segunda-feira, 26 de julho de 2010

Perdão e Tentação

Perdão e Tentação


A doutrina da Igreja Ortodoxa afirma claramente que todo ser humano tem a natureza divina de Deus e partilha da bondade divina de Deus. É o mesmo conceito budista sobre a nossa natureza de Buda. Ainda que pareçam diferentes, os ensinamentos cristãos e budistas têm muito em comum.

O canto budista "Teu discípulo se inclina com respeito".

Teu discípulo por várias existências, por muitos kalpas,

ficou preso nos obstáculos do carma, ânsia, raiva, arrogância, ignorância, confusão e erros,

e hoje, graças ao conhecimento que tem do Buda, reconhece seus erros

e começa sinceramente outra vez.

Agora, vejamos a oração do Pai Nosso, uma oração bem conhecida na tradição cristã:

Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas,

assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; e não nos deixeis cair em tentação,

mas livrai-nos do mal

Se olharmos em maior profundidade, veremos que com esta oração estamos praticando também o estar em contato com a dimensão última. O que estamos procurando? Estamos procurando algo muito grande. Não estamos pedindo a Deus para que o sol brilhe no dia de nosso piquenique. Não estamos pedindo coisinhas, estamos pedindo o reinado de Deus. Nosso primeiro objetivo na oração é o reino de Deus.

(...) (*)

Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.

As "ofensas" são os erros que cometemos contra nossas pessoas queridas. Dissemos alguma coisa, fizemos alguma coisa ou pensamos alguma coisa. Nossas palavras, ações ou pensamentos fizeram a outra pessoa sofrer, e estas são as graves ofensas que cometemos. Como podemos viver de modo a perdoar todo dia os outros? Nós perdoamos porque eles não têm bastante mente alerta, bastante compreensão, bastante amor e porque ainda têm percepções erradas. Temos então de ser capazes de engolir nosso ressentimento, porque também nós cometemos erros da mesma natureza contra outras pessoas. Se quisermos que nosso Pai do céu nos perdoe, também devemos perdoar aos outros os erros, as ofensas que acumularam.

Em nossa vida, podemos ter cometido erros com relação a nossos pais, irmãos, irmãs e amigos e queremos ser perdoados. Assim devemos perdoar também os defeitos, as fraquezas, as grosserias, em primeiro lugar dos nossos familiares, de nossa família de sangue. Isto é uma prática, isto é uma oração que executamos com nossas ações e com nosso modo de vida. Lembremo-nos que foi o próprio Jesus que ensinou estas palavras a seus discípulos.

Já devemos ter rezado muito, mas talvez não tenhamos aprendido a arte mais profunda da oração. Quando temos um problema, invocamos o Buda, invocamos os bodhisattvas, invocamos a Deus para nos ajudar. Não há nada de errado nisto. Temos o direito de fazê-lo. Mas este tipo de oração não é feito com as palavras da maior das orações, isto é, rezar de tal forma a irmos além do nascimento e da morte.

Muitas vezes, quando rezamos, é para pedir a Deus, ou a Buda, que faça alguma coisa que nós não podemos: "Senhor Deus, meu ente querido N. está numa situação difícil. Por favor, livrai-o dessa condição perigosa". Enviamos a Deus mensagens como esta: "Senhor, meu irmão está com câncer. Por favor, cure-o". Em princípio, Deus sabe o que deve fazer. Mas em geral nós queremos simplesmente ditar a Deus o que ele deveria fazer. Procedemos como se Deus não soubesse o que é necessário, como se tivéssemos de dizer a ele claramente o que fazer. Mas, na verdade, esta mente una é bem mais sábia do que nós. Mais engraçado ainda é que às vezes barganhamos com o Buda ou com Deus: "Senhor Buda, se me concederes isto, vou raspar minha cabeça", ou: "serei vegetariano por três meses". Às vezes somos até mais específicos quanto ao preço: "Se meu filho, ou minha filha, passar no exame, farei oferendas a dez templos".

Mais de dez anos atrás ouvi minha querida amiga Irmã Chan Khong rezando de maneira semelhante. Ela dizia: "Senhor Buda, como pode ser possível para Thây viver mais tempo? Se Thây puder viver um longo tempo, muitas pessoas vão beneficiar-se de seus ensinamentos". (Thây era como me chamavam os meus alunos e amigos; significa "mestre" em vietnamita.) Mesmo nestas palavras da oração há uma idéia de barganha. Há muitas pessoas que querem gozar do benefício dos verdadeiros ensinamentos e da prática. O coração da Irmã Chan Khong era muito grande quando fez este tipo de oração. Achava que o ponto fraco do Buda era que ele queria que seus ensinamentos durassem por muito tempo e que muitas pessoas fossem libertadas por eles; por isso esses parâmetros: "Senhor Buda, se permitires que meu mestre viva por mais dez anos, inúmeras pessoas serão capazes de se beneficiar dos ensinamentos que ele dá". Isto não é uma forma de barganha?

Isto não é tão óbvio como a oração: "Se meu filho, ou minha filha, passar no exame, eu farei oferendas a dez templos", ou: "Eu rasparei minha cabeça"? Isto soa como se, quando raspamos a cabeça, Buda se beneficiará muito.

Se olharmos um pouco mais fundo na oração da Irmã Chan Khong, veremos algo que é muito encantador, mas que ela na verdade não disse: isto é, ela pensa que seu mestre é seu lugar de refúgio e que ela ainda não está sólida o suficiente, de modo que, se ele não existir mais, ela sentirá falta de algo. Por isso também a Irmã Chan Khong tem o mesmo estado de espírito de todas as outras monjas mais jovens, ela quer que seu mestre viva o maior tempo possível. Nesta oração há um pouco de egoísmo,

O desejo de não querermos ficar sozinhos(as), sem um mestre. Queremos que nosso lugar de refúgio esteja aqui o maior tempo possível. Não é verdade que os discípulos querem que seus mestres vivam o maior tempo possível de modo que muitas pessoas se possam beneficiar de seus ensinamentos e que todos os discípulos continuem a ter um lugar de refúgio?

Como é triste quando seu mestre morre tão logo você seja consagrado monge ou monja! Há, portanto, algo de simpático nas palavras desta oração e não há nada de errado nela. Mas se soubermos como olhar profundamente quando rezamos, seremos capazes de ver o que está acontecendo nas profundezas de nossa consciência. Rezar assim pode ser muito comovente, mas devemos olhar mais profundamente a fim de ver com clareza. Se formos budistas, cristãos ou de outra tradição religiosa, temos em nossa oração uma tendência geral de barganhar com Deus, com o Buda, ainda que barganhemos de maneira muito agradável?

Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.

"Tentação" significa nossa tendência à ganância, raiva, amargura, desconfiança, dúvida e luxúria. Alguns cristãos chamam isto de tentações do demônio. No budismo, chamamos isto as ações perniciosas do corpo, da linguagem e da mente, e as tentações dos cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato. O budismo tem outra maneira de descrever a tentação: os três destinos perniciosos. Há o destino do reino do espírito faminto. Um espírito faminto é alguém perpetuamente com fome de compreensão e de amor, mas incapaz de recebê-los quando lhe são oferecidos. Há o destino da região do inferno. No budismo, estamos na região do inferno, quando ardemos de raiva, ódio, cobiça, inveja e outros estados perniciosos da mente. A tentação faz parte do destino do reino animal. É verdade que os seres humanos também são animais, mas o reino animal é o mundo daqueles que simplesmente seguem seus desejos instintivos e cujo coração de amor e de compreensão jamais teve chance de se desenvolver.

Minha experiência é que somos mais facilmente tentados nessas esferas quando estamos sós. Quando estamos com nossa comunidade, com nossos irmãos e irmãs, somos protegidos pela energia da sangha e não será tão fácil cair em tentação. E, assim, a oração pode traduzir-se em ação e não consistir apenas de palavras. Quando temos uma mente alerta, quando temos uma sangha, estamos numa posição bem mais sólida e não precisamos cair em tentação.

Quando o Buda ainda estava neste mundo, as pessoas começavam sua prática recitando: "Eu me refugio no Buda". Refugiar-se significa ligar-se ao que existe de mais saudável em nós e que nos apóia em nossas aspirações mais profundas. As pessoas não esperaram até o Buda morrer para praticar o "refugiar-se no Buda". Também naquela época já começaram a recitar: "Eu me refugio na sangha". Monges, monjas e pessoas leigas sentavam-se juntos e rezavam. Quando monges, monjas e pessoas leigas se sentam juntos e rezam, não são apenas mais capazes de resistir à tentação, mas também aumentam e fortalecem sua energia da mente alerta.

Hoje em dia, muitas pessoas vivem nas regiões do inferno das drogas, da solidão e do desespero. Há também aqueles que criam, de vários modos diferentes, o inferno para as pessoas ao redor delas. E há também aqueles que matam, roubam, seqüestram e estupram. Há tantos espíritos famintos vagando por aí, com fome de amor, de compreensão, de uma família, de um ideal.

Rezamos para não cair nesses três caminhos perniciosos. Nossa oração pode ser bem concreta, assim que tivermos descoberto um caminho a trilhar, assim que nos tivermos refugiado na sangha e assim que soubermos como seguir praticando um caminho espiritual. O desejo mais profundo nesta oração é afastar-se dos caminhos da tentação e animar-se a seguir nosso caminho espiritual. Isto é um desejo que todos nós podemos entender.

(Do livro “A energia da oração” – Thich Nhat Hanh)

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Desapego a visões

Desapego a visões

O Buda disse num sutra que quando você ouve algo, mesmo uma palestra de Dharma, quando vê algo, mesmo uma prática, não deveria ser capturado pelo que ouviu ou viu porque isso pode ser um obstáculo para seu crescimento, para seu crescimento espiritual. Você tem que manter sua liberdade porque o que você vê e ouve pode te dar uma visão e o fato é que todas as visões são visões erradas. As visões não nos deixam ter acesso direto à realidade. Portanto, seja muito cuidadoso quando usar seus olhos, seja muito cuidadoso quando usar seus ouvidos, seu nariz, sua língua, seu corpo e sua consciência. Não seja capturado por visões. Este é o núcleo dos ensinamentos, e este é o ensinamento chamado “desapego a visões”.

Se você aprendeu a prática dos 14 Treinamentos sabe que os primeiros três treinamentos existem para nos ajudar a não ficar apegado a visões, doutrinas, ideologias e que os olhos do Buda podem ser descritos primeiramente como o tipo de olhos que podem nos ajudar a reter nossa liberdade. Liberdade, não liberdade política, mas liberdade de nossas visões, liberdade de teorias, de doutrinas. Portanto o Buda barrou o caminho das especulações filosóficas. Isto é muito autêntico. Você não deveria gastar seu tempo especulando sobre doutrinas, ideologias. O que você deveria fazer é aprender o caminho da prática de forma que possa identificar seu sofrimento e ver o caminho que leva à cessação do sofrimento. Você não deveria se doar para uma ideologia, teoria ou doutrina, você não deveria se entregar à especulação filosófica. Isto é muito básico nos ensinamentos budistas.

O Buda disse, “Eu apenas ensino duas coisas: eu ensino sobre o sofrimento e a saída do sofrimento.” Seu tempo deveria ser devotado ao estudo e à prática dessas duas coisas. E quando somos capazes de nos liberar do sofrimento, nossa mente se torna clara, então ela pode refletir a realidade última sem nenhuma procura intelectual. Sua mente se torna como um espelho que pode refletir a realidade como ela é, sem nenhuma distorção. Você é um rei e sua face é como um espelho refletindo a realidade como é, e você não precisa de nenhuma palavra, nenhum conceito, nenhuma noção. Aquele que ainda espera pacientemente por visões dogmáticas, considerando-as as mais altas no mundo, pensando que é a mais excelente visão, depreciando as outras visões considerando-as inferiores não está ainda livre. Meus amigos, meus alunos, não entrem nessa. Façam bom uso de seu tempo para a prática da transformação e cura.

Ao ver, ouvir ou sentir alguma coisa e considerar que é a única coisa que pode te trazer conforto e vantagem, você sempre fica inclinado a ficar preso nisso e considera tudo mais inferior. Esta é a tendência natural de cada um de nós. Queremos confinar a verdade. É um sentimento maravilhoso sentir que temos a verdade e os outros não (risos) e assim perdemos nossa liberdade. A atitude de ficar preso na visão pessoal e considerar as outras como inferiores, é considerada pelos sábios, como escravidão, como ausência de liberdade e quando você não tem liberdade, seu caminho espiritual é bloqueado. Não pode fazer mais progressos.

Na semana passada alguém me escreveu e disse, “Thay, eu percebi que o caminho espiritual apenas nos satisfaz por dois ou três anos e parece que depois não podemos fazer mais progressos. Você fica muito entusiasmado durante os primeiros anos aprendendo e praticando, mas depois de poucos anos você não sente mais avanços.”

Eu entendi imediatamente. É assim porque o que foi oferecido a ele é um conjunto de ensinamentos, um conjunto de visões, e o tipo de prática que é baseada nestas visões. É por isso você fica preso e não pode mais fazer progressos. A única maneira de continuar a fazer progressos no seu caminho espiritual é remover os obstáculos feito de visões, mesmo visões da doutrina, visões sobre liberdade e transformação. Temos que nos livrar de quaisquer visões.

No Sutra das Cem Parábolas, o Buda conta a história de um jovem homem de negócios que perdeu seu filho. Ele estava ausente, era tão ocupado, e por isso não estava em casa para tomar conta do filho. Durante sua ausência muitos piratas vieram e colocaram fogo na vila e seqüestraram o garoto. Quando o homem de negócios voltou para casa, a viu queimada, apenas um monte de cinzas. Ele entrou em pânico, estava procurando por seu filho e não podia vê-lo em nenhum lugar. Nesse estado de pânico, viu um corpo queimado de criança que acreditou ser do seu filho. Ele se jogou no chão, bateu no peito, puxou seu cabelo e chorou, porque estava ausente e por isso seu filho estava morto. Depois de organizar a cerimônia de cremação, ele coletou as cinzas e as colocou em um saco de veludo que passou a carregar com ele o tempo todo. Comendo, dormindo ou andando ele sempre carregava o saco, porque como não tinha mais esposa, seu filho era a única razão de sua vida. Ele era habitado por um sentimento de pesar e lamento e completamente apegado ao pequeno saco contendo as cinzas do seu filho.

Uma noite quando estava deitado, sem conseguir dormir e chorando silenciosamente, ele ouviu batidas na porta. Era seu filho que tinha conseguido escapar dos piratas e voltou para casa, descobrindo que seu pai havia construído uma nova casa. Ele bateu na porta. Era cerca de uma hora da manhã e o pai disse: “Quem está aí?” ”Sou eu, seu filho! Por favor, abra!” O pai disse: ”Não, seu garoto mau, meu filho já morreu. Quem é você para vir a esta hora da noite para me perturbar! Vá embora!”. O garoto insistiu muitas vezes, mas o pai estava certo que o garoto estava morto.

Esta história foi contada pelo Buda que disse: ”Às vezes na sua vida você toma algo como verdade, e fica preso nisso, e por isso você para. Não há como avançar no seu caminho espiritual e continuar a procurar a verdade. Mesmo se a verdade vier e bater na sua porta você se recusará em abrir a porta.” É uma história maravilhosa sobre apego.

Se você continua a sofrer, a prática do Buda é soltar as visões de forma a poder avançar no seu caminho espiritual. Suponha que você tenha subido uma escada e chegou no quinto degrau e olhando para baixo vê que é muito alto e assim pensa que adquiriu o mais alto tipo de visão, a visão mais bonita. Se você ficar preso nesta situação, não vai mais querer dar um outro passo, porque sempre é possível dar outro passo.

É como a ciência. Cientistas descobriram coisas e consideram-nas verdade, e se ficarem presos a isto, se acharem que é a verdade absoluta, vão parar de questionar e não poderão avançar. Um bom cientista é aquele que está pronto para abandonar suas visões porque tem a mente aberta, é livre de espírito. O espírito da ciência é o espírito da abertura. Um bom cientista está sempre pronto para deixar ir suas descobertas de forma a dar outro passo no caminho do questionamento livre. Portanto a prática de desapego a visões é muito básica nos ensinamentos do Buda. Cada um de nós tem que usar seus olhos de Buda de forma a praticar assim, para nos libertarmos de nossas visões. Feliz é a pessoa que é livre de visões, incluindo as visões sobre a felicidade. (risos)

Há um país que acredita que a ideologia sozinha pode ajudar o país a ser forte e as pessoas felizes e por isso abraçam esta ideologia há 70 anos. Durante este tempo houve perseguições de muitas pessoas que não concordam com eles. Foram colocados em prisões, em hospitais psiquiátricos porque têm a coragem de desafiá-los sobre suas visões. Os líderes criaram muito sofrimento, morte, separação e frustração porque são muito apegados a uma visão, uma super ideologia.

Você pode se agarrar a uma visão como essa por 70 anos, mas 70 anos é muito. Pode criar muito sofrimento para você e para as pessoas que você ama. Sua boa intenção está presente, mas você não tem liberdade. Cada um de nós pode ainda ser aprisionado pela visão que temos a respeito de nossa felicidade. Acreditamos que só podemos ser felizes sob certas condições: a,b,c,d... Portanto, de acordo com este ensinamento, ajuda muito dar um passo atrás e olhar para nossa visão a cerca de nossa felicidade. Talvez seja provável que sua visão de felicidade seja o principal obstáculo para que você seja feliz. (risos)

Se tiver uma hora, duas horas, para praticar por favor, vá, sente-se no pé de uma ameixeira e olhe para idéia relativa a sua felicidade. Você acreditou firmemente que se não conseguisse isso ou aquilo, a felicidade não seria possível. Pode ser que se você abandonar esta visão de felicidade então ela possa vir até você aqui e agora. Nunca houve condições antes. De acordo com o Buda, viver feliz no aqui e agora é possível para qualquer um. Você precisa apenas de uma coisa: ser livre, ser livre de suas visões. Não é que outra pessoa esteja impondo algo a você e assim você não pode ser livre. É você mesmo que se aprisiona nas suas visões. É por isso que a prática básica do budismo é a prática de remover as visões. Nirvana é a ausência, é o silenciamento de todas as visões porque visões e noções são a fundação do sofrimento.

Quando você for capaz de silenciar todas as visões e palavras, quando se libertar delas, a realidade se revelará sozinha para você. Isto é Nirvana. Nirvana é a cessação, é a extinção. Primeiro a extinção das visões e então a extinção do sofrimento que nasce com as visões. Estamos bastante conscientes, estamos muito preocupados sobre nosso bem estar e o bem estar de nossos entes queridos. Queremos ser felizes, queremos que nossos filhos, parceiro, amigos sejam felizes. Não temos nenhuma dúvida sobre esse tipo de bom desejo. Mas não estamos livres. Pensamos que nosso filho somente poderá ser feliz se fizer isto. Se ele não fizer isto... Nossa filha só pode ser feliz se fizer aquilo, e ela não fez aquilo... Portanto impomos nossas visões aos nossos amados e os destruímos por causa de nossas boas intenções. Amar é oferecer liberdade, oferecer as condições para a outra pessoa ser livre e conseguir o correto entendimento sobre sua felicidade.

(Palestra de Dharma feita no dia 8 de junho de 2000 em Plum Village)

(Tradução para o português: Leonardo Dobbin)

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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Benefícios

O Buddha disse ao bodhisattva Rei da Constelação Flor:

“O que pensais? Será este Bodhisattva Alegremente Visto Por Todos os Seres desconhecido para ti? Ele é de facto o presente bodhisattva Rei da Medicina! Ele desfez-se do seu corpo deste modo por imensuráveis centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de nayutas de vezes.

Rei da Constelação Flor, se alguém se tiver decidido e quiser obter anuttara-samyak-sambhodi, fariam bem em queimar um dedo da mão ou do pé como oferenda às torres votivas do Buddha. É melhor do que oferecer reinos, cidades, mulher e filhos, ou as montanhas, florestas, rios e lagos das terras de um universo, e todos os seus tesouros preciosos. Ainda que alguém enchesse três mil galáxias de mundos com os sete tesouros e os desse em oferta ao Buddha e aos grandes bodhisattvas, pratyekabuddhas e arhats, os benefícios ganhos por essa pessoa não poderiam igualar os benefícios ganhos por aceitar e promover este Sutra do Lótus, mesmo se apenas quatro linhas! Este Sutra confere os mais abundantes de todos os benefícios.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Meditação

Várias formas de ioga e meditação sentada silenciosa são muito populares hoje entre os que têm tempo, dinheiro e educação para participar de tal pratica. Embora práticas sentadas silenciosas que focalizam a observação atenta de todos os fenômenos começando com a respiração pareçam ser bastante fáceis, é de fato uma tarefa muito difícil para muitas pessoas se aproximarem e a manterem e é ainda mais difícil para as pessoas atingirem alguma verdadeira compreensão sem horas de prática dedicada. Este tipo de meditação envolve freqüentemente um sistema de retiros, salões de prática, acesso a professores bons, uma quantia justa de tempo livre e a capacidade para pagar por tais coisas. Como resultado só uma porção pequena de pessoas trilha ou até mesmo é exposta a este tipo de meditação. A prática de meditação sentada realmente é saudável e pode conduzir a uma maior concentração, paz mental e até mesmo grandes “insights”. Não significa pacientemente "permanecer em vacuidade." É ensinado como uma prática de apoio em alguns templos da Nichiren Shu e é uma parte de meditação Shodaigyo.
Porém, a Nichiren Shu, não a promove como um fim em si mesmo, ou ainda, como a prática principal do Budismo.


A quem pregar o Sutra de Lótus?

Digo-te, Shariputra,
se eu fosse a descrever os castigos que impendem
sobre as pessoas que caluniam este sutra,
poderia esgotar um kalpa sem nunca chegar ao fim.
Por esta razão
eu te digo expressamente,
não pregues este sutra
a pessoas sem sabedoria.
Mas se existirem alguns de faculdades apuradas,
sábios e compreensivos,
de muita instrução e grande memória,
que busquem a via do Buddhado,
então a pessoas como estes
é permitido pregares este sutra.
Se existirem pessoas que tenham visto
centenas de milhares de milhões de Buddhas,
que tenham plantado boas raízes
e sejam firmes e profundamente empenhadas,
então a estas pessoas
é permitido pregares este sutra.
Se existirem pessoas diligentes,
cultivando constantemente uma mente compassiva
não poupando o corpo ou a vida,
então é permitido pregares este sutra.
Se existirem pessoas
que sejam respeitosas e reverentes,
com as suas mentes concentradas,
separadas da loucura comum,
vivendo isoladas nas montanhas e rios,
a pessoas como estas
é permitido pregares este sutra.
Ainda, Shariputra,
se vires alguém que se afaste das amizades nefastas
e se associe com bons companheiros,
a pessoas como esta
é permitido pregares este sutra.
Se vires um filho de Buddha,
cumprindo os preceitos,
limpo e sem mácula
como uma jóia pura e brilhante,
buscando o Sutra do Grande Veículo,
a pessoas como esta
é permitido pregares este sutra.
Se uma pessoa for isenta de raiva,
recta e gentil por natureza,
compadecendo-se constantemente dos seres viventes,
respeitador e reverente para com os Buddhas,
a pessoas como esta
é permitido pregares este sutra.
Ainda, se um filho de Buddha
no meio de uma grande assembleia,
empregar com uma mente pura
várias causas e condições, metáforas, parábolas
e outras expressões
para pregar a Lei de forma clara,
a pessoas como esta
é permitido pregares este sutra.
Se existirem monges
que pelo bem da clara sabedoria,
procurarem a Lei em todas as direcções,
juntando as palmas das mãos reverentemente,
com gratidão, desejando apenas aceitar
com gratidão o sutra do grande Veículo
e não aceitando um único verso dos outros sutras,
a pessoas como esta
é permitido pregares este sutra.
Se alguém, com seriedade,
procura este sutra
como se buscasse as relíquias de Buddha,
e tendo-o obtido e aceite com gratidão,
sem mostrar intenções de procurar outros sutras
e sem dar nunca mais atenção
aos escritos das doutrinas não budistas,
a pessoas como esta
é permitido pregares este sutra.
Digo-te, Shariputra,
se eu descrevesse as características
daqueles que procuram a via do Buddhado,
poderia esgotar um kalpa
sem completar essa tarefa.
Pessoas deste tipo
são capazes de acreditar e compreender.
Por isso deves pregar-lhes
o Sutra do Lótus da Lei Maravilhosa.

terça-feira, 20 de julho de 2010

A Casa em Chamas

O Buddha disse para Shariputra, “Muito bem, muito bem. É tal como disseste. Shariputra, assim é o Honrado pelo Mundo. Ele é um pai para o mundo. Os seus medos, preocupações e ansiedades, ignorância e incompreensão chegaram há muito ao fim, sem que tivessem deixado resíduo. Ele foi completamente bem sucedido na aquisição de imensurável sagacidade, poder e liberdade perante o medo, tendo ganho poderes sobrenaturais e o poder da sabedoria. Ele está investido com os meios expeditos e com o paramita da sabedoria, a sua misericórdia e grande compaixão são constantes e sem esmorecimento; em todas as ocasiões ele procura o que é bom para beneficio de todos.

“Ele nasce no triplo mundo, numa casa em chamas, velha e decrépita, por forma a salvar os seres viventes das fogueiras do nascimento, da velhice, da doença e da morte, da preocupação e do sofrimento, da estupidez, da incompreensão e dos três venenos; para ensiná-los e convertê-los permitindo-lhes alcançar anuttara-samyak-sambhodi.

“Ele vê os seres viventes atormentados e consumidos pela velhice, doença e morte, preocupação e sofrimento, vê-os incorrer em muitas formas de dor devido às suas ganâncias e apegos e lutar assoberbados por numerosas penas na sua presente existência, e Vê-os incorrerem depois na pena de nascerem no inferno ou como animais ou espíritos esfomeados. Mesmo que nasçam no reino dos seres celestiais ou no reino dos humanos, eles padecem a dor da pobreza e da necessidade, a dor da separação dos entes queridos, a dor do encontro com aqueles que detestam - todas estas diferentes formas de dor.

“Apesar de afundados no meio de tudo isto, os seres viventes divertem-se e deleitam-se, inconscientes, alheados, sem alarme ou medo. Eles não têm qualquer sentido de vontade e não fazem qualquer tentativa para escaparem. Nesta casa em chamas que é o triplo mundo, eles correm para Este e Oeste, e apesar de encontrarem grandes dores, não ficam aflitos por se libertarem.

“Shariputra, quando o Buddha vê isto, pensa para si mesmo, eu sou o pai dos seres viventes e devo resgatá-los dos seus sofrimentos e dar-lhes a alegria da imensurável e ilimitada sabedoria Búddhica de modo a que eles possam regozijar-se disso.

“Shariputra, o Tathagata tem também este pensamento: se eu meramente empregasse poderes sobrenaturais e o poder da sabedoria; se eu puser de lado os meios expeditos e, pelo bem dos seres viventes, louvar apenas o Tathagata na sua sagacidade, poder e liberdade perante o medo, então os seres viventes não seriam capazes de conquistar a salvação. Porquê? Porque os seres viventes ainda não escaparam do nascimento, velhice, doença, morte, preocupação e sofrimento, mas estão consumidos pelas chamas da casa a arder que é o triplo mundo. Como podem eles ser capazes de entender a sabedoria do Buddha?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Sabedoria

“Manjushri, quanto a este Sutra do Lótus, através de imensuráveis números de terras, é impossível sequer ouvir o seu nome, quanto mais vê-lo, aceitá-lo e abraçá-lo, lê-lo e recitá-lo. Manjushri, supõe por exemplo, que existe um poderoso rei sábio que quer usar a sua força para subjugar outros países, mas os governantes mesquinhos não cumprem as suas ordens. Nessa altura o rei sábio convoca as suas várias tropas e prepara-se para atacar. Se o rei vê algum dos seus soldados que tenha ganho distinções no campo de batalha, ele fica deleitado e imediatamente recompensa a pessoa em questão de acordo com os seus méritos, doando terras, casas, povoados e cidades, ou vestes e adornos de uso pessoal, ou dando talvez objectos preciosos como ouro, prata, madrepérola, ágata, coral ou âmbar, ou elefantes, cavalos, carruagens, servos e servas e gente. Apenas a jóia brilhante que está no topo da sua cabeça ele não oferece. Porquê? Porque esta jóia existe apenas no topo da cabeça do rei, e se ele fosse a oferecê-la, os seus súbditos manifestariam grande consternação e alarme.

“Manjushri, o Tathagata é assim. Ele usa o poder da meditação e da sabedoria para conquistar territórios do Dharma e tornar-se rei do triplo mundo. Mas os reis demónios não querem obedecer e submeter-se. Os lideres militares sábios e meritórios do Tathagata envolvem-se na batalha e quando algum dos soldados do Buddha adquire distinção, o Buddha fica deleitado e entre os quatro tipos de crentes, ele prega vários sutras, alegrando os seus corações. Ele oferece-lhes meditações, emancipações, raízes e poderes livres de falhas, e outros tesouros da Lei. Ele oferece-lhes também a cidade do nirvana, dizendo-lhes que alcançaram a extinção, guiando as suas mentes e fazendo-os rejubilar. Mas ele não lhes prega o Sutra do Lótus.

“Manjushri, quando o rei sábio vê algum dos seus soldados que ganhou realmente uma grande distinção, ele fica tão deleitado que pega na jóia incrivelmente rara que há tanto tempo se encontra no topo da sua cabeça, nunca tendo sido dada, e oferece-a agora a esse homem. O Tathagata faz o mesmo. No triplo mundo ele actua como o grande rei do Dharma. Ele usa a Lei para ensinar e converter todos os seres viventes, atento aos sábios e meritórios exércitos, em luta com os demónios dos cinco componentes, os demónios dos desejos mundanos e o demónio da morte. E quando eles ganharam grandes distinções e méritos, secando os três venenos, vitoriosos sobre o triplo mundo e destruidores das redes dos demónios, o Tathagata enche-se de grande alegria. Este Sutra do Lótus é capaz de fazer com que todos os seres viventes alcancem a sabedoria. Enfrentará muita hostilidade no mundo e será difícil de acreditar. Nunca antes foi praticado mas agora eu prego-o.

“Manjushri, este Sutra do Lótus é o principal de entre todos os que o Tathagata prega. Entre todos os que são pregados é o mais profundo. E é conferido em última instância, tal como esse profundo governante fez quando pegou na jóia brilhante que tinha guardado por tanto tempo e finalmente a deu.

“Manjushri, este Sutra do Lótus é o repositório secreto dos Buddhas, os Tathagatas. Entre os sutras, detém o mais alto lugar. Através da longa noite eu guardei-o e protegi-o e nunca o propaguei imprudentemente. Mas hoje, pela primeira vez eu exponho-o para vosso benefício.”

Os Três Veículos

“Shariputra, se existirem seres viventes que sejam, de sua natureza intimamente sábios, que atendam o Buddha, o Honrado Pelo Mundo, ouçam a Lei, acreditem nela e a aceitem, e esforçando-se diligentemente, desejem escapar rapidamente do triplo mundo e procurem atingir o nirvana, eles devem ser chamados [condutores do] veículo do ouvinte. Eles são como aqueles filhos que saem da casa em chamas na esperança de encontrar o carro puxado por cabras.

“Se existirem seres viventes que atendam o Buddha, o Honrado Pelo Mundo, ouçam a Lei, acreditem nela e a aceitem, e esforçando-se diligentemente, procurem a sabedoria por si mesmos, deleitando-se solitariamente na bondade e na tranquilidade, entendendo profundamente as causas e condições de todos os fenómenos, eles devem ser chamados [condutores do] veículo do pratyekabuddha. Eles são como aqueles filhos que saem da casa em chamas na esperança de encontrar o carro puxado por veados.

“Se existirem seres viventes que atendam o Buddha, o Honrado Pelo Mundo, ouçam a Lei, acreditem nela e a aceitem, e esforçando-se diligentemente, procurem a sabedoria e a perspicácia do Tathagata, os poderes e a liberdade perante o medo, condoendo-se de inumeráveis seres viventes, confortando-os, trazendo benefícios a seres celestiais e humanos, salvando-os a todos, eles devem ser chamados [condutores do] Grande Veículo. Por os bodhisattvas procurarem este veículo são chamados mahasattvas. Eles são como aqueles filhos que saem da casa em chamas na esperança de encontrar o carro puxado por búfalos.

Os seres viventes

“Bons homens, se os seres viventes vêem ter comigo, eu emprego a minha visão Búddhica para observar a sua fé e para ver se as suas outras faculdades são apuradas ou não, e então, dependendo de quão receptivos à salvação eles estão eu apareço em diferentes lugares e prego para eles sob diferentes nomes, e durante o período de tempo em que os meus ensinamentos serão mais eficientes. Por vezes, quando faço a minha aparição, digo que estou prestes a entrar no nirvana, e emprego também diferentes meios expeditos para pregar a subtil e maravilhosa Lei, fazendo assim os seres viventes despertarem as suas mentes radiantes.

“Porque os seres viventes têm diferentes naturezas, diferentes desejos, diferentes acções e diferentes modos de pensar e fazer distinções, e porque eu quero capacitá-los a plantarem boas raízes, emprego uma variedade de causas e condições, metáforas, parábolas e frases para pregar diferentes doutrinas. Assim, nunca por um momento eu negligenciei o trabalho dos Buddhas.

“Bons homens, os Buddhas e Tathagatas pregam todos uma Lei como esta. Eles actuam por forma a salvar todos os seres viventes, por isso, o que eles fazem é verdadeiro e não falso.

O Tempo

“Suponham que uma pessoa pegava em quinhentos, mil, dez mil, um milhão de nayutas de asamkhyas de mundos e os reduzia a pó. Então, dirigindo-se para Leste, a cada vez que passava por quinhentos, mil, dez mil, um milhão de nayutas de ashankyas de mundos ele largava uma partícula de pó. Ele continuava para Leste desta forma até acabar de largar todas as partículas. Bons homens, qual é a vossa opinião? Pode o número total de todos estes mundos ser imaginado ou calculado?

“Bons homens, agora vou afirmar isto claramente. Suponham que esses mundos, quer tivessem ou não recebido uma partícula de pó eram uma vez mais reduzidos a poeira e que cada partícula representa um kalpa. O tempo que passou desde que eu atingi o Buddhado ultrapassa este número em centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de nayutas de asamkhyas de kalpas.

O segredo do Tathagata

“Deveis ouvir com atenção o segredo do Tathagata e os seus poderes transcendentais.

Em todos os mundos os seres celestiais e humanos e os asuras acreditam que o presente
Buddha Shakyamuni, após abandonar o palácio dos Shakyas, sentou-se no lugar da prática não longe da cidade de Gaya e aí alcançou anuttara-samyak-sambodhi.

Mas bons homens, foi há imensuráveis, ilimitadas centenas, milhares, dezenas de milhar,
milhões de kalpas que eu de facto atingi o Buddhado.

“Suponham que uma pessoa pegava em quinhentos, mil, dez mil, um milhão de nayutas de asamkhyas de mundos e os reduzia a pó.

Então, dirigindo-se para Leste, a cada vez que passava por quinhentos, mil, dez mil, um milhão de nayutas de ashankyas de mundos ele largava uma partícula de pó.

Ele continuava para Leste desta forma até acabar de largar todas as partículas.

Bons homens, qual é a vossa opinião?

Pode o número total de todos estes mundos ser imaginado ou calculado?

O bodhisattva Maitreya e todos os outros disseram ao Buddha:

“Honrado Pelo Mundo, esses mundos são imensuráveis, ilimitados - o seu número não pode ser calculado nem a mente tem o poder de o abranger.

Mesmo todos os ouvintes e pratyekabuddhas com a sua sabedoria livre de impedimentos são incapazes de imaginar ou compreender quão numerosos eles são.

Ainda que estivéssemos no estado de avivartika, não poderíamos compreender tal soma.

Honrado Pelo Mundo, esses mundos são imensuráveis e ilimitados.”

Nessa altura o Buddha disse à multidão de grandes bodhisattvas:

“Bons homens, agora vou afirmar isto claramente.

Suponham que esses mundos, quer tivessem ou não recebido uma partícula de pó eram uma vez mais reduzidos a poeira e que cada partícula representa um kalpa.

O tempo que passou desde que eu atingi o Buddhado ultrapassa este número em centenas, milhares, dezenas de milhar, milhões de nayutas de asamkhyas de kalpas.

extraido de: http://www.dantas.com/lotus/lotus16.htm

É verdadeiro e não falso

“Bons homens, o Tathagata observa como entre os seres humanos existem aqueles que se deleitam numa Lei menor, de virtude escassa e pesados de impurezas.

A essas pessoas eu descrevo como na minha juventude eu deixei a vida familiar e alcancei annutara-samyak-sambodhi.

Mas na verdade, o tempo que passou desde que eu atingi o Buddhado é extremamente longo, tal como te disse.

É somente um meio expedito que eu utilizo para ensinar e converter os seres viventes e levá-los a entrar na via do Buddhado.

É por isto que eu falo desta forma.

“Bons homens, as escrituras expostas pelo Tathagata têm todas o propósito de salvar e emancipar os seres viventes.

Por vezes falo de mim, por vezes de outros; por vezes apresento a mim, por vezes a outros; por vezes mostro as minhas próprias acções, por vezes as dos outros.

Tudo quanto eu prego é verdadeiro e não falso.

extraido de: http://www.dantas.com/lotus/lotus16.htm

Os 3 Caminhos e o Sutra de Lótus

extraido de:


Nos primeiros séculos depois da morte do Buda,
quando o Budismo se tornou uma religião popular,
foi formalizada a idéia de que havia três caminhos para a iluminação,
dos quais se poderia escolher:

o caminho para a iluminação como um discípulo do Buda, (savaka),

o caminho para a iluminação como um Buda “silencioso,” (pacceka-buddha),
isto é,
alguém que realiza a iluminação por si próprio,
mas que não é capaz de ensinar o caminho da prática para os outros;

e o caminho para a iluminação como um Buda perfeitamente iluminado,
(samma sambuddho).

De acordo com a definição desses caminhos,
eles se constituem de perfeições, (paramis),
de caráter,
mas ainda existiam dúvidas com relação a quais perfeições seriam essas
e como cada caminho diferiria um do outro.




“Manjushri,
quanto a este Sutra do Lótus,
através de imensuráveis números de terras,
é impossível sequer ouvir o seu nome,
quanto mais vê-lo,
aceitá-lo e abraçá-lo,
lê-lo e recitá-lo.


Manjushri,
supõe por exemplo,
que existe um poderoso rei sábio
que quer usar a sua força para subjugar outros países,
mas os governantes mesquinhos não cumprem as suas ordens.

Nessa altura o rei sábio convoca as suas várias tropas e prepara-se para atacar.

Se o rei vê algum dos seus soldados
que tenha ganho distinções no campo de batalha,
ele fica deleitado e imediatamente recompensa a pessoa em questão
de acordo com os seus méritos,
doando terras,
casas,
povoados e cidades,
ou vestes e adornos de uso pessoal,
ou dando talvez objectos preciosos como ouro,
prata,
madrepérola,
ágata,
coral ou âmbar,
ou elefantes,
cavalos,
carruagens,
servos e servas e gente.

Apenas a jóia brilhante que está no topo da sua cabeça ele não oferece.

Porquê?


Porque esta jóia existe apenas no topo da cabeça do rei,
e se ele fosse a oferecê-la,
os seus súbditos manifestariam grande consternação e alarme.


“Manjushri,
o Tathagata é assim.


Ele usa o poder da meditação e da sabedoria
para conquistar territórios do Dharma e tornar-se rei do triplo mundo.


Mas os reis demónios não querem obedecer e submeter-se.


Os lideres militares sábios e meritórios do Tathagata envolvem-se na batalha
e quando algum dos soldados do Buddha adquire distinção,
o Buddha fica deleitado e entre os quatro tipos de crentes,
ele prega vários sutras,
alegrando os seus corações.

Ele oferece-lhes meditações,
emancipações,
raízes e poderes livres de falhas,
e outros tesouros da Lei.


Ele oferece-lhes também a cidade do nirvana,
dizendo-lhes que alcançaram a extinção,
guiando as suas mentes e fazendo-os rejubilar.

Mas ele não lhes prega o Sutra do Lótus.


“Manjushri,
quando o rei sábio vê algum dos seus soldados
que ganhou realmente uma grande distinção,
ele fica tão deleitado que pega na jóia incrivelmente rara
que há tanto tempo se encontra no topo da sua cabeça,
nunca tendo sido dada,
e oferece-a agora a esse homem.

O Tathagata faz o mesmo.

No triplo mundo ele actua como o grande rei do Dharma.


Ele usa a Lei para ensinar e converter todos os seres viventes,
atento aos sábios e meritórios exércitos,
em luta com os demónios dos cinco componentes,
os demónios dos desejos mundanos
e o demónio da morte.


E quando eles ganharam grandes distinções e méritos,
secando os três venenos,
vitoriosos sobre o triplo mundo e destruidores das redes dos demónios,
o Tathagata enche-se de grande alegria.

Este Sutra do Lótus é capaz de fazer
com que todos os seres viventes alcancem a sabedoria.


Enfrentará muita hostilidade no mundo e será difícil de acreditar.

Nunca antes foi praticado mas agora eu prego-o.


“Manjushri,
este Sutra do Lótus é o principal de entre todos os que o Tathagata prega.


Entre todos os que são pregados é o mais profundo.

E é conferido em última instância,
tal como esse profundo governante fez
quando pegou na jóia brilhante que tinha guardado por tanto tempo
e finalmente a deu.


“Manjushri,
este Sutra do Lótus é o repositório secreto dos Buddhas,
os Tathagatas.

Entre os sutras,
detém o mais alto lugar.

Através da longa noite eu guardei-o e protegi-o e nunca o propaguei imprudentemente.

Mas hoje,
pela primeira vez eu exponho-o para vosso benefício.”