiéis. 3 - Prefiro ser pulverizado da cabeça aos pés por um martelo de ferro a deixar este corpo, caso quebre os preceitos, aceitar respeito e reverência dos fiéis. 4 - Prefiro ter os dois olhos arrancados por centenas de milhares de espadas e lanças, a quebrar os preceitos ao olhar para formas belas. [Do mesmo modo, devo manter a minha mente sem ser maculada por sons, fragrâncias, comida ou sensações agradáveis.] 5 - Faço além disso o voto de que todos os seres alcançarão o estado de Buda. Se um discípulo de Buda não faz as grandes resoluções anteriores, comete uma ofensa secundária.

37. [Acerca de] Viajar em Áreas Perigosas

[Como monge], um discípulo de Buda deve levar a cabo práticas ascéticas duas vezes por ano. Deve sentar-se em meditação, de Verão e de Inverno, e fazer um retiro de Verão. Durante esses períodos, deve transportar sempre consigo dezoito bens essenciais tais como um ramo de salgueiro (para escovar os dentes), água de cinzas (para sabonete), os três mantos monásticos tradicionais, um queimador de incenso, uma tigela mendicante, um tapete de sentar, um filtro de água, roupa de cama, cópias de sutras e códigos morais bem como estátuas de Budas e de Bodhisattvas. Quando pratica austeridades ou quando viaja, seja por trinta ou por trezentas milhas, um discípulo de Buda deve trazer sempre consigo os dezoito bens essenciais. Os dois períodos de austeridades vão do 15º dia do primeiro mês lunar até ao 15º dia do terceiro mês e do 15º dia do oitavo mês lunar até ao 15º dia do décimo mês. Durante os períodos de austeridades ele precisa destes dezoito bens essenciais assim como uma ave necessita das suas duas asas. Duas vezes por mês, o noviço Bodhisattva deve assistir a uma cerimónia Uposattha e recitar os Dez Preceitos Maiores e os Quarenta e Oito Preceitos Secundários. Essas recitações devem ser feitas perante imagens de Budas e Bodhisattvas. Se apenas uma pessoa assiste à cerimónia, ele deve então proceder à recitação. Se duas, três, ou mesmo centenas de milhares assistirem à cerimónia, ainda assim apenas uma pessoa deve recitar. Todos devem ouvir em silêncio. O recitador deve sentar-se num nível mais elevado do que o da audiência e todos devem vestir mantos clericais. Durante o retiro de Verão, toda e qualquer actividade deve ser tratada de acordo com o Dharma. Quando praticar as austeridades, o discípulo Budista deve evitar áreas perigosas tais como reinos instáveis, países governados por reis malévolos, terrenos escarpados, lugares ermos e remotos, áreas habitadas por bandidos, ladrões, leões, tigres, lobos, cobras venenosas ou sujeitas a temporais, cheias e fogos. O discípulo deve evitar todas essas áreas perigosas quando praticar as austeridades ou cumprir o retiro de Verão. De outra forma comete uma ofensa secundária.

38. [Acerca de] Ordem dos Lugares na Assembleia. Um discípulo de Buda deve sentar-se no seu lugar próprio na Assembleia. Aqueles que receberam os preceitos antes devem sentar-se primeiro, os que receberam os preceitos depois sentam-se atrás. Quer seja velho, novo, um Bhiksu ou Bhiksuni, uma pessoa de posição, um rei, um príncipe, um eunuco ou um servo, etc., cada um deve sentar-se de acordo com a ordem em que recebeu os preceitos. Os discípulos de Buda não devem ser como os não-Budistas ou as pessoas iludidas que baseiam a sua ordem de sentar na idade ou se sentam sem qualquer ordem - de modo bárbaro. No meu Buda Dharma a ordem dos lugares é baseada na antiguidade de ordenação. Por isso, se um Bodhisattva não seguir a ordem dos lugares de acordo com o Dharma, comete uma ofensa secundária.

39. [Acerca de] Não Cultivar Méritos e Sabedoria

Um discípulo de Buda deve constantemente aconselhar as pessoas a estabelecer mosteiros, templos e pagodes em montanhas e florestas, jardins e campos. Deve também construir stupas para os Budas e edifícios para os retiros de meditação de Inverno e de Verão. Todas as condições necessárias para a prática do Dharma devem ser estabelecidas. Além disso, o discípulo de Buda deve explicar os sutras do Mahayana e os preceitos do Bodhisattva a todos os seres sencientes. Em tempos de doença, calamidades nacionais, guerra eminente ou aquando da morte dos pais, irmãos e irmãs, Mestres do Dharma e Mestres dos Preceitos, um Bodhisattva deve ler e explicar os sutras do Mahayana e os preceitos do Bodhisattva semanalmente durante sete semanas. O discípulo deve ler, recitar e explicar os sutras do Mahayana e os preceitos do Bodhisattva em todas as reuniões de oração, nos seus afazeres e durante períodos de calamidade - incêndios, cheias, tempestades, navios perdidos no mar em águas turbulentas e assolados por demónios. Da mesma forma, deve fazê-lo de modo a transcender o mau karma, os Três Mundos Inferiores, as Oito Dificuldades, as Sete Graves Ofensas, todas as formas de prisão ou o excessivo desejo sexual, raiva, ilusões ou doença. Se um Bodhisattva não procede como indicado, comete uma ofensa secundária. *** O Bodhisattva deve estudar e respeitosamente observar os nove preceitos mencionados acima, tal como é explicado no Capítulo “Altar de Brahma”.

40. [Acerca de] Discriminação na Transmissão dos Preceitos

Um discípulo de Buda não deve ser selectivo ou mostrar preferências na transmissão dos preceitos do Bodhisattva. Toda e qualquer pessoa pode receber os preceitos - reis, príncipes, altos funcionários, Bhiksus, Bhiksunis, leigos, leigas, libertinos, prostitutas, os deuses dos dezoito Paraísos de Brahma ou dos seis Paraísos do Desejo, pessoas assexuadas, bissexuais, eunucos, escravos ou demónios e fantasmas de todos os tipos. Os discípulos de Buda devem ser instruídos a usar mantos e a dormirem em roupas de cor neutra, obtida pela mistura das cores azul, amarelo, vermelho, preto e púrpura, todas juntas. Além disso, as roupas dos monges e monjas Budistas devem ser, em todos os países, diferentes das roupas usadas por pessoas comuns. Antes de alguém ser autorizado a receber os preceitos do Bodhisattva, deve-lhe ser perguntado: “Cometeste alguma das Ofensas Gravosas?” O mestre dos preceitos não deve permitir àqueles que tiverem cometido tais ofensas receber os preceitos. Aqui estão as Sete Ofensas Gravosas: Derramar o sangue de um Buda, matar um Arhat, matar o próprio pai, matar a própria mãe, matar um Mestre do Dharma, Matar um Mestre dos Preceitos ou quebrar a harmonia da Sangha. À excepção daqueles que tenham cometido Ofensas Gravosas, todos podem receber os preceitos. As regras do Dharma da Ordem Budista proíbem monges e monjas de se curvarem perante os pais, familiares, demónios e fantasmas. Quem quer que compreenda as explicações do Mestre dos Preceitos pode receber os preceitos do Bodhisattva. Por isso, se uma pessoa percorre trinta ou trezentas milhas em busca do Dharma e o Mestre dos Preceitos, com uma mente malévola e rancorosa, não lhos confere prontamente, esse mestre comete uma ofensa secundária.

41. [Acerca de] Ensinar com Fins Lucrativos

Se um discípulo de Buda, quando ensina outros e desenvolve a fé deles no Mahayana, descobrir que alguém em particular quer receber os preceitos do Bodhisattva, deve proceder como um mestre e instruir essa pessoa a procurar dois mestres, um Mestre do Dharma e um Mestre dos Preceitos. Estes dois mestres devem perguntar ao candidato se cometeu algum das Sete Ofensas Gravosas nesta vida. Se cometeu não pode receber os Preceitos, se não os cometeu pode receber os Preceitos. Se quebrou algum dos Preceitos Maiores, deve ser instruído a arrepender-se perante estátuas de Budas e de Bodhisattvas. Deve fazê-lo seis vezes por dia e recitar os Dez Preceitos Maiores e os quarenta e Oito Preceitos Secundários, prestando respeito com extrema sinceridade aos Budas dos Três Períodos de Tempo. Deve continuar desta forma até receber uma resposta auspiciosa, que pode ocorrer após sete dias, catorze dias, vinte dias, vinte e um dias ou mesmo um ano. Exemplos de sinais auspiciosos incluem: sentir o Buda afagar a coroa da cabeça do praticante, ver luzes, halos, flores e outros fenómenos raros como estes. Ao contrário de qualquer um dos Preceitos Maiores do Bodhisattva, se o candidato violou algum dos Quarenta e Oito Preceitos Secundários, pode confessar a sua infracção e arrepender-se sinceramente perante monges ou monjas Bodhisattvas. Depois disto, a sua ofensa será erradicada. O Mestre Oficiante, no entanto, deve compreender inteiramente os sutras e códigos morais do Mahayana, os Preceitos Principais do Bodhisattva bem como os secundários, o que constitui ou não uma ofensa, a verdade dos Significados Primordiais bem como os vários estágios da prática do Bodhisattva - as Dez Moradas, as Dez Condutas, as Dez Transferências, os Dez Chãos e a Maravilhosa e Uniforme Iluminação. Deve também saber que tipo e grau de contemplação é necessário para entrar e sair destes estágios e deve estar familiarizado com os Dez Membros da Iluminação bem como com as outras variadas contemplações. Se, sem estar familiarizado com o anterior e, devido a ganância por fama, discípulos ou oferendas, finge entender os sutras e códigos morais, está a enganar-se a si próprio e aos outros. Daí que, se actua intencionalmente como Mestre dos Preceitos, transmitindo os preceitos a outros, comete uma ofensa secundária.

42. [Acerca de] Recitar os Preceitos a Pessoas Malévolas

Um discípulo de Buda não deve, por ganância, recitar os grandes preceitos dos Budas perante aqueles que não os receberam, não-Budistas ou pessoas de opiniões heterodoxas. Com a excepção de reis ou governantes supremos, não deve recitar os preceitos perante essas pessoas. Pessoas que sustentam opiniões heterodoxas e não aceitam os preceitos dos Budas são animalescas por natureza. Não hão-de, em vida após vida, encontrar as Três Jóias. São tão insensíveis como árvores e pedras; não são diferentes de tocos de madeira. Daí que, se o discípulo de Buda recitar os preceitos dos Sete Budas perante essas pessoas, comete uma ofensa secundária.

43. [Acerca de] Pensar em Violar os Preceitos

Se um discípulo de Buda se junta à Ordem com uma fé pura, recebe os correctos preceitos dos Budas, mas desenvolve então pensamentos de violar os preceitos, é indigno de receber quaisquer oferendas dos fiéis, indigno de caminhar no solo da sua própria terra natal e indigno de beber a sua água. Cinco mil fantasmas bloqueiam constantemente o seu caminho, chamando-lhe “Ladrão!” Estes fantasmas seguem-no sempre até à casa das pessoas, povoações e cidades, varrendo as suas pegadas. Todos amaldiçoam um tal discípulo chamando-lhe “Ladrão no interior do Dharma”. Todos os seres sencientes desviam os seus olhos, sem o quererem ver. Um discípulo de Buda que viola os preceitos não é diferente de um animal ou de um toco de madeira. Por isso, se um discípulo viola intencionalmente os correctos preceitos, comete uma ofensa secundária.

44. [Acerca de] Não Honrar Sutras e Códigos Morais

Um discípulo de Buda deve sempre, com concentração, receber, observar, ler e recitar os sutras e códigos morais do Mahayana. Deve copiar os sutras e códigos morais em casca, papel, tecido fino ou tiras de bamboo, não hesitando em usar a sua própria pele como papel, o seu sangue como tinta e a sua medula para a misturar, ou até quebrar os seus ossos para servirem de aparo. Deve usar jóias preciosas, incenso sem preço, flores e outras coisas preciosas para fazer e adornar capas e caixas onde guardar os sutras e códigos morais. Por isso, se não fizer oferendas de acordo com o Dharma, comete uma ofensa secundária.

45. [Acerca de] Não Ensinar os Seres Sencientes Um discípulo de Buda deve desenvolver uma mente de Grande Compaixão. Sempre que entrar em casa de alguém, em aldeias, vilas ou cidades e vir seres sencientes, deve dizer em voz alta, ”Vocês, seres sencientes, devem todos tomar os Três Refúgios e receber os Dez Preceitos (Maiores do Bodhisattva)”. Quando calhar de passar por porcos, cavalos, vacas, ovelhas e outros tipos de animais deve concentrar-se e dizer alto, “Agora sois animais; deveis desenvolver a Mente Bodhi.” Um Bodhisattva, onde quer que vá, seja a escalar uma montanha, entrar numa floresta, atravessar um rio ou andar por um campo, deve ajudar todos os seres sencientes a desenvolverem a Mente Bodhi. Se um discípulo de Buda não ensina e salva, de todo o coração, os seres sencientes desta forma, comete uma ofensa secundária.

46. [Acerca de] Ensinar o Dharma de Forma Imprópria

Um discípulo de Buda deve ter sempre uma mente de Grande Compaixão para ensinar e transformar os seres sencientes. Seja em visita a doadores aristocráticos e abastados, seja pronunciando-se numa reunião do Dharma, não deve permanecer de pé enquanto explica o Dharma aos leigos, mas deve ocupar um lugar elevado em frente da assembleia. Um Bhiksu ao proceder como instrutor do Dharma não deve estar de pé enquanto se dirige à Quádrupla Assembleia. Durante essas palestras, o Mestre do Dharma deve sentar-se num lugar elevado, com flores e incenso à sua volta, enquanto a Quádrupla Assembleia deve ouvir num lugar mais baixo. A Assembleia deve respeitar e seguir o Mestre como filhos dedicados seguem os seus pais ou como os Brâmanes adoram o fogo. Se um Mestre do Dharma não segue estas regras enquanto expõe o Dharma comete uma ofensa secundária.

47. [Acerca de] Regulamentações Contra o Dharma

Um discípulo de Buda que tenha recebido os preceitos dos Budas com uma fé saudável e correcta, não deve usar uma qualquer posição elevada que possua (tal como rei, príncipe, funcionário, etc.) para minar o código moral dos Budas. Não pode estabelecer leis e regulamentações impedindo os quatro tipos de discípulos leigos de se juntarem à Ordem e de praticarem a Via, nem pode proibir a criação e feitura de imagens de Budas e Bodhisattvas, estátuas e stupas ou a impressão e distribuição de sutras e códigos. Da mesma forma, não pode estabelecer leis e regulamentações que coloquem tutelas na Quádrupla Assembleia. Se discípulos leigos altamente colocados se entregam a acções contrárias ao Dharma, não são diferentes de vassalos ao serviço de governantes [ilegítimos]. Um Bodhisattva deve receber respeito e oferendas de todos. Se em vez disso é forçado a submeter-se a funcionários, isto é contrário ao Dharma, contrário ao código moral. Por isso, um rei ou funcionário que tenha recebido os preceitos do Bodhisattva com uma mente sadia, deve evitar ofensas lesivas para as Três Jóias. Se em vez disso comete intencionalmente esses actos, é culpado de uma ofensa secundária.

48. [Acerca de] Destruir o Dharma Um discípulo de Buda que se torna monge com intenções sadias não deve, por desejo de fama ou de lucro, explicar os preceitos a reis e funcionários de uma forma [capciosa], fazendo com que os monges, monjas ou leigos que tenham recebido os preceitos do Bodhisattva sejam presos ou recrutados à força. Se um Bodhisattva age dessa forma, não é diferente de um verme num corpo de leão, comendo-lhe a carne. Isto é algo que um verme que viva fora do leão não pode fazer. Da mesma forma, apenas os discípulos de Buda podem abater o Dharma - nenhum não-Budista ou demónio o consegue.

Aqueles que receberam os preceitos do Buda devem protegê-los e observá-los tal como uma mãe tomaria conta do seu único filho ou um filho dedicado cuidaria dos seus pais. Não devem fazer cair o Dharma.

Se um Bodhisattva ouve não-Budistas ou pessoas mal intencionadas a maldizerem e desprezarem os preceitos dos Budas, deve sentir-se como se o seu coração fosse trespassado por trezentas setas ou o seu corpo apunhalado com cem facas ou sovado por cem paus. Preferiria sofrer ele mesmo nos infernos durante cem kalpas do que ouvir seres malignos desprezarem os preceitos do Buda. Quanto pior seria se o discípulo fosse a quebrar ele mesmo os preceitos ou incitar outro a fazê-lo! Por isso, se violar os preceitos intencionalmente, o discípulo comete uma ofensa secundária.


fonte: http://budadharma.paginas.sapo.pt/sutra_rede.htm

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Código Moral dos Bodhisattvas

Nessa ocasião, quando o Buda Shakyamuni alcançou a suprema Iluminação sob a árvore Bodhi, expôs os preceitos do Bodhisattva. O Buda ensinou os sentimentos filiais para com os pais, Mestres Mais Antigos e a Tripla Jóia. O sentimento filial, disse ele, é o caminho (para a Budeidade). É também considerado um preceito – significa restrição e cessação. Então, Buda emitiu da sua boca luzes sem limite. Posto isso, todos na Grande Assembleia, constituída por inumeráveis Bodhisattvas, pelos deuses dos dezoito Paraísos Brahma, pelos deuses dos seis Paraísos do Desejo e os regentes dos dezasseis grandes reinos, juntaram as palmas das mãos e ouviram concentradamente o Buda recitar os preceitos do Mahayana. Buda disse então aos Bodhisattvas: Duas vezes por mês recito os preceitos observados por todos os Budas. Todos os Bodhisattvas, desde os que acabam de despertar a Mente Bodhi, até aos Bodhisattvas das Dez Moradas, das Dez Práticas, das Dez Dedicações e dos Dez Chãos, também os recitam. Por isso é que esta luz irradia da minha boca. Ela não surge sem uma causa. Esta luz não é nem azul, nem amarela, nem vermelha, nem branca nem preta. Não é nem forma nem ideia. Não é existente nem não existente, nem causa nem efeito. Esta luz dos preceitos é precisamente a fonte original de todos os Budas e de todos os membros desta Grande Assembleia. Por isso todos vós, discípulos de Buda, deveis receber e observar, ler, estudar e recitar estes preceitos com a máxima atenção. Discípulos de Buda, ouçam atentamente! Quem quer que seja capaz de entender e aceitar as palavras de transmissão de um Mestre do Dharma pode receber os preceitos do Bodhisattva e ser considerado inexcedível em pureza. Isto é verdade quer esse ser seja um rei, um príncipe, um funcionário ou um monge, uma monja, um deus dos dezoito Paraísos Brahma, um deus dos seis Paraísos do Desejo, um humano, um eunuco, um libertino, uma prostituta, um servo, um membro das Oito Divisões de Divindades, um espírito Vajra, um animal ou mesmo um ser de transformação.


Os Dez Preceitos Maiores

Buda disse aos seus discípulos, “Existem dez preceitos Pratimoksa (maiores) do Bodhisattva. Se alguém recebe os preceitos mas não os recita, não é um Bodhisattva nem uma semente da Budeidade. Também eu recito estes preceitos. Todos os Bodhisattvas os estudaram no passado, os estudarão no futuro e os estudam agora. Seguidamente explicarei as características principais dos preceitos do Bodhisattva. Deveis estudá-los e observá-los de todo o coração.”

1. Primeiro Preceito Maior: Não Matar

Um discípulo de Buda não deve matar, encorajar outros a matar, matar por expedientes, louvar o acto de matar, rejubilar ao presenciar o acto de matar ou matar mediante encantamentos ou mantras desviantes. Não deve criar as causas, condições, métodos ou karma de matar e não deve matar intencionalmente qualquer criatura viva. Enquanto discípulo de Buda, deve desenvolver uma mente compassiva e filial, procurando sempre meios hábeis para salvar e proteger todos os seres. Se, pelo contrário, ele deixa de se restringir, tirando prazer cruel em matar, comete uma ofensa Parajika (maior).

2. Segundo Preceito Maior: Não Roubar

Um discípulo de Buda não deve roubar, encorajar outros a roubar, roubar por expedientes, roubar mediante encantamentos ou mantras desviantes. Não deve criar as causas, condições, métodos ou karma de roubar. Nenhum valor ou bem, mesmo pertencente a fantasmas, espíritos ou ladrões, seja ele pequeno como uma agulha ou uma erva, pode ser roubado. Enquanto discípulo de Buda, deve desenvolver uma mente misericordiosa, compassiva e filial – ajudando sempre as pessoas a obterem méritos e virtudes e a alcançarem felicidade. Se, pelo contrário, ele rouba o que pertence a outros, comete uma ofensa Parajika.

3. Terceiro Preceito Maior: Não Ter Condutas Sexuais Impróprias

Um discípulo de Buda não deve envolver-se em actos licenciosos ou encorajar outros a fazê-lo. [Enquanto Monge] não deve ter relações sexuais com nenhuma fêmea – seja ela humana, animal, divindade ou espírito – nem criar as causas, condições, métodos ou karma dessa má conduta. Além disso, não deve envolver-se em conduta sexual imprópria com ninguém. Um discípulo de Buda deve ter uma mente filial, salvando os seres e instruindo-os no Dharma da pureza e castidade. Se, em vez disso, é desprovido de compaixão e encoraja outros a envolverem-se em condutas sexuais impróprias, ou envolve-se promiscuamente com alguém, incluindo animais ou mesmo a sua mãe, filha, irmã ou outros parentes próximos, comete uma ofensa Parajika.

4. Quarto Preceito Maior: Não Mentir Nem Falar com Falsidade

Um discípulo de Buda não deve usar palavras ou expressões falsas, nem encorajar outros a mentir ou mentir mediante expedientes. Não deve envolver-se nas causas, condições, métodos ou karma de mentir, dizendo ter visto o que não viu ou vice-versa, ou mentindo implicitamente mediante meios físicos ou mentais. Como discípulo de Buda deve manter sempre o Recto Discurso e a Noção Recta e levar os outros a mantê-los também. Se, em vez disso, conduz os outros a um discurso erróneo, a pontos de vista erróneos ou mau karma comete uma ofensa Parajika.

5. Quinto Preceito Maior – Não Vender Bebidas Alcoólicas

Um discípulo de Buda não deve negociar bebidas alcoólicas ou encorajar outros a fazê-lo. Ele não deve criar as causas, condições, métodos ou karma de vender qualquer intoxicante, porque os intoxicantes são a fonte de todos os tipos de ofensas. Enquanto discípulo de Buda, deve ajudar todos os seres a alcançar sabedoria clara – se em vez disso os induz a um pensamento perturbado e turvo, comete uma ofensa Parajika.

6. Sexto Preceito Maior: Não Veicular as Faltas da Assembleia

Um discípulo de Buda não deve veicular as faltas ou infracções de Bodhisattvas ordenados ou leigos nem de monges e monjas comuns, nem encorajar outros a fazê-lo. Não deve criar as causas, condições, métodos ou karma de discutir as faltas da assembleia. Enquanto discípulo de Buda, sempre que ouça pessoas malévolas, não-Budistas ou seguidoras dos Dois Veículos falarem de práticas contrárias aos preceitos no seio da comunidade Budista, deve instruí-los com mente compassiva e levá-los a desenvolver uma fé sadia no Mahayana. Se, em vez disso, discute as faltas e más acções que ocorram no seio da assembleia, comete uma ofensa Parajika.

7. Sétimo Preceito Maior: Não Se Louvar Depreciando os Outros

Um discípulo de Buda não deve louvar-se e falar mal dos outros ou encorajar outros a fazê-lo. Não deve criar as causas, condições, métodos ou karma de se louvar a si mesmo e depreciar os outros. Enquanto discípulo de Buda deve estar disposto a “dar a cara” por todos os seres sencientes e a suportar humilhações e calúnias – aceitando censuras e deixando os seres sencientes receberem toda a glória. Se, em vez disso, exibe as suas virtudes e encobre os aspectos positivos dos outros, fazendo desse modo com que sofram calúnias, comete uma ofensa Parajika.

8. Oitavo Preceito Maior: Não ser Avarento Nem Abusivo

Um discípulo de Buda não deve ser avarento nem encorajar outros a sê-lo. Não deve criar as causas, condições, métodos ou karma da avareza. Enquanto Bodhisattva, sempre que uma pessoa necessitada pede ajuda, deve dar-lhe o que quer que ela precise. Se, em vez disso, com raiva e ressentimento, lhe nega toda a assistência – negando-se a ajudar ainda que com apenas um cêntimo, uma agulha ou uma erva, mesmo que uma sentença ou verso ou um iota do Dharma, mas em vez disso, censura e insulta essa pessoa – comete uma ofensa Parajika.

9. Nono Preceito Maior: Não Alimentar Raiva e Ressentimento

Um discípulo de Buda não deve acolher o sentimento de raiva ou encorajar outros a enfurecerem-se. Não deve criar as causas, condições, métodos ou karma da raiva. Enquanto discípulo de Buda, deve ser compassivo e filial, ajudando todos os seres sencientes a desenvolverem boas raízes de não-confrontação. Se, em vez disso, insulta e desrespeita os seres sencientes, mesmo seres de transformação [tais como divindades ou espíritos] com palavras rudes, agredindo-os com o punho ou com o pé, com uma faca ou com um pau – ou guarda rancor mesmo depois de a vítima confessar os seus erros e pedir perdão com uma voz doce e conciliatória – o discípulo comete uma ofensa Parajika.

10. Décimo Preceito Maior: Não Caluniar as Três Jóias

Um discípulo de Buda não deve falar mal da Jóia Tripla ou encorajar outros a fazê-lo. Não deve criar as causas, condições, métodos ou karma da calúnia. Se um discípulo ouve ainda que uma só palavra de calúnia contra o Buda, proferida por não-Budistas ou seres malévolos, experimenta uma dor semelhante à de trezentas setas a trespassarem o seu coração. Como pode então ser possível ele mesmo caluniar as Três Jóias? Assim, se um discípulo é desprovido de fé e de sentimentos filiais e ajuda pessoas malévolas ou com noções aberrantes a caluniar a Jóia Tripla, comete uma ofensa Parajika.

fonte: http://budadharma.paginas.sapo.pt/sutra_rede.htm

Desejo sexual

A contemplação apropriada anula o desejo sexual

O Buda disse, “Tenham cuidado para não olharem as mulheres e não falarem com elas. Se tiverem de falar com elas, mantenham a vigilância apropriada e pensem, ‘Sou um Shramana a viver neste mundo turvo. Devo ser como a flor de lótus que não é suja pela lama.’ Pensem nas mulheres mais idosas como vossas mães, nas mais velhas como irmãs mais velhas, nas mais jovens como irmãs mais novas e nas crianças como vossas filhas. Mantenham em mente a ideia de as libertar e ponham um fim aos maus pensamentos.

fonte: http://budadharma.paginas.sapo.pt/42_seccoes.htm

Lista de dificuldades

O Buda disse, “As pessoas encontram vinte tipos de dificuldades.
É difícil dar quando se é pobre.
É difícil estudar o caminho quando se tem dinheiro e estatuto.
É difícil abandonar a vida e enfrentar a certeza da morte.
É difícil encontrar os sutras budistas.
É difícil nascer quando um Buda está no mundo.
É difícil suportar a luxúria e o desejo.
É difícil ver coisas preciosas e não as desejar.
É difícil ser insultado e não se enfurecer.
É difícil ter poder e não abusar dele.
É difícil entrar em contacto com as coisas e não ser afectado por elas.
É difícil ter um conhecimento vasto e investigar profundamente.
É difícil vencer o orgulho.
É difícil não menosprezar quem ainda não estudou.
É difícil manter a mente em equanimidade.
É difícil não falar dos outros e não dar opiniões.
É difícil encontrar um Mestre Bom e Sábio.
É difícil ver a própria natureza e estudar o Caminho.
É difícil ensinar as pessoas e conduzi-las à Iluminação de acordo com as suas capacidades.
É difícil ser o mestre de si mesmo perante todas as situações.
É difícil entender completamente os meios hábeis dos Budas.”

fonte: http://budadharma.paginas.sapo.pt/42_seccoes.htm

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O SUTRA AVATANSAKA




imagem de www.artsmia.org


Sutra Avatansaka

Parte I - Os Votos do Bodhisattva Samantabhadra

Parte II - Os Méritos dos Votos de Samantabhadra

Parte III - Versos sobre a Conduta e Votos de Samantabhadra

Parte IV - Conclusão




Os Dez Grandes Votos do Bodhisattva Samantabhadra



índice



Girando a Roda da Lei

I
LUNYU1

Nada é mais profundo do que Fa-Buda2. É a ciência mais prodigiosa e
extraordinária dentre todas as teorias existentes no mundo. Para poder
explorar seus domínios, as pessoas comuns devem mudar radicalmente o
modo de pensar. Se isso não for feito, a verdade do universo permanecerá
para sempre como um mistério para a humanidade e o homem comum se
arrastará para sempre dentro dos limites da própria ignorância.
Então, o que é precisamente Fa-Buda? É uma religião? Uma filosofia?
Esse é apenas “o entendimento dos modernos eruditos do Budismo” que
meramente estudam teorias. Eles consideram Fa-Buda como uma filosofia
a ser estudada e analisada criticamente. Na verdade, Fa-Buda não se limita
a esse mínimo contido nas escrituras do Budismo, que nada mais é do que o
nível mais elementar de Fa-Buda. Fa-Buda é a sabedoria que penetra todos
os profundos mistérios do universo, desde as partículas e moléculas até o
universo, do menor ao maior, abrangendo tudo, sem deixar nada de fora. É
uma exposição do caráter cósmico “Zhen-Shan-Ren3”, que se
manifesta de diferentes formas nos diversos níveis. É também chamado de
Tao na Escola Tao e de Fa na Escola Buda.

saiba mais
fonte: http://www.falundafa.pro.br/livros/Zhuan_Falun.pdf

Hotsu Bodai Shin

Hotsu Bodai Shin
Acordar para a mente Bodai (Bodhi- Iluminada)
De maneira geral há três espécies de mente.
A primeira, citta, é aqui chamada de mente discriminatória ou pensante1.
A segunda, hridaya, é aqui chamada de mente de grama e de árvores2.
A terceira, vriddha, é aqui chamada de mente experiente ou concentrada3.
É através da mente citta que despertamos para a mente bodhi. Bodhi é o som de uma palavra hindu, aqui chamada de o Caminho4.
Citta é o som de uma palavra da Índia, aqui chamada mente pensante ou mente discriminatória5.
Sem a mente discriminatória é impossível acordar para a mente Bodai. Mas isso não quer dizer que a mente discrimintória seja a mente Bodai. Estabelecemos a mente Bodai através da mente discriminatória.
Estabelecer a mente Bodai significa fazer o voto e o esforço de ajudar todos os seres a cruzar para a outra margem antes que nós o façamos. Embora de aparência humilde a pessoa que tenha acordado para esta mente já é mestra de todos os seres vivos.
Esta mente não é inata nem surge subitamente.
Não é uma nem muitas. Não é natural e não é formada. Não está em nosso corpo e nosso corpo não está nela.
Esta mente não permeia o mundo do Darma.
Não é do passado nem do futuro.
Não está presente nem ausente.
Não é de natureza objetiva nem de natureza subjetiva.
Não é de natureza combinada nem de natureza sem causa.
Está longe de tais diferenças como antes e depois, ser e não ser.
É a essência não de si mesma, nem dos outros, nem de ambos.
Não surge espontaneamente, mas só aparece quando há comunhão espiritual (empatia) entre as pessoas e Buda.
Não a recebemos de Budas e Bodisatvas nem a produzimos através de nossa própria habilidade.
Como já foi dito, surge apenas quando estamos em comunhão espiritual com Buda (comunicação mística com a verdade), assim sendo não é inerente.
Estabelecer a mente Bodai geralmente só acontece para seres humanos no sulino continente de Jambudvipa. Raramente acontece nos oito mundos problemáticos6.
Tendo despertado para a mente Bodai praticamos por três kalpas asamkya ou por cem grandes kaplas. Em alguns casos praticamos por infinitos calpas e nos tornamos Buda. Em outros casos praticamos por incontáveis kalpas para primeiro ajudar todos os seres vivos a cruzar para a outra margem antes de nós, sem nos tornarmos Buda, mas apenas atravessando seres vivos e os beneficiando – isto está de acordo com a atitude de prazer em Bodai.
As pessoas que estabeleceram a mente Bodai constantemente se esforçam através das três formas de comportamento (corpo, mente e palavra) para fazer despertar essa mesma mente em todos os seres vivos e conduzi-los à verdade do Caminho Supremo.
Apenas satisfazer os desejos mundanos dos seres humanos, entretanto, não significa beneficia-los.
Acordar e praticar a mente Bodai transcende delusão e iluminação. É elevar-se acima do mundo triplo e ter superado todas as coisas. Estar além de sravakas e de pratiekabudas.
O Bodisatva Mahakasyapa elogiou Xaquiamuni Buda com um poema dizendo:
Acordar para a mente Bodai e o estado iluminado
São dois, mas não estão separados.
Entre eles o mais difícil é o primeiro:
Libertar todos os seres antes de se libertar.
Por essa razão reverencio a mente Bodai.
Quem assim desperta já é mestra de seres humanos e celestiais.
Superior a sravakas e pratiekabudas.
Acordar para a mente Bodai supera o mundo triplo
Por isso a chamamos de Suprema.
Acordar para a mente Bodai significa, primeiramente, fazer o voto de ajudar todos os seres a realizar iluminação antes de nós. Depois desse despertar encontramos inumeráveis Budas e os(as) servimos com ofertas. Durante esse tempo de encontrar Budas e ouvir o Darma nos aprofundamos ainda mais no despertar para a mente Bodai, da mesma maneira que o gelo se acumula com a neve.
Realizar a iluminação é obter resultado Buda, é anokutara sammyaku sambodai. Quando comparamos esta suprema sabedoria Bodai (anokutara sammyaki sanbodai) com o despertar para a mente Bodai,a primeira parece ser o holocausto de fogo ardente do final de um kalpa e a segunda um pequeno vaga lume. Entretanto, a diferença entre ambas desaparece quando fazemos o voto de ajudar
outras criaturas a realizar iluminação antes de o realizarmos nós mesmas.
Constantemente faço deste meu pensamento:
Como posso fazer com que todos os seres vivos
Sejam capazes de penetrar a verdade suprema
E rapidamente realizar o corpo de Buda? 7
Estas palavras são a própria vida eterna de Buda.
Budas acordam para a mente Bodai, praticam, experimentam iluminação – todos da mesma maneira.
Beneficiar outros significa ajudá-los a realizar iluminação, como foi previamente explicado, antes que o façamos nós. Após ter acordado para a mente Bodai não devemos esperar nos tornar Budas pela virtude de termos assim despertado para o voto de libertar outros antes de nós obtermos a libertação.
Mesmo que tenhamos adquirido mérito suficiente para realizar o estado Buda, devemos colocar esse mérito à disposição de todos os seres a fim de que possam realizar o Caminho.
A mente Bodai não surge nem do próprio ser nem de outras pessoas ou coisas. Após estabelecer a mente Bodai tudo que tocamos se transforma: quando abraçamos a Terra ela se torna puro ouro e quando mexemos o oceano ele se torna puro néctar.
Assim sendo pegar um punhado de terra, areia, pedras ou rochas é apanhar a mente Bodai. Encontrar uma mina de água, espumas do mar ou labaredas é estar em grande intimidade com a mente Bodai.
Logo, oferecer aos outros nosso castelo, família, sete tesouros, servos, cabeça, cérebro, olhos, medula, corpo, carne, mãos e pés é em cada caso o clamar da mente Bodai e a atividade vigorosa da mente Bodai.
Mesmo a mente discrimintória, citta, que não está longe nem próxima, não é o próprio ser nem os outros seres, se torna o equivalente a acordar para a mente Bodai quando constantemente mantemos nosso voto de ajudar todos os outros a realizar a iluminação antes que nós a realizemos.
Assim sendo, oferecer as coisas às quais nos apegamos, seja grama, árvores, ladrilhos, pedras, ouro, prata ou tesouros raros para o bem da mente Bodai é também o equivalente ao despertar para a mente Bodai.
Tanto a mente Bodai como todos os darmas reais estão além de sujeito, objeto, combinação e causalidade se estabelecermos a mente Bodai por um só ksana, todos os miríades darmas estarão promovendo condições propícias para o seu crescimento.
Acordar para a mente Bodai e realizar iluminação estão sujeitos ao nascimento-morte momentâneos. Se isso não fosse verdade, nem os momentâneos erros do passado desapareceriam nem o momentâneo bem do presente apareceria. Apenas o Tathagatha clarificou o comprimento de um instante, pois apenas ele é capaz de produzir e falar uma palavra completa em um tempo tão curto quanto um ksana.
Diz-se que sessenta e cinco ksanas passam no espaço de tempo em que um jovem, no máximo de sua vitalidade, leva para estalar os dedos. Entretanto, as pessoas comuns, embora tenham conhecimento de longos períodos de tempo, ignoram este fato. Da mesma maneira não podem realizar que seus corpos-mentes estão em constante estado de nascimento-morte.
Mais ainda, não sabem que há seis bilhões, quatrocentos milhões, noventa e nove mil e novecentos e oitenta (6.400.099.980) ksanas em vinte e quatro horas – tempo durante o qual seus corpos-mentes estão em constante estado de nascimento-morte.
Por isso são incapazes de acordar para a mente Bodai.
Pessoas que não crêem nem conhecem o Darma sem dúvida alguma não acreditam na verdade do nascimento-morte momentâneo. As pessoas que realizaram a Maravilhosa Mente de Nirvana (Nehan Myo Shin) e o Olho Armazenador da Lei Verdadeira (Sho Bo Gen Zo) do Tatagata, sem dúvida alguma acreditam no instantâneo surgir-desaparecer.
Embora tenhamos tido a boa fortuna de encontrar os ensinamentos do Tatagata e aparentemente o haver compreendido, na verdade compreendemos apenas uma pequena parte que pensamos ser o todo, parte que não é mais do que cento e vinte ksanas.
O fato de não podermos compreender todos os ensinamentos do Mais Honrado do Mundo é igual à nossa ignorância quanto ao comprimento de uma ksana. Nós, praticantes do Caminho de Buda não devemos ficar com orgulho de nossa compreensão, sendo como somos ignorantes tanto do máximo quanto do mínimo.
Ainda assim, mesmo pessoas comuns, quando confiam no poder da verdade do Tatagata são capazes de ver o mundo que se desdobra em três mil.
Vida-morte constantemente se transforma, momento após momento, em cada um de seus estágios, quer nós o queiramos ou não. Sem um só momento de pausa nosso karma faz com que transmigremos constantemente. Embora sujeito à transmigração dessa forma, devemos ainda assim rapidamente fazer o voto de ajudar outros a realizar iluminação antes que nós mesmos o façamos.
Mesmo se ao estabelecermos a mente Bodai ficarmos apegados ao nosso corpo-mente, este nasce, envelhece, adoece e morrer, e no final o corpo-mente não nos pertence.
A vida, sujeita a nascimento-morte, passa rapidamente:
Certa vez, durante a vida de Xaquiamuni Buda, um monge veio a ele e, após haver se prostrado, disse:
- Por que a vida passa tão rapidamente?
Buda respondeu:
- Mesmo que eu explicasse, você não entenderia.
O monge então pediu:
-Será que não há uma parábola que explique claramente?
Buda respondeu:
- Sim, há. Vou dizer. Suponha que existam quatro ótimos arqueiros que, apanhando seus arcos e flechas se pusessem de costas uns aos outros a fim de atirar suas flechas em cada uma das quatro direções. Se, nesse momento, uma corredora rapidíssima viesse e dissesse:
-“Atirem suas flechas simultaneamente e eu as apanharei antes que caiam no chão”. Você acha que seria uma corredora rápida?
O monge respondeu:
- Sem dúvida, Bhagavata.
Continuando sua explicação, Buda disse:
- Embora tal pessoa seja uma corredora velocíssima, ela não se iguala a um yaksa correndo no chão e este não se iguala a um yaksa voando no ar o qual não se iguala aos reis dos quatro cantos. Mesmos esses reis não podem correr tão rápido quanto as carruagens do sol e da lua as quais não se igualam aos seus ajudantes celestiais. Embora todos os precedentes sejam velocíssimos, não se comparam à vida, que, sem um só momento de pausa, está constantemente nascendo-morrendo. (nota da tradução – Daibibasharon, capítulo 136)
A sutileza do surgir, desaparecer e fluir instantâneo do curso de nossa vida é assim. Momento após momento, praticantes do Caminho de Buda não devem se esquecer deste princípio. Se constantemente nos lembrarmos do surgir-desaparecer, fluir instantâneo, e fizermos o voto de ajudar outros a cruzar para a outra margem antes que nós mesmos o façamos, a vida eterna imediatamente se apresentará bem à nossa gente.
Budas nos três estágios de tempo e nas dez direções juntamente com os Sete Mais Honrados Budas (do passado), os vinte e oito Ancestrais do Darma da Índia e os seis da China bem como os outros Budas Ancestrais que trasnmitiram a Maravilhosa Mente de Nirvana e o Olho Tesouro do Verdadeiro Darma (Nehan Myoshin e Shobogenzo) – todos preservam esta mente Bodai.
Quem não estabelece a mente Bodai não é considerado Buda Ancestral.
A questão Cento e Vinte do Critério Puro para Mosteiros Zen (nota da tradução: Zen em Shingi, edição completada pelo Mestre Choro Sosaku em 1103) é a seguinte:
“Você despertou para a mente Bodai ou não?”
Claramente se lembre: estabelecer a mente Bodai é o primeiro passo na prática do Caminho dos Budas Ancestrais e, ao mesmo tempo, está de acordo com seus ensinamentos.
Despertar para a mente Bodai significa compreendê-la completamente, significa tornar-se iluminado. Esta iluminação, entretanto, não é igual à de Buda. Mesmo que alguém rapidamente realize os dez estágios, ainda assim é um Bodisatva. Os vinte e oito Ancestrais da Índia, os seis na China assim como todos os outros grandes Ancestrais do Darma eram Bodisatvas e não Budas, Sravakas ou Pratiekabudas.
Entre as pessoas que atualmente praticam o Caminho não há nenhuma que claramente compreenda que é um Bodisatva e não um Sravaka. Quão lamentável que o Caminho dos Ancestrais do Darma se tenha perdido nesta época da degeneração do Budismo, pois os que se chamam de monges ignoram este fato!
Tanto leigos ou leigas, monges ou monjas, vivendo no mundo celestial ou humano, sujeitos à dor ou ao prazer, devemos rapidamente fazer o voto de ajudar os outros a atravessar para a outra margem antes que nós o façamos. Mesmo que o mundo dos seres vivos não seja nem limitado nem ilimitado, devemos fazer surgir esta mente, pois não é nada mais do que a mente Bodai.
Diz-se que quando um Bodisatva de nível elevado de realização está para descender ao mundo humano dá o seguinte ensinamento final a às divindades no Céu Tusita:
A mente Bodai é o portal do Darma Iluminado, pois previne negar os Três Tesouros.
Com toda clareza, é pela virtude da mente Bodai que são mantidos os Três Tesouros. Após esta mente haver surgido ela deve ser cuidadosa e diligentemente protegida.
Xaquiamuni Buda disse: Bodisatvas mahasatvas constantemente se esforçam para preservar esta mente Bodai da mesma maneira que as pessoas protegem seus filhos únicos ou alguém que perdeu um olho protege o olho que ficou. Assim como aqueles que, viajando através das vastas florestas, protegem seu guia, é dessa forma que os bodisatvas protegem a mente Bodai.
Por protegerem a mente Bodai dessa forma obtém a verdade de anokutara sammyaku sambodai. Porque obtém a verdade de anokutara sammyaku sambodai ficam repletos de constância, felicidade, autonomia e pureza - o Supremo e Grande Parinirvana. Por essa razão, bodisatvas guardam um darma8.
É assim que Xaquiamuni Buda clarifica o sentido de proteger a mente Bodai. A razão pela qual Bodisatvas a guardam com todo cuidado e diligência pode ser explicada ao fazer a seguinte comparação com o fenômeno no mundo comum.
Há três espécies de seres que embora nascendo raramente atingem a maturidade: as ovas de peixes, a fruta da árvore amra (uma espécie de manga que produz muitas flores e poucos frutos) e um Bodisatva que tenha acordado para a mente Bodai.
Com também há Bodisatvas que relaxam sua prática e perdem a mente Bodai, eu sempre temo regredir e perdê-la. Por esta razão eu protejo a mente Bodai.
Bodaisatvas geralmente regridem ou se distanciam da mente Bodai quando são incapazes de encontrar um verdadeiro mestre e ouvir o Darma. O resultado é que podem negar a existência da causalidade, da iluminação, dos Três Tesouros, dos Três Mundos e assim por diante.
Apegando-se sem o menor sentido aos cinco desejos, tornam-se incapazes de realizar iluminação no futuro.
Papiyas e seus seguidores ás vezes se disfarçam de Budas, genitores, mestres budistas, parentes ou seres celestiais a fim de obstruir a prática. Aproximam-se de um Bodaisatva e dizem enganosamente:
“O Caminho de Buda está muito distante. Você passará por muitas dificuldades e sofrerá muitíssimo. Melhor você primeiro obter iluminação antes de tentar ajudar outros a atravessar para a outra margem.”
Ouvindo essas palavras o Bodisatva relaxa sua prática e pode perder a mente Bodai. Devemos claramente realizar que afirmações como essas são o trabalho de demônios e não devem ser seguidas.
Sem relaxarmos nossos votos e esforços para ajudar os outros a cruzar para a outra margem antes que o façamos nós mesmos, devemos claramente realizar que quaisquer afirmações que nos sejam feitas para relaxar nossos votos e esforços são os ensinamentos de demônios, religiões não Budistas e maus amigos. Nunca as devemos seguir.
Há quatro espécies de demônios:da primeira espécie são os demônios dos obstáculos, da segunda são demônios dos cinco agregados da terceira são demônios da morte e da quarta são demônios celestiais (papyas).
O demônio dos obstáculos lida com cento e oito obstáculos ou oitenta e quatro mil obstáculos.
O demônio dos cinco agregados (forma ou corpo, sensação, percepção, agregado de formações, consciência ou faculdade de pensar) está relacionado com as causas primárias e as condições que se formam para causar obstáculos. Temos este corpo de quatro elementos (terra, água, fogo e vento) e seus complementos. Corpo e complementos – os seis órgãos dos sentidos – são chamados de rupa skanda.
A soma das sensações com a percepção dos cento e oito obstáculos é chamada vedana skanda.
Diferenciação e síntese dos incontáveis pensamentos grandes e pequenos é chamado agregado do pensamento (sanjna skanda).
Através de ocorrências de prazer e desprazer podem surgir hábitos que acomodam ou não acomodam estados mentais como de ganância, raiva e assim por diante – este é chamado agregado de conduta (sanskara skanda).
Combinação dos seis sentidos e seus seis objetos faz surgir seis espécies de consciências. Incontáveis e ilimitados estados mentais que são diferenciação e sintesis dessas seis espécies de consciência são chamados agregado da consciência(vijnana skanda).
O demônio da morte, através da transicência, destrói a continuidade dos cinco agregados e depreca o corpo de consciência, temperatura e vida.
Demônios celestiais ou papiyas são os governantes do mundo dos desejos, profundamente apegados aos prazeres mundanos Através de suas expectativas de ganho(até mesmo idealistas) ficam presos a pontos de vista errôneos. Odeiam e invejam todos os sábios e santos caminhos e métodos de nirvana Esses são chamados de demônios celestiais.
Mara é uma palavra indiana. Na China é chamado de ser capaz de roubar vida. Na verdade apenas os demônios da morte podem roubar vida, mas os outros também são capazes de produzir causas diretas ou condições de tirar a vida. O pior é cortar a vida da sabedoria, por essa razão são chamados de matadores.
Alguém perguntou:
“Desde que os três outros demônios estão incluídos no demônio dos cinco agregados, por que estão divididos em quatro espécies?”
Ele respondeu: “Na verdade há apenas um demônio, mas o descrevemos como quatro para explicar sua natureza.”
Os ensinamentos acima são do Ancestral do Darma Mestre Nagarjuna. Praticantes os devem conhecer, aprender e praticar diligentemente. Nunca devem ficar à mercê de demônios que fazem regredir ou afastam a mente Bodai. Esse o significado de proteger a mente Bodai.
Shobogenzo Hotsu-bodaishi
Pregado a uma assembléia no templo Kippo(Yoshimine-dera) no distrito de Yoshida de Esshu (Echizen) no 14º dia do segundo mês lunar no segundo ano de Kangen (1244)
Mestre Eihei Dogen Zenji (1200-1254)
Recopiado por Ejo Zenji em 9 de abril de 1256.

Revisão da Monja Coen em Junho de 2009 (ano Buda 2575) no Templo Tenzui de São Paulo, São Paulo, Brasil
Foram consultadas as seguintes traduções em Inglês:
Master Dogen’s Shobogenzo – Book 3 - Gudo Nishijima & Chodo Cross, Wildbell Publications, 1997
Zen Master Dogen, an introduction with selected writings - Yuho Yokoi with Daizen Victoria, Weatherhill, 1976
Dogen Zenji Shobogenzo – The Eye and Treasury of the True Law – Volume Three - Kosen Nishiyama, Nakayama Shobo, 1983 Notas 1 Nota da tradução: citta é considerada a mente que observa, pensa, imagina, tem pensamentos e intenções, vontade, memória, inteligência e razão; a mente que considera e reconhece, ou seja, a razão. 2 Nota da tradução: hridaya é considerado o coração, a essência e também o local das emoções e sensações. “Mente de grama e de árvores” é o processo instintivo que existe na própria força vital e está presente antes da consciência. 3 Nota da tradução: vriddha é uma expressão que se refere ao crescimento, a tornar-se maior e mais forte, a aumentar, a estar completamente crescida, envelhecida, anciã, experiente, sábia, aprendida. Também significa a regulada mente de verdadeira sabedoria, isto é, de prajna ou hannya. 4 Nota da tradução: Bodhi ou Bodai se refere à iluminação, estado da verdade, perfeito conhecimento ou sabedoria, estado de harmonia entre corpo-mente em Zazen e completo em si mesmo 5 Nota da tradução: capaz de discriminar, diferenciar. 6 Nota da tradução: oito locais de dificuldade ou oito estados de tristeza: infernos, animais, espíritos famintos ou seres insaciáveis, divindades no céu de intermináveis longas vidas, países remotos e bárbaros, perda de poder dos sentidos, pretensiosos, ausência de Buda. 7 Nota da tradução: trecho do Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa, capítulo da Vida Eterna de Buda. 8 Nota da tradução: Daihatsu-nehan-kyo capítulo 25.

fonte: http://www.monjacoen.com.br/textos-budistas/textis-tradicionais/159-hotsu-bodai-shin