terça-feira, 31 de agosto de 2010

Os Drávidas

"Drávida - Esse Povo"

por Clélio Berti

Os drávidas viveram no noroeste da Índia, hoje Paquistão, há mais de 5.000 anos. Desenvolveram uma cultura fantástica. Para se ter uma dimensão, a cidade de Mohenjo-Daro era habitada por 40.000 pessoas. As ruas eram planejadas formando quarteirões em ângulo reto. As ruas principais tinham largura de 13,5 metros. Tinham sanitários dentro das residências com água corrente. Os esgotos eram cobertos. Dominavam a irrigação de lavouras.
Um fato particularmente importante foi a descoberta, nas escavações arqueológicas, de uma grande piscina. Quando os arqueólogos observaram a piscina, não conseguiram entender e, de imediato, pensaram em alguma destinação ritual. Não conseguiram conceber que há 5.000 anos atrás, um povo poderia construir um clube onde as pessoas iam banhar-se e divertir-se.
Talvez, por que as escavações deram-se no início do século e, na época, não eram comuns clubes para divertimento.
Outro fato intrigante, foi a ausência de templos suntuosos. As escavações de grandes civilizações até então conhecidas, tinham a presença de templos suntuosos e uma diferença significativa entre o poder dominante – nobreza e/ou clero – e o povo.
Os drávidas tinham um volume significativo de expressões artísticas.
Destaca-se a escultura e, dento dela, o volume significativo de esculturas femininas. Eles gostavam muito de esculpir mulheres. Embora, outras esculturas, tais como, animais, carroças, brinquedos etc fossem comum.
Novamente, a surpresa: não havia esculturas de deuses e/ou deusas. As mulheres apareciam, geralmente, nuas, cobertas apenas por jóias.
No universo dravídico, aparece também objetos de adorno, tais como, colares, pulseiras, tornozeleiras etc. A presença de vários dados de jogar e peças de xadrez permite-nos concluir que esse povo gostava do jogo.
Embora os arqueólogos não conseguissem compreender as razões dravídicas, os estudiosos de outras áreas, notadamente, os observadores das culturas materlineares, conseguiram compreender o universo dravídico.
Os drávidas desenvolveram três filosofias diferentes, porém complementares: o Sámkhya, o Yôga e o Tantra. Para o sânscrito, as palavras terminadas em “a”, geralmente são masculinas como as descritas.
O Sámkhya é uma filosofia especulativa. Tentava explicar a origem e o destino da vida. O interessante em observar, é a ausência do conceito de Deus. Ou seja, eles explicavam o universo sem conceber um criador.
Entretanto, não podemos afirmar que fossem ateus, pois o Sámkhya não afirma, mas também não nega a presença de Deus.
O Yôga é uma filosofia prática. Para os ocidentais, falar em filosofia “prática” soa sem sentido. Pois os drávidas já concebiam esse conceito. O Yôga dravídico não se explica, não se justifica. Faça determinada técnica e terá determinado resultado. Se você executar a técnica e não obtiver o resultado, deve ter feito algo errado.
O Tantra é uma filosofia comportamental. Explica como o homem relaciona-se consigo mesmo, com os outros seres humanos, com os animais e com a Natureza.
Essa relação está baseada na sensorialidade. Como resultado dessa relação, aparece o culto à deusa-mãe. A mulher tem conotações especiais, pois consegue perpetuar a vida, mas não só isso, pois a mulher também é uma fonte inesgotável de sensorialidade. É adorada como a expressão máxima, a expressão mais sofisticada da natureza. É a razão das esculturas femininas aparecem em quantidade muito superior às esculturas masculinas.
As três filosofias são dualistas no sentido em que procura-se transcender a dualidade para vivenciar a unidade. Nos próximos artigos, veremos mais de perto as características dessas filosofias.
Com esses elementos, pode-se compreender facilmente a razão pela qual não havia templos suntuosos em Mohenjo-Daro. Pode-se compreender também a razão pela qual havia um número significativo de esculturas femininas nuas, de animais, de brinquedos, de jóias e não havia esculturas de deuses e/ou deusas. A piscina faz sentido.

extraido de: http://www.zantina.org/palestras/2005/dravida.htm

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Dharmakara

IV. O Voto Original do Salvador


1

De acordo com o mito narrado por Sakiamuni a Ananda no Daimoryoju-kyo (Grande Sukhavati-vyuha Sutra) muito, muito atrás no passado, inumeráveis e mais que inumeráveis e incompreensíveis Kalpas atrás, existia um Buda chamado Lokesvararaja. Nesta época havia um Rei que tendo ouvido o sermão desse Buda sentiu uma grande alegria em seu coração e manifestou uma profunda aspiração de buscar a verdade.

Ele tornou-se um Bhiksu (monge) e era chamado Dharmakara (Hozo). Ele sobressaía por seu conhecimento, não existindo ninguém que o igualasse.

Ele chamou o Buda Lokesvararaja e disse: Ó honrado pelo mundo! Eu concebi em mim uma profunda aspiração por Bodhi (iluminação). Eu suplico que me instrua em tudo sobre os caminhos da verdade. Eu a praticarei e conceberei uma Terra Búdica e adornarei da forma mais pura essa ilimitada e sublime Terra Búdica. Eu desejo poder atingir a iluminação de uma vez neste mundo e eliminar as raízes do nascimento e da morte, da dor e do sofrimento.

Então o Buda Lokesvararaja disse ao Bhiksu tudo sobre os vinte e um bilhões de Terras Búdicas, o que é bom e o que não é bom nos seres ali, o que é grosseiro e o que é refinado nas Terras, mostrando cada uma de acordo com o desejo do Bhiksu.

Então, tendo escutado a exposição do Buda Lokesvararaja e tendo visto todas as excelências e sublimidades das Terras Búdicas, o Bhiksu com sua mente serena, com sua vontade imparcial, se absorveu em profunda meditação pelo espaço de cinco Kalpas para pensar nos caminhos puros e sublimes para adornar sua Terra Búdica.

Tendo alcançado o fim da meditação o Bhiksu Dharmakara escolheu todos os vinte e um bilhões de maravilhosas Terras Búdicas. Tendo realizado os caminhos, ele chamou o Buda Lokesvararaja e disse: “eu já realizei os caminhos puros e incorruptíveis que levam à formação de uma sublime Terra Búdica”. Buda Lokesvararaja disse ao Bhiksu: “Você deve agora falar sobre o que há em sua mente, pois o momento chegou. Que possam todos os aqui congregados aspirar por Bodhi e sentir grande alegria. Os Bodhisatvas ouvindo suas palavras irão praticar o caminho e irão realizar seus próprios inumeráveis votos”.

Então o Bhiksu Dharmakara fez, na presença do Buda Lokesvararaja e diante de todos os seres celestiais, maus espíritos e todos os outros seres, quarenta e oito votos insuperáveis. Esses votos são o que é chamado o “Oto Original” (Purna-Pranidhana, Hongan) do Bodhisatva Dharmakara. Entre os quarenta e oito votos o mais importante é o décimo-oitavo, que como segue: “Dispondo eu da Budeidade, os seres da dez direções que, com fé de todo o coração, crêem com júbilo e desejam nascer em minha terra e também consigam me invocar mesmo por dez vezes, se houver os que não nasçam, não disporei da Perfeita Iluminação”.

Então, novamente tendo feito os quarenta e oito votos, Bodhisatva Dharmakara declamou esses versos: “Eu fiz os votos insuperáveis, pelos quais eu certamente atingirei o mais elevado caminho. Se esses votos não forem realizados não possa eu atingir a iluminação”. “Se eu não for o grande doador por Kalpas imensuráveis de modo a salvar todos os pobres e miseráveis, não possa eu atingir a iluminação”. “Quando eu tiver atingido o caminho do Budato, meu nome será ouvido em todas as dez direções”.

“Se houver alguém que não possa ouvir meu nome, não possa eu atingir a iluminação”. “Possa eu tornar-me o mestre de todos os seres celestiais e terrenos, tendo buscado o caminho mais elevado através da prática altruística do Santo Trabalho, da meditação profunda e correta e da Pura Sabedoria”. “Meu poder impensável deve irradiar sua luz sobre os mundos inumeráveis, destruir a escuridão da corrupção, e libertar todos os seres da dor e da miséria”. “Dando-lhes o olho da Sabedoria, eu destruirei a escuridão da ignorância; fechado todos os meus caminhos eu os conduzirei ao Portal da Bondade”. “Quando eu tiver realizado o trabalho excelente, minha luz gloriosa deve brilhar tão intensamente sobre as dez direções que a luz do Sol e da Lua se extinguirá e as estrelas do céu se tornarão invisíveis”. “Abrindo o tesouro do Dharma em benefício de todos os seres eu distribuirei amplamente entre eles as Jóias da Felicidade; pregarei constantemente a voz leonina do Dharma no meio das multidões”.

“Tendo venerado todos os Budas, eu completarei os atos de virtude; tendo realizado o Voto e a Sabedoria eu me tornarei o herói do Universo”. “Como tu que possuis a Sabedoria Ilimitada, que brilha sobre tudo, eu também terei o poder ilimitado da Virtude e da Sabedoria. “Se meus votos forem realizados, todos os mundos devem abalar-se na raiz e choverão dos céus as flores maravilhosas”. Quando o Bodhisatva Dharmakara terminou de recitar esses versos a terra inteira tremeu de seis diferentes maneiras de uma vez, e o céu derramou as flores maravilhosas. Então espontaneamente soou uma música no paraíso que entoou as seguintes palavras de louvor: “Você certamente atingirá a mais elevada e perfeita iluminação”.

Então, segundo o mito, tendo feito os votos, Bodhisatva Dharmakara devotou-se inteiramente ao embelezamento de sua Terra Maravilhosa. A Terra Búdica que ele trouxe à existência era ampla, expansiva e inconcebivelmente única, não conhecendo declínio nem mudança. Por um período de inumeráveis, inconcebíveis e inexpressáveis Kalpas devotou-se à realização dos deveres de um Bodhisatva.

Em benefício de todos os seres ele praticou virtudes imensuráveis nunca concebendo a idéia de cobiça, ódio e malevolência.

Ele era perfeito em perseverança. Nenhuma dor o perturbava.

Ele era sereno em sua meditação. Nada bloqueava sua Sabedoria. Incansável era sua vontade. Sempre buscando a verdade pura, ele beneficiou todos os seres. Aonde ele desejava nascer aí nascia. Incontáveis foram os seres que ele ensinou, e que foram pacificamente assegurados no insuperável caminho da verdade. A sua boca exalava um odor puro como o Lótus azul. Todos os poros do seu corpo emitiam o perfume do sândalo que se espalhava por todos os mundos inumeráveis.

Correto e sereno era o seu semblante, e sua figura era inconcebivelmente maravilhosa. De suas mãos surgiam tesouros infindáveis: adornos, refeições, flores, estandartes e outras coisas para decoração. Apesar de todas essas coisas ele era livre e desimpedido.

Assim ele obteve o comando de tudo que necessitava, após realizar os deveres de um Bodhisatva. Resumindo, ele alcançou todas as virtudes pertencentes à vida de um Bodhisatva, que consiste na realização do Amor (Karuna) e da Sabedoria (Prajna).

O Bodhisatva Dharmakara já atingiu o Budato?

- pergunta Ananda a Sakiamuni – Ele já entrou no Nirvana?

Ou ele não atingiu ainda a iluminação?

Está ele ainda vivendo?

O Bodhisatva Dharmakara – Sakiamuni responde a Ananda, já atingiu o Budato e vive agora na região Ocidental a dez bilhões de países longe daqui. O mundo desse Buda é chamado “A Terra Pura da Paz e da Alegria”. Já se passaram dez Kalpas desde que o Bodhisatva Dharmakara atingiu o Budato. Ele está cercado de inumeráveis Bodhisatvas e possui a perfeição sem fim da sua origem Búdica. Ele é chamado o Buda da Luz Infinita (Amitabha), porque o alcance de sua luz vai além de qualquer medida. Ele também é chamado o Buda da Vida Eterna (Amitayus), porque a extensão de sua vida é totalmente incalculável, de forma que mesmo que todos os seres inumeráveis das dez direções, tendo se reunido em um lugar, possam unir seus pensamentos para medir a extensão de sua vida por um período de cem bilhões de Kalpas, e tentem conhecer a extensão de sua vida, mesmo assim não é possível conhecer o limite.

A essência do Voto de Amida é que ele não atingirá a iluminação até que através de sua iluminação todos os seres no Universo também se iluminem, ou seja, nasçam no país Búdico - A Terra Pura. Amida trabalha eternamente como o Salvador para realizar seu Voto Original. Ele é o Coração dos corações. Ele é o Coração Compassivo que sente necessidade de todos os outros corações.

Por sua múltipla atividade que irradia em todas as direções ele está preenchendo o desejo inerente de suas diferentes criaturas. Essa vontade profunda, esse propósito supremo agindo na profundidade de nossos corações é seu apelo em nós para que busquemos a libertação. A mais profunda aspiração do homem é tornar-se imortal, atingir a vida eterna. Essa nossa aspiração Amida também tem. É a vida eterna e absoluta que possui o mundo verdadeiro e é esse mundo, que inspira essa mesma aspiração. Amida é a eterna vontade salvadora, o Voto Original que age eternamente. Por outro lado, também e ao mesmo tempo Amida é o repouso infinito da perfeição porque de acordo com o mito, dez Kalpas já passaram desde que ele atingiu a Perfeita Iluminação. E como ele já atingiu a iluminação, daí se concluiu que nosso Renascimento ou Iluminação já se efetuou no tempo intemporal simultaneamente com sua iluminação.

Sim, nós precisamos saber que temos em nós aquilo em que o espaço e o tempo cessam de governar e aonde os elos de causa e efeito são fundidos na unidade.

Nessa morada eterna do espírito, a revelação de Amida, o Espírito Supremo já está completo. O verdadeiro, o todo consciente, o infinito está oculto na profundidade de nossa consciência.

A união com o Onisciente já está realizada no tempo intemporal. Ninguém pode buscar uma verdade além de seu ser presente, a menos que o buscador já seja uno em seu propósito mais profundo com a Vida Eterna em que toda verdade é expressa.

Essa unidade dos propósitos divinos e finitos já existe no fundamento de nosso coração, de forma que Amida é imanente, está toda noite conosco e é sentido em toda parte por nós. A qualquer momento em todas nossas intenções conscientes, em todos nossos esforços finitos somos unos com Amida. Uma vontade satisfeita encontra seu objetivo na vida de Amida e não procura outra. É todo o mundo do passado, presente e futuro, é essa vida universal em que implicam todos os nossos momentos de vida consciente. Amida é todo a nossa verdadeira vida, em que vivemos, morremos e temos nosso ser, e nele nós triunfamos e alcançamos, não os desejos cegos de nosso ser momentâneo, mas aquilo que nossos esforços sempre buscam, desejam e amam.

Podemos não ter uma plena consciência dessa vida em nós, mas ela está sempre presente em sua essência, em nosso ser mais profundo embora não tenhamos perfeita consciência disso. E essa vida completa e perfeitamente presente é Amida. Amida o espírito da alegria se dividiu em dois. A alegria, cujo outro nome é amor, tem por sua natureza que ser dual para sua realização.

Quando o cantor tem sua inspiração, ele se divide em dois; tem dentro de si seu outro ser como ouvinte, e a audiência externa é uma mera extensão desse seu outro ser. Um pai busca seu outro ser em Seu filho amado. É a alegria-amor que cria essa separação para realizar a união através da separação.

O amor é imensamente livre e ao mesmo tempo imensamente limitado. Se Amida fosse absolutamente livre, não haveria criação.

Amida, o ser infinito assumiu em si todo o mistério da finitude.

Ele voluntariamente colocou limites à sua vontade e nos concedeu domínio sobre nosso pequeno mundo. É como um pai colocando a seu filho alguns limites dentro dos quais ele seja livre de fazer o que quiser. Apesar de permanecer uma parte da propriedade do pai, ainda assim ele o libera da ação de sua própria vontade de amor e por conseqüência livre só pode ter sua alegria na união com outra vontade livre. Um amante necessita de duas vontades para a realização de seu amor, porque a consumação do amor está na harmonia entre duas liberdades. Da plenitude do amor, Amida se dividiu em dois. Ele escolheu esse nosso coração como seu amado, como seu outro ser, como seu ouvinte. Ele se prendeu ao homem e essa prisão feliz, esse parentesco de amor supremo já estava realizado em tempo intemporal. E ele que foi ganho na eternidade está agora sendo buscado no tempo e no espaço, em alegrias e sofrimentos, nesse mundo e nos inumeráveis mundos além. Nosso coração, como um rio, atingiu o Oceano de seu preenchimento em um extremo de seu ser, e no outro extremo está sempre atingindo; em um extremo é repouso eterno e completude e no outro movimento e mudança incessantes.

Quando nosso coração desperta para isso, quando percebe que ambos os extremos são inseparavelmente unidos, então ele descobre esse mundo como seu próprio lar reconhecendo o senhor desse mundo como seu próprio pai (oya). Ele vê o mundo penetrado por uma presença divina, o Infinito Amor Original manifestando-se em todas as coisas desse mundo. Então todos os serviços se tornam serviços de amor, todas as dificuldades e tribulações da vida aparecem-lhe como tentativas triunfantes surgidas para provar a força de seu amor.

Ele revelou os mistérios do mundo espiritual. Porém, eu repito, não podemos atingir a verdadeira espiritualidade através de sucessivas acumulações de conhecimento adquirido pouco a pouco. Não podemos crescer mais e mais em Amida. Ele é o Absoluto e não pode haver mais nem menos nele. A revelação do Espírito Supremo em nosso coração individual já está absolutamente completa como já vimos. Não podemos pensar nela como dependendo de nossos poderes limitados (jiriki) para sua construção gradual. Se nossa relação com Amida, Espírito Supremo, fosse algo de nossa própria criação, como poderíamos confiar nele como verdadeiro, e como nos poderia oferecer suporte?


2

O amor dá-se espontaneamente em sãsivas sem fim. Mas esses sãsivas perdem seu sentido completo se não alcançarmos através deles esse amor que é o doador. Para isso precisamos ter amor em nosso coração. Quando temos amor em nosso coração um simples sinal é de valor permanente para nós. Porque não é para nenhum uso especial. É um fim em si; é para nosso ser interior. Como um sinal de seu amor ilimitado por nós, Amida nos deu um sãsiva – o mais verdadeiro de todos os sãsivas. Ele nos deu seu Santo Nome (Nyogo) de forma que onde quer que pronunciemos seu nome e o ouçamos sendo pronunciado, possamos relembrar com uma aspiração profunda nossa união com ele já realizada em tempo intemporal. É seu chamado a nós, é sua busca por amor a nós.

NAMU-AMIDA-BUTSU !

É em reminiscência do Voto Original de Amida e de seu Amor Ilimitado por nós que recitamos seu santo nome.

É para relembrar que essa ilha de isolamento já foi atingida por ele, e que ele não nos esqueceu, e irá salvar-nos mesmo agora. É entregar o nosso ser e confiar absolutamente e sem dúvida em Amida Buda. Assim, não somos nós que pronunciamos seu nome, mas Amida que fala para si mesmo. É sua própria recitação, respirada em nossa respiração. No Anjin – Ketsujo-sho (Tratado do Estabelecimento Final da Mente Pacífica), escrito por um seguidor anônimo do ensinamento da Terra Pura, lemos: “O Nembutsu significa pensar em (nen) Amida Buda (butsu) e pensar no Buda é relembrar que o Buda rompeu os grilhões que prendem todos os seres no nascimento-e-morte através do poder ativo de seu Voto Original e assim ele criou as condições para seu nascimento na Terra da Recompensa onde uma vez que entrem eles nunca retrocederão.

Quando pensamos nesse mérito realizado pelo Buda, nós confiamos inteiramente no Voto Original, nossa atividade tríplice de corpo, palavra e mente é mantida pela Substância Búdica e somos elevados ao estado de iluminação que constitui o Budato. Assim, lembrem-se que nosso ser absorto no Nembutsu, ou seja, nossa recitação do nome de Buda, ou a veneração dele não é um ato originado em nós, mas é realizar o ato do próprio Buda Amida.

Ou, novamente em outro trecho do mesmo livro lemos: “O propósito de todos os Três Sutras (da Escola da Terra Pura) é manifestar o significado do Voto Original. Compreender o Voto é compreender o Nome, e compreender o Nome é compreender que o Buda Amida, trazendo à maturidade seu Voto e sua virtude em benefício de todos os seres, efetuou seu Renascimento (Ajo) mesmo antes de sua realização real. O que fez a substância da Iluminação não foi nada menos que o Renascimento de todos os seres nas dez direções do Universo. Por essa razão, nós que praticamos o Nembutsu devemos lembrar cada vez que ouvimos o nome de Buda sendo pronunciado, que nosso Renascimento já se realizou, porque o nome vem da Iluminação atingida pelo Bodhisatva Dharmakara que jurou não atingir a iluminação até que todos os seres nas dez direções alcancem o Renascimento.


3

Nosso Renascimento ou Iluminação já se realizou em tempo intemporal. Mas em virtude de nossa mente egocêntrica somos ignorantes desse fato. Nossa mente dualista e egocêntrica cria a dura separação do ser.

Ela agrilhoava nosso ser de fundir-se no tempo universal e tocar a unidade fundamental. Ela faz nosso ser grilhão, levando-nos a pensar que nosso ser, como ser é real e que é um fim em si mesmo.

Assim temerosos redemoinhos são criados em volta de diferentes centros – redemoinhos de egoísmo, de orgulho e poder. Isso nos leva a colocar obstruções e fortalecer o tempo todo a prisão do karma (go).

O significado original da palavra karma é “ação” (Kri), e uma ação ou um ato, bom ou mau, traz seu resultado no agente, e assim, karma é a lei moral de causa-e-efeito dominando a atividade humana. Nossas misérias e sofrimentos são causados por estarmos atados e presos com a corrente de ferro da atividade humana que corre ininterrupta desde tempos imemoriais.

Todos nós desde que nascemos carregamos o pesado fardo da imensa acumulação das atividades humanas no passado. Somos apanhados na teia do karma que nós, seres humanos, tecemos desde um passado desconhecido.

Nós somos o karma; karma é a própria vida humana. A totalidade d vida humana é uma prisão cujas barras são impossíveis de romper.

Quando as condições apropriadas amadurecerem, ocorre um evento, independente de nossa vontade. Nascimento, velhice, doença e morte atingem a todos com a severidade imparcial da qual não existe fuga.

Somos presos por todos os lados, dentro e fora com os grilhões da causalidade (inga) moral e física,de forma que não podemos fazer nada de acordo com nosso ideal e vontade. Mesmo uma ação feita com boa vontade freqüentemente traz maus resultados. Não é suficiente sermos sinceros, nem ter boas intenções. Quando sofrimento podemos causar aos outros sem desejá-lo ou sabê-lo! Podemos causar tanto mal através do desconhecimento quanto da rudeza. Porém não podemos nem mesmo controlar absolutamente nossos corpos ou regular nossos desejos. Não podemos com todos nossos esforços afastarmo-nos do mal, ou forçarmo-nos a seguir o caminho da virtude. O poder esmagador da necessidade kármica nos impele a deixar incompleto o bem que deveríamos fazer e a fazer o mal que não deveríamos. Quando refletimos sobre isso só podemos estremecer diante de nossa abismal pecaminosidade. Presos por todos os lados com os grilhões da necessidade kármica, encontramo-nos mergulhados em um redemoinho de pecado. Aonde quer que vamos, o pecado segue-nos como nossa própria sombra. Parece que não existe caminho para nos vermos livres sendo privados de vida. Mas o homem não é animal. Ele é consciente sob a consciência opressiva de nossa pecaminosidade, e essa consciência aponta o caminho da libertação.

Exatamente por sermos conscientes de nós mesmos e sabermos julgar nossos atos podemos ter uma percepção da realidade onde esse julgamento humano não possui valor.

Falando racionalmente, ser simplesmente consciente do pecado pode não ser mais que um estado de contemplação, mas em nosso coração sentimos que essa consciência tem raízes muito mais profundas e surge de nosso ser mais íntimo que é de alguma maneira relacionado com algo que transcende e ainda assim é nua verdade mais profunda. Nossa luta contra a existência pecadora é impulsionada por esse algo, por esse poder impensável. Se não fosse por isso não teríamos angústia, luta ou aflição de nenhum tipo.

Nossa consciência do pecado é assim sempre ligada a esse impulso.

Sem esse impulso em nosso coração não teríamos consciência do mal em nós, e assim sabemos que o mal é algo ligado ao bem ou à pureza.

É de fato o puro que pressiona tão persistentemente no domínio do pecado, fazendo o último sentir-se inquieto. O próprio fato de nosso sofrimento espiritual intenso é a promessa que podemos eventualmente transcendê-lo. No sofrimento espiritual, está simbolizada a infinita possibilidade da perfeição e eterno desabrochar da alegria.

O mal oprime-nos o tempo todo, mas sentimos apelo insistente de buscar a libertação. Esse apelo, esse impulso, que surge de nossa natureza mais profunda, do centro de nosso ser, manifesta-se como o Nembutsu. O Nembutsu é o navio que nos foi transferido por Amida para permitir-nos cruzar o mar turbulento da existência pecadora para a outra margem da felicidade. Essa passagem, essa transferência não é, porém um processo gradual de um estágio a outro. No mesmo instante em que tomamos o navio com absoluta confiança em Amida, encontramo-nos na outra margem; não existe gradação, nem progresso por etapas, mas um salto (ocho), uma transferência abrupta, uma continuidade discreta. Porque essa transferência (Parinamana: eko) é a ação do poder impensável – o Outro Poder (tariki) – não do auto-poder (jiriki).

Zendo (Shan-Tao, 613-681), um dos sete patriarcas do Shinshu, dá-nos uma alegoria sobre transferência em seu comentário sobre o Kanmuryojukyo (Amitayur – dhyana Sutra) que é um dos três sutras que estabelecem o ensinamento do Shinshu.

Havia uma vez um viajante que ia para o Oeste através de um vasto deserto. Era uma jornada solitária. Um dia ele ouviu um grande ruído muito atrás de si e viu um bando de ladrões e um bando de animais selvagens perseguindo-o. Imediatamente ele correu com energia e vigor para escapar do perigo. Mas deveras! Havia um rio em seu caminho. Media cem pés de largura e era dividido em duas correntes por um caminho estreito e branco, de quatro ou cinco polegadas de largura – uma à direita, uma corrente d`água turbulenta e sem fundo, e outro à esquerda, uma corrente ilimitada de fogo ardente. Parecia uma tentativa perigosa caminhar através desse caminho estreito e branco atingido o tempo todo pelo fogo e inundado pela água. No intervalo os ladrões e as feras já o estavam quase alcançando. Ele estava em desespero completo porque não podia nem avançar, nem parar, nem retroceder sem encontrar o perigo da morte. Mas no último momento esse pensamento surgiu em sua mente: se eu recuar os ladrões certamente cairão em cima de mim ; mesmo que eu escape deles as feras não me deixarão em paz. E se eu aventurar-me a avançar, como poderei escapar de ser varrido seja pela água seja pelo fogo? A morte cerca-me por todos os lados.

Meu fim virá de qualquer maneira. Porque não mover-me ousadamente para a frente? Quando ele finalmente decidiu, ouviu a voz no Leste: “vá direto através do caminho com uma firme resolução, porque é a única maneira de você escapar da morte”. Então outra voz veio da outra margem : “com pensamento correto e simplicidade de coração, venha direto para mim.”

“Não tenha medo de cair no fogo ou na água porque eu o protegerei do perigo”. Infinitamente encorajado por essas vozes, ele resolutamente caminhou através do caminho branco e instantaneamente alcançou em segurança a margem Oeste. Ele estava agora na Terra da Felicidade onde ele gozou a mais alegre e pacífica vida de fraternidade universal. O que significa esta história?

O viajantes somos nós. Essa margem representa a vida humana presa pela corrente contínua da necessidade kármica; a outra margem, o mundo espiritual da alegria eterna, da liberdade absoluta da prisão do karma.

O rio significa nossa abismal perversidade, a água turbulenta e o fogo ardente representam a cobiça e a crueldade às quais a mente humana está tão presa. A voz que vem dessa margem representa o ensinamento de Sakiamuni, e a voz da outra margem representa o grande coração compassivo ou o Voto Original de Amida. O caminho branco é o Nembutsu – o presente que nos é dado por Amida, o mais verdadeiro de todos os presentes. Quando percebemos que como seres humanos condicionados pelo karma não possuímos uma conduta em que possamos confiar e tomamos consciência de nossa atroz pecaminosidade, o Nembutsu surge da profundidade de nosso coração e alcançamos instantaneamente a outra margem, a margem da libertação. O que nos mantém do lado de cá dessa ponte misericordiosamente construída pela ilimitada compaixão de Amida é nossa vontade egocêntrica (Kakarsi) e nossa dúvida.

A menos que sejam removidos, o apoio de Amida não será ouvido. Fé incondicional na Grande Compaixão – passividade absoluta ou entrega absoluta ao Outro Poder é o único caminho direto e seguro que leva ao Renascimento na Terra Pura.

No Tannisho (Tratado de Lamentação das Heresias), Shinran declara:

“Os bons conseguem nascer na Terra Pura; com maior razão, pois, os maus o conseguirão”. Entretanto as pessoas costumam dizer que se os maus conseguem renascer na Terra Pura com muito maior razão os bons conseguirão. Esta última afirmativa parece à primeira vista razoável, mas ela vai contra o Voto Original de Amida. Isso porque aqueles que acreditam na salvação conseguida através de práticas virtuosas feitas com seu próprio esforço não confiam incondicionalmente no Poder externo e assim não se harmonizam com o Voto Original de Amida. Entretanto, se abandonarem sua confiança no esforço próprio para confiarem no Poder externo conseguirão o renascimento na Terra da Recompensa Real. A verdadeira intenção de Amida ao enunciar seu voto compadecido de nós, seres carregados de paixões mundanas e incapazes de nos libertarmos dos nascimentos e das mortes através de quaisquer práticas, é oferecer a Realização Búdica aos maus. Assim, o mau que confiar no Poder externo é o legítimo merecedor do renascimento na Terra Pura. Por isso o Venerável Mestre disse: “Se os bons conseguem o Renascimento, com muito maior razão os maus conseguirão”. “Quando firmes na certeza de que, salvos pelo Voto de Amida que escapa ao alcance do nosso pensamento, alcançaremos o Renascimento na Terra Pura, brota em nosso coração o desejo de recitar o Nembutsu, imediatamente alcançamos a graça de estarmos definitivamente seguros; sem a possibilidade de sermos rejeitados.

O Voto Original de Amida não faz distinções entre velhos e jovens, bons e maus, reclama apenas um coração sincero, puro e inabalável. Isso porque é um voto que visa salvar os seres carregados de pesadas culpas e profundo mal, que têm paixões e desejos fortes e resistentes. Assim, para se confiar no Voto Original não são necessárias outras práticas virtuosas superiores ao Nembutsu, nem se deve temer o mal por não existir mal que possa obstruir a ação do Voto Original de Amida.

“Para o praticante o Nembutsu não é nem uma prática ascética nem uma ação virtuosa. Não é uma prática ascética porque não é praticado com base na minha vontade. Não é uma ação virtuosa porque a ação virtuosa não depende da minha vontade. Já que o Nembutsu se baseia totalmente no Poder externo e na renúncia ao caminho do esforço próprio, não é ele uma prática ascética nem uma ação virtuosa”. “...Eu, Shinran, não tenho nenhum discípulo, pelo seguinte motivo: Se eu, por minha iniciativa, fizesse os outros recitarem o Nembutsu, eu poderia dizer que eles são meus discípulos; entretanto, os homens recitam o Nembutsu por obra do Poder de Amida; é um absurdo, pois, que eu os considere meus discípulos”.

“Eu recito o Nembutsu, mas não sinto vontade de pular e dançar de alegria, nem desejo de alcançar a Terra Pura o mais rapidamente possível. Como resolver esse problema? Tendo eu feito essa pergunta, o Mestre respondeu: “Eu, Shinran, também tinha essa dúvida: vejo que agora também tu, Yui-em, experimentas o mesmo estado de espírito. Meditando sobre esse ponto, cheguei à conclusão de que o fato de não me alegrar quando deveria sentir vontade de dançar no céu e na terra de tanta alegria é indício de que o Renascimento está absolutamente garantido. São as paixões que impedem que o coração se alegre quando ele deveria estar tomado de alegria. Entretanto desde o início Buda está ciente desse fato e nos considera como seres cuja essência consista em paixões e imperfeições.

“Uma vez cientes de que o Voto Compassivo do Poder externo é dirigido a nós, que temos tal natureza, podemos de uma vez por todas, considerá-lo infalível”

Quando a fé se estabelece com firmeza, a iniciativa do Renascimento passa inteiramente para o coração de Amida, não dependendo mais do crente.

Ainda que tenhamos um coração mau e impuro, se confiarmos inteiramente no Poder do Voto, ele espontaneamente adquirirá mansidão e paciência. Em qualquer circunstância, no que se referir ao Renascimento, o crente deverá evitar pensamentos de confiança em sua própria inteligência e refletir constantemente quão profunda é a graça por ele recebida de Amida.

Assim, praticará o verdadeiro Nembutsu, o Nembutsu que brota natural e espontaneamente. É um Nembutsu natural e espontâneo porque não depende da vontade do praticante. Por isso é chamado o Nembutsu do Poder externo. Resumindo, o Nembutsu não consiste simplesmente em pronunciar o nome de Amida e recordar sua grande compaixão. É a entrega de nossa vontade à vontade de Amida. É chegar aos nossos limites existenciais e saltar sobre o abismo que se abre diante de nós. A porta que pensávamos impossível de atravessar agora abre com um toque, e nossas limitações tendo sido transcendidas, reconhecemo-nos soberanos do vasto desconhecido.

Todos os grilhões da vida que nos cercavam por todos os lados desabam. Toda mancha e contaminação presa ao coração humano é sacudida. Não é nada mais que o Nembutsu que atravessa o abismo sem fundo de nossa existência pecadora e une nosso coração com o coração original na Terra Pura.

Mas aí está uma coisa que não podemos esquecer.

O coração assim nascido na Terra Pura nunca repousa nesse país, porque o coração assim purificado não é o coração humano. O coração tão logo atinge a Terra Pura volta para essa Terra e sente todo mal e sofrimento humano como seu próprio. Assim o coração puro e feliz e ao mesmo tempo sofredor, está constantemente alcançando a outra margem e voltando a essa margem – e essa transferência constante para lá (osoeko) e de volta para cá (genso-eko) em um ato é a vida espiritual ou naturalidade, a ação do grande coração compassivo.


extraido de: http://www.dharmanet.com.br/honganji/naturalidade4.htm

Sutra Extenso de Amitabha

Sutra Extenso de Amitabha



SUKHAVATIVYUHA

Parte 1

Transcrito para chinês durante a dinastia Ts’ao-Wei pelo mestre indiano do Tripitaka Samghavarman


Prefácio



[1] Assim eu ouvi:

Certa época residia o Buda no Pico do Abutre em Rajagriha com uma grande comunidade de doze mil monges. Eram todos grandes sábios que tinham já obtido poderes sobrenaturais. Entre eles estavam os seguintes Anciãos: os Veneráveis Ajnata-kaundinya, Ashvajit, Vaspa, Mahanama, Bhadrajit, Vimala, Yashodeva, Subahu, Purnaka, Gavampati, Uruvilva-kashyapa, Gaya-kashyapa, Nadi-kashyapa, Mahakashyapa, Shariputra, Mahamaudgalyayana, Kapphina, Mahakausthilya, Mahakatyayana, Mahakunda, Purna-maitrayaniputra, Aniruddha, Revata, Kimpila, Amogha-raja, Parayanika, Vakkula, Nanda, Svagata, Rahula e Ananda.
Também acompanhavam o Buda vários Bodhisattvas do Grande Veículo, incluindo o Bodhisattva Samantabhadra, o Bodhisattva Manjushri e o Bodhisattva Maitreya. Também estavam presentes os dezasseis Bodhisattvas leigos, tais como o Bodhisattva Bhadrapala, o Bodhisattva Pensamento Profundo, o Bodhisattva Sabedoria da Fé, o Bodhisattva Vacuidade, o Bodhisattva Florescência do Poder Sobrenatural, o Bodhisattva Herói de Luz, o Bodhisattva Sabedoria Superior, o Bodhisattva Estandarte da Sabedoria, o Bodhisattva Habilidade Tranquila, o Bodhisattva Sabedoria dos Votos, o Bodhisattva Elefante Perfumado, o Bodhisattva Herói de Tesouros, o Bodhisattva Residente no Centro, o Bodhisattva Prática da Contenção e o Bodhisattva Emancipação.


Virtudes da Audiência de Bodhisattvas


Cada um destes Bodhisattvas, seguindo as virtudes do Mahasattva Samantabhadra, é dotado das imensuráveis práticas e votos do Caminho do Bodhisattva e está firmemente ancorado em todos os actos meritórios; viaja livremente pelas dez direcções e emprega meios hábeis de emancipação; entra no Tesouro do Dharma dos Budas e alcança a Outra Margem. Ele alcança a Iluminação através dos inumeráveis mundos. Primeiro, residindo no Paraíso de Tusita, proclama o verdadeiro Dharma. Tendo deixado o palácio celestial, desce ao ventre da sua mãe. Logo após ter nascido pelo seu lado direito, ele dá sete passos. Quando assim faz, um brilho refulgente irradia por toda a parte nas dez direcções e inumeráveis terras de Buda estremecem de seis modos diferentes. Então ele profere estas palavras, “Eu serei o mais honrado no mundo.” Shakra e Brahma visitam-no reverentemente e é adorado e venerado pelos seres celestiais. Mostra a sua habilidade no cálculo, na escrita, no tiro com arco e na cavalaria. Também é versado nas artes divinatórias e tem grande erudição. No exterior do palácio treina-se nas artes marciais e também aprecia os prazeres dos sentidos. Quando pela primeira vez encontra a velhice, a doença e a morte, apercebe-se da impermanência do mundo. Renuncia ao seu reino, fortuna e trono e vai para as montanhas a fim de praticar o Caminho. Após mandar regressar o seu cavalo branco com a sua coroa e ornamentos, despe as suas roupas magnificas e veste o manto do Dharma. Corta o cabelo e a barba, senta-se direito sob uma árvore e esforça-se em práticas ascéticas durante seis anos, de acordo com a tradição. Como ele nasceu no mundo das cinco impurezas, comporta-se como os demais. Quando o seu corpo se suja, banha-se no Rio Dourado. Um deus inclina um ramo de uma árvore para que ele possa subir para a margem. Um pássaro celestial acompanha-o de perto até ao lugar da Iluminação. Um deva toma a forma de uma jovem e, percebendo um sinal favorável, oferece-lhe com reverência a relva auspiciosa. O Bodhisattva aceita-a compassivamente e espalha-a sob a árvore Bodhi, sentando-se sobre ela de pernas cruzadas. Emite um grande raio luminoso para informar Mara. Mara e a sua armada vêm atacá-lo e tentá-lo, mas ele controla-os com o poder da sabedoria e leva-os à rendição. Então, alcança a mais alta e perfeita Iluminação. Quando Shakra e Brahma lhe pedem que faça girar a Roda do Dharma, o Buda visita vários lugares e prega o Dharma com voz de trovão. Bate o tambor do Dharma, sopra a concha do Dharma, brande a espada do Dharma, liberta a trovoada do Dharma, lança o raio do Dharma, precipita a chuva do Dharma e atribui a dádiva do Dharma. A sua luz ilumina incontáveis terras de Buda, fazendo tremer o mundo de seis formas diferentes. Alcança o reino de Mara, abalando o seu palácio, de modo que ela e o seu séquito se assustam e se rendem. As lágrimas do Bodhisattva quebram a teia do mal, desfazem as visões erróneas, removem as aflições, lavam as sarjetas do desejo, protegem o castelo do Dharma, abrem os portões do Dharma, limpam a sujidade das paixões e revelam o Dharma branco e puro. Ele unifica tudo no Buda Dharma e assim proclama o correcto ensinamento.
Entra na cidade para pedir esmolas; aceita até comidas ricas de modo a permitir aos dadores acumular méritos e também para mostrar que é um campo de virtude. Desejando expor o Dharma, ele sorri e assim cura as três dores com vários remédios do Dharma. Ele ensina que a aspiração pela Iluminação tem um mérito imensurável e, conferindo profecias [de Iluminação] aos Bodhisattvas, permite-lhes alcançar o estado de Buda.
Ele manifesta a sua entrada no nirvana mas conduz incessantemente os seres sencientes à emancipação. Removendo as imperfeições deles, plantando várias raízes de virtude e alcançando méritos excelentes, ele realiza feitos inconcebíveis e maravilhosos.
Além disso, cada um dos Bodhisattvas na assembleia é capaz de visitar várias terras de Buda e expor os ensinamentos do Caminho. A sua prática é pura e impoluta. Assim como um mágico, com a sua habilidade perfeita, que pode criar à sua vontade várias ilusões, incluindo imagens de homens ou mulheres, assim o Bodhisattva, tendo aprendido completamente todos os métodos de emancipação e alcançado a serena consciência da realidade, pode ensinar e transformar livremente os seres.
Ele manifesta-se em toda a parte em toda a parte em inumeráveis terras de Buda, levando a cabo actos de compaixão pelos seres sencientes, incansável e diligentemente. Obteve a mestria completa nesses métodos de emancipação.
Está completamente familiarizado com a essência dos sutras para Bodhisattvas e, como a sua fama se espalha por toda a parte, guia os seres sencientes através das dez direcções. Ele é lembrado e protegido por todos os Budas. Já residiu em todas as mansões dos Budas e realizou as acções de um Grande Sábio. Ele proclama os ensinamentos do Tathagata, procede como um grande mestre para com os outros Bodhisattvas e, com profunda sabedoria e samadhi, guia multidões de seres. Com a compreensão penetrante da natureza dos Dharmas, ele percebe os diferentes aspectos dos seres viventes e vela de perto por todos os mundos. Para fazer oferendas aos Budas, ele manifesta corpos de transformação como relâmpagos. Tendo aprendido cabalmente a extensa sabedoria que nada teme e percebendo a natureza ilusória dos Dharmas, destrói as redes de Mara e desata todas as amarras da paixão. Eleva-se sobre os estágios dos shravakas e pratyekabudas e atinge os samadhis da vacuidade, não-forma e não-desejo. Utiliza habilmente os meios expeditos e revela três ensinamentos distintos. Para aqueles dos estágios baixo e médio, manifesta a sua passagem ao Nirvana. Na realidade, ele é não activo e não aquisitivo e, consciente de que os Dharmas em si mesmos nem surgem nem desaparecem e percebe que são de natureza absolutamente equânime. Ele alcançou inumeráveis dharanis, centenas de milhares de samadhis, diversas faculdades espirituais e sabedoria.
Com a meditação da Vasta e Universal Tranquilidade, entra profundamente no Tesouro do Dharma dos Bodhisattvas. Após alcançar o Samadhi da Grinalda do Buda, proclama e expõe todos os sutras. Imerso em profunda meditação, visualiza todos os inumeráveis Budas e num instante visita-os a todos.
Esclarecendo e ensinando a verdade absoluta aos seres sencientes, liberta-os dos estados de dor extrema, dos estados em que o sofrimento é tão grande que priva os seres do tempo para as práticas budistas e também daqueles estados em que o sofrimento não é tão grande a ponto de os impedir dessas práticas. Tendo alcançado a sabedoria e eloquência cabais do Tathagata, tem um domínio fluente das linguagens com as quais ilumina os seres. Ele está acima de todos os assuntos mundanos e a sua mente, sempre serena, encontra-se no caminho da emancipação; isto confere-lhe o controlo absoluto sobre todos os dharmas. Sem esperar o pedido dos seres, torna-se um grande amigo de cada um deles e carrega os seus pesados karmas. Ele sustenta o profundo tesouro do Dharma dos Tathagatas e protege as sementes do estado de Buda, de modo a que possam continuar a multiplicar-se. Tendo gerado grande compaixão por todos os seres, expõe gentilmente o ensinamento e confere-lhes o Olho do Dharma. Ele fecha os caminhos para os três planos negativos de existência, abre as portas da virtude e oferece o Dharma aos seres sem esperar o seu pedido. Ele faz isto pela multidão dos seres tal como um filho esmerado ama e respeita os seus pais. Na verdade, encara os seres como o seu próprio eu. Com tais raízes de virtude, todos os Bodhisattvas da assembleia alcançaram já a margem da emancipação. Adquiriram o imensurável mérito dos Budas e alcançaram a sagrada, pura e inconcebível sabedoria. Inumeráveis Bodhisattvas e Mahasattvas como estes reuniram-se aí de imediato.


As Características Gloriosas do Buda


Nessa ocasião todos os sentidos do Honrado Pelo Mundo irradiavam alegria, todo o seu corpo estava sereno e glorioso e o seu porte parecia mais majestoso. Tendo percebido a sagrada disposição do Buda, o Venerável Ananda levantou-se do seu lugar, descobriu o ombro direito, prosternou-se e juntando as palmas das mãos em sinal de reverência, disse ao Buda, “Honrado Pelo Mundo, hoje todos os vossos sentidos irradiam alegria, o vosso corpo está sereno e glorioso e o vosso porte é majestoso como um espelho brilhante. A magnificência da vossa digníssima aparência é insuperável e desmedida. Nunca como hoje eu o vi tão soberbo e majestoso. Com o devido respeito, Grande Sábio, ocorreu-me este pensamento: “Hoje o Honrado Pelo Mundo encontra-se num Dharma maravilhoso, o Herói do Mundo reside na mansão do Buda; hoje o Olho do Mundo concentra-se na realização do dever do líder; hoje o Mais Valente do Mundo encontra-se na suprema Bodhi; hoje, o Mais Honrado dos Céus está ciente das virtudes do Tathagata. Os Budas do passado, do presente e do futuro, contemplam-se uns aos outros, como poderia este presente Buda não contemplar todos os outros? Porque razão o seu porte está tão majestoso e brilhante?” Então o Honrado Pelo Mundo disse a Ananda, “Diz-me, Ananda, foste instado por algum deus a colocar essa questão ao Buda ou perguntas pelo seu aspecto glorioso a partir da tua observação sagaz?”
Ananda respondeu ao Buda, “Não fui instruído por nenhum deus, fiz esta pergunta de moto próprio.”
O Buda disse, “Muito bem, Ananda. Estou muito satisfeito com a tua questão. Mostraste uma sabedoria profunda e uma intuição subtil ao colocares-me esta sábia questão, com base na compaixão pelos seres sencientes. Enquanto Tathagata, eu olho os seres dos três mundos com compaixão ilimitada. A razão do meu aparecimento no mundo é a revelação dos ensinamentos do Caminho e a salvação das multidões de seres, dotando-os de verdadeiros benefícios. Mesmo em incontáveis milhões de kalpas é difícil encontrar e conhecer um Tathagata. É tão difícil como ver a flor udumbara, que floresce raramente. A tua questão é de grande benefício e esclarecerá todos os seres celestiais e humanos. Ananda, deves perceber que a sabedoria perfeitamente esclarecida do Tathagata é inconcebível, capaz de conduzir inumeráveis seres à emancipação, e que a sua percepção penetrante não pode ser obstruída. Com apenas uma refeição, ele é capaz de viver durante centenas de milhares de kotis de kalpas, durante um incalculável e imensurável período de tempo. Mesmo após este período de tempo, os seus sentidos estariam radiantes de alegria e não mostrariam qualquer sinal de deterioração; a sua aparência não se alteraria, o seu porte majestoso estaria exactamente igual. A razão disto é que a meditação e a sabedoria do Tathagata são perfeitas e ilimitadas e ele alcançou um poder absoluto sobre todos os dharmas. Ananda, ouve cuidadosamente. Eu irei agora expor o Dharma.”
Ananda respondeu, “Sim, eu o farei. Com alegria no coração desejo ouvir o Dharma.”


Budas Passados


Buda disse a Ananda, “No longínquo passado - há inumeráveis, incalculáveis e inconcebíveis kalpas - um Tathagata chamado Dipankara apareceu no mundo. Tendo ensinado e libertado inumeráveis seres, conduzindo-os ao longo do caminho da Iluminação, passou ao Nirvana. A seguir apareceu um Tathagata chamado Luz de Longo Alcance. Depois vieram os Budas Luar, Incenso de Sândalo, Rei das Montanhas Bonitas, Coroa do Monte Sumeru, Brilhante Como o Monte Sumeru, Cor da Lua, Recordação Correcta, Livre de Impurezas, Não-apego, Dragão-deva, Luz Nocturna, Pico Pacífico e Brilhante, Chão Imóvel, Requintada Flor de Esmeralda, Lustre de Esmeralda e Ouro, Tesouro de Ouro, Luz da Flâmula, Origem Ardente, Tremor da Terra, Imagem da Lua, Som do Sol, Flor da Liberdade, Luz Gloriosa, Poder Miraculoso do Oceano da Iluminação, Luz Aquosa, Grande Fragrância, Livre do Pó e da Impureza, Deixando a Hostilidade, Chama de Jóias, Pico Formoso, Postura Heróica, Sabedoria Meritória, Ofuscando o Sol e a Lua, Luz de Esmeralda do Sol e da Lua, Suprema Luz de Esmeralda, Pico Mais Alto, flor da Iluminação, Brilho da Lua, Luz do Sol, Rei da Cor das Flores, Lua na Água, Dissipando as Trevas da Ignorância, Prática de Remover Impedimentos, Fé Pura, Repositório de Bem, Glória Majestosa, Sabedoria do Dharma, Chamado da Fénix, Rugido do Leão, Voz do Dragão e Habitando-no-Mundo. Todos estes Budas passaram já ao Nirvana.


O Buda Lokeshvararaja e Dharmakara


“Apareceu então um Buda chamado Lokeshvararaja, Tathagata, Arhat, Perfeitamente Iluminado, Dotado de Prática e Sabedoria, Perfeito, Conhecedor do Mundo, Insuperável, Treinador de Homens, Mestre de Deuses e Homens, Buda, Honrado Pelo Mundo. Nessa altura existia também um rei que, tendo ouvido o Buda expor o Dharma, rejubilou em seu coração e despertou a aspiração à suprema, perfeita Iluminação. Renunciou ao seu trono e ao seu reino, e tornou-se um monge chamado Dharmakara. Dotado de uma inteligência superior, distinguiu-se no mundo. Dirigiu-se ao Tathagata Lokeshvararaja, ajoelhou-se aos seus pés, rodeou-o três vezes mantendo-o sempre à direita, prostrou-se no chão e, juntando as palmas das mãos em adoração, louvou o Buda com estes versos:


Sanbutsuge - Versos Louvando o Buda

I

A face brilhante do Buda é gloriosa;
A sua magnificência ilimitada.
O seu radiante esplendor
Está além de comparação.
O sol, a lua e todas as jóias,
Ainda que brilhem com uma luz deslumbrante,
São completamente ofuscados e obscurecidos
Como se fossem um monte de carvão.

II

O porte do Buda
Está além de comparação em todo o mundo.
A grande voz do Iluminado
Ressoa através das dez direcções
. A sua moralidade, aprendizagem e esforço,
Absorção na meditação, sabedoria
E virtudes magnificentes não têm igual;
São maravilhosas e insuperáveis.

III

Ele medita profunda e directamente
No Dharma oceânico de todos os Budas.
Conhece a sua profundidade
E penetra até ao seu fundo derradeiro.
A ignorância, a ganância e o ódio
Estão ausentes para sempre no Honrado Pelo Mundo.
Ele é o leão, o mais corajoso dos homens;
A sua gloriosa virtude é ilimitada.

IV

Os seus feitos meritórios são vastos:
A sua sabedoria é profunda e sublime.
A sua luz, a sua assombrosa glória,
Abala o universo de milhares de milhões de mundos.
Eu decido tornar-me um Buda,
Igual a ti em realização, ó sagrado rei do Dharma,
Para salvar os seres do nascimento e da morte,
E os conduzir à emancipação.

V

A minha disciplina quanto à generosidade, controle mental,
Virtudes morais, tolerância e esforço,
Bem como na meditação e na sabedoria,
Será suprema e insuperável.
Faço votos de que, quando me tornar um Buda,
Levarei a cabo esta promessa em toda a parte;
A todos os seres dominados pelo medo
Darei grande paz.

VI

Ainda que existam Budas
Em número de milhões de kotis,
E multidões de grandes sábios
Incontáveis como as areias do Ganges,
Farei oferendas
A todos esses Budas.
Procurarei o supremo Caminho
Resoluta e incansavelmente.

VII

Ainda que as terras de Buda sejam inumeráveis
Como as areias do Ganges
E as outras regiões e mundos
Sejam igualmente sem número,
A minha luz brilhará em toda a parte,
Atravessando todas essas terras.
Sendo esse o resultado dos meus esforços,
O meu glorioso poder será imensurável.

VIII

Quando me tiver tornado um Buda,
A minha terra será supremamente requintada
E os seus habitantes maravilhosos e inexcedíveis;
O assento da Iluminação será sublime.
A minha terra, sendo igual ao Nirvana,
Não terá comparação.
Compadeço-me dos seres
E resolvo salvá-los todos.

IX

Aqueles que cheguem das dez direcções
Encontrarão alegria e serenidade de coração;
Quando alcançarem a minha terra
Residirão na paz e na alegria.
Rogo a ti, o Buda, que sejas minha testemunha
E que comproves a veracidade da minha aspiração.
Tendo feito os meus votos perante ti,
Lutarei agora por cumpri-los.

X

Os Honrados Pelo Mundo das dez direcções
Possuem uma sabedoria sem impedimentos;
Invoco esses Honrados
Para que testemunhem a minha intenção.
Ainda que tenha de permanecer
Num estado de dor extrema,
Praticarei diligentemente,
Suportando todas as agruras com incansável vigor.”


A Resolução de Dharmakara de Tornar-se um Buda


Buda disse a Ananda, “Tendo dito estes versos, o Bhiksu Dharmakara disse ao Buda Lokeshvararaja, “Respeitosamente, Honrado Pelo Mundo, anuncio ter despertado em mim a aspiração à mais alta e perfeita Iluminação. Peço-te que me exponhas o Dharma inteiramente, para que eu possa praticar de modo a estabelecer uma terra de Buda pura, adornada com qualidades infinitas e excelentes. Ensina-me a alcançar rapidamente a Iluminação e a remover para todos as raízes das aflições da vida e da morte.” Buda disse a Ananda, “Nessa altura o Buda Lokeshvararaja respondeu ao Bikshu Dharmakara, “Tu próprio deves saber qual a prática que deves seguir para estabelecer uma terra de Buda gloriosa.” O Bhiksu disse ao Buda, “Isso é demasiado vasto e profundo para a minha compreensão. Peço-te sinceramente, Honrado Pelo Mundo, que exponhas detalhadamente as práticas pelas quais os Budas, os Tathagatas, estabelecem as suas terras puras. Depois de ouvir isso, quero praticar de acordo com a tua instrução de modo a realizar as minhas aspirações.”
“Nessa altura o Buda Lokeshvararaja reconheceu as altas e nobres aspirações do Bhiksu Dharmakara e instruiu-o da seguinte forma: “Se, por exemplo, alguém tentar esvaziar um oceano com uma colher, será capaz de alcançar o fundo ao fim de muitos kalpas, descobrindo então raros tesouros. Igualmente, se com sinceridade e diligência, alguém procurar o Caminho incessantemente, será capaz de alcançar o seu destino. Assim, que voto existe que não possa ser cumprido?”
“Então o Buda Lokeshvararaja explicou detalhadamente os aspectos maiores e menores de duzentos e dez kotis de terras de Buda, bem como as boas e más naturezas dos homens que nelas habitam. Ele revelou tudo isso ao Bhiksu, tal como ele tinha pedido. Então o Bhiksu, tendo ouvido do Buda a exposição das gloriosas terras puras e tendo-as visto a todas, decidiu-se em relação aos seus votos supremos e insuperáveis. A sua mente serena e as suas aspirações livres de apegos, eram inexcedíveis em todo o mundo. Durante cinco kalpas ele contemplou os votos, e então escolheu as práticas puras para estabelecer a sua terra de Buda.”
Ananda perguntou ao Buda, “Qual era a duração da vida dos seres na terra de Lokeshvararaja?”
O Buda respondeu, “A duração da vida desse Buda era de quarenta e dois kalpas.” Então ele continuou, “Depois disso o Bodhisattva Dharmakara adoptou as práticas puras que tinham levado ao estabelecimento das inexcedíveis terras de duzentos e dez kotis de Budas. Quando terminou a sua tarefa, dirigiu-se ao Buda, curvou-se a seus pés, andou á sua volta três vezes, juntou as palmas das mãos em adoração e sentou-se. Disse então ao Buda, “Adoptei as práticas puras para o estabelecimento de uma gloriosa terra de Buda.” O Buda respondeu-lhe, “Isso deve ser proclamado. Deves saber que agora é o momento certo.
Encoraja e deleita a assembleia. Ouvindo isto, outros Bodhisattvas praticarão este Dharma e assim cumprirão os seus grandes e inumeráveis votos.” O Bhiksu respondeu, “Rogo que me concedas a tua atenção. Eu irei agora proclamar integralmente os meus votos. ”


Os Quarenta e Oito Votos


1 - Se, quando alcançar o estado de Buda, existir na minha terra de Buda um inferno, um reino de espíritos esfomeados ou um reino de animais, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

2 - Se, quando alcançar o estado de Buda, os seres humanos e devas na minha terra de Buda caírem de novo, após a morte, nos três reinos malignos, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

3 - Se, quando alcançar o estado de Buda, os seres humanos e devas na minha terra de Buda, não tiverem todos a cor do ouro puro, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

4 - Se, quando alcançar o estado de Buda, os seres humanos e devas, na minha terra de Buda, não tiverem todos a mesma aparência e existir alguma diferenciação em termos de beleza, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

5 - Se, quando alcançar o estado de Buda, os seres humanos e devas na minha terra de Buda não forem capazes de recordar todos os seus renascimentos passados e de conhecer eventos ocorridos mesmo que há centenas de kotis de nayutas de kalpas, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

6 - Se, quando alcançar o estado de Buda, os seres humanos e devas na minha terra de Buda não possuírem o olho divino, capaz de ver até centenas de milhares de kotis de nayutas de terras de Buda, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

7 - Se, quando alcançar o estado de Buda, os seres humanos e devas na minha terra de Buda não possuírem o ouvido divino, capaz de escutar os ensinamentos de pelo menos uma centena de milhares de kotis de nayutas de Budas e não se recordarem de todos eles, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

8 - Se, quando alcançar o estado de Buda, os seres humanos e devas na minha terra de Buda não possuírem a faculdade de conhecer os pensamentos dos outros, pelo menos de todos os seres existentes numa centena de milhar de kotis de nayutas de terras de Buda, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

9 - Se, quando alcançar o estado de Buda, os seres humanos e devas na minha terra de Buda não possuírem o poder sobrenatural de viajar para qualquer lugar num instante, mesmo que para lá de cem mil kotis de nayutas de terras de Buda, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

10 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os seres humanos e devas na minha terra de Buda derem origem a pensamentos de apego a si próprios, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

11 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os seres humanos e devas na minha terra de Buda não se encontrarem firmemente estabelecidos na verdade absoluta, até atingirem o nirvana, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

12 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, a minha luz for limitada e incapaz de iluminar pelo menos cem mil kotis de nayutas de terras de Buda, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

13 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, a duração da minha vida for limitada, mesmo que tenha a duração de cem mil kotis de nayutas de kalpas, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

14 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, o número de shravakas na minha terra de Buda for conhecido, mesmo que todos os seres e pratyekabudas existentes neste universo de milhares de milhões de mundos os contem durante cem mil kalpas, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

15 - Se, quando alcançar o estado de Buda, os seres humanos e devas na minha terra de Buda tiverem uma duração de vida limitada, excepto quando desejem encurtá-la de acordo com os seus votos originais, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

16 - Se, quando alcançar o estado de Buda, os seres humanos e devas na minha terra de Buda sequer ouvirem falar de qualquer má acção, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

17 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, inumeráveis Budas nas terras das dez direcções não louvarem e glorificarem o meu Nome, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

18 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os seres sencientes das terras das dez direcções que sincera e alegremente se confiarem a mim, desejarem nascer na minha terra de Buda, e invocarem o meu Nome, ainda que dez vezes, não nascerem nela, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

19 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os seres sencientes nas terras das dez direcções, que despertem a aspiração à Iluminação, pratiquem vários actos meritórios e sinceramente desejem nascer na minha terra de Buda, aquando da sua morte, não me virem aparecer perante si rodeado por uma multidão de sábios, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

20 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os seres sencientes nas terras das dez direcções que, tendo ouvido o meu Nome, concentrem os seus pensamentos na minha terra de Buda, plantem raízes de virtude e transfiram os seus méritos para a minha terra, com o desejo de nascerem lá, possam eventualmente não realizar a sua aspiração, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

21 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os seres humanos e devas na minha terra de Buda não forem todos dotados com as trinta e duas características físicas de um Grande Homem, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

22 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os bodhisattvas nas terras de Buda das outras direcções que visitem a minha terra não alcançarem infalível e definitivamente o Estágio de se Tornarem Buda Após um Único Renascimento, que eu não alcance a perfeita Iluminação. Estão excluídos aqueles que desejem ensinar e guiar os seres sencientes de acordo com os seus votos originais. Pois eles usam a armadura dos Grandes Votos, acumulam méritos, libertam todos os seres do nascimento e da morte, visitam as terras de Buda para levarem a cabo as práticas dos bodhisattvas, fazem oferendas aos Budas, Tathagatas, através das dez direcções, iluminam incontáveis seres sencientes, numerosos como as areias do rio Ganges estabelecendo-os na mais alta e perfeita Iluminação. Tais bodhisattvas transcendem o curso da prática dos bodhisattvas normais, manifestam as práticas de todos os estágios do bodhisattva e cultivam as virtudes de Samantabhadra.

23 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os bodhisattvas na minha terra de Buda, de modo a fazerem oferendas aos Budas mediante o meu poder transcendental, não sejam capazes de alcançar imensuráveis e inumeráveis kotis de nayutas de terras de Buda num espaço de tempo tão curto como o de comer uma refeição, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

24 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os bodhisattvas na minha terra de Buda não forem capazes, quando o desejarem, de efectuar actos meritórios de adoração aos Budas com oferendas à sua escolha, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

25 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os bodhisattvas na minha terra de Buda não forem capazes de expor o Dharma com omnisciente sabedoria, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

26 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, existir na minha terra de Buda algum bodhisattva que não seja dotado com o corpo do deus Vajra Narayana, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

27 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os seres sencientes forem capazes, mesmo com o olho divino, de nomear ou calcular o número das miríades de manifestações prodigalizadas para os seres humanos e devas na minha terra de Buda, que são gloriosas e resplandecentes e têm detalhes refinados para lá de qualquer descrição, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

28 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os bodhisattvas na minha terra de Buda, mesmo aqueles com pequeno acúmulo de méritos, não forem capazes de ver a árvore Bodhi que tem incontáveis cores e quatro milhões de li de altura, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

29 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os bodhisattvas na minha terra não adquirirem a eloquência e sabedoria na recitação e exposição dos sutras , que eu não alcance a perfeita Iluminação.

30 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, a sabedoria e eloquência dos bodhisattvas na minha terra de Buda for limitada, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

31 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, a minha terra de Buda não for resplandecente, revelando na sua luz todas as imensuráveis, inumeráveis e inconcebíveis terras de Buda, como imagens reflectidas num espelho limpo, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

32 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, todas as miríades de manifestações na minha terra de Buda, do chão ao céu, tais como palácios, pavilhões, lagos, riachos e árvores, não forem compostos de incontáveis tesouros, que ultrapassem em suprema excelência tudo quanto existe no mundo de humanos e devas, e de cem mil variedades de madeira aromática, cuja fragrância abranja todos os mundos das dez direcções, fazendo com que todos os bodhisattvas que a sintam levem a cabo práticas Budistas, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

33 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os seres sencientes nas imensuráveis e inconcebíveis terras de Buda das dez direcções que tenham sido tocados pela minha luz, não sintam paz e alegria em seus corpos e mentes superior à de humanos e devas, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

34 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os seres sencientes em imensuráveis e inconcebíveis terras de Buda nas dez direcções, que ouvirem o meu Nome, não obtiverem a percepção do bodhisattva relativa ao não-surgimento de todos os dharmas e não adquirirem vários profundos dharanis, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

35 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, as mulheres de incontáveis e inconcebíveis terras de Buda nas dez direcções, que tendo ouvido o meu Nome, rejubilem com fé, despertem a aspiração à Iluminação e desejem renunciar à sua condição de mulheres, renasçam como tal novamente após a morte, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

36 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os bodhisattvas em incontáveis e inconcebíveis terras de Buda nas dez direcções, que tenham ouvido o meu Nome, após a sua morte, não levem a cabo práticas sagradas até alcançarem o Estado de Buda, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

37 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os seres humanos e devas em incontáveis e inconcebíveis terras de Buda nas dez direcções, que tendo ouvido o meu Nome, se prosternem no chão para me reverenciar e adorar, rejubilem com fé, e realizem as práticas do bodhisattva, não sejam respeitados por todos os humanos e devas do mundo, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

38 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os seres humanos e devas na minha terra de Buda não obtiverem roupa assim que tal desejo apareça em suas mentes, e se os mantos finos prescritos e louvados pelos Budas não lhes forem imediatamente fornecidos para seu uso, e se essas roupas precisarem de ser cosidas, descoloradas, tingidas ou lavadas, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

39 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os seres humanos e devas na minha terra de Buda não gozarem de alegria e prazer comparáveis aos de um monge que tenha extinguido todas as paixões, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

40 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os bodhisattvas na minha terra de Buda que desejem ver as imensuráveis e gloriosas terras de Buda das dez direcções, não forem capazes de as ver reflectidas nas árvores de jóias, tal como se vê o próprio rosto reflectido num espelho, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

41 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os bodhisattvas nas terras de Buda das outras direcções que ouçam o meu Nome, em qualquer momento antes de se tornarem Budas, tenham órgãos dos sentidos inferiores ou incompletos, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

42 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os bodhisattvas nas terras de Buda das outras direcções que ouçam o meu Nome, não alcancem o samadhi chamado “Pura Emancipação” e, enquanto aí se encontrarem, sem perda de concentração, não sejam capazes de fazer num instante oferendas ? a imensuráveis e inconcebíveis Budas, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

43 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os bodhisattvas nas terras de Buda das outras direcções que ouçam o meu Nome, não renascerem após a sua morte em famílias nobres, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

44 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os bodhisattvas nas terras de Buda das outras direcções que ouçam o meu Nome, não rejubilarem a ponto de dançarem e realizarem as práticas dos bodhisattvas e se não adquirirem repositórios de mérito, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

45 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os bodhisattvas nas terras de Buda das outras direcções que ouçam o meu Nome não alcançarem o samadhi chamado “Equanimidade Universal” e, enquanto aí se encontrarem, não sejam sempre capazes de ver todos os imensuráveis e inconcebíveis Tathagatas até que esses bodhisattvas se tornem também Budas, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

46 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os bodhisattvas na minha terra de Buda não forem capazes de ouvir espontaneamente qualquer ensinamento que desejem , que eu não alcance a perfeita Iluminação.

47 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os bodhisattvas nas terras de Buda das outras direcções que ouçam o meu Nome, não alcancem instantaneamente o Estágio de Não-regressão, que eu não alcance a perfeita Iluminação.

48 - Se, quando alcançar o Estado de Buda, os bodhisattvas nas terras de Buda das outras direcções que ouçam o meu Nome, não obtiverem instantaneamente a primeira, segunda e terceira percepções da natureza dos dharmas e se não se fixarem firmemente nas verdades percebidas pelos Budas, que eu não alcance a perfeita Iluminação.


Juseige - Versos Confirmando os Votos


[8] Buda disse a Ananda, “O Bhiksu Dharmakara, tendo proclamado estes votos, disse os seguintes versos:

1. Fiz votos sem igual em todo o mundo;
Irei certamente alcançar a Via insuperável.
Se estes votos não forem consumados,
Que eu não alcance a perfeita Iluminação.

2. Se não me tornar um grande benfeitor
em vidas futuras por imensuráveis kalpas
para salvar os pobres e aflitos em toda a parte,
que eu não alcance a perfeita Iluminação.

3. Quando alcançar a Iluminação
O meu Nome será ouvido nas dez direcções;
Se houver algum lugar onde isso não aconteça,
Que eu não alcance a perfeita Iluminação.

4. Livre da ganância e com profunda e perfeita consciência
E pura sabedoria, levarei a cabo as sagradas práticas;
Procurarei alcançar a Via insuperável
E tornar-me mestre de devas e humanos.

5. Com o meu poder divino irradiarei grande luz,
Iluminando os mundos sem limite,
E dissiparei as trevas das três imperfeições;
Assim libertarei todos os seres da miséria.

6. Tendo obtido o olho da sabedoria,
Removerei as trevas da ignorância;
Obstruirei todos os maus caminhos
E abrirei o portão dos planos venturosos.

7. Quando forem aperfeiçoados os méritos e virtudes,
A minha luz majestosa irradiará nas dez direcções,
Ofuscando o sol e a lua
E superando o brilho dos paraísos.

8. Abrirei o repositório do Dharma para as multidões
Dotando a todos com tesouros de mérito.
Estando sempre entre as multidões,
Proclamarei o Dharma com o rugido do leão.

9. Farei oferendas a todos os Budas,
Adquirindo assim raízes de virtude.
Quando os meus votos forem realizados e a minha sabedoria aperfeiçoada,
Serei soberano dos três mundos.

10. Tal como a tua sabedoria sem obstrução, Buda,
A minha alcançará toda a parte, iluminando tudo;
Possa a minha suprema sabedoria
Ser com a vossa, Excelência Mais Honrada.

11. Se estes votos estiverem destinados a cumprir-se,
Que este universo de milhares de milhões de mundos trema em resposta
E que todos os devas do paraíso
Façam chover raras e maravilhosas flores.”


As práticas de Dharmakara do Caminho do Bodhisattva


[9] Buda disse a Ananda, “Assim que o Bhiksu Dharmakara disse estes versos, a terra inteira tremeu de seis maneiras diferentes e uma chuva de flores maravilhosas caiu do céu, espalhando-se por toda a parte. Ouviu-se música espontânea e no céu uma voz disse, “De certo alcançarás a mais alta e perfeita iluminação.”
Então o Bhiksu Dharmakara manteve todos esses grandes votos que eram sinceros, infalíveis e insuperáveis em todo o mundo e aspirou intensamente a alcançar o Nirvana. Então, Ananda, após proclamar e estabelecer estes votos universais na presença do Buda Lokeshvararaja perante a multidão de seres, incluindo os oito tipos de seres sobre-humanos, tais como Devas e espíritos dragões bem como Mara e Brahma, o Bhiksu Dharmakara tinha apenas por intenção produzir uma terra gloriosa e rara. A terra de Buda que ele procurou estabelecer era vasta em extensão, insuperável e supremamente maravilhosa, sempre presente e isenta de decadência ou mudança. Durante inconcebíveis e inumeráveis kalpas, ele cultivou as práticas imensuravelmente meritórias do Caminho do Bodhisattva. Não manteve qualquer pensamento de ganância, ódio ou crueldade nem deixou surgir nenhuma ideia de ganância, ódio ou crueldade. Estava desapegado de qualquer forma, som, cheiro, gosto, tacto ou ideia. Dotado do poder da perseverança, não evitou suportar várias aflições. Tendo poucos desejos para si próprio conhecia o contentamento. Sem qualquer pensamento impuro, hostilidade ou estupidez, encontrava-se continuamente em tranquilo samadhi. A sua sabedoria não conhecia obstáculos e a sua mente era livre de falsidade e engano. Com uma expressão de ternura na face e com um discurso amável falava aos outros em consonância com os seus pensamentos íntimos. Corajoso e diligente, determinado e incansável, dedicou-se unicamente ao puro Dharma, beneficiando assim a multidão de seres. Reverenciou os Três Tesouros, respeitou os seus mestres e anciãos, adornando assim as suas práticas com um grande repositório de méritos. Assim fazendo, permitiu aos seres sencientes beneficiar delas.
“Ele entrou na noção de que todos os dharmas são vazios e desprovidos de características distintivas, sem nada que se deva procurar e nem surgem nem decorrem; assim percebeu que todos os dharmas são como criações mágicas. Evitou todo o discurso erróneo que pudesse trazer malefícios para si, para outros ou para todos; empenhou-se no discurso recto que pudesse trazer benefícios para si, para os outros ou para todos. Abandonou o seu reino e renunciou ao seu trono, deixando para trás a riqueza e os prazeres sensuais. Praticante das Seis Paramitas, ensinou os outros a fazer o mesmo. Durante imensuráveis kalpas, acumulou méritos e virtudes.
“Onde quer que nascesse, um imenso repositório de tesouros aparecia espontaneamente segundo o seu desejo. Ensinou incontáveis seres viventes e guiou-os no caminho da mais alta, verdadeira Iluminação. Renasceu como homem rico, devoto leigo, membro da casta mais elevada ou de família nobre, rei ksatriya, Rei Que Faz Girar a Roda, rei de um dos seis paraísos no mundo do desejo, ou mesmo acima, como rei Brahma. Prestou reverência e adoração a todos os Budas, fazendo-lhes os quatro tipos de oferendas. O mérito assim adquirido foi de uma grandeza indescritível. Da sua boca libertava-se uma fragrância igual à do lótus azul e todos os poros do seu corpo emitiam o perfume do sândalo, que penetrava inumeráveis mundos. A sua aparência era majestosa, as suas características físicas e marcas eram verdadeiramente maravilhosas. Pelas suas mãos eram produzidos tesouros inesgotáveis, roupas, comida e bebida, raros e subtis incensos e flores, dosséis de seda, estandartes e outros ornamentos. Em tais manifestações era sem rival entre os seres celestiais e humanos. Assim atingiu o domínio de todos os dharmas.”


A obtenção do estado de Buda por Dharmakara


[10] Ananda perguntou a Buda, “O Bodhisattva Dharmakara já obteve o estado de Buda e passou ao Nirvana? Ou será que ainda não alcançou o estado de Buda? Encontra-se presentemente em algum lugar?”
O Buda respondeu a Ananda, “O Bodhisattva Dharmakara alcançou já o estado de Buda e encontra-se presentemente na terra de Buda do Oeste, chamada “Paz e Felicidade”, cem mil kotis de terras afastada daqui.”
Ananda perguntou então, “Quanto tempo passou desde que alcançou o estado de Buda?” Buda respondeu, “Desde que alcançou o estado de Buda, passaram cerca de dez kalpas.” Buda continuou, “Nessa terra de Buda, o solo é composto de sete tesouros - ouro, prata, cristal, coral, âmbar, ágata e rubi - que aparecem espontaneamente. A terra é tão vasta, estendendo-se ilimitadamente, de tal forma que é impossível conhecer o seu término. Todos os raios dessas jóias se conjugam e criam múltiplos reflexos, produzindo uma iluminação ofuscante. Esses adornos puros, supremos e raros são insuperáveis em todos os mundos das dez direcções. São as mais finas jóias, iguais às do Sexto Paraíso. Nessa terra não existem montanhas, tais como o Monte Sumeru ou o Círculo de Montanhas Adamantinas. Igualmente, não existem oceanos nem mares, vales ou desfiladeiros, embora possamos ver essas manifestações, mediante o poder de Buda, se assim o desejarmos. Nessa terra não existe inferno nem existem os reinos dos espíritos esfomeados ou dos animais, nem outras condições adversas. Não existem sequer as quatro estações, Primavera, Verão, Outono e Inverno. A temperatura é sempre moderada e aprazível, nunca quente ou fria.” Então, Ananda perguntou a Buda, “Se, Honrado Pelo Mundo, nessa terra não existe Monte Sumeru, o que é que sustém o Paraíso dos Quatro Reis e o Paraíso dos Trinta e Três Deuses?”
O Buda disse a Ananda, “O que é que sustém Yama, que é o Terceiro Paraíso do mundo do desejo, e outros paraísos acima, até ao Mais Alto Paraíso do mundo da forma?”
Ananda respondeu, “As consequências do karma são inconcebíveis.”
O Buda disse a Ananda, “Deveras inconcebíveis são as consequências do karma, e assim são os mundos dos Budas. Pelo poder dos actos meritórios, os seres sencientes nessa terra assentam no chão das retribuições kármicas. É por isso que esses Paraísos existem sem o Monte Sumeru.”
Ananda continuou, “Não tenho dúvidas disso mas coloquei a pergunta simplesmente porque queria remover tais dúvidas em benefício dos seres sencientes do futuro.”


A Luz de Amitabha


[11] Buda disse a Ananda, “A majestosa luz do Buda Amitabha é a mais excelsa. Nenhuma luz de Buda pode igualar a sua. A luz de alguns Budas iluminam uma centena de terras de Buda, e a de outros, um milhar de terras de Buda. Em resumo, a luz de Amitabha ilumina as terras de Buda do Oeste, numerosas como os grãos de areia do rio Ganges. Da mesma forma, ilumina as terras de Buda do Sul, Este, Norte, em cada uma das quatro direcções intermédias, acima e abaixo. Ademais, a luz de alguns Budas abrange sete pés, a de outros, uma yojana, ou duas, três, quatro ou cinco yoganas; e as distâncias aumentam desta forma até à luz de alguns Budas que ilumina uma terra de Buda.
“Por esta razão, Amitabha é chamado pelos seguintes nomes: Buda de Luz Infinita, Buda de Luz Sem Entraves, Buda de luz incomparável, Buda da Luz do Rei da Chama, Buda da Luz Pura, Buda da Luz da Alegria, Buda da Luz da Sabedoria, Buda da Luz Incessante, Buda da Luz Inconcebível, Buda da Luz Inefável e Buda da Luz Que Ofusca o Sol e a Lua. “Se os seres sencientes encontram a sua luz, as suas três impurezas são removidas; sentem ternura, alegria e prazer e os bons pensamentos surgem. Se os seres sencientes nos três reinos do sofrimento vêem a sua luz, serão todos libertados da aflição. No final das suas vidas, alcançarão todos a emancipação.
A luz de Amitabha brilha resplandecente, iluminando todas as terras de Buda das dez direcções. Não existe lugar onde não seja perceptível. Não sou o único que neste momento louva a sua luz, todos os Budas, shravakas, pratyekabudas e bodhisattvas a louvam e glorificam da mesma forma. Se os seres viventes, tendo ouvido falar da virtude majestosa da sua luz, a glorificarem continuamente, dia e noite, com um coração sincero, serão capazes de renascer na sua terra, se assim o quiserem. Então a multidão de bodhisattvas e shravakas louvará a sua virtude excelente. Mais tarde, quando alcançarem o estado de Buda, todos os Budas e bodhisattvas das dez direcções louvarão a sua luz, tal como agora louvo a luz de Amitabha.”
Buda continuou, “A glória majestosa da luz de Amitabha não pode ser descrita exaustivamente, mesmo que a louvasse continuamente, dia e noite, durante um kalpa.”


A Duração da Vida de Amitabha


[12] Buda disse a Ananda, “A vida de Amitabha é tão longa que é impossível de calcular. Para dar uma imagem, suponhamos que todos os inumeráveis seres sencientes nos mundos das dez direcções renasciam com forma humana e se tornavam todos shravakas ou pratiekabudas. Mesmo que se reunissem num lugar, concentrassem os seus pensamentos, e exercessem ao máximo o poder da sua sabedoria para calcularem a duração da vida do Buda, mesmo após uma centena de milhões de kalpas não seriam capazes de encontrar o seu limite. Assim é também quanto à duração da vida dos shravakas, bodhisattvas, seres celestiais e humanos na sua terra. Da mesma forma, não pode ser abrangido por qualquer método de cálculo ou mediante qualquer expressão metafórica.
Ademais, o número de shravakas e bodhisattvas que aí vivem é incalculável. São inteiramente dotados de sabedoria transcendental e livres no exercício de poderes majestosos; podem pegar no mundo inteiro com as suas mãos.”


O Número da Audiência na Primeira Assembleia


[13] Buda disse a Ananda, “O número de shravakas na primeira audiência para os ensinamentos desse Buda foi incalculável, assim como o número de bodhisattvas. Mesmo se um imensurável e incontável número de seres humanos, multiplicados por milhões de kotis se tornassem como Mahamaugdalyayana e juntos calculassem o seu número durante imensuráveis nayutas de kalpas, ou mesmo se alcançassem o Nirvana, ainda assim seriam incapazes de conhecer o seu número. Suponhamos que existe um imenso oceano, infinitamente profundo e vasto, e que tiramos dele uma gota de água do tamanho de uma centésima parte de um cabelo. Como compararias essa gota de água com o resto do oceano?” Ananda respondeu, “Quando a gota de água é comparada com o grande oceano, é impossível mesmo para um hábil astrónomo ou matemático determinar a proporção, ou mesmo descrevê-la mediante qualquer metáfora ou expressão de retórica.”
O Buda disse a Ananda, “Mesmo se pessoas como Mahamaudgalyayana fossem a contar durante milhões de kotis de kalpas, o número de shravakas e de bodhisattvas presentes na primeira assembleia que poderia ser contado seria como uma gota de água, e o número de sábios ainda por contar seria como o resto do oceano.”


Árvores de Jóias


[14] Além disso, árvores feitas com os sete tesouros enchem completamente essa terra. Existem algumas feitas de ouro, algumas de prata e outras feitas de esmeraldas, cristal, coral, rubi ou ágata. Existem também algumas árvores feitas com os sete tipos de jóias. “Existem árvores de ouro com folhas, flores e frutos de prata, árvores de prata com folhas, flores e frutos de ouro; árvores de esmeraldas com folhas, flores e frutos de cristal; árvores de cristal com folhas, flores e frutos de esmeraldas; árvores de coral com folhas, flores e frutos de rubi; árvores de rubi com folhas, flores e frutos de esmeraldas; árvores de ágata com folhas, flores e frutos de várias jóias.
“Além disso, existem árvores de jóias com raízes de ouro, troncos de prata, ramos de esmeralda, galhos de cristal, folhas de coral, flores de rubi e frutos de ágata. Existem árvores de jóias com raízes de prata, troncos de esmeralda, ramos de cristal, galhos de coral, folhas de rubi, flores de ágata e frutos de ouro. Existem árvores de jóias com raízes de cristal, troncos de coral, ramos de rubi, galhos de ágata, folhas de ouro, flores de prata e frutos de esmeralda. Existem árvores de jóias com raízes de coral, troncos de rubi, ramos de ágata, galhos de ouro, folhas de prata, flores de esmeralda e frutos de cristal. Existem árvores de jóias com raízes de rubi, troncos de ágata, ramos de ouro, galhos de prata, folhas de esmeralda, flores de cristal e frutos de coral. Existem árvores de jóias com raízes de ágata, troncos de ouro, ramos de prata, galhos de esmeralda, folhas de cristal, flores de coral e frutos de rubi.
“Estas árvores de jóias estão dispostas em filas paralelas, os troncos são espaçados de forma regular, os seus ramos em conjuntos nivelados, as folhas são simétricas, as flores harmoniosas e os seus frutos bem arranjados. As cores brilhantes destas árvores são tão luxuriantes que é impossível vê-las a todas. Quando uma brisa pura passa entre elas, sons raros das escalas pentatónicas tais como kung e shang , surgem espontaneamente produzindo música sinfónica.


A Árvore Bodhi


[15] “A árvore Bodhi do Buda Amitayus mede um milhão de li de altura e a circunferência da sua base tem quinhentas yoganas de perímetro. Os seus ramos estendem-se por duzentos li em cada uma das dez direcções. É um conjunto natural de todos os tipos de pedras preciosas e está adornada com as rainhas das jóias, a gema luar e a gema roda que sustenta o oceano. Por toda a parte entre os seus galhos pendem ornamentos de jóias com centenas de milhões de cores combinadas de várias formas, e os seus raios inumeráveis irradiam um brilho inigualável. A própria árvore Bodhi está coberta com redes de jóias raras e excelentes, e nela surgem todos os tipos de ornamentos de acordo com os desejos de cada um.

“Quando uma brisa passa através dos seus ramos e folhas, surgem sons do Dharma inumeráveis e raros, que se espalham para longe, penetrando todas as terras de Buda nas dez direcções. Aqueles que ouvem os sons alcançam uma intuição penetrante dos dharmas e residem no estado de não regressão. Até atingirem o estado de Buda, a sua audição permanece clara e apurada e não voltam a sofrer dores ou doenças. Quer ouçam os sons da árvore Bodhi, vejam as suas cores, cheirem os seus perfumes, provem os seus sabores, percebam as suas luzes ou concebam o Dharma nas suas mentes, alcançarão todos a intuição penetrante de todos os dharmas e residirão no estado de não-regressão. Até alcançarem o estado de Buda, os seus seis órgãos dos sentidos permanecerão claros e apurados e não sofrerão dores ou doenças.

“Ananda, quando os seres humanos e devas dessa terra vêem a árvore Bodhi, alcançam três percepções: primeiro, a percepção da realidade através da audição dos sons sagrados; segundo, a percepção da realidade estando em harmonia com ela; terceiro, a percepção do não-surgimento de todos os dharmas. Estes benefícios são outorgados pelo poder majestoso de Amitayus, o poder do seu voto original, do seu voto perfeitamente cumprido, do seu voto claro e manifesto, do seu voto firme, do seu voto realizado.”

Buda disse a Ananda, “Um rei deste mundo possui centenas de tipos de música. Desde o plano governado por um Rei Que Faz Girar a Roda até ao Sexto Paraíso, os sons da música produzida em cada um desses planos supremos, é dez milhões de vezes superior às de um plano inferior. As centenas de variedades de sons musicais produzidos no Sexto Paraíso são uma centena de kotis inferiores aos sons produzidos pelas árvores de jóias da terra de Amitayus. Nessa terra existem centenas de variedades de música natural, todas, sem excepção, sons do Dharma. São claras e serenas, plenas de profundidade e ressonância, delicadas e harmoniosas; são os sons mais excelentes dos mundos das dez direcções.


Adornos Gloriosos


[16] “As dependências, mosteiros, palácios e pavilhões são aparições expontâneas, todos adornados com os sete tipos de tesouros, com cortinas de várias jóias, tais como pérolas e gemas luz da lua.
“Dentro e fora, à direita e à esquerda, existem piscinas para banhos. Algumas têm dez yoganas de largura, comprimento e profundidade; outras vinte yoganas, outras trinta, chegando a haver algumas com cem mil yoganas de largura, comprimento e profundidade. Estão cheias de água com oito excelentes qualidades, clara, fragrante e saborosa como néctar.
“Existem lagos de ouro com leitos de areia de prata; lagos de prata com leitos de areia de ouro; lagos de cristal com leitos de areia de esmeralda; lagos de esmeralda com leitos de areia de cristal; lagos de coral com leitos de areia de âmbar; lagos de âmbar com leitos de areia de coral; lagos de ágata com leitos de areia de rubi; lagos de rubi com leitos de areia de ágata; lagos de jade branco com leitos de areia de ouro púrpura; lagos de ouro púrpura com leitos de areia de jade branco. Existem outros lagos compostos com tesouros combinados, desde dois até sete.
“Nas margens destes lagos existem árvores de sândalo, cujas flores e folhas difundem perfumes por toda a parte. Lótus celestiais de cor azul, rosa, amarela ou branca, florescem profusamente em vários matizes, cobrindo completamente a superfície da água.
“Se os bodhisattvas e shravakas nessa terra entrarem nos lagos de jóias e quiserem que a água suba até aos seus tornozelos, ela sobe até aos seus tornozelos. Se quiserem que ela suba até aos joelhos, ela sobe até aos joelhos. Se quiserem que suba até à cintura, ela sobe até à cintura. Se quiserem que suba até ao pescoço, ela sobe até ao pescoço. Se quiserem que a água os cubra, ela espontaneamente cobre os seus corpos. Se quiserem que ela recue, ela recua. A sua temperatura é moderada, fria ou quente, de acordo com os seus desejos. A água conforta o corpo e refresca a mente, lavando as impurezas das suas mentes. Clara e pura, a água é tão transparente que parece nem ter forma. A areia de jóias brilha tão intensamente que mesmo a profundidade da água não a consegue ocultar. A água ondulante forma correntes serpenteantes que se juntam e correm umas para as outras. O seu movimento é pacífico e calmo, nunca demasiado rápido ou lento, e as suas ondas produzem espontaneamente inumeráveis e maravilhosos sons. Pode-se ouvir qualquer som desejado. Por exemplo, alguns ouvem o som “Buda”, outros ouvem o som “Dharma”, outros o som “Sangha”, outros ouvem “tranquilidade”, “vacuidade e não-eu”, “grande compaixão”, “paramita”, “dez poderes”, “destemor”, “qualidades especiais”, “poderes sobrenaturais”, “não-actividade”, “sem surgimento nem desaparecimento”, “percepção da natureza não nascida de todos os dharmas”, e assim por diante, todos os sons do maravilhoso Dharma são ouvidos, tal como “salpicos de néctar sobre a cabeça do bodhisattva”. Quando alguém ouve estes sons, obtém de imediato uma alegria imensurável e harmoniza-se com os princípios da pureza, ausência de desejos, extinção e realidade. Fica em harmonia com os Três Tesouros, os poderes de Buda, o destemor e as qualidades especiais, bem como com os poderes sobrenaturais e outros métodos da prática para bodhisattvas e shravakas. Nem mesmo o nome dos três reinos de sofrimento são ouvidos lá, mas apenas sons Nirvânicos de felicidade. Por esta razão é esta terra chamada “Paz e Felicidade”.


O Aparecimento Físico dos Habitantes e os Benefícios de que Usufruem


[17] “Ananda, aqueles que nascem nessa terra de Buda são dotados de corpos puros e providos de vários sons subtis, poderes sobrenaturais e virtudes. Os palácios em que residem, as suas roupas, comida e bebida, as maravilhosas flores e os vários tipos de incenso e de adornos são iguais aos que se providenciam naturalmente no Sexto Paraíso do mundo do desejo.
“Na hora das refeições, pratos feitos dos sete tesouros - nomeadamente, ouro, prata, esmeraldas, ágata, rubi, coral e âmbar, bem como pérolas luz da lua - aparecem espontaneamente, repletos de comida e bebida com centenas de sabores, de acordo com os desejos de cada um. Apesar dessa oferta de alimento, na verdade ninguém o consome. Assim que o vêem e cheiram, sentem como se tivessem comido e ficam satisfeitos; então sentem-se descontraídos de corpo e mente, livres de apegos à noção de paladar. Quando a refeição termina, tudo desaparece para reaparecer na próxima refeição.
“Essa terra de Buda, tal como o plano do Nirvana incondicional, é pura e serena, resplandecente e feliz. Os shravakas, bodhisattvas, seres celestiais e humanos que aí residem possuem sabedoria elevada e brilhante, e dominam os poderes sobrenaturais. Têm todos a mesma forma, sem quaisquer diferenças, mas são chamados “seres celestiais” e “humanos” apenas por analogia com os estados de existência noutros mundos. São de porte nobre e majestoso, inigualáveis em todos os mundos, a sua aparência é soberba, sem rival em qualquer ser, celestial ou humano. São dotados de corpos de Naturalidade, Vacuidade e Infinidade.”


Recompensa kármica de um mendigo e de um rei


[18] Buda disse a Ananda, “Se um mendigo de pobreza extrema se senta ao lado de um rei, como podem as suas aparências ser comparadas?”
Ananda respondeu, “Se um tal homem se senta ao lado de um rei, a sua aparência emaciada, mesquinha e esfarrapada não pode ser comparada com a de um rei. A sua aparência é cem milhões de kotis, ou mesmo um incalculável número de vezes inferior à do rei. Qual é a razão para isto? As condições de um mendigo em extrema pobreza - pertencente ao extracto social mais baixo, sem roupas suficientes para cobrir o corpo, sem comida suficiente para sustentar a sua vida, sempre atormentado pela fome e o frio, e quase sem qualquer contacto humano - são o resultado das suas más acções em existências anteriores. No passado não cultivou raízes de virtude, mas em vez disso, acumulou riquezas sem dar nada aos outros. tornou-se mais avarento à medida que a sua fortuna aumentava, desejoso de obter mais, com ânsia insaciável por novas aquisições, não pensou em acções boas. Assim, acumulou uma montanha de karma negativo. Quando a sua vida terminou, toda a sua riqueza se foi, e o que ele tinha acumulado com tanto esforço e preocupação não lhe serviu de nada; tudo passou em vão para a posse de outros. Sem qualquer reserva de mérito nem qualquer virtude de que pudesse beneficiar, após a morte caiu num dos planos negativos de existência, onde sofreu dores durante um longo período. Quando essas retribuições kármicas terminaram, foi capaz de escapar, mas nasceu numa classe baixa; sendo tolo, ignóbil e inferior, quase não possui a aparência de um ser humano.
“O rei de um país é o mais honrado de todos os homens. Isto é a recompensa por virtudes acumuladas em existências anteriores, nas quais, com um coração compassivo, deu generosamente a muitos, salvou pessoas do sofrimento com gentileza e benevolência, realizou acções boas com sinceridade e nunca discutiu com outros. Quando a sua vida terminou foi recompensado com o nascimento num estado superior. Nascido num reino celestial, gozou a felicidade e a paz. As suas virtudes acumuladas produziram um tal excedente de bondade que, quando renasceu nesta vida como homem, o seu nascimento foi, merecidamente, numa família real. Sendo naturalmente nobre, a sua conduta digna e majestosa atraiu o respeito do seu povo, roupas soberbas e comida sumptuosa foram preparadas e servidas conforme os seus desejos. Tudo isto é a recompensa pelas suas vidas passadas.”


Comparação entre os paraísos e a Terra Pura


[19] Buda disse a Ananda, “O que dizes é verdade. Ainda que um rei seja o mais nobre de todos os homens, dotado de uma aparência régia, se for comparado com um Monarca Que faz Girar da Roda., pareceria tão ignóbil e inferior como um mendigo à beira de um rei. Igualmente, por mais excelente e ímpar que a majestosa aparência de um tal monarca possa ser, se comparada com o Senhor do Paraíso dos trinta e Três Deuses, pareceria dez mil kotis de vezes inferior. Da mesma forma, se este Senhor Celestial for comparado com o Senhor do Sexto Paraíso, pareceria cem mil kotis de vezes inferior. Se o Senhor do Sexto Paraíso for comparado com um bodhisattva ou um shravaka da terra de Amitayus, a sua aparência e porte seriam mil milhões de kotis de vezes inferiores, ou mesmo um incalculável número de vezes inferiores.”


Prazeres da Terra Pura


[20] Buda disse a Ananda, “Devas e humanos na terra de Amitayus estão providos de mantos, comida e bebida, flores, perfumes, ornamentos, dosséis de seda e estandartes, e estão rodeados de sons subtis. Os seus aposentos, palácios e pavilhões são exactamente de acordo com o tamanho dos seus corpos. Uma, duas ou mesmo um incalculável número de jóias aparecem perante eles, logo que o desejem. além disso, belos tecidos de jóias cobrem o chão onde os devas e humanos caminham. Nessa terra de Buda existem inumeráveis redes de jóias, todas ornadas de fios de ouro, pérolas e centenas de variedades de tesouros raros e maravilhosos. Das redes pendem campainhas de jóias de beleza suprema, que brilham de forma rutilante. Quando uma brisa surge e sopra gentilmente, tem temperatura moderada, nem demasiado quente nem demasiado fria, refrescante e suave para os sentidos, movendo-se nem depressa nem devagar em demasia. Quando a brisa passa nas redes e nas várias árvores de jóias, incontáveis sons excelentes do Dharma são ouvidos, e são espalhados dez mil tipos de delicadas fragrâncias de virtude. Se alguém cheirar estas fragrâncias, as suas impurezas e paixões deixam espontaneamente de aparecer. Se tocado pela própria brisa, aprecia os mesmos prazeres de um monge que tenha entrado no Samadhi da Extinção.


Flores e inumeráveis raios de luz


[21] “Além disso, conforme sopra a brisa, flores são espalhadas através da Terra de Buda; dividem-se espontaneamente em cores diferentes que não se misturam. São suaves e agradáveis ao toque, brilhantes, e difundem ricas fragrâncias. Quando são calcadas, afundam-se vários centímetros, e quando os pés levantam, sobem até ao seu nível inicial. Quando as flores serviram o seu propósito, a terra abre-se e elas desaparecem, deixando o chão limpo e sem qualquer vestígio. No momento certo, seis vezes por dia, sopra a brisa espalhando as flores desta forma. Além disso, flores de lótus de várias jóias enchem a terra; cada uma tem centenas de milhares de kotis de pétalas com luzes de numerosas cores - lótus azuis brilham com uma luz azul, brancos com luz branca, e, da mesma forma, lótus azuis escuros, amarelos, vermelhos e púrpura brilham com luzes das cores respectivas. O brilho dessas luzes é tão magnificente que ofusca o sol e a lua. Cada flor emite trinta e seis centenas de milhares de kotis de raios de luz, cada um projectando trinta e seis centenas de milhares de kotis de Budas. Os corpos destes Budas são de ouro púrpura e as suas características e marcas físicas são soberbas para lá de qualquer comparação. Cada Buda emite cem mil raios de luz e expõe o maravilhoso Dharma a seres das dez direcções, levando assim seres inumeráveis ao verdadeiro caminho de Buda.


Fim da Primeira Parte do

Sutra do Buda de Vida Infinita

extraido de :
http://www.sintoniasaintgermain.com.br/amitaba_I.html

Sutra Extenso de Amitabha



SUKHAVATIVYUHA

Parte 2

Transcrito para chinês durante a dinastia Ts’ao-Wei pelo mestre indiano do Tripitaka Samghavarman




[22] Buda disse a Ananda, “Os seres sencientes nascidos nessa terra de Buda todos têm o Nirvana assegurado. Isto porque nessa terra não existem seres destinados a condições adversas ou com futuro incerto.

“Todos os Budas, Tathagatas das dez direcções, tão numerosos como as areias do Ganges, juntos louvam a inconcebível e sobrenatural virtude de Amitayus. Todos os seres sencientes que, ao ouvirem o seu Nome, rejubilem com fé, o recordem mesmo que apenas uma vez e sinceramente transfiram o mérito das práticas virtuosas para essa terra, aspirando a nascer nela, consegui-lo-ão e alcançarão o estado de não-retrocesso. Excluídos estão aqueles que tenham cometido as cinco graves ofensas e insultado o correcto Dharma.”

Três graus de aspirantes:


1) Grau superior

[23] Buda disse a Ananda, “Os devas e humanos nos mundos das dez direcções que aspirem sinceramente a nascer nessa terra podem ser classificados segundo três graus. Os aspirantes de grau mais elevado são aqueles que deixaram as suas casas e abandonaram os desejos mundanos para se tornarem monges. Tendo despertado a aspiração à Iluminação, recordam o nome de Amitayus com uma mente concentrada e levam a cabo práticas meritórias, desejando nascer na Terra Pura. Quando estão prestes a morrer, Amitayus, com um séquito de sábios, aparecerá diante deles. Então eles segui-lo-ão e nascerão na terra de Amitayus. Nascerão subitamente por transformação de uma flor de lótus de sete tesouros. Residirão no estado de não-retrocesso, dotados de sabedoria constante e capazes de exercer livremente poderes sobrenaturais. Por esta razão, Ananda, os seres sencientes que neste mundo desejem ver Amitayus devem despertar a aspiração pela suprema Iluminação, fazer acções meritórias e aspirar a nascer na Terra Pura de Amitayus.”

2) Grau médio

[24] Buda disse a Ananda, “Os aspirantes de grau médio são os humanos e devas dos mundos das dez direcções que desejem sinceramente nascer nessa terra. Ainda que incapazes de se tornarem monges e cultivarem muito mérito, despertam a aspiração pela suprema Iluminação, levam a cabo algumas boas acções, observam os preceitos de abstinência, constroem stupas, doam estátuas budistas, oferecem esmolas aos mendicantes, penduram estandartes, acendem velas, espalham flores, queimam incenso, etc. Eles transferem o mérito dessas práticas para essa terra, aspirando a nascer nela. Quando estão prestes a morrer, Amitayus manifestará perante eles o seu corpo de transformação, completamente dotado da mesma luminosidade e das mesmas características e marcas de um Buda real, fazendo-o aparecer acompanhado de um séquito de sábios. Então seguirão esse Buda de transformação e nascerão na Terra Pura, onde residirão no estado de não-retrocesso. A sua virtude e sabedoria estará a seguir à dos aspirantes de mais alto grau.”

3) Grau inferior

[25] Buda disse a Ananda, “Os aspirantes de grau mais baixo são aqueles devas e humanos dos mundos das dez direcções que desejam sinceramente nascer nessa terra. Ainda que sejam incapazes de fazer muitos actos meritórios, despertam a aspiração pela suprema Iluminação e concentram-se em Amitayus mesmo que apenas dez vezes, desejando nascer na Terra Pura. Quando ouvem o profundo Dharma, aceitam-no alegremente e não têm qualquer dúvida; e assim, recordando o Buda ainda que uma vez, desejam sinceramente nascer nessa terra. Quando estão prestes a morrer, verão o Buda num sonho. Também esses aspirantes nascerão na Terra Pura. O seu mérito e sabedoria estará a seguir ao dos aspirantes de grau médio.”

As visitas à Terra Pura dos Bodhisattvas de outras terras

[26] Buda disse a Ananda, “A virtude majestosa de Amitayus é ilimitada. Todos os inumeráveis, incontáveis e inconcebíveis Budas, Tathagatas, nos mundos das dez direcções lhe tecem louvores. Inumeráveis e incontáveis bodhisattvas nas terras de Buda da direcção Este, numerosos como as areias do Ganges, todos sem excepção visitam Amitayus para lhe prestarem adoração e fazerem oferendas, a ele e à assembleia de bodhisattvas e shravakas. Tendo ouvido os ensinamentos, expõe-nos de modo a conduzirem os seres até à Via de Buda. Tal como na direcção Este, assim é nas direcções Sul, Oeste e Norte, bem como nas quatro direcções intermédias, acima e abaixo.”

Versos relativos à visita dos bodhisattvas

[27] Então o Honrado Pelo Mundo proferiu os seguintes versos:

1. Na região Este existem Terras de Buda

Tão numerosas como os grãos de areias do Ganges;

Os bodhisattvas residentes nessas terras

Vão prestar homenagem a Amitayus, o Iluminado.

2. O mesmo acontece nas regiões Sul, Oeste e Norte,

Nas quatro direcções intermédias e acima e abaixo;

Os bodhisattvas residentes nessas terras

Vão prestar homenagem a Amitayus, o Iluminado.

3. Todos esses bodhisattvas levam consigo

Flores celestiais raras,

Incenso precioso e mantos de valor incalculável

E fazem oferendas a Amitayus, o Iluminado.

4. Tocam em concerto música celestial

Produzindo sons harmoniosos e delicados,

Louvam o Mais Honrado com hinos

E fazem oferendas a Amitayus, o Iluminado:

5. "Aperfeiçoaste os poderes sobrenaturais e a sabedoria,

Com os quais entras livremente nos portões do profundo Dharma;

Possuis também mérito e virtude

E uma sabedoria suprema e incomparável.

6. Iluminando o mundo com o sol da sabedoria,

Dispersas as nuvens do nascimento e da morte."

Após andarem reverentemente em redor dele três vezes

prestam homenagem ao Insuperável.

7. Depois de verem a gloriosa Terra Pura

Maravilhosamente resplandecente,

São levados a despertar uma aspiração superior

E desejam que as suas terras sejam como a dele.

8. Então Amitayus, o Iluminado

Altera a sua expressão e sorri;

Da sua Boca saem inumeráveis raios de luz

Que iluminam os mundos nas dez direcções.

9. Estes raios de luz retornam, rodeiam o seu corpo

Três vezes e entram pela coroa da sua cabeça.

Todos os devas e humanos ficam deleitados ao verem isto

E enchem-se de grande alegria.

10. Avalokiteshvara, o Ser Excelso, depois de arranjar respeitosamente

As roupas e curvar a cabeça,

Pergunta ao Buda, "Porque estás a sorrir?

Pergunto-te reverentemente, por favor diz-me porquê!”

11. A majestosa voz do Buda soa como um trovão

E produz sons em oito qualidades vocais;

"Porque estou prestes a conceder profecias aos bodhisattvas

Vou explicar-te, escuta cuidadosamente!

12. Estou plenamente consciente dos votos dos bodhisattvas

Que vieram das dez direcções;

Eles procuram glorificar as suas terras puras.

Depois de receberem as minhas profecias, tornar-se-ão Budas.

13. Ao perceberem que todas os dharmas são como um sonho,

Uma ilusão ou um eco,

vão cumprir os seus votos excelentes

e estabelecerão seguramente terras puras como esta.

14. Sabendo que todos os dharmas são como um relâmpago ou uma sombra

percorrerão até ao fim a Via do Bodhisattva

E reunirão uma reserva de mérito. Depois de receberem

As minhas profecias, tornar-se-ão Budas.

15. Sabendo cabalmente que a natureza de todos os dharmas

É vazia e sem substância,

Vão procurar concentradamente produzir as suas terras puras

E estabelecerão seguramente terras como esta."

16. Os Budas dizem aos bodhisattvas para irem prestar homenagem

Ao Buda da Terra da Suprema Felicidade.

"Ouçam o seu ensinamento, recebam-no e pratiquem-no alegremente,

E alcancem rapidamente o Plano da Pureza.

17. Quando penetram na gloriosa Terra Pura

Adquirem instantaneamente poderes sobrenaturais.

Receberão seguramente uma profecia de Amitayus

E alcançarão a perfeita Iluminação.

18. Pelo poder dos Votos Iniciais desse Buda

Todos os que ouçam o seu Nome e desejem

Nascer na sua terra, nela nascerão, sem excepção,

E entrarão sem esforço no estado de não-retrocesso.

19. Bodhisattvas, se fizerdes votos

De que as vossas terras sejam como essa,

Enquanto aspirais a salvar todos os seres em toda a parte,

O vosso nome será conhecido nas dez direcções.

20. De modo a servir milhões de Tathagatas,

Podeis assumir várias formas e voar para as suas terras;

Depois de os adorar com corações radiosos,

retornareis para a Terra da Suprema Felicidade."

21. Sem uma reserva de méritos de existências anteriores,

Não é possível alguém ouvir este sutra;

Mas aqueles que observaram estritamente os preceitos

Podem ouvir o correcto Dharma.

22. Alguém que no passado tenha encontrado o Honrado Pelo Mundo

pode aceitar este ensinamento;

Uma pessoa assim adora-o, ouve-o e promove-o

respeitosamente, e rejubila a ponto de dançar.

23. Pessoas corruptas, arrogantes e indolentes

Não conseguem aceitar prontamente este ensinamento;

Mas aqueles que encontraram Budas nas suas vidas passadas

Rejubilam ao ouvi-lo.

24. Nem shravakas nem bodhisattvas são capazes de conhecer

A Mente do Sábio exaustivamente;

São como aquele que nasceu cego

E ainda assim pretende guiar os outros.

25. O oceano da sabedoria do Tathagata

É profundo, vasto e ilimitado;

Mesmo os sábios do Hinayana não conseguem concebê-lo,

Apenas o Buda o conhece claramente.

26. Suponhamos que todos os seres humanos,

Sem excepção, tinham alcançado a Iluminação

E tinham, com pura sabedoria, percebido a vacuidade original.

Mesmo que ponderassem a sabedoria de Buda durante miríades de kalpas,

27. E a expusessem com extremo esforço até ao fim das suas vidas,

Não conseguiriam conhecê-la exaustivamente.

A sabedoria de Buda é portanto ilimitada

E pura na sua profundidade.

28. Obter uma vida humana é extremamente difícil,

Encontrar um Buda neste mundo é igualmente difícil;

É difícil também a alguém obter fé e sabedoria.

Assim que ouvirem o Dharma, lutem por alcançar o seu âmago.

29. Se ouviram o Dharma e não o esquecerem,

Mas antes o adorarem e reverenciarem com grande alegria,

Sois meus bons amigos. Por esta razão

Deveis despertar a aspiração pela Iluminação.

30. Mesmo que o mundo todo esteja a arder

Deveis estar decididos a atravessá-lo para ouvir o Dharma;

Se assim for alcançareis seguramente a Iluminação do Buda

E libertareis em toda a parte os seres do rio do nascimento-e-morte.

Bodhisattvas na Terra Pura

[28] Buda disse a Ananda, "Todos os Bodhisattvas na terra de Amitayus alcançam o grau de se tornarem Budas após apenas mais uma vida, com excepção daqueles que tenham feito votos iniciais em benefício dos seres sencientes, e tenham decidido praticar o mérito de realizar os seus grandes votos para salvar todos os seres sencientes. Ananda, cada shravaka na Terra de Buda de Amitayus emite luz com o alcance de uma braça à volta do seu corpo. A luz de um Bodhisattva brilha à distância de cem yojanas. Existem dois Bodhisattvas de suprema dignidade e a sua luz majestosa brilha em toda a parte do universo de mil milhões de mundos."

Ananda perguntou, "Quais são os nomes desses dois bodhisattvas?" Buda respondeu, "Um chama-se Avalokiteshvara e o outro Mahasthamaprapta. Ambos levaram a cabo práticas de bodhisattva neste mundo e, no final das suas vidas, nasceram por transformação nessa Terra de Buda. Ananda, os seres sencientes aí nascidos são inteiramente dotados das trinta e duas características físicas de um grande homem, bem como de sabedoria perfeita, com a qual penetram profundamente na natureza de todos os dharmas e alcançam a sua essência subtil. Os seus poderes sobrenaturais não conhecem obstáculo e os seus sentidos físicos são apurados e claros. Os bodhisattvas de menores capacidades alcançam duas percepções. Os bodhisattvas de capacidades superiores alcançam inumeráveis [méritos derivados das] percepções do não-surgimento de todos os dharmas. Esses bodhisattvas não estão sujeitos a renascer em reinos inferiores até se tornarem Budas, excepção feita àqueles que procuram renascer nos mundos das outras direcções durante o período turbulento das cinco impurezas, manifestando as formas semelhantes às dos seres desses mundos e deste. Podem exercer livremente os seus poderes sobrenaturais e recordar sempre as suas vidas passadas."

Buda disse a Ananda, "Pelo poder do Buda, bodhisattvas dessa terra deslocam-se a mundos inumeráveis pelas dez direcções num espaço de tempo tão curto quanto o de uma refeição, de modo a prestarem homenagem e fazerem oferendas aos Budas, Honrados Pelo Mundo. Se esses bodhisattvas assim quiserem, incontáveis e inumeráveis oferendas, tais como flores, incenso, música, dosséis e estandartes de seda, aparecerão espontaneamente perante si assim que o imaginarem. São raras e maravilhosas, diferentes de tudo neste mundo. São oferecidas às assembleias de Budas, bodhisattvas e shravakas. As flores permanecem no ar e juntam-se em canópias. O seu brilho ofuscante e a sua fragrância chegam a toda a parte. As canópias de flores variam em tamanho, desde algumas com quatro mil li de diâmetro até outras capazes de cobrir um universo de mil milhões de mundos. Conforme aparecem novas canópias, desaparecem as anteriores. Estes bodhisattvas rejubilam em conjunto e, parados no ar, tocam música celestial e louvam as virtudes dos Budas com hinos acompanhados por sons maravilhosos. Ouvem o Dharma e alcançam uma alegria imensurável. Após adorarem desta forma os Budas, regressam rapidamente à Terra Pura antes da sua refeição.

A prelecção de Amida e os sons subtis produzidos por árvores , etc.

[29] Buda disse a Ananda, “Quando Amitayus expõe o Dharma aos shravakas e bodhisattvas, reúnem-se todos no anfiteatro de sete jóias. Aí ele expõe os ensinamentos da Via e proclama o Dharma maravilhoso. Toda a audiência rejubila, compreende e alcança a Iluminação. Nessa altura uma brisa surge espontaneamente em cada uma das dez direcções e faz tinir as árvores de jóias, produzindo sons das escalas pentatónicas e fazendo com que inumeráveis sons subtis desçam como chuva e se espalhem por toda a parte. Formas naturais de glorificação tais como esta são repetidas interminavelmente. Todos os devas trazem consigo centenas de milhares de flores raras e peças de madeira aromática bem como milhares de instrumentos musicais para usar como oferendas ao Buda e à assembleia de bodhisattvas e shravakas; espalham flores e difundem perfumes em toda a parte e tocam vários tipos de música. Vêm e vão sucedendo-se uns aos outros. Nessas ocasiões a sua alegria e felicidade estão além de qualquer descrição.

Virtudes dos bodhisattvas

[30] Buda disse a Ananda, “Os bodhisattvas nascidos nessa Terra de Buda expõe o correcto Dharma sempre que seja apropriado e, por estarem de acordo com a sabedoria da iluminação, as suas prelecções são infalíveis e livres de erro. Em relação às inúmeras coisas dessa terra, estão livres de pensamentos de posse ou de apego. Quer venham ou vão, fiquem ou prossigam, os seus corações não têm apegos, os seus actos estão em harmonia com a sua vontade e sem quaisquer impedimentos e eles não possuem pensamentos de discriminação. Neles não existe pensamento de eu ou outros, nenhuma ideia de competição ou disputa. Com o coração da grande compaixão para beneficiarem os seres viventes e com ternura e auto controlo, não têm aversão ou má vontade contra ninguém. Livres de obscurecimentos, as suas mentes são puras e sem indolência. Equânimes, de mente nobre, sinceros e tranquilos, os seus corações são capazes de reverenciar, apreciar e fruir o Dharma.

“Depois de extinguirem todas as más paixões, são livres das tendências que levam aos reinos inferiores. Completaram todas os deveres de um bodhisattva e são inteiramente dotados de imensuráveis virtudes. Tendo alcançado uma profunda meditação e obtido poderes sobrenaturais, sabedoria e conhecimento transcendentes, estão seguros nas sete práticas conducentes à Iluminação e são devotados ao Buda-Dharma.

“Com os olhos físicos podem ver claramente e discernir objectos sem erro; o alcance do seu olho celestial chega a toda a parte sem qualquer limite; com o olho do Dharma observam e conhecem cabalmente os ensinamentos da Via; com o olho da sabedoria vêem a verdade e alcançam a Outra Margem; com o olho de Buda percebem claramente a natureza dos dharmas; com a sua sabedoria clara expõe o Dharma para outros.

“Ainda que observem com o olho da equanimidade que os três mundos são vazios e não existentes, esforçam-se por aprender o Buda-Dharma e por adquirir eloquência variada de modo a libertar os seres viventes das aflições causadas pelas pessoas más. Como todos os dharmas surgiram da SUCHNESS, os bodhisattvas vêem-nos como realmente são e conhecem meios hábeis da linguagem para desenvolver os bons hábitos nos seres e destruir os maus. Não gostam dos discursos seculares, e têm prazer apenas no correcto discurso do Dharma.

“Cultivam raízes de virtude, reverenciam a Via do Buda e sabem que todos os fenómenos são completamente tranquilos e não existentes. Os seus corpos samsáricos e as más paixões estão completamente extintas bem como as tendências kármicas remanescentes. Quando ouvem o profundo Dharma, as suas mentes são livres de dúvidas e medos. Estão sempre aptos a cultivar a grande compaixão, subtil e profunda, que abrange tudo como o céu e tudo suporta como a terra. Depois de alcançarem o Caminho Único, prosseguiram para a Outra Margem. Depois de cortarem a rede da dúvida, a sabedoria surgiu nas suas mentes.

Em todo o Buda-Dharma não existe nada que não compreendam. A sua sabedoria é como o oceano e o seu samadhi, como o rei das montanhas. A luz da sua sabedoria, brilhante e pura, ofusca a do sol e da lua. Estão perfeitamente dotados do puro e imaculado Dharma. São como o Himalaya, uma vez que o brilho das suas virtudes se reflecte com uniformidade e clareza. São como a grande terra, porque não têm pensamentos discriminatórios, tais como puro e impuro, feio ou bonito. São como água pura porque lavam as aflições e impurezas. São como o rei do fogo porque queimam todas as paixões negativas. São como o grande vento porque viajam pelos mundos sem obstrução. São como o céu, porque não têm apegos. São como lótus porque nada no mundo os pode conspurcar. São como o um grande veículo, porque transportam os seres para fora do nascimento-e-morte. São como uma nuvem pesada porque fazem o grande relâmpago do Dharma trovejar e despertar os não iluminados. São como a grande chuva porque fazem cair o néctar do Dharma como chuva para nutrir os seres viventes. São como Montanhas Adamantinas porque os demónios e os não-Budistas não as podem mover. São como o rei do Paraíso Brahma porque são insuperáveis na realização de várias boas acções. São como a árvore nyagrodha porque fornecem abrigo a todos os seres. São como a flor udumbara porque raramente aparecem no mundo e são raros de encontrar. São como garudas de asas de ouro porque subjugam os não-Budistas. São como um bando de aves alegres porque não guardam coisas. São como o rei dos touros porque são invencíveis. São como o rei dos leões porque nada temem. São como o vasto céu porque a sua grande compaixão chega a toda a parte sem excepção.

“Eles destruíram a inveja por não cobiçarem a superioridade de outros. Com um coração devotado procuram o Dharma incansavelmente. Sempre desejosos de expor a doutrina, nunca se cansam. Batem os tambores do Dharma e desfraldam as bandeiras do Dharma e fazem com que brilhe o sol da sabedoria para dissipar as trevas da ignorância. Executam as seis acções de harmonia e respeito e estão sempre a dotar os outros da oferenda do Dharma. De vontade forte e diligentes, a sua determinação nunca esmorece. Tornam-se luzes do mundo e campos de supremo mérito; sempre se tornam mestres e não acolhem quaisquer pensamentos de discriminação, aversão ou apego. Procuram apenas o caminho recto, sem sentirem alegria ou pesar por outros assuntos. Extraem os espinhos da paixão e dão paz de espírito às multidões de seres. Devido à sua sabedoria suprema não existe ninguém que não os reverencie.

“Destruíram os obstáculos das três impurezas e ganharam mestria nos poderes sobrenaturais. Possuem também o poder do bom karma de vidas passadas, o poder de guiarem os outros, da vontade, dos votos, da utilização dos meios hábeis, da prática incessante, das acções benéficas, da meditação, da sabedoria, de ouvirem largamente o Dharma. Possuem também o poder das seis paramitas - generosidade, moralidade, paciência, esforço, meditação e sabedoria - e o poder da atenção, concentração e contemplação rectas, das faculdades sobrenaturais, do conhecimento transcendente e o poder de liderar e treinar os seres viventes da forma certa, bem como outros poderes.

“Inteiramente dotados de todas as características físicas e marcas, virtudes e eloquência, não têm igual. Reverenciaram e adoraram inumeráveis Budas e são, por sua vez, sempre louvados por eles. Completaram o caminho das Paramitas do Bodhisattva e praticaram os samadhis da vacuidade, não-forma, não-desejo, o samadhi do não-surgimento e não-desaparecimento bem como muitos outros samadhis; foram muito além dos estados de shravakas e pratyekabudas.

“Ananda, os bodhisattvas dessa terra têm virtudes inumeráveis tais como estas, das quais tracei apenas um esboço. Se fosse a expô-las com todos os detalhes, não chegariam para tal cem mil milhões de kalpas.

Três tipos de paixões negativas e suas consequências

[31] o Buda disse ao Bodhisattva Maitreya e aos devas e humanos, “A virtude e sabedoria dos shravakas e bodhisattvas na terra de Amitayus é indescritível. A sua terra é sublime, ditosa, serena e pura. Porque não haveis de praticar o bem diligentemente, reflectir na naturalidade da Via e perceber que ela está acima de todas as discriminações, presente sem limites? Cada um de vós deve fazer um grande esforço para a alcançar. Lutai para escapar do Samsara e nascer na Terra de Suprema Felicidade. Então, as causas dos cinco planos negativos terão sido destruídas, desaparecerão naturalmente e assim podereis progredir sem entraves na vossa busca da Via. A Terra Pura é fácil de alcançar, mas muito poucos o conseguem. Não rejeita ninguém, mas atrai os seres natural e infalivelmente. Porque não abandonais os assuntos mundanos e vos esforçais por entrar na Via? Se o fizerdes, obtereis uma vida infinitamente longa e de felicidade sem limites.

“As pessoas do mundo, de fraca virtude, lutam por assuntos que não são urgentes. No meio da maldade abjecta e de aflições extremas, afadigam-se penosamente pelas suas vidas. Quer sejam nobres ou corruptos, ricos ou pobres, novos ou velhos, homens ou mulheres, todos se preocupam com as suas posses e fortuna. Nisto não existe diferença entre o rico e o pobre; ambos têm as suas ansiedades. Com desânimo e tristeza crescentes, acumulam pensamentos de angústia ou, arrastados por desejos imperiosos, correm como loucos por todas as direcções e não têm tempo para descanso ou paz.

“Se, por exemplo, possuem campos, preocupam-se com eles. Estão também ansiosos acerca dos seis tipos de animais domésticos, tais como vacas e cavalos, acerca dos seus servos e servas, de dinheiro, bens, roupa e mobília. Com problemas crescentes eles suspiram repetidamente e a sua ansiedade aumenta e aterroriza-os. Infortúnios súbitos podem cair sobre eles: todas as suas posses podem ser destruídas pelo fogo, levadas por inundações, roubadas por ladrões ou tomadas por adversários ou credores. Então, uma dor lancinante aflige-os e perturba incessantemente os seus corações. A raiva apodera-se da sua mente, mantém-nos em constante agitação e apertando a suas garras, endurece os seus corações e nunca os abandona.

“Quando as suas vidas acabam em tais condições agonizantes, têm de deixar tudo e todos para trás. Mesmo nobres e homens de fortuna têm estas preocupações. Com muita ansiedade e medo suportam estas tribulações. irrompendo em suores frios ou febres sofrem uma dor ininterrupta.

“Os pobres e desfavorecidos estão constantemente desamparados. Se, por exemplo, não têm terras, são infelizes e desejam-nas. Se não têm nenhum dos seis tipos de animais domésticos, tais como vacas e cavalos, ou se não têm servos ou servas, dinheiro, fortuna, roupas, comida ou outros bens, são infelizes e querem também tudo isso. Se possuem algumas destas coisas, outras podem faltar. Se têm isto, não têm aquilo e assim desejam possuir tudo. Mas, mesmo que por qualquer acaso venham a possuir tudo isso, será brevemente destruído ou perdido. Então, deprimidos e desgostosos, lutam para obterem de novo essas coisas, o que pode não ser possível. Cismar nisto nada resolve. Exaustos física e mentalmente, tornam-se inquietos em todos as suas acções e a ansiedade persegue-os. Irrompendo em febres e suores frios, sofrem dor ininterrupta. Essas condições podem resultar na perda súbita das suas vidas ou numa morte prematura. Como não praticaram qualquer bem em particular, não seguiram a Via nem agiram virtuosamente, quando morrem, partem sozinhos para um mundo inferior. Ainda que estejam destinados a diferentes estados de existência, nenhum deles entende a lei do karma que para aí os envia.

"As pessoas do mundo, pais e filhos, irmãos e irmãs e outros membros da família e parentes, devem respeitar-se e amar-se mutuamente, abstendo-se de ódio e inveja. Devem partilhar coisas com os outros e não serem avarentos ou miseráveis, falar sempre palavras amigáveis com um sorriso agradável, e não se magoarem uns aos outros.

"Se alguém discorda dos outros e fica irado, por mais pequena que seja a má vontade e a inimizade nesta vida, um tal conflito pode não resultar imediatamente em destruição mutua. Mas a animosidade persistente e a fúria ficam impressas na mente, e deixam assim marcas indeléveis na consciência, de modo que os envolvidos nessas situações vão nascer ao mesmo tempo para se vingarem uns dos outros.

"Além disso, no meio dos desejos e apegos mundanos, cada um chega e parte sozinho, nasce e morre sozinho. Após a morte, vai para um estado de existência agradável ou desagradável. Cada um recebe as suas consequências kármicas e ninguém pode tomar o seu lugar. De acordo com os seus diferentes actos bons e maus, as pessoas estão destinadas a planos de felicidade ou de sofrimento. Inalteravelmente ligados ao próprio karma, partem sozinhos para esses reinos. Após chegarem ao outro mundo, não podem ver-se uns aos outros. A lei do bem e do mal persegue-os naturalmente e onde quer que possam renascer estão sempre separados pela escuridão e pela distância. Uma vez que os caminhos dos seus karmas são diferentes, é impossível prever quando chegará o momento do seu reencontro e assim é difícil encontrarem-se de novo. Poderão alguma vez voltar a ver-se? "Porque não abandonam todos os esforços e os enredos mundanos enquanto são fortes e saudáveis, para seguirem o bem e procurarem diligentemente a libertação do Samsara? Se o fizerem, serão capazes de obter vida infinita. Porque não seguem a Via? O que existe neste mundo que possa ser desejado? Que prazer existe que valha a pena procurar?

"Assim as pessoas do mundo não acreditam em seguirem o bem e receberem a recompensa ou em praticarem a Via e alcançarem a Iluminação; tão pouco acreditam na transmigração e na retribuição pelas más acções ou na recompensa pelas boas, e rejeitam totalmente esta noção.

"Além disso, procedendo assim, apegam-se às suas próprias opiniões ainda mais tenazmente. As gerações seguintes aprendem com as anteriores a agir da mesma forma. Os pais, perpetuando as suas noções erróneas, passam-nas aos filhos. Uma vez que os pais e avós desde o princípio não praticaram acções boas, ignoraram a Via, cometeram acções insensatas e foram obscurecidos, insensíveis e duros, os seus descendentes são agora incapazes de perceber a verdade do nascimento-e-morte e a lei do karma. Não têm ninguém que lhes fale acerca disto. Ninguém procura conhecer a causa da sorte ou do infortúnio, da alegria e da miséria, ainda que estes estados resultem desses actos.

"A realidade do nascimento-e-morte é tal que a dor da separação é sentida por todas as gerações. Um pai chora a morte dos seus filhos, os filhos choram a morte dos seus pais. Irmãos, irmãs, maridos e esposas lamentam a morte uns dos outros. De acordo com a lei básica da impermanência, se a morte ocorrerá segundo a ordem de idades ou de forma inversa é imprevisível. Tudo tem de passar,. Nada permanece para sempre. Poucos acreditam nisto, mesmo que alguns mestres os exortem. E assim o curso do nascimento-e-morte continua sempre.

"Porque são estúpidas e insensíveis, tais pessoas não aceitam os ensinamentos do Buda; falta-lhes precaução e pensam apenas em satisfazer os seus desejos. São iludidos devido aos seus apegos apaixonados, inconscientes da Via, mal orientados e presas da raiva e da inimizade, decididos a acumularem riqueza e a gratificarem os seus desejos carnais como lobos. E assim, incapazes de seguirem a Via, estão de novo sujeitos a sofrer nos reinos inferiores num ciclo interminável de nascimento-e-morte. Quão miserável e triste isto é!

"Na mesma família, quando um dos pais, filhos, irmãos, irmãs, marido ou mulher morre, os que ficam lamentam a sua perda e o seu apego ao falecido persiste. Profunda tristeza invade os seus corações e, tomados pela dor, pensam desgostosos nos que partiram. Os dias e os anos passam mas a sua angústia continua. Mesmo se alguém lhes ensina a Via, as suas mentes não despertam. Cismando nas queridas memórias dos falecidos, não se livram do apego. Ignorantes, inertes e presas da ilusão, são incapazes de pensar profundamente, de manter a compostura, de praticar a Via com diligência e de se dissociarem dos assuntos mundanos. Conforme erram aqui e ali, chegam ao seu fim e morrem antes de entrarem na Via. Então, que pode ser feito por eles?

"Porque são espiritualmente impuras, profundamente perturbadas e confusas, as pessoas entregam-se às suas paixões. Uma vez mais, muitos são ignorantes da Via e poucos se apercebem disso. Todos se ocupam sem descanso, sem nada em que se possam apoiar. Quer sejam morais ou corruptos, de alta ou baixa condição, ricos ou pobres, nobres ou plebeus, todos estão preocupados com os seus afazeres. Mantém pensamentos venenosos, criando uma atmosfera de malevolência extensa e carregada. Planeiam actividades subversivas, contrárias à lei universal e aos desejos das pessoas.

"A injustiça e o vício seguem-se inevitavelmente e prosseguem o seu curso sem restrição ou vigilância até o mau karma se acumular até ao limite. Sem estarem à espera do fim das suas vidas, encontram a morte súbita e caem nos reinos inferiores, onde sofrerão tormentos dilacerantes durante muitas vidas. Não conseguirão escapar durante muitos milhares de kotis de kalpas. Que dor indescritível! Como isto é lamentável!"

Encorajamento de Shakyamuni para a prática do bem

[32] O Buda disse ao Bodhisattva Maitreya e aos devas e humanos, “Disse-te a verdade acerca das pessoas do mundo. Sendo esse o seu modo de vida, são incapazes de entrar na Via. Por isso, deveis pensar profundamente e tentar evitar várias más acções; escolhei o bem e praticai-o com diligência. Uma vida de dependência dos desejos ou uma vida de vanglória não pode durar muito. Tudo tem de partir, nada existe que possais verdadeiramente apreciar. Uma vez que encontraram um Buda neste mundo, deveis praticar assiduamente a Via. Todos os que desejarem sinceramente nascer na terra de Suprema Felicidade serão capazes de alcançar sabedoria pura e supremacia na virtude. Não deveis seguir os imperativos das paixões ou ficar para trás na prática da Via. Se tiverem dúvidas ou não estiverem claros acerca do meu ensinamento, perguntai a mim, o Buda, sobre o que quer que seja e explicá-lo-ei para vós.”

O Bodhisattva Maitreya prosternou-se no chão e disse, “A tua glória majestosa, Ó Buda, inspira respeito e a exposição é sumamente agradável para mim. Ao ouvir o teu ensinamento, senti que as pessoas do mundo são tal como as descreveste. A tua revelação compassiva do Grande Caminho abriu os nossos olhos e ouvidos e despertou-nos para a emancipação. Todos os que ouviram o teu ensinamento estão plenos de alegria. Devas, humanos e seres menores, incluindo os rastejantes, foram todos abençoados com a tua orientação compassiva e alcançaram assim a libertação do sofrimento e da aflição.

“A admoestação do Buda é de facto profunda e apropriada, e a sua sabedoria examina claramente as coisas das oito direcções, acima e abaixo, penetrando tudo no passado, presente e futuro. A nossa emancipação na presente existência é inteiramente devida à perseverança e esforços diligentes do Buda nas suas vidas anteriores quando procurava a Via. A sua benevolência cobre todo o mundo, e a extensão do seu mérito é majestosa e gloriosa. A sua luz penetra até aos confins derradeiros do espaço e conduz as pessoas ao Nirvana. Ele revela os sutras, destrói as visões erróneas e subjuga os demónios. Assim a sua influência estende-se ilimitadamente pelas dez direcções. O Buda é o Rei do Dharma; a sua virtude ultrapassa a de todos os sábios. Ele é o Mestre de todos os devas e humanos e permite-lhes entrarem na Via de acordo com os desejos deles. Uma vez que fomos capazes de te encontrar, Ó Buda, e também de ouvir o Nome de Amitayus, alcançamos todos alegria e iluminação.

Advertência de Shakyamuni contra as más acções

[33] O Buda disse a Maitreya, “O que dizes é verdade. Aqueles que adoram e reverenciam o Buda alcançam grande mérito. Os Budas surgem no mundo muito raramente. Tendo-me tornado um Buda nesta vida, ensinei o Dharma, expus os ensinamentos da Via, clarifiquei as dúvidas das pessoas, erradiquei as causas da luxúria e do desejo e bloqueei as fontes de todos os males. Ao visitar vários lugares nos três mundos não encontrei obstruções. A sabedoria revelada nas escrituras beneficia todas as formas de vida. Mantém juntos os princípios essenciais e revela claramente a verdade. Expliquei a realidade dos cinco planos, libertando assim aqueles que não tinham obtido ainda a salvação e distinguido entre os caminhos do Samsara e Nirvana.

“Maitreya, deves saber que durante inumeráveis kalpas, tens aperfeiçoado as práticas do bodhisattva para salvar os seres sencientes. Incalculável de facto é o número de seres que sob a tua orientação encontraram a Via e alcançaram o Nirvana. Desde tempos imemoriais, tu e os devas e humanos das dez direcções e os quatro tipos de crentes, têm errado nos cinco planos do Samsara, suportando problemas e aflições indescritíveis. Até nascerem nesta vida, também tu passas-te por ciclos intermináveis de nascimento-e-morte. Agora encontraste um Buda, ouviste a sua exposição do Dharma e pudeste ouvir acerca de Amitayus. Que prazer e alegria é para ambos partilharmos isto.

“É tempo de todos procurarem a salvação das dores do nascimento, morte, velhice e doença. Por toda a parte estão manchas de depravação e impureza e não existe nada onde possais encontrar verdadeira alegria. Deveis praticar decididamente acções meritórias com decoro, esforçar-vos por fazer o bem, controlar-vos e purificar-vos, limpar as impurezas da mente, ser sinceros em palavras e acções e não permitir contradições entre o que fazeis e o que pensais. Procurai a vossa própria emancipação e então devotai-vos a salvar os outros; aspirai honestamente a nascer na Terra Pura e acumulai raízes de virtude. Por mais duramente que pratiqueis nesta vida será apenas por um curto espaço de tempo. Na vida futura nascereis na terra de Amitayus e usufruireis de alegria interminável. Estando para sempre de acordo com a Via, não mais estareis sujeitos ao nascimento-e-morte e sereis livres das aflições causadas pela ganância, raiva e estupidez. Se quiserdes que a vossa vida tenha a duração de um kalpa, cem kalpas ou dez mil kalpas, será tal como desejarem. Permanecereis numa espontaneidade sem esforço e alcançareis o Nirvana. Cada um de vocês deve procurar diligentemente realizar a vossa aspiração. Não mantenham qualquer dúvida nem desistam do vosso esforço, porque senão, como resultado dessa falha, nascereis no palácio de sete jóias na região exterior da Terra Pura e estareis sujeitos a várias desvantagens durante quinhentos anos.”

Maitreya disse a Buda, “Tendo recebido a tua advertência atenciosa, praticaremos diligentemente a Via e seguiremos o teu ensinamento. Não permitiremos que surja qualquer dúvida.”

Admoestação contra cinco males:

[34] Buda disse a Maitreya, “Se aqui neste mundo forem rectos em pensamento e acção e se abstiverem de praticar o mal, alcançarão então a suprema virtude, insuperável em todas as terras pelas dez direcções. Porque assim é? Devas e humanos nas Terras de Buda praticam naturalmente o bem e raramente cometem o mal e assim é fácil ensiná-los e treiná-los. Uma vez que me tornei um Buda neste mundo, encontro-me agora no meio dos cinco males, dos cinco sofrimentos e dos cinco fogos. Isto é extremamente doloroso para mim. Ensinarei multidões de seres, fazendo-os abandonar os cinco males, evitar os cinco sofrimentos e escapar dos cinco fogos. Treinarei as suas mentes e levá-los-ei a praticar as cinco boas acções, de modo a que adquiram mérito e virtude e alcancem emancipação, longevidade e Nirvana.”

O Buda continuou, “Quais são os cinco males? Quais são os cinco sofrimentos? Quais são os cinco fogos? Qual é a forma de extinguir os cinco males e levar as pessoas a praticar as cinco boas acções de modo a que possam obter mérito e virtude e alcançar emancipação, longevidade e Nirvana?”

1) Primeiro mal

[35] O Buda disse, “Este é o primeiro mal. Devas, humanos e seres menores, incluindo os rastejantes, são inclinados a fazer o mal. Não existe ser que não o seja. Os fortes subjugam os fracos; ferem-se com gravidade e matam-se uns aos outros, todos devoram a sua presa. Sem saberem como praticar o bem, praticam o mal e cometem actos indignos e desregrados. Mais tarde recebem a retribuição, é natural que estejam destinados aos planos negativos. Os semi-deuses mantém registos dos actos dos transgressores e garantem que sejam punidos. É por isso que alguns são destituídos, corruptos, pedintes, sós, surdos, mudos, cegos, estúpidos, malvados, loucos ou deficientes. Outros são dignos, nobres, abastados, inteligentes ou espertos. Isto é o resultado de bons e meritórios actos de benevolência e do cumprimento dos seus deveres filiais em vidas passadas.

“Neste mundo as prisões são criadas pela lei e aqueles que não as temem e cometem ofensas são mandados para aí como punição. Por mais desesperadamente que tentem escapar, é impossível fazê-lo. Tal é a retribuição neste mundo, mas nas vidas futuras, a punição para esses malfeitores é mais longa e severa. O sofrimento da transmigração através dos planos obscuros é comparável à mais severa e dolorosa punição alguma vez imposta pela lei.

“Assim, através do funcionamento natural do karma, passam por imensuráveis sofrimentos nos três planos negativos. Em transmigrações sucessivas nascem sob formas diferentes; a duração das suas vidas umas vezes é curta outras longa. Os seus seres transitórios, energia vital e consciência transmigram mediante o funcionamento natural do karma. Ainda que cada indivíduo nasça sozinho, aqueles que estão ligados por um karma comum nascem juntos e vingam-se uns dos outros. Assim, esta condição persiste interminavelmente e, até que o efeito do seu mau karma se esgote, não há possibilidade de evitar os seus inimigos. Errando no Samsara, não têm possibilidade de escapar ou de alcançar a emancipação. A dor que têm de suportar é indescritível. Uma vez que esta lei actua naturalmente em toda a parte entre o céu e a terra, mesmo se os bons e maus actos não trazem imediatamente recompensa ou retribuição, terão resultados mais cedo ou mais tarde. A isto chamo o primeiro grande mal, o primeiro sofrimento e o primeiro fogo. Estas aflições são tais que são comparáveis a um grande fogo a queimar as pessoas vivas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtido, alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos plano celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o primeiro grande bem.”

2) Segundo mal

[36] O Buda continuou, "O segundo mal é que as pessoas do mundo - pais, filhos, irmãos, irmãs, membros de uma família, maridos e esposas - não têm princípios morais, infringem as leis, compartam-se com arrogância, cometem actos licenciosos e desregrados, perseguem o seu próprio prazer, divertem-se a seu gosto e enganam-se uns aos outros. Os seus pensamentos contradizem os seus actos; falam sem sinceridade, lisonjeiam outros com intenções traiçoeiras, adulam os outros com palavras astutas, invejam a reputação dos sábios, desrespeitam os virtuosos e apanham as pessoas com meios desonestos.

"Os mestres são insensatos na escolha dos seus servidores, que, explorando a situação, aproveitam qualquer oportunidade para a fraude e o engano. Os governantes iníquos, são enganados pelos ministros e afastam levianamente os subordinados leais e fiéis. Isto é contrário à vontade dos Céus. Os ministros traem os seus governantes, os filhos enganam os pais; irmãos, irmãs, maridos e esposas, familiares e amigos, enganam-se uns aos outros. Guardam ganância, raiva e estupidez e, desejando muitas posses, procuram a sua vantagem pessoal. Todos têm igual coração, quer sejam pessoas de posição elevada e respeitável ou de classes baixas e desprezadas. Levam as suas casas e a si mesmos à ruína e destroem de forma imprudente os seus semelhantes. Ainda que existam familiares, amigos, aldeões, citadinos, grupos de pessoas ignorantes e vulgares a trabalharem em conjunto, todos procuram o seu próprio lucro, fomentando assim a raiva e hostilidade dos outros. Quando as pessoas enriquecem, ficam miseráveis e sem caridade. Apegadas gananciosamente à sua fortuna, afadigam-se de corpo e mente para retê-la. Quando o seu fim chega, não encontram qualquer apoio. Em última instância nascem e partem sozinhos, sem ninguém que os acompanhe. A alegria ou a miséria resultante das acções boas ou más segue-os nas suas próximas vidas. Assim renascem em estados agradáveis ou dolorosos. Mesmo que mais tarde mostrem arrependimento, que benefício pode isso trazer?

“As pessoas do mundo, de mau coração e sem entendimento, odeiam e maltratam as boas pessoas e não lhes têm qualquer respeito. São apegadas a praticar o mal e cometem deliberadamente acções desonestas. Cobiçam sempre a fortuna dos outros e albergam intenções de roubar. Depois de gastarem e esbanjarem o que roubaram a outros, procuram recuperá-lo,. Devido ás suas próprias motivações ocultas e à sua desonestidade, estudam manhosamente as expressões das faces dos outros. Como são incapazes de pensar , quando as coisas correm mal desanimam com o desgosto.

“Neste mundo existem prisões estabelecidas pela lei onde os transgressores são enviados para serem punidos, de acordo com os seus crimes. Nas suas vidas anteriores nem acreditaram na Via nem cultivaram raízes de virtude. Também nesta vida, se praticaram o mal, os semi-deuses sabem disso e mantêm registo dos seus actos; quando morrem caem nos planos negativos. Assim, devido ao funcionamento natural da lei do karma, existem três planos negativos e inumeráveis sofrimentos através dos quais os malfeitores devem passar, vida após vida, durante muitos kalpas, sem fim à vista. É realmente difícil alcançarem alívio. A dor que têm de sofrer é indescritível. A isto chama-se o segundo grande mal, o segundo sofrimento e o segundo fogo. As aflições são tais que podem ser comparadas a um grande fogo a queimar as pessoas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtido, alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos plano celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o segundo grande bem.”

3) Terceiro mal

[37] Buda continuou, “Este é o terceiro mal: as pessoas do mundo vivem juntas, habitando este plano entre o céu e a terra, com uma duração de vida limitada. Por um lado, entre os níveis superiores existem pessoas sábias, ricas, honradas, nobres e abastadas. Por outro, entre os níveis mais baixos, existem pessoas pobres, aviltadas, rudes e insensatas. Além disso, existem malfeitores que têm sempre pensamentos viciosos e só se ocupam da sua gratificação pessoal; são cheios de preocupações, enterrados na luxúria e no apego, sem descanso na sua vida diária, gananciosos e miseráveis e desejosos de possuir aquilo a que não têm direito. Eles procuram mulheres atraentes, comportam-se licenciosamente e cometem actos obscenos com elas, detestam as suas próprias mulheres e frequentam bordéis secretamente. Por conseguinte, depois de dissiparem todos os seus bens, começam a infringir a lei. Formam bandos, iniciam motins, envolvem-se em lutas, atacam ilegalmente e matam pessoas e saqueiam propriedades.

“Alguns têm planos maléficos quanto aos bens dos outros. Como não se dedicam às suas próprias ocupações, obtêm coisas através do roubo. Febrilmente agitados, intimidam e roubam as pessoas para sustentarem as suas próprias mulheres e filhos com os bens assim obtidos. Obedecendo apenas aos ditames das suas paixões, tornam-se viciados em prazeres imorais. Também não respeitam os anciãos no clã, causando assim dor e angústia aos membros e parentes de outras famílias; além disso, não obedecem às leis do Estado.

“Mas esses erros são conhecidos pelos outros e também pelos demónios. O Sol e a Lua reconhecem-nos e os semi-deuses mantém registos das suas acções. Assim, devido ao funcionamento natural do karma, existem três planos negativos e inumeráveis sofrimentos através dos quais os malfeitores devem passar, vida após vida, durante muitos kalpas, sem fim à vista. É realmente difícil alcançarem alívio. A dor que têm de sofrer é indescritível. A isto chama-se o terceiro grande mal, o terceiro sofrimento e o terceiro fogo. As aflições são tais que podem ser comparadas a um grande fogo a queimar as pessoas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtido, alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos planos celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o terceiro grande bem.”

4) O quarto mal

[38]Buda continuou, “Este é o quarto mal: As pessoas do mundo não pensam em fazer o bem. Incitam-se uns aos outros a cometer vários tipos de acções negativas - proferir palavras desagradáveis e abusivas, dizer mentiras e envolver-se em conversas fúteis. Caluniam os outros e causam querelas. Odeiam e invejam os bons homens e arruínam os sábios, enquanto apreciam na retaguarda. São negligentes para com os pais, depreciam os mestres e anciãos, perdem a confiança dos amigos e são dissimulados. Tendo-se em alta estima, acham-se virtuosos mas agem teimosamente e de forma arrogante, desprezando os outros. Inconscientes do seu próprio mal, nunca se envergonham de si mesmos. Vangloriam-se da sua força física, exigem dos outros respeito e medo. Não querem saber do Céu, da Terra, dos semi-deuses ou do Sol e da Lua, desdenham a prática de qualquer bem. São por isso difíceis de treinar e converter. Tendo-se em alta estima impõe a sua maneira pessoal. Arrogantes e sem medo de nada, assumem sempre uma atitude altiva. Mas os semi-deuses mantém registo dos seus erros. Talvez haja algum acto meritório nas suas vidas passadas e possam assim contar com o efeito desse pequeno acúmulo de bem. Mas uma vez que cometem o mal de novo nesta vida, a sua reserva de méritos depressa se esgota; as divindades benéficas abandonam-nos, deixam-nos sós e sem ninguém de quem depender. Quando a sua vida acaba, o seu mal recai sobre eles e força-os, segundo o funcionamento natural do karma, a descer aos planos negativos. Uma vez mais, como dita o registo exacto das suas acções na mão dos semi-deuses, as suas transgressões e ofensas kármicas condena-os ao plano infernal. A retribuição pelo mal vem naturalmente e nada a pode impedir. Têm de ir para os caldeirões vermelhos em brasa, onde os seus corpos são derretidos com o máximo tormento e angústia. Mesmo se nessa altura se arrependem das suas más acções, que benefício terá isso? A lei dos céus segue o seu curso inevitavelmente sem qualquer erro.

“Assim, devido ao funcionamento natural do karma, existem três planos negativos e inumeráveis sofrimentos através dos quais os malfeitores devem passar, vida após vida, durante muitos kalpas, sem fim à vista. É realmente difícil alcançarem alívio. A dor que têm de sofrer é indescritível. A isto chama-se o quarto grande mal, o quarto sofrimento e o quarto fogo. As aflições são tais que podem ser comparadas a um grande fogo a queimar as pessoas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtido, alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos planos celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o quarto grande bem.”

5) O quinto mal

[39] Buda continuou, “Este é o quinto mal: As pessoas do mundo são indecisas e indolentes, relutantes em fazer o bem, sem auto-disciplina e sem trabalharem afincadamente nas suas ocupações, de modo que as suas famílias e dependentes são levadas a sofrer de fome e frio. Quando repreendidas pelos pais, ripostam zangados e com olhares desdenhosos. Com tais conflitos estão longe da paz; conseguem ser tão violentos e enlouquecidos como inimigos em luta e, como resultado, os pais desejam não ter tido filhos.

“No lidar com os outros são licenciosos e caprichosos, provocam incómodos e problemas a muitos. Mesmo quando moralmente estão em dívida para com outros, negligenciam os seus deveres e não têm qualquer intenção de cumprir as suas obrigações. Sem meios, e levados aos fins mais desesperados, não têm forma de recuperar a sua fortuna. Ainda que sejam ávidos de obter muito lucro e de se apropriarem das riquezas dos outros, gastam o seu dinheiro em prazeres imorais. Conforme isto se torna um hábito, acostumam-se a obter bens ilegalmente e a gastarem a sua riqueza mal adquirida em luxos pessoais; entregam-se ao vinho e à comida abundante, comem e bebem em excesso. Libertinos e quezilentos, envolvem-se em querelas insensatas. Incapazes de compreender os outros, impõe-lhes a sua vontade pela força.

Quando encontram pessoas boas, odeiam-nas e abusam delas. Sem ética nem decoro, não reflectem na sua conduta e por isso são presunçosos e insistentes, recusando-se a seguir os conselhos e avisos dos outros. Não têm consideração pelos familiares, do mais próximo até ao parente em sexto grau, e não têm meios de subsistência. Não olham à benevolência dos pais e não sentem obrigações para com os mestres e amigos. Só pensam em fazer mal; a boca fala continuamente com malícia e o corpo está sempre a praticar o mal. Em toda a vida não fizeram uma única boa acção.

“Além disso, não acreditam nos sábios antigos, nem nos ensinamentos budistas, nem no caminho da prática que conduz à emancipação. Também não acreditam que após a morte se renasce noutro plano de existência, que os bons actos trazem boas recompensas ou que os maus actos trazem consequências negativas. Conspiram para matar um arhat, para causar dissenções na Sangha e pensam mesmo em matar os pais, irmãos, irmãs ou outros familiares. Por esta razão, mesmo os familiares, do mais próximo ao parente em sexto grau, odeiam-nos a ponto de quererem vê-los mortos.

“Estas pessoas do mundo têm todas a mesma mente. São insensatas e ignorantes, sem o conhecimento necessário para saberem de onde nasceram nem para onde vão depois de morrer. Sem humanidade para com os outros nem obediência aos mais velhos, revoltam-se contra o mundo inteiro. No entanto, desejam boa sorte e procuram uma vida longa, apenas para no final encontrarem a morte. Mesmo se alguém os avisa compassivamente, tentando encaminhá-los para pensamentos de bondade, e lhes tenta ensinar que existem naturalmente bons e maus planos no Samsara, não acreditam. Por mais que se tente é impossível. As suas mentes estão fechadas e recusam-se a ouvir os outros ou a compreender os seus ensinamentos. Quando as suas vidas chegam ao fim, o medo e o arrependimento aparecem alternadamente. Sem terem praticado anteriormente qualquer bem, enchem-se de remorsos ao chegar ao seu fim. Mas que benefício terá isso então?

“Entre o céu e a terra, os cinco planos são claramente distinguíveis. São vastos e profundos, estendendo-se ilimitadamente. Em resposta às boas ou más acções, seguem-se a alegria ou a miséria. O resultado do karma de cada um tem de ser suportado pelo próprio e ninguém pode tomar o seu lugar. Esta é a lei natural. O infortúnio segue as más acções como retribuição e é impossível de evitar. As boas pessoas fazem boas acções e assim gozam prazer após prazer e prosseguem da luz para mais luz. Os malfeitores cometem crimes e assim sofrem dor após a dor e vagueiam da escuridão para uma escuridão mais funda. Ninguém senão o Buda sabe isto completamente. Mesmo que alguém os avise e ensine, muito poucos acreditam; assim, os ciclos do nascimento e morte nunca param e os maus caminhos continuam interminavelmente. As consequências kármicas de tais pessoas mundanas excedem qualquer descrição detalhada

“Assim, devido ao funcionamento natural do karma, existem três planos negativos e inumeráveis sofrimentos através dos quais os malfeitores devem passar, vida após vida, durante muitos kalpas, sem fim à vista. É realmente difícil alcançarem alívio. A dor que têm de sofrer é indescritível. A isto chama-se o quinto grande mal, o quinto sofrimento e o quinto fogo. As aflições são tais que podem ser comparadas a um grande fogo a queimar as pessoas.

“Se no meio disto, alguém controla os seus pensamentos com concentração, pratica acções meritórias com comportamento apropriado, não comete o mal e faz apenas o bem, então, com o mérito e virtude obtido alcança a emancipação e é capaz de escapar deste mundo, nascer nos planos celestiais, e finalmente alcançar o Nirvana. Este é o quinto grande bem.”

Posterior admoestação de Shakyamuni

[40] Buda disse a Maitreya, “Explicarei ainda mais. Tais são as aflições dos cinco males neste mundo. Os cinco sofrimentos e os cinco fogos surgem deles continuamente. As pessoas não praticam senão o mal e não cultivam raízes de virtude e por isso é natural que vão todas para os mundos negativos. Mesmo nesta vida sofrem de doenças incuráveis. desejando a morte, não podem morrer; apegados à vida não podem viver. Assim são um exemplo para os outros de como é a retribuição pelos maus actos. Depois da morte, arrastados pelo seu mau karma, caem nos três planos negativos, onde sofrem incontáveis torturas e são entregues às chamas.

“Após um longo tempo nascem de novo neste mundo, apenas para fomentar o ódio uns contra os outros. Ao princípio o ódio é ligeiro mas finalmente desenvolve-se até se tornar um mal maior. Tudo isto é devido ao seu apego ganancioso pela riqueza e pelos prazeres sensuais e pela sua recusa em partilhar com os outros. Além disso, pensamentos obstinados surgem dos desejos nascidos da estupidez. A sua sujeição às paixões negativas nunca será cortada. Na busca do ganho egoísta, não têm possibilidade de reflectirem nos seus males e voltarem-se para o bem. Quando são abastados e prósperos, estão contentes e não aprendem a ser modestos e virtuosos. Por consequência, a sua pompa e poder são de curta duração; quando estes se esgotam têm de sofrer novas aflições. O seu sofrimento está destinado a aumentar nos tempos vindouros.

“A lei do karma opera assim como uma rede que tudo alcança, nas suas malhas apanha inevitavelmente todos os malfeitores. A rede, tecida com fios longos e curtos, cobre o mundo inteiro de alto a baixo, e aqueles nela apanhados sentem-se completamente sem saída e tremem de medo. Esta rede existe desde há muito. Que doloroso e dilacerante!”

O Buda disse a Maitreya, “As pessoas deste mundo são tais como as descrevi. Todos os Budas se compadecem delas e com os seus divinos poderes destroem os seus males e conduzem a todas à ventura. Se desistires das noções erróneas, te firmares nas escrituras e preceitos e praticares a Via sem cometer qualquer falta, serás então finalmente capaz de alcançar o caminho da emancipação e do Nirvana.”

O Buda continuou, “Tu e os outros devas e humanos do presente e as pessoas das gerações futuras, tendo recebido os ensinamentos de Buda, devem reflectir sobre eles e, enquanto as seguem, devem permanecer rectos em pensamento e levar a cabo acções virtuosas. Os governantes devem guiar-se pela moralidade, reger com beneficência e estabelecer que todos devem manter uma conduta própria, prestar reverência aos sábios, respeitar os homens de virtude, ser benevolentes e gentis para com os outros e ter cuidado de não descurar os ensinamentos e admoestações do Buda. Todos devem procurar a emancipação, cortar as raízes do Samsara e os seus vários males e assim aspirarem a escapar dos caminhos de sofrimento imensurável, medo e dor nos três planos negativos.

“Neste mundo, deveis plantar extensamente raízes de virtude, ser benevolentes, dar generosamente, abster-se de quebrar os preceitos, ser paciente e diligente, ensinar as pessoas com sinceridade e sabedoria, fazer acções virtuosas e praticar o bem. Se observarem estritamente os preceitos de abstinência com um pensamento recto e atenção plena, ainda que por apenas uma dia e uma noite, o mérito assim adquirido superará o de praticar do bem na terra de Amitayus durante cem anos. A razão é que nessa Terra de Buda de Espontaneidade e sem esforço, todos os habitantes praticam o bem sem cometer ainda que um mal da espessura de um cabelo. Se neste mundo praticarem o bem por dez dias e noites, o mérito ultrapassará o de praticarem o bem nas Terras de Buda das outras direcções durante um milhar de anos. A razão é que nas Terras de Buda das outras direcções, muitos praticam o bem e poucos cometem o mal. São terras onde tudo é providenciado naturalmente como resultado dos méritos e virtudes de cada um e assim nenhum mal é cometido. Mas neste mundo muito mal é cometido, e poucos são providos naturalmente; as pessoas têm de trabalhar duramente para obterem o que querem. Uma vez que pretendem enganar-se uns aos outros, as suas mentes são perturbadas, os seus corpos exaustos e eles bebem amarguras e comem dificuldades. Desta forma, de tão preocupados com os seus afazeres não têm um tempo para descansar.

“Com piedade por ti e por todos os outros devas e humanos, aceitei uma grande dor para vos exortar a praticar boas acções. Dei-vos instruções apropriadas às vossas capacidades. Vocês aceitaram sem falhas os meus ensinamentos e praticaram-nos e entraram assim na Via de acordo com a vossa vontade.

Onde quer que o Buda venha ficar, não existe estado, aldeia ou cidade que não seja abençoada pelas suas virtudes. Todo o pais repousa em paz e harmonia.. O sol e a lua cintilam com brilho puro; o vento sopra e a chuva cai na altura certa. Não existem calamidades ou epidemias e assim o país torna-se abastado e o seu povo goza de paz. Os soldados e as armas tornam-se inúteis; as pessoas praticam a benevolência e cultivam diligentemente uma modéstia cortês.”

O Buda continuou, “A minha preocupação com vocês, devas e humanos, é maior que o cuidado dos pais pelos filhos. Tornei-me um Buda neste mundo, destruí pelos cinco males, removi os cinco sofrimentos e extingui os cinco fogos. Combati o mal com o bem, erradiquei o sofrimento do nascimento-e-morte e permiti que as pessoas obtivessem as cinco virtudes e alcançassem a paz do Nirvana incondicional. Mas depois de eu partir deste mundo, o meu ensinamento declinará gradualmente e as pessoas cairão presas da lisonja e engano e cometerão vários males, resultando no recrudescimento dos cinco sofrimentos e dos cinco fogos. À medida que o tempo for passando, os seus sofrimentos intensificar-se-ão. Uma vez que é impossível descrever isto detalhadamente, fiz-vos apenas um breve resumo.

O Buda disse a Maitreya, “Deve cada um ponderar bem nisto, ensinar e admoestar-se mutuamente e estar de sobreaviso quanto a desrespeitar as instruções do Buda.

O Bodhisattva Maitreya, com as palmas das mãos unidas, disse, “Ó Buda, como é sincera e grave a tua admoestação! As pessoas do mundo são tais como as descreveste. Ó Tathagata, compadeceste-te de nós e protegeste-nos sem discriminação e procuras-te libertar-nos a todos do sofrimento. Tendo aceite as repetidas exortações do Buda, serei cuidadoso em não lhes desobedecer.”

Amida e a Terra Pura mostrados à audiência

[41] Buda disse a Ananda, “Levanta-te, arranja as tuas roupas, junta as palmas das mãos e respeitosamente, presta reverência e adoração a Amitayus. Budas e Tathagatas nas terras das dez direcções louvam sempre unanimemente as virtudes de não-apego e actividade sem entraves desse Buda.”

Ananda levantou-se, compôs as suas roupas, assumiu a postura correcta, virado para Oeste e, demonstrando a sua reverência sincera, juntou as palmas das mãos, prosternou-se no chão e prestou adoração a Amitayus.

Então disse ao Buda Shakyamuni, “Honrado Pelo Mundo, desejo ver esse Buda, a sua Terra de Suprema Felicidade e o seu séquito de bodhisattvas e shravakas.”

Assim que ele disse isso, Amitayus emitiu uma grande luz que iluminou todas as Terras de Buda. As Montanhas Adamantinas Circundantes, o Monte Sumeru bem como as montanhas grandes e pequenas e tudo o resto brilhou com a mesma luz (dourada). Essa luz era como o dilúvio no final de um período de mudança cósmica que invade todo o mundo, quando miríades de coisas são submersas e até onde a vista alcança, nada existe senão uma vasta extensão de água. Assim era o fluxo de luz emanado de Amitayus. Todas as luzes dos shravakas e bodhisattvas foram ofuscadas e superadas e apenas a luz do Buda permaneceu brilhante e gloriosa.

Nessa altura Ananda viu o esplendor e majestade de Amitayus comparável ao Monte Sumeru que se ergue acima de todo o mundo. Não havia lugar que não fosse iluminado pela luz emanada do seu corpo de glória. Os quatro grupos de seguidores do Buda presentes na assembleia viram tudo isto na mesma ocasião. Da mesma forma, todos na Terra Pura viram tudo neste mundo.

Dois tipos de nascimento na Terra Pura

[42] Então o Buda disse a Ananda e ao Bodhisattva Maitreya, “Viram essa terra cheia de excelentes e gloriosas manifestações, todas produzidas espontaneamente, desde o chão ao Paraíso da Morada Pura? “

Ananda respondeu, “Sim, vi.”

O Buda perguntou, “Ouviram também a grande voz de Amitayus expor o Dharma a todos os mundos, guiando os seres sencientes até à Via do Buda?

Ananda respondeu, “Sim, ouvi.”

O Buda perguntou em seguida, “Viram também os habitantes dessa terra moverem-se livremente, conduzindo palácios aéreos com a largura de centenas de milhares de yojanas, para adorarem os Budas das dez direcções?”

Ananda respondeu, “Sim, vi.”

“Viram também que alguns dos habitantes estão em estado embrionário?”

“Sim, vi. Aqueles que estão em estado embrionário residem em palácios com cem ou quinhentas yojanas, onde espontaneamente gozam prazeres comparáveis aos do Paraíso dos Trinta e Três Deuses.”

A causa dos dois tipos de nascimento

[43] Então o Bodhisattva Maitreya disse ao Buda, “Honrado Pelo Mundo, porque razão alguns dos habitantes dessa terra estão em estado embrionário enquanto outros nascem por transformação?”

O Buda respondeu, “Maitreya, se existirem seres que pratiquem várias acções meritórias com a aspiração de nascerem nessa terra enquanto mantêm dúvidas, tais seres são incapazes de compreender a sabedoria de Buda, sabedoria inconcebível, a sabedoria inefável, a sabedoria ilimitada do Mahayana, a incomparável, inigualável e insuperável sabedoria suprema. Ainda que duvidem dessas sabedorias, mesmo assim acreditam na retribuição pelo mal e na recompensa pela virtude e assim cultivam uma reserva de méritos com a aspiração de nascerem nessa terra. Esses seres nascem num palácio onde residem durante quinhentos anos sem poderem ver o Buda, ouvir a sua exposição do Dharma ou ver os séquitos de bodhisattvas e shravakas. Por esta razão, esse tipo de nascimento na Terra Pura chama-se ‘estado embrionário’.

“Se existirem seres sencientes que com uma fé resoluta aceitem estes tipos de sabedoria, desde a sabedoria de Buda até à sabedoria suprema, levarem a cabo acções meritórias e sinceramente transferirem os méritos adquiridos (para essa terra), esses seres nascerão por transformação espontaneamente, sentados de pernas cruzadas nas flores de lótus de sete jóias e alcançarão instantaneamente as mesmas gloriosas formas,sabedoria e virtude dos outros bodhisattvas dessa terra.

Encorajamento de fé de Shakyamuni

[44] Além disso Maitreya, se os grandes bodhisattvas das outras direcções desejarem ver Amitayus e o reverenciarem e fizerem oferendas a ele e aos séquitos de bodhisattvas e shravakas, irão, depois da morte, nascer na terra de Amitayus. Transformados espontaneamente, nascerão do interior das flores de lótus de sete jóias.

“Maitreya, deves saber que aqueles que nascem por transformação possuem a suprema sabedoria, enquanto os do estado embrionário não possuem essa sabedoria e têm de passar quinhentos anos sem serem capazes de ver o Buda, ouvir o seu ensinamento do Dharma, ver os séquitos de bodhisattvas e shravakas, de fazerem oferendas aos Budas, aprenderem as regras de conduta dos bodhisattvas ou levarem a cabo práticas meritórias. Deves saber que isto se deve a esses seres terem tido dúvidas e falta de sabedoria nas suas vidas anteriores.”

Nascimento embrionário

[45] Buda disse a Maitreya, “Suponhamos que um monarca que faz girar a roda numa câmara especial adornada com as sete jóias e fornecida com sofás com dosséis e estandartes de seda pendentes do tecto. Se os príncipes tiverem cometido ofensas contra o rei são levados para essa câmara e presos com correntes de ouro. Aí são-lhes servidas comida e bebida, fornecida roupa, leitos e almofadas, flores e incenso e podem apreciar música. Sendo tratados tal como os próprios monarcas, não têm carências. Pensas que esses príncipes apreciariam a viver aí?

“Não, não apreciariam,” respondeu Maitreya. “Procurariam várias abordagens a um homem poderoso que os ajudasse a escapar.”

O Buda disse a Maitreya, “Esses seres nascidos nos botões de lótus são assim. Por causa da sua dúvida na sabedoria de Buda, nasceram em palácios. Mesmo que não recebam punições ou maus tratos mesmo por um único momento, têm de passar quinhentos anos em que não são capazes de ver as Três Jóias, fazer oferendas ao Buda ou cultivar uma reserva de virtude. Isto é aflitivo para eles. Embora existam outros prazeres, eles não apreciam viver aí.

“Se esses seres puderem tomar consciência das faltas cometidas nas suas vidas passadas e se arrependerem profundamente, podem, conforme queiram, sair e ir até onde se encontra Amitayus. Então podem adorá-lo e fazer-lhe oferendas; podem também visitar inumeráveis e incontáveis outros Budas para levar a cabo várias práticas meritórias. Maitreya, deves saber que os bodhisattvas que permitem o aparecimento da dúvida perdem grandes benefícios. Por esta razão, deves ter uma fé resoluta na suprema sabedoria do Buda.”

As visitas dos bodhisattvas de outras terras à Terra Pura

[46] O Bodhisattva Maitreya disse a Buda, “Honrado Pelo Mundo, quantos bodhisattvas sem-retrocesso existem neste mundo que nascerão nessa Terra de Buda?”

O Buda respondeu, “Sessenta e sete kotis de bodhisattvas deste mundo sem-retrocesso nascerão nessa terra. Cada um destes bodhisattvas fez previamente oferendas a inumeráveis Budas quase com tanta diligência como tu, Maitreya. Além disso, os bodhisattvas das práticas menores e aqueles que levaram a cabo pequenos actos meritórios, cujo número está além de qualquer cálculo, nascerão todos lá.”

O Buda disse a Maitreya, Não só os bodhisattvas deste mundo mas também os das Terras de Buda das outras direcções nascerão lá. Primeiro, na terra do Buda Iluminação de Longo Alcance existem cento e oitenta kotis de bodhisattvas que visitarão todos essa terra. Segundo, na Terra do Buda Repositório de Jóias existem noventa kotis de bodhisattvas que visitarão todos essa terra. Terceiro, na terra do Buda Som imensurável existem duzentos e vinte kotis de bodhisattvas que visitarão todos essa terra. Quarto, na terra do Buda Sabor de Néctar existem duzentos e cinquenta kotis de bodhisattvas que visitarão todos essa terra. Quinto, na terra do Buda Vencedor de Dragões existem catorze kotis de bodhisattvas que visitarão todos essa terra. Sexto, na terra do Buda Poder Superior existem catorze mil bodhisattvas que visitarão todos essa terra. Oitavo, na terra do Buda Luz Imaculada existem oitenta kotis de bodhisattvas que visitarão todos essa terra. Nono, na terra do Buda Pico de Virtude existem sessenta kotis de bodhisattvas que visitarão todos essa terra. Décimo, na terra do Buda Montanha de Virtude Excelente existem sessenta kotis de bodhisattvas que visitarão todos essa terra. Décimo primeiro, na terra do Buda Rei dos Homens existem dez kotis de bodhisattvas que visitarão todos essa terra. Décimo segundo, na terra do Buda Flor Esplêndida existem inumeráveis e incalculáveis bodhisattvas que são todos sem-retrocesso e possuidores de sabedoria inigualável, que fizeram previamente oferendas a incontáveis Budas e são capazes de aprender em sete dias os ensinamentos adamantinos dos Budas que podem ser apenas alcançados pelos Mahasattvas após praticarem durante cem mil kalpas. Esses bodhisattvas nascerão todos nessa terra. Décimo terceiro, na terra do Buda Destemor existem setecentos e noventa kotis de grandes bodhisattvas e incalculáveis bodhisattvas menores e bhiksus que nascerão todos nessa terra.”

O Buda disse a Maitreya, “Não apenas os bodhisattvas destas catorze terras de Buda visitam essa terra mas também bodhisattvas de inumeráveis Terras de Buda das dez direcções cujo número é incalculável. Mesmo se fosse a dar-te apenas os nomes dos Budas nas dez direcções e o número de bodhisattvas e bhiksus que visitam essa terra, enumerando-os constantemente de dia e de noite durante um kalpa, não seria capaz de completar a lista. É por isso que te fiz apenas uma pequena descrição.”

Encorajamento de Shakyamuni para aceitar este sutra

[47] O Buda disse a Maitreya, “Se existir alguém que ouça o Nome desse Buda e rejubile a ponto de dançar e se lembre dele ainda que uma vez, deves saber então que obteve grande benefício tendo recebido a virtude insuperável. Por esta razão, Maitreya, mesmo se um grande fogo enchesse o universo de cem milhões de mundos, devias passar através dele para ouvir este sutra, para despertar uma fé rejubilante, para o promover e recitar e para praticar de acordo com os seus ensinamentos. Isto é porque existem muitos bodhisattvas que querem ouvir este sutra e ainda assim são incapazes de o fazer. Se existirem seres que o tenham ouvido alcançarão o Nível de Não-regressão para realizarem a suprema Iluminação. É por isto que devem aceitar com fé este sutra de todo o coração, promovê-lo e recitá-lo e praticar de acordo com os seus ensinamentos.”

O Buda acrescentou, “Expus este ensinamento pelo benefício dos seres sencientes e permiti que vissem Amitayus e todos na sua terra. Esforçai-vos por fazer o que é devido. Depois de eu passar ao Nirvana, não permitam que surja a dúvida. No futuro as escrituras e ensinamentos desaparecerão. Mas por piedade e compaixão, preservarei especialmente este sutra e mantê-lo-ei no mundo por mais cem anos. Aqueles seres que encontrarem este sutra alcançarão a libertação de acordo com as suas aspirações.

O Buda disse a Maitreya, “É difícil encontrar e ver o Tathagata quando ele está neste mundo. Difíceis de aceder e difíceis de ouvir são os ensinamentos e escrituras do Buda. É também difícil ouvir os excelentes ensinamentos destinados aos bodhisattvas, as Paramitas. Difícil também é encontrar um bom mestre, ouvir os ensinamentos e realizar as práticas. Mas a maior de todas as dificuldades é ouvir este sutra. acreditar nele alegremente e firmar-se nele. Nada é mais difícil do que isto. Assim eu formei o meu Dharma, assim expus o meu Dharma e assim ensinei o meu Dharma. Deveis recebê-lo e praticá-lo de acordo com o método prescrito.”

Epílogo

[48] Quando o Honrado Pelo Mundo terminou a sua exposição deste sutra, a aspiração pela suprema Iluminação despertou em inumeráveis seres sencientes. Doze mil nayutas de seres humanos alcançaram o puro Olho do Dharma; vinte e dois kotis de seres humanos e devas alcançaram o Estado daquele que Não-retornará; oitocentos mil bhiksus realizaram a sabedoria que destroi impurezas; quarenta kotis de bodhisattvas alcançaram o Nível de Não-regressão; e todos, adornados com a virtude dos votos universais, alcançarão por fim a perfeita Iluminação.

Nessa altura todo o universo de um milhar de milhões de mundos tremeu de seis formas diferentes e uma grande luz iluminou todas as terras das dez direcções. Cem mil variedades de música tocaram espontaneamente e inumeráveis flores maravilhosas caíram do céu profusamente.

Quando o Buda acabou de transmitir este sutra, o bodhisattva Maitreya e os bodhisattvas das terras das dez direcções. em conjunto com o Ancião Venerável Ananda, outros grandes shravakas e todos na grande assembleia, sem excepção, rejubilaram com o discurso do Buda.

Fim da Parte Dois do

Sutra do Buda de Vida Infinita


extraido de: http://www.sintoniasaintgermain.com.br/amitaba_II.html