sexta-feira, 29 de julho de 2011

O Sutra do Bodhisattva Mérito Universal

Assim ouvi dizer. De certa feita o Buda quedava-se no salão de assembléia de dois andares no Mosteiro da Grande Floresta, Vaisali; então ele dirigiu-se a todos os bhikshus, (dizendo): “Depois de três meses, certamente eu entrarei no parinirvana”. Com isto o honrado Ananda levantou-se de seu assento, endireitou suas roupas, e de palmas juntas e mãos dobradas ele fez uma procissão ao redor do Buda três vezes e o saudou, ajoelhando de mãos postas, e atentamente fitou o Tathagata sem desviar seus olhos por sequer um momento. O ancião Maha-Kasyapa e o Bodhisattva-Mahasattva Maitreya também levantaram-se de seus assentos, e de mãos postas o saudaram e fitaram sua face honrada. Então os três grandes lideres em uníssono falaram ao Buda, dizendo: “Honrado pelo Mundo! Depois da extinção do Tathagata, como podem seres vivos levantarem a mente do bodhisattva, praticarem os sutras da Grande Extensão, o Grande veículo, e ponderarem o mundo da realidade única com o pensamento correto’? Como podem eles deixar de perder a mente do budado supremo? Como, sem cortar fora seus cuidados mundanos e renunciando aos seus cuidados mundanos e renunciando aos cinco desejos, podem eles também purificar seus órgãos e destruírem seus pecados? Como, com os olhos naturais puros recebidos no nascimento de seus pais e sem abandonar seus cinco desejos, podem ver todas as coisas sem impedimento’?”

O Buda disse a Ananda: Ouça atentamente o que vou dizer! Ouça atentamente, pondere, lembre disto! Desde antanho no Monte Grdhrakuta e em outros lugares o Tathagata já havia extensivamente explicado o caminho da realidade única. Mas agora neste lugar, para todos os seres vivos e outros no mundo que virá que desejarem praticar a Lei suprema do Grande veículo e para aqueles que desejarem aprender os trabalhos de Virtude Universal e seguir os trabalhos de Virtude Universal, eu agora pregarei a Lei que eu cogitei. Eu agora amplamente tornarei claro para você a questão de eliminar numerosos pecados de qualquer pessoa que possa ver ou não Virtude Universal. Ananda! O Bodhisattva Virtude Universal (Samantabhadra) nasceu na Terra Pura Maravilhosa do leste, cuja forma eu já clara e extensivamente abordei no Sutra das Flores Miscelâneas. Agora eu, neste sutra, a explicarei brevemente (novamente).

“Ananda! Se houver bhikshus, bhikshunis, upasakas, upasikas, os oito grupos de deuses e dragões, e todos os seres vivos que recitem o Grande Veículo, o praticarem, aspirarem por ele, se alegrarem em ver a forma e o corpo do Bodhisattva Virtude Universal, tiverem prazer em ver a stupa do Buda Tesouros Abundantes, ficarem alegres em ver o Buda Sakyamuni e os budas que dele emanaram, e se alegrarem em obter a pureza dos seis órgãos, eles devem aprender esta meditação. Os méritos desta meditação os fará livres de todos obstáculos e os fará ver as formas excelentes. Apesar deles não terem ainda entrado na contemplação, somente porque eles recitam e mantém o Grande Veículo eles terão se devotado a praticá-lo, e depois de terem suas mentes continuamente no Grande Veículo durante um dia ou três vezes sete dias, eles serão capazes de ver Virtude Universal; aqueles que têm um pesado impedimento o verão depois de sete vezes sete dias; novamente, aqueles que tiverem um mais pesado ainda o verão após um nascimento; novamente, aqueles que tiverem um muito pesado o verão depois de dois nascimentos; novamente, aqueles que tiverem um ainda maior impedimento o verão após três nascimentos. Assim a retribuição de seus karmas é variado e não igual. Por esta razão, eu prego a virtude de formas variadas.
‘O Bodhisattva Virtude Universal é sem limites no tamanho de seu corpo, sem limites no som de sua voz, e sem limites na forma de sua imagem. Desejando vir a este mundo, ele faz uso de seus poderes transcendentes livres e diminui sua estatura a um pequeno tamanho (de um ser humano). Porque as pessoas no Jambudvipa têm os três obstáculos pesados2, com seu poder de sabedoria ele aparece transformado como montado num elefante branco. O elefante tem seis presas3 e, com suas sete pernas4, sustenta seu corpo no chão. Sob suas sete pernas sete flores de lótus crescem. O elefante é tão branco quanto a neve, a mais brilhante de todas tonalidades de branco, tão puro que mesmo o cristal e as Montanhas do Himalaya não podem ser comparados com ele. O corpo do elefante é de quatrocentos e cinqüenta yojanas de comprimento e quatrocentas yojanas de altura. No fim de suas seis presas existem seis piscinas de banho. Em cada piscina de banho crescem flores de lótus exatamente do tamanho das piscinas. As flores estão completamente desabrochadas como o rei das árvores celestes. Em cada urna destas flores está uma filha preciosa cujo semblante é vermelho como carmesim e cuja radiância supera aquela das ninfas. Na mão daquela filha aparecem, transformadas por si mesmas, cinco harpas e cada uma tem quinhentos instrumentos musicais como acompanhamento. Existem quinhentos pássaros incluindo patos, gansos selvagens, e patos mandarins, todos tendo a cor de coisas preciosas, surgindo entre as flores e folhas. Na tromba do elefante há uma flor, e seu caule é da cor de uma pérola vermelha. Aquela flor dourada ainda é um broto e não desabrochou. Tendo terminado de perceber esta questão, se a pessoa novamente se arrepender dos seus pecados, meditar no Grande Veículo atentamente com devoção completa, e ponderar esta questão em sua mente incessantemente, ele será capaz de ver a flor instantaneamente desabrochar e abrir com uma cor dourada. A taça da flor de lótus é uma taça de gemas kimsuka com maravilhosas jóias Brahma, e os estames são de diamante. Um buda transformado5 é visto sentado nos estames da flor de lótus. Das sobrancelhas do buda transformado um raio de luz é enviado e entra na tromba do elefante. Este raio, tendo a cor de uma flor de lótus vermelha, emana da tromba do elefante e entre em seus olhos; o raio então emana dos olhos do elefante entra em seus ouvidos; então emana dos ouvidos do elefante, ilumina sua cabeça e muda para uma taça dourada. Na cabeça do elefante existem três homens transformados: um segura uma roda dourada, um outro uma jóia, e um outro um peso de diamantes. Quando ele levanta o peso e o aponta para o elefante, este último anda poucos passos imediatamente. O elefante não pisa no chão, mas paira no ar a três metros acima da terra, e, contudo o elefante deixa no chão suas pegadas, que são completamente perfeitas, marcando o eixo da roda com mil raios. De cada (marca do) cubo da roda cresce uma grande flor de lótus, na qual o elefante transformado aparece. Este elefante também tem sete pernas e caminha depois do grande elefante. Cada vez que o elefante transformado levanta e abaixa suas pernas, sete mil elefantes aparecem, todos seguindo o grande elefante como seu séqüito. Na tromba do elefante, tendo a cor de urna flor de lótus vermelha, há um buda transformado que emite um raio de suas sobrancelhas. Este raio de luz, como mencionado anteriormente, entra na tromba do elefante; o raio emana da tromba do elefante e entra no seu olho: o raio então emana dos olhos do elefante e novamente entra nos seus ouvidos: então emana dos ouvidos do elefante e alcança sua cabeça. Gradualmente subindo para as costas do elefante, o raio é transformado numa sela dourada que está adornada com os sete preciosos. Nos quatro lados da sela estão pilares dos sete preciosos, que estão decorados com coisas preciosas, formando um pedestal de jóias. Neste pedestal há um estame de flor de lótus portando os sete preciosos, e este estame está também composto de cem jóias. A taça daquela flor de lótus é feita de uma grande jóia.

2 Arrogância. inveja e cobiça.

3 Sugerindo a pureza dos seis órgãos dos sentidos: olho, ouvido, nariz, língua. corpo e mente.

4 Sugerindo a ausência dos sete males: matar, roubar, cometer adultério, mentir, falar mal de outros.

5 linguajar impróprio, e tendo língua dupla.

O Sutra do Bodhisattva Mérito Universal (parte 2)

Guilherme Chiamulera criou o documento: "O Sutra do Bodhisattva Mérito Universal (parte 2)":

‘O Bodhisattva Virtude Universal é sem limites no tamanho de seu corpo, sem limites no som de sua voz, e sem limites na forma de sua imagem. Desejando vir a este mundo, ele faz uso de seus poderes transcendentes livres e diminui sua estatura a um pequeno tamanho (de um ser humano). Porque as pessoas no Jambudvipa têm os três obstáculos pesados2, com seu poder de sabedoria ele aparece transformado como montado num elefante branco. O elefante tem seis presas3 e, com suas sete pernas4, sustenta seu corpo no chão. Sob suas sete pernas sete flores de lótus crescem. O elefante é tão branco quanto a neve, a mais brilhante de todas tonalidades de branco, tão puro que mesmo o cristal e as Montanhas do Himalaya não podem ser comparados com ele. O corpo do elefante é de quatrocentos e cinqüenta yojanas de comprimento e quatrocentas yojanas de altura. No fim de suas seis presas existem seis piscinas de banho. Em cada piscina de banho crescem flores de lótus exatamente do tamanho das piscinas. As flores estão completamente desabrochadas como o rei das árvores celestes. Em cada urna destas flores está uma filha preciosa cujo semblante é vermelho como carmesim e cuja radiância supera aquela das ninfas. Na mão daquela filha aparecem, transformadas por si mesmas, cinco harpas e cada uma tem quinhentos instrumentos musicais como acompanhamento. Existem quinhentos pássaros incluindo patos, gansos selvagens, e patos mandarins, todos tendo a cor de coisas preciosas, surgindo entre as flores e folhas. Na tromba do elefante há uma flor, e seu caule é da cor de uma pérola vermelha. Aquela flor dourada ainda é um broto e não desabrochou. Tendo terminado de perceber esta questão, se a pessoa novamente se arrepender dos seus pecados, meditar no Grande Veículo atentamente com devoção completa, e ponderar esta questão em sua mente incessantemente, ele será capaz de ver a flor instantaneamente desabrochar e abrir com uma cor dourada. A taça da flor de lótus é uma taça de gemas kimsuka com maravilhosas jóias Brahma, e os estames são de diamante. Um buda transformado5 é visto sentado nos estames da flor de lótus. Das sobrancelhas do buda transformado um raio de luz é enviado e entra na tromba do elefante. Este raio, tendo a cor de uma flor de lótus vermelha, emana da tromba do elefante e entre em seus olhos; o raio então emana dos olhos do elefante entra em seus ouvidos; então emana dos ouvidos do elefante, ilumina sua cabeça e muda para uma taça dourada. Na cabeça do elefante existem três homens transformados: um segura uma roda dourada, um outro uma jóia, e um outro um peso de diamantes. Quando ele levanta o peso e o aponta para o elefante, este último anda poucos passos imediatamente. O elefante não pisa no chão, mas paira no ar a três metros acima da terra, e, contudo o elefante deixa no chão suas pegadas, que são completamente perfeitas, marcando o eixo da roda com mil raios. De cada (marca do) cubo da roda cresce uma grande flor de lótus, na qual o elefante transformado aparece. Este elefante também tem sete pernas e caminha depois do grande elefante. Cada vez que o elefante transformado levanta e abaixa suas pernas, sete mil elefantes aparecem, todos seguindo o grande elefante como seu séqüito. Na tromba do elefante, tendo a cor de urna flor de lótus vermelha, há um buda transformado que emite um raio de suas sobrancelhas. Este raio de luz, como mencionado anteriormente, entra na tromba do elefante; o raio emana da tromba do elefante e entra no seu olho: o raio então emana dos olhos do elefante e novamente entra nos seus ouvidos: então emana dos ouvidos do elefante e alcança sua cabeça. Gradualmente subindo para as costas do elefante, o raio é transformado numa sela dourada que está adornada com os sete preciosos. Nos quatro lados da sela estão pilares dos sete preciosos, que estão decorados com coisas preciosas, formando um pedestal de jóias. Neste pedestal há um estame de flor de lótus portando os sete preciosos, e este estame está também composto de cem jóias. A taça daquela flor de lótus é feita de uma grande jóia.

O Sutra do Bodhisattva Mérito Universal (parte 3)

O Sutra do Bodhisattva Mérito Universal (parte 3)

‘(Na taça) há um bodhisattva chamado Virtude Universal que senta de pernas cruzadas. Seu corpo puro como uma jóia branca, radia cinqüenta raios de cinqüenta diferentes cores, formando um brilho ao redor de sua cabeça. Dos poros no seu corpo ele emite raios de luz e inúmeros budas transformados estão no fim dos raios, acompanhados pelos bodhisattvas transformados como seus séqüitos.

O elefante caminha suavemente e vagarosamente, e vai adiante do seguidor (do Grande Veículo), fazendo chover grandes flores de lótus de jóias. Quando este elefante abre sua boca, as filhas preciosas, morando nas piscinas de banho nas presas do elefante, tocam música cujo som é místico e exalta o caminho da realidade única no Grande Veículo. Tendo visto (esta maravilha), o seguidor se alegra e reverencia, novamente e lê mais ainda e recita os sutras profundos, saúda universalmente os inúmeros budas em todas as direções, faz obediência à stupa do Buda Tesouros Abundantes e ao Buda Sakyamuni, e saúda Virtude Universal e todos os outros grandes bodhisattvas. Então o seguidor faz esta promessa: ‘Tivesse eu (recebido) algumas benções através de meus destinos prévios, certamente eu poderia ver Virtude Universal 6. Por lavor, honrado Fortuna Universal, me apresente seu corpo e forma!”

Tendo assim feito esta promessa, o seguidor deve saudar os budas em todas as direções seis vezes 7 dia e noite, e deve praticar a lei do arrependimento: ele deve ler os sutras do Grande Veículo e os recitar, pensar no significado do Grande Veículo e refletir sobre sua prática, reverenciar e servir aqueles que o mantém, ver todas as pessoas como se estivesse pensando no Buda, e tratar todos os seres vivos como se estivesse pensando em seu pai e mãe. Quando ele termina de refletir nisto, o Bodhisattva Virtude Universal imediatamente enviará um raio de luz do círculo de cabelo branco, o sinal de uma grande figura, entre suas sobrancelhas. Quando este raio é mostrado, o corpo do Bodhisattva Virtude Universal estará dignificado como uma montanha de ouro profundo, tão bem ordenado e refinado que possui todos os trinta e dois sinais. Dos poros de seu corpo ele emitirá grandes raios de luz que iluminarão o grande elefante e mudará sua cor para dourado. Todos os elefantes transformados também estarão coloridos de ouro. Quando estes raios de luz brilharem nos inumeráveis mundos no quadrante do leste, eles todos alterarão suas cores para dourado. Assim, também, nos quadrantes sul, oeste e norte, nas quatro direções intermediárias, no zênite e no nadir.

Então em cada quadrante em todas as direções há um bodhisattva que, montando elefante rei branco de seis presas, é exatamente igual a Virtude Universal. Assim, com seus poderes transcendentes, o Bodhisattva Virtude Universal permitirá que todos os que mantém os sutras do Grande Veículo a ver elefantes transformados enchendo os infinitos e sem limites (mundos) em todas as direções. Neste momento o praticante se alegrará em corpo e mente, vendo todos os bodhisattvas, e os saudará, dizendo:

“Grandes misericordiosos e grandes compassivos! Por compaixão por mim, todos os bodhisattvas e outros em uníssono cada qual explicará a Lei pura do sutras do Grande Veículo e o elogiará em vários versos. Este é chamado o primeiro estágio mental, no qual praticantes primeiramente meditam sobre o Bodhisattva Virtude Universal.

“Com isto, quando o praticante, tendo constatado esta questão, mantém o Grande veículo em mente sem o perder de vista dia e noite, mesmo enquanto dormindo, ele será capaz de ver Virtude Universal pregar a Lei a si num sonho. Exatamente como se (o praticante) estivesse acordado, (o Bodhisattva) o consolará e pacificará a mente do praticante, lhe falando assim: ‘Nos sutras que você recitou e manteve, você esta palavra ou perdeu este verso’. Então o praticante, ouvindo Virtude Universal pregar a Lei profunda, compreenderá o seu significado e o manterá na memória sem esquecer. Como ele faz isto diariamente, sua mente aos poucos adquirirá lucro espiritual. O Bodhisattva Virtude Universal fará com que o praticante lembre-se dos budas em todas as direções. De acordo com o ensinamento de Virtude Universal, o praticante pensará corretamente e se lembrará de tudo, e seus olhos espirituais aos poucos verão os budas do leste, cujos corpos são de cor dourada e muito maravilhosos em suas majestades. Tendo visto um buda, ele novamente verá um outro buda. Desta forma, ele aos poucos verá todos os budas por toda parte no quadrante do leste, e por causa de sua reflexão lucrativa, ele universalmente verá todos os budas em todas as direções.

“Tendo visto os budas, ele concebe alegria em seu coração e pronuncia estas palavras:

‘Por intermédio do Grande veículo, eu também fui capaz de ver os budas. Por intermédio de seus poderes, também fui capaz de ver os budas. Apesar de ter visto estes budas, contudo deixei de fazê-los evidentes. Fechaiido meus olhos eu vi estes budas, mas quando estou com os olhos abertos eu os perco (de vista). Depois de falar assim, o praticante deve universalmente fazer obediência, prostrando-se até o chão em direção aos budas em todas as direções. Tendo feito obediência a eles, ele dcv ajoelhar de mãos postas e deve falar assim: ‘Os budas, os honrados pelo mundo, possuem os dez poderes, os destemores, as dezoito características únicas, a grande compaixão, a grande misericórdia, e os três tipos de estabilidade na contemplação8. Estes budas, para sempre permanecendo neste mundo, tem a melhor aparência de todas as formas. Por qual pecado eu estou deixando de ver estes budas?’

O Sutra do Bodhisattva Mérito Universal (parte 4)

Guilherme Chiamulera criou o documento: "O Sutra do Bodhisattva Mérito Universal (parte 4)":

“Tendo falado assim, o praticante deve novamente praticar o arrependimento. Quando ele alcançou a pureza de seu arrependimento, o Bodhisattva Virtude Universal novamente aparecerá diante dele e não deixará mais o seu lado ao andar, ficar de pé, sentar, e deitar e mesmo em seus sonhos incessantemente pregará a Lei para ele. Depois de acordar de seus sonhos, esta pessoa se alegrará na Lei. Desta forma, depois de três vezes sete dias e noites se decorrerem, ele com isto adquirirá o dharani da revolução.

Através de adquirir o dharani, ele manterá em sua memória sem perdê-la a Lei maravilhosa a qual os budas e bodhisatttvas ensinaram. Em seus sonhos, ele também constantemente verá os Sete Budas do passado, entre os quais somente o Buda Sakyamuni lhe pregará a Lei. Estes honrados pelo mundo cada qual elogiará os sutras do Grande veículo. Naquele momento o praticante novamente se alegrará e universalmente saudará os budas em todas as direções. Depois que ele saudar os budas em todas as direções, o Bodhisattva Virtude Universal, permanecendo diante dele, o ensinará e explicará todos os karmas e ambientes de suas vidas prévias, e o fará confessar seus pecados negros e maus. Voltando-se para os honrados pelo mundo, ele deve confessar (seus pecados) com sua própria boca.

Depois que ele terminar de confessar (seus pecados), então ele atingirá a contemplação da revelação dos budas para os homens9. Tendo atingido esta contemplação, ele diretamente e claramente verá o Buda Akshobhya e o Reino da Alegria Maravilhosa no quadrante do leste. Desta maneira ele diretamente e claramente verá as terras místicas dos budas em cada urna de todas as direções. Depois que ele viu os budas em todas as direções, ele terá um sonho: na cabeça do elefante está uma pessoa de diamante apontando seu indicador de diamante para os seis órgãos; depois de apontar para os seis órgãos, o Bodhisattva Virtude Universal pregará para o praticante a lei do arrependimento para obter a pureza dos seis órgãos. Desta forma o praticante fará arrependimento durante um dia ou três vezes sete dias. (Então) pelo poder da contemplação da revelação dos Budas para os homens e pelo adorno da pregação do Bodhisattva Virtude Universal, os ouvidos do praticante aos poucos ouvirão sons sem impedimento, seus olhos aos poucos verão coisas sem impedimentos, e seu nariz aos poucos perceberá os odores sem impedimento. Isto é como está pregado extensamente no Sutra do Lótus Branco da Lei Maravilhosa. Tendo obtido a pureza dos seis órgãos, ele terá alegria do corpo e mente e liberdade de idéias más, e se dedicará a esta Lei de forma que possa se conformar a ela. Ele novamente adquirirá cem mil miríades kotis de dharani de revoluções e novamente verá extensivamente cem mil miríades de kotis de inumeráveis budas. Estes honrados pelo mundo todos estenderão suas mãos direitas, as colocando na cabeça do praticante e falarão assim: ‘Bom! Bom! Você é um praticante do Grande veículo, um aspirante ao espírito do grande adorno, e uma pessoa que mantém o Grande veículo em sua mente. Quando antigamente aspirávamos ao budado, também éramos como vocês. Sejam zelosos e não percam o Grande veículo! Porque o praticávamos em vidas previas, agora nos tornamos o corpo puro do Todo Sábio. Vocês sejam diligentes e não preguiçosos! Estes sutras do Grande veículo são o tesouro-da-Lei dos budas, os olhos dos budas de todas as direções no passado, presente e futuro, e também a semente que produz os tathagatas no passado, presente e futuro. Aquele que mantém estes sutras tem o corpo de um buda e faz o trabalho de um buda; saiba que um tal é o apóstolo enviado pelos budas; um tal está coberto com os mantos do buda, os honrados pelo mundo; um tal é um verdadeiro herdeiro da Lei dos budas, os tathagatas. Pratiquem o Grande veículo e não cortem fora as sementes-da-Lei! Agora atentamente prestem atenção nos budas no quadrante leste!’

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Os Cinco Treinamentos de Plena Atenção - Quinto treinamento – Consumo Consciente

Os Cinco Treinamentos de Plena Atenção - Quinto treinamento – Consumo Consciente

Consciente do sofrimento causado pelo consumo irresponsável, eu me comprometo a cultivar a boa saúde, tanto física quanto mental, para mim, minha família e minha sociedade, praticando a alimentação, a ingestão de líquidos e o consumo com a mente alerta. Somente ingerirei itens que preservem a paz, o bem-estar e a alegria no meu corpo, na minha consciência e no corpo coletivo e na consciência da minha família e da sociedade. Estou determinado a não usar álcool, ou qualquer outro tóxico ou consumir alimentos e outros itens que contenham toxinas, como certos programas de TV, revistas, livros, filmes e conversas. Estou consciente de que. prejudicar meu corpo ou minha consciência com esses venenos é trair meus ancestrais, meus pais, minha sociedade e as gerações futuras. Trabalharei para transformar a violência, o medo, a ira e a confusão que existem dentro de mim e na sociedade, mediante uma dieta para mim mesmo e para a sociedade. Entendo que uma dieta apropriada seja crucial para a auto transformação e para a transformação da sociedade.

Quando tomamos um banho ou uma chuveirada, podemos olhar para o nosso corpo e ver que ele foi um presente dos nossos pais e dos pais deles. Ainda que muitos não queiram ter grande ligação com seus pais - estes podem ter-lhes causado muito dano -, quando se olha profundamente é impossível não ver certa identificação com eles. À medida que lavamos cada parte do nosso corpo, podemos perguntar a nós mesmos: "A quem pertence este corpo? Quem me transmitiu este corpo? O que foi transmitido?" Meditando desta forma, descobriremos que há três componentes: o transmissor, aquilo que é transmitido e aquele que recebe a transmissão. O transmissor são nossos pais. Nós somos a continuação de nossos pais e de seus ancestrais. O objeto da transmissão é o nosso próprio corpo. E aquele que recebe a transmissão somos nós.

Se continuarmos a meditar sobre isso, veremos claramente que o transmissor, o objeto transmitido e o receptor são uma coisa só. Todos os três estão presentes no nosso corpo. Quando estamos profundamente em contato com o momento presente, podemos ver que todos os nossos ancestrais e todas as gerações futuras estão presentes em nós. Vendo isto, saberemos o que fazer e o que não fazer - para nós mesmos, pelos nossos ancestrais, pelos nossos filhos e pelos filhos destes.

Quando você olha para seu pai, provavelmente não vê de imediato que você e seu pai são um só. Você pode estar zangado com ele por muitas razões. Mas no momento em que você o compreende e ama, você percebe o vazio da transmissão. Percebe que amar a você mesmo é amar seu pai, e que amar seu pai é amar a você mesmo. Manter seu corpo e sua consciência saudáveis é fazê-lo por seus ancestrais, por seus pais e pelas gerações futuras. Você faz isso pela sua sociedade e por todos, não apenas por você mesmo. A primeira coisa que você deve ter em mente é que você não está praticando isto como uma entidade separada. Tudo quanto você ingerir, você o está ingerindo por todos. Todos os seus ancestrais e todas as gerações futuras estão ingerindo isto com você. Este é o verdadeiro significado do vazio da transmissão. O quinto treinamento para a mente alerta deveria ser praticado neste espírito.

Existem pessoas que bebem álcool e ficam embriagadas, que destroem seus corpos, suas famílias, sua sociedade. Elas deveriam abster-se de beber. Mas você que tem bebido uma taça de vinho toda semana pelos últimos trinta anos sem causar nenhum mal a você mesmo, por que deveria parar com isso? Qual é a utilidade de praticar este treinamento para a mente alerta se a ingestão de álcool não prejudica a você nem a outras pessoas? Apesar de você não ter se prejudicado durante os últimos trinta anos por beber apenas uma ou duas taças de vinho por semana, a verdade é que isto pode ter um efeito sobre seus filhos, seus netos e sua sociedade. Basta observar profundamente para constatá-lo. Você não está praticando para você sozinho, mas para todo mundo. Seus filhos podem ter uma propensão ao alcoolismo e, vendo você beber vinho toda semana, um deles pode tornar-se um alcoólatra no futuro. Se você abandonar suas duas taças de vinho, isto significa mostrar a seus filhos, a seus amigos e à sua sociedade que sua vida não é apenas para você próprio. Sua vida é para seus ancestrais, para as gerações futuras e também para sua sociedade.

Parar de beber duas taças de vinho por semana é uma prática muito profunda, mesmo que este costume não tenha trazido nenhum dano a você. Este é o discernimento de um bodhisattva, que sabe que tudo o que faz é feito para todos os seus ancestrais e para as gerações futuras. O vazio da transmissão é a base do quinto treinamento para a mente alerta. O uso de drogas por tantos jovens também deveria acabar através desse modo de pensar.

Na vida moderna, as pessoas pensam que seus corpos pertencem a elas mesmas e que podem fazer o que quiserem com ele. "Temos o direito de viver nossa própria vida." Quando você faz tal declaração, a lei apóia você. Esta é uma das manifestações do individualismo. Porém, de acordo com o ensinamento do vazio, seu corpo não é seu. Seu corpo pertence a seus ancestrais, a seus pais e às gerações futuras. Ele também pertence à sociedade e a todos os outros seres vivos. Todos eles se uniram para concretizar a presença deste corpo - as árvores, as nuvens, tudo. Manter seu corpo saudável é expressar gratidão a todo o cosmos e a todos os seus ancestrais, e é também não trair as gerações futuras. Praticamos este treinamento para a mente alerta para o cosmos inteiro, para a sociedade inteira. Se formos saudáveis, todos podem beneficiar-se disso - não apenas todos na sociedade de homens e mulheres, mas todos na sociedade de animais, plantas e minerais. Isto é o treinamento para a mente alerta do bodhisattva. Quando praticamos os cinco treinamentos para a mente alerta já estamos no caminho de um bodhisattva.

Quando somos capazes de sair da concha de nosso pequeno eu e ver que estamos inter-relacionados com todos e com tudo, observamos que cada ato nosso está ligado com a humanidade inteira, com o cosmos inteiro. Manter-se com saúde é ser gentil com seus ancestrais, com seus pais, com as gerações futuras e também com a sua sociedade. Saúde não é só a saúde corporal, mas também a saúde mental. O quinto treinamento para a mente alerta refere-se à saúde e à cura.

Consciente do sofrimento causado pelo consumo irresponsável, eu me comprometo a cultivar a boa saúde, tanto física quanto mental, para mim, minha família e minha sociedade. Pelo fato de você não estar fazendo isto só para você mesmo, o parar de beber uma ou duas taças de vinho por semana é verdadeiramente um ato de bodhisattva. Você faz isto por todos. Em uma festa, quando alguém lhe oferece uma taça de vinho, você pode sorrir e recusar: "Não, obrigado. Eu não bebo álcool. Eu agradeceria se me trouxesse um copo de suco ou água." Faça isto com gentileza, com um sorriso. É muito ilustrativo. Você dá um exemplo para muitos amigos, incluindo muitas crianças que estiverem presentes. Apesar de se poder fazer isto de maneira educada e discreta, é verdadeiramente o ato de um bodhisattva, dando exemplo com sua própria vida.

Tudo que a mãe come, bebe, teme e tudo aquilo com que ela se preocupa terá efeito sobre o feto dentro dela. Mesmo quando o filho que ela carrega ainda é minúsculo, tudo está contido nele. Se a mãe não tiver consciência do interser, ela pode causar dano tanto a ela quanto à criança. Se beber álcool, vai destruir, até certo ponto, as células do cérebro de seu feto. Pesquisas modernas provaram isto.

O objeto deste treinamento para a mente alerta é o consumo responsável. Somos o que consumimos. Se olharmos profundamente para os itens que consumimos todo dia, iremos conhecer muito bem nossa natureza. Temos de comer, beber, consumir, mas se o fizermos sem a mente alerta, podemos destruir nossos corpos e a nossa consciência, mostrando ingratidão para com nossos ancestrais, pais e gerações futuras.

Quando comemos com mente alerta, estamos em estreito contato com o alimento. O alimento que comemos nos vem da natureza, dos seres vivos e do cosmos. Tocá-lo com a mente alerta é mostrar nossa gratidão. Comer com mente alerta pode ser uma grande alegria. Pegamos nossa comida com nosso garfo, olhamos para ela por um segundo antes de colocá-la na boca e então a mastigamos cuidadosa e conscientemente, pelo menos cinqüenta vezes. Se praticarmos isto, estaremos em contato com o cosmos inteiro.

Estar em contato também significa saber se há toxinas no alimento. Podemos distinguir um alimento saudável de um não saudável, graças à nossa mente alerta. Antes de comer, os membros de uma família podem praticar a inspiração e a expiração, olhando para a comida na mesa. Você pode pronunciar o nome de cada prato: "batatas", "salada" e assim por diante. Chamar alguma coisa pelo nome nos ajuda a entrar em contato profundo com ela e ver sua verdadeira natureza. Ao mesmo tempo, a mente alerta nos revela a presença ou ausência de toxinas em cada prato. As crianças adoram fazer isso, se mostrarmos a elas como fazê-lo. O comer consciente é uma boa educação. Se você praticar isto por algum tempo, verá que vai comer mais cuidadosamente, e a sua prática de comer conscientemente será um exemplo para os outros. É uma arte comer de tal forma que isto contribua para a mente alerta em sua vida.

Podemos ter uma dieta cuidadosa para o nosso corpo e podemos também ter uma dieta cuidadosa para nossa consciência, nossa saúde mental. Precisamos abster-nos de ingerir os tipos de "alimento" intelectual que trazem toxinas para a nossa consciência. Alguns programas de TV, por exemplo, nos educam e nos ajudam a levar uma vida mais saudável; devemos reservar algum tempo para assistir a programas como esses. Mas outros programas nos trazem toxinas; precisamos abster-nos de assistir a eles. Esta pode ser uma prática para todos os membros da família.

Sabemos que fumar cigarros não é bom para nossa saúde. Foi um trabalho árduo conseguir que os fabricantes fossem obrigados a colocar uma advertência no maço de cigarros: O cigarro pode ser prejudicial à sua saúde. Esta é uma frase contundente, mas foi necessária, porque os anúncios para promover o fumo são muito convincentes. Eles dão aos jovens a idéia de que, se não fumarem, não estão de fato vivendo intensamente.

Estes anúncios ligam o fumo à natureza, à primavera, a carros de luxo, a mulheres e homens bonitos e a altos padrões de vida. Podem induzir alguém a acreditar que, se não fumar ou não beber álcool, não terá nenhuma felicidade em sua vida. Este tipo de anúncio é perigoso; ele penetra em nosso subconsciente. Há tantas coisas maravilhosas e saudáveis para comer e beber.

Temos de mostrar como esse tipo de propaganda engana as pessoas. A advertência nos maços de cigarro não é suficiente. Devemos fazer mais: escrever artigos e promover campanhas contra o fumo e a bebida alcoólica. Estamos indo na direção certa. Agora já é possível pelo menos viajar de avião sem sofrer com a fumaça do cigarro. Temos de fazer mais esforços nesta linha.

Sei que beber vinho é uma tradição arraigada na cultura ocidental. Na cerimônia da Eucaristia e no seder da Páscoa, o vinho é um elemento importante. Mas eu tenho falado com padres e rabinos sobre isto, e eles me disseram que é possível substituir o vinho por suco de uva. Mesmo que nós não bebamos nada, podemos ser mortos na rua por um motorista bêbado. Convencer uma pessoa a não beber é tornar o mundo mais seguro para nós todos.

Às vezes não precisamos comer ou beber tanto como costumamos, mas isto se tornou uma espécie de vício. Nós nos sentimos muito sozinhos. A solidão é um dos tormentos da vida moderna. É semelhante ao terceiro e ao quarto treinamentos para a mente alerta - nós nos sentimos sozinhos, então nos engajamos numa conversa, ou mesmo numa relação sexual, esperando que o sentimento de solidão vá embora. Beber e comer também podem ser o resultado da solidão. Você quer comer ou se empanturrar para esquecer a solidão, mas o que você come pode trazer toxinas para o seu corpo. Quando você está sozinho, você abre a geladeira, vê TV, lê revistas ou romances ou pega o telefone e conversa. Mas o consumo sem consciência sempre piora as coisas.

Um filme pode conter muita violência, ódio e medo. Se passarmos uma hora assistindo a esse filme, vamos regar as sementes da violência, do ódio e do medo dentro de nós. Nós fazemos isso e deixamos que nossos filhos o façam também. Deveríamos fazer uma reunião familiar e discutir uma política inteligente sobre o assistir à televisão. Talvez devêssemos escrever em nossos aparelhos de TV o mesmo que está escrito nos maços de cigarros: Assistir à televisão pode ser prejudicial à sua saúde. Esta é a verdade. Algumas crianças entraram para gangues e muitas são muito violentas, em parte porque viram muita violência na televisão. Devemos ter uma política inteligente no que diz respeito ao uso da televisão em nossa família.

Deveríamos esquematizar nossos horários para que nossa família tivesse tempo de se beneficiar dos muitos programas saudáveis e belos na TV. Não precisamos destruir nosso aparelho de TV; apenas temos de usá-lo com sabedoria e mente alerta. Isto pode ser discutido em família e em comunidade. Há várias coisas que podemos fazer como, por exemplo, pedir às emissoras de TV que coloquem no ar uma programação mais saudável, ou sugerir aos fabricantes que coloquem à venda televisores que só peguem os canais que apresentam programas saudáveis e educacionais.(...)

Por sermos solitários, queremos conversar, mas nossas conversas também podem suscitar muitas toxinas. De tempos em tempos, depois de falar com alguém, sentimo-nos como que paralisados pelo que acabamos de ouvir. A mente alerta nos ajudará a eliminar o tipo de conversa que nos traz mais toxinas.

Os psicoterapeutas são aqueles que escutam profundamente os sofrimentos de seus clientes. Se eles não sabem como fazer para neutralizar e transformar a dor e o pesar neles mesmos, não serão capazes de se manter dispostos e saudáveis por longo tempo. O exercício que proponho tem três pontos: Primeiro, olhe profundamente para seu corpo e para sua consciência e identifique os tipos de toxina que já estão em você. Cada um de nós tem de ser seu próprio médico, não apenas para o corpo, mas também para a mente. Depois de identificarmos as toxinas, podemos tentar expeli-las. Um modo de fazê-lo é beber muita água. Outro é a massagem: fazer o sangue chegar aonde estão as toxinas, a fim de que possa levá-las embora. Um terceiro método é inspirar profundamente ar fresco e puro. Isto leva mais oxigênio ao sangue e ajuda a expelir as toxinas de nosso corpo. Existem mecanismos no nosso corpo que tentam neutralizar e expelir essas substâncias, mas nosso corpo pode estar muito fraco para fazer o trabalho sozinho.

Enquanto fazemos estas coisas devemos parar de ingerir mais toxinas. Ao mesmo tempo que realizamos as práticas acima, examinamos nossa consciência para ver que tipos de toxinas já estão lá. Temos muita raiva, desespero, medo, ódio, ânsias e ciúmes - todas estas coisas o Buda as descreveu como venenos. O Buda falou dos três venenos básicos, designando-os como raiva, ódio e ilusão. Há muitos outros além destes, e temos de reconhecer a presença deles em nós. Nossa felicidade depende de nossa capacidade de transformá-los. Não pratica-mos os exercícios e por isso fomos levados por nosso estilo de vida irresponsável. A qualidade da nossa vida depende muito da quantidade de paz e alegria que pode ser encontrada em nosso corpo e em nossa consciência. Se houver muitos venenos em nosso corpo e na nossa consciência, a paz e a alegria em nós não serão fortes o suficiente para nos fazer felizes. Portanto, o primeiro passo é identificar e reconhecer os venenos que já estão em nós.

O segundo passo da prática é estar plenamente conscientes do que nosso corpo e nossa consciência estão ingerindo. Que espécies de toxinas estou colocando em meu corpo hoje? A que filmes estou assistindo hoje? Que livro estou lendo? Que revista estou olhando? Que tipos de conversa estou tendo? Tente reconhecer as toxinas.

(Do livro “Os cinco treinamentos para a mente alerta” – Thich Nhat Hanh)

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Os Cinco Treinamentos de Plena Atenção - Quarto treinamento – Escuta Profunda e Fala Amável

Os Cinco Treinamentos de Plena Atenção - Quarto treinamento – Escuta Profunda e Fala Amável

Consciente do sofrimento causado por palavras descuidadas e pela incapacidade de ouvir os outros, eu me comprometo a cultivar a fala amável e a escuta profunda para levar alegria e felicidade aos outros e aliviá-los em seu sofrimento. Estou determinado a falar a verdade, com palavras que inspirem autoconfiança, alegria e esperança. Não divulgarei notícias que não tenham fundamento seguro nem criticarei ou condenarei aquilo de que não tenho certeza. Evitarei pronunciar palavras que possam causar divisão ou discórdia, que possam desagregar a família ou a comunidade. Estou determinado a fazer todos os esforços possíveis para reconciliar e resolver todos os conflitos, por menores que sejam.

Existe um ditado vietnamita que diz: "Não custa nada ser amável ao falar". Basta escolher com cuidado nossas palavras, e podemos fazer as outras pessoas felizes. Usar as palavras conscientemente, com amabilidade, é praticar a generosidade. Por isso este treinamento está diretamente ligado ao segundo treinamento para a mente alerta. Podemos fazer muitas pessoas felizes, praticando tão somente o modo de falar amável. Novamente vemos o caráter de interser dos cinco treinamentos para a mente alerta.

Muitas pessoas acham que só serão capazes de praticar a generosidade depois que acumularem uma pequena fortuna. Conheço jovens que sonham em ficar ricos para poderem levar a felicidade aos outros: "Quero ter o título de doutor ou ser presidente de uma grande empresa para ganhar muito dinheiro e ajudar muitas pessoas". Eles não percebem que normalmente é mais difícil praticar a generosidade depois de ficar rico. Se você é motivado pela gentileza amorosa e pela compaixão, há muitas formas de levar a felicidade aos outros agora mesmo, começando pela maneira amável de falar. O seu modo de falar com os outros pode dar a eles alegria, felicidade, autoconfiança, esperança, lealdade e iluminação. O modo de falar consciente é uma prática profunda.

Avalokitesvara Bodhisattva é uma pessoa que aprendeu a arte de escutar e falar profundamente para ajudar as pessoas a se livrarem de seu medo, miséria e desespero. Ele é o modelo desta prática, e a porta que ele abre é chamada "porta universal." Se praticarmos o escutar e o falar de acordo com Avalokitesvara, também nós seremos capazes de abrir a porta universal e levar alegria, paz e felicidade a muitas pessoas e aliviar seu sofrimento. (...)

Durante a época do Buda, o objetivo da prática de muitas pessoas era nascer e viver junto com Brahma. Era semelhante à prática cristã de querer ir para o céu, para estar com Deus. "Na casa de meu Pai há muitas moradas", e você quer viver numa dessas moradas. Para aqueles que queriam estar com Brahma, o Buda disse: "Pratique as quatro nobres moradas: amor, compaixão, alegria e equanimidade." Se quisermos compartilhar o ensinamento do Buda com nossos amigos cristãos, o conteúdo é o mesmo: "Deus é amor, compaixão, alegria e imparcialidade." Se você quer estar com Deus, pratique estas quatro moradas. Se não as praticar, por mais que ore ou fale sobre estar com Deus, não será possível ir para o céu. (...)

Por viver uma vida consciente, sempre contemplando o mundo, e por ser o observador do mundo, Avalokitesvara presencia muito sofrimento. Ele sabe que muito sofrimento nasce da fala descuidada e da incapacidade de escutar os. outros; portanto ele pratica a fala consciente e amável e a escuta profunda. Avalokitesvara pode ser descrito como aquele que nos ensina a melhor forma de praticar o quarto treinamento para a mente alerta.

"Consciente do sofrimento causado por palavras descuidadas e pela incapacidade de ouvir os outros, eu me comprometo a cultivar a fala amável e a escuta profunda para levar alegria e felicidade aos outros e aliviá-los em seu sofrimento." Esta é exatamente a porta universal praticada por Avalokitesvara.

Nunca na história da humanidade tivemos tantos meios de comunicação - televisão, telecomunicações, telefones, aparelhos de fax, rádios sem fio, hot lines e red lines - mas ainda permanecemos como ilhas. Há tão pouca comunicação entre os membros de uma família, entre os indivíduos na sociedade e entre as nações. Sofremos de tantas guerras e conflitos. Certamente não cultivamos a arte da escuta e da fala. Não sabemos como escutar um ao outro. Temos pouca capacidade de manter uma conversa inteligente ou significativa. A porta universal da comunicação deve ser aberta novamente. Quando não podemos nos comunicar, ficamos doentes e, à medida que nossa doença aumenta, sofremos, e nosso sofrimento contagia outras pessoas. Contratamos os serviços de psicoterapeutas para escutar nosso sofrimento, mas, se eles não praticarem a porta universal, não serão bem sucedidos. Os psicoterapeutas são seres humanos sujeitos ao sofrimento como todos nós. Podem ter problemas com seu cônjuge, filhos, amigos e com a sociedade. Eles também têm bloqueios internos. Talvez tenham muito sofrimento que não pode ser partilhado nem mesmo com a pessoa mais amada de sua vida. Como podem ficar sentados, ouvir e compreender o nosso sofrimento? Os psicoterapeutas têm de praticar a porta universal, o quarto treinamento para a mente alerta - escutar com atenção e falar com muito cuidado.

Se não olharmos profundamente para dentro de nós mesmos, essa prática não será fácil. Se houver muito sofrimento dentro de você, é difícil escutar as outras pessoas ou dizer-lhes coisas belas e agradáveis. Primeiro você tem de olhar profundamente para a natureza da sua raiva, de seu desespero e do seu sofrimento, a fim de se libertar e disponibilizar para os outros.

Suponhamos que seu marido tenha dito algo rude na segunda-feira, que a magoou muito. Ele usou uma linguagem descuidada e não tem capacidade de escutar. Se você responde na mesma hora, a partir de sua raiva e do seu sofrimento, você se arrisca a magoá-lo também e a tornar seu sofrimento ainda mais profundo. O que você deve fazer? Se você passar por cima da sua raiva ou permanecer em silêncio, isto pode machucá-la, porque, se você tentar passar por cima da raiva que está dentro de você, estará passando por cima de você mesma. Você vai sofrer mais tarde, e seu sofrimento vai trazer mais sofrimento para o seu parceiro.

A melhor prática do momento é inspirar e expirar para acalmar sua raiva, para acalmar a dor: "Inspirando, eu sei que estou com raiva. Expirando, eu acalmo meu sentimento de raiva". Basta respirar profundamente sobre sua raiva, que você vai acalmá-la. Você está tendo plena consciência de sua raiva, não passando por cima dela. Quando estiver calma o bastante, você poderá ser capaz de usar uma linguagem bem consciente. De maneira amorosa e consciente, você pode dizer: "Querido, queria que soubesse que estou zangada. O que você disse me feriu muito, e eu quero que saiba disso". O simples fato de dizer isto consciente e calmamente vai trazer-lhe algum alívio.

Respirando conscientemente para acalmar sua raiva, você será capaz de dizer à outra pessoa que você está sofrendo. Durante esse momento você está vivendo sua raiva, lidando com ela com a energia da mente alerta. Você não está de forma alguma negando a raiva.

Quando eu falo sobre isto com psicoterapeutas, tenho certa dificuldade. Quando eu digo que a raiva nos faz sofrer, eles consideram que a raiva é algo negativo a ser removido. Mas eu sempre digo que a raiva é algo orgânico, como o amor. A raiva pode tornar-se amor. Nosso adubo pode tornar-se uma rosa. Se soubermos como cuidar do nosso adubo, podemos transformá-lo numa rosa. Devemos considerar o lixo negativo ou positivo? Ele pode ser positivo, se soubermos como lidar com ele. Com a raiva é a mesma coisa. Ela pode ser negativa, quando não sabemos como lidar com ela; mas, se soubermos como lidar com a nossa raiva, ela pode ser muito positiva. Não precisamos jogar nada fora.

Depois de inspirar e expirar certo número de vezes para recuperar sua calma, mesmo que sua raiva ainda esteja presente, você tem plena consciência dela e pode dizer à outra pessoa que você está com raiva. Também pode dizer que você gostaria de examiná-la profundamente, e gostaria que ele também a examinasse profundamente. Então vocês podem marcar uma hora na sexta-feira à noite para examiná-la juntos. Uma pessoa examinando as raízes do seu sofrimento é bom, duas pessoas examinando é melhor ainda e duas pessoas examinando juntas é a melhor opção de todas.

Eu proponho sexta à noite por duas razões. Primeira, você ainda está zangada e, se começar a discutir agora, pode ser muito arriscado. Você pode dizer coisas que vão piorar ainda mais a situação. De agora até sexta à noite você pode praticar a análise profunda da natureza da sua raiva e a outra pessoa também pode. Enquanto dirige o carro, ele pode perguntar a si mesmo: "O que houve de tão sério? Por que ela ficou tão furiosa? Deve haver uma razão". Enquanto você dirige, também terá chance de examiná-la profundamente. Antes de chegar sexta à noite, um de vocês ou ambos podem ver as raízes do problema e ser capazes de dizer tudo ao outro e pedir desculpas. Então, na sexta à noite, podem tomar um xícara de chá juntos e curtir um ao outro. Se marcarem uma hora, ambos terão tempo para se acalmar e analisar profundamente. Esta é a prática da meditação. Meditação é acalmar-nos e analisar profundamente a natureza do nosso sofrimento.

Quando chegar a noite de sexta, se o sofrimento ainda não tiver sido transformado, vocês poderão praticar a arte de Avalokitesvara. Sentam-se juntos e praticam a escuta profunda – uma pessoa fala e a outra escuta profundamente. Quando você fala, vai usar a forma mais profunda da verdade e praticar a fala amável. Somente usando esta forma de linguagem é que haverá uma chance de a outra pessoa entender e aceitar.

Ao ouvir, você sabe que é só com a escuta profunda que você vai poder aliviar o sofrimento da outra pessoa. Se você escutar sem dar ouvidos, você não consegue nada. Sua presença deve ser profunda e real. Sua escuta deve ser de boa qualidade para aliviar a outra pessoa de seu sofrimento.

Esta é a prática do quarto treinamento para a mente alerta. A segunda razão para esperar até sexta é que, se você neutraliza este sentimento na sexta à noite, vocês têm sábado e domingo para aproveitarem juntos.

(...)Se na comunidade você vir que alguém está tendo dificuldade com outro, você tem de ajudar logo. Quanto mais as coisas se arrastarem, mais difíceis serão de resolver. A melhor maneira de ajudar é praticar a fala consciente e a escuta profunda. O quarto treinamento para a mente alerta pode trazer paz, compreensão e felicidade para as pessoas. A porta universal é uma porta maravilhosa. Você vai renascer numa flor de lótus e ajudar os outros, incluindo sua família, sua comunidade e sua sociedade, a nascerem nela também.

A fala pode ser construtiva ou destrutiva. Falar com consciência plena pode trazer felicidade real; a fala sem consciência pode matar. Quando alguém nos diz alguma coisa que nos anima e alegra, este é o maior presente que nos pode dar. Às vezes, alguém nos diz alguma coisa tão cruel e aflitiva que gostaríamos de fugir e cometer suicídio; perdemos toda a esperança, toda nossa joie de vivre (alegria de viver).

As pessoas matam por causa da linguagem, do modo de falar. Quando você defende fanaticamente uma ideologia, dizendo que esta forma de pensar ou de organizar a sociedade é a melhor, e alguém se coloca no seu caminho, você tem de suprimi-lo ou eliminá-lo. Isto está muito ligado ao primeiro treinamento para a mente alerta - esse modo de falar pode matar não só uma pessoa, mas muitas. Quando você acredita em alguma coisa com força extrema, é capaz de atirar milhões de pessoas em câmaras de gás. Quando você usa a linguagem para promover uma ideologia, conclamando as pessoas a matar para proteger e promover a sua ideologia, você pode matar milhões. O primeiro e o quarto dos cinco treinamentos para a mente alerta estão interligados.

O quarto treinamento para a mente alerta também está ligado ao segundo treinamento para a mente alerta, sobre roubar. Assim como existe uma "indústria do sexo", existe uma "indústria da mentira". Muitas pessoas precisam mentir para ter sucesso como políticos ou vendedores. Um diretor de uma empresa de comunicações me disse que se lhe fosse permitido dizer a verdade sobre os produtos de sua companhia, as pessoas não os comprariam. Ele diz coisas positivas sobre os produtos, mas sabe que não correspondem à verdade; evita falar dos efeitos negativos dos produtos. Ele sabe que está mentindo e sente-se mal com isso. Muitas pessoas estão presas a situações parecidas. Também na política as pessoas mentem para angariar votos. É por isso que podemos falar de uma "indústria da mentira".

(Do livro “Os cinco treinamentos para a mente alerta” – Thich Nhat Hanh)

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Os Cinco Treinamentos de Plena Atenção - Terceiro treinamento – Verdadeiro Amor

Os Cinco Treinamentos de Plena Atenção - Terceiro treinamento – Verdadeiro Amor

Consciente do sofrimento causado pela má conduta sexual, eu me comprometo a cultivar a responsabilidade e a aprender maneiras de proteger a segurança e a integridade dos indivíduos, casais, famílias e da sociedade como um todo. Consciente de que desejo sexual não significa amor e que a atividade sexual motivada pelo desejo irá somente ferir a mim e aos outros, estou determinado a não me envolver em relações sexuais sem verdadeiro amor e sem um compromisso profundo e de longo prazo apoiado pela minha família e pelos meus amigos. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para proteger as crianças do abuso sexual e para evitar que famílias sejam desfeitas pela má conduta sexual. Percebo que corpo e mente são um só e me comprometo a aprender maneiras apropriadas de cuidar da minha energia sexual e a cultivar a bondade amorosa, a compaixão, a alegria e a inclusão, que são os quatro elementos básicos do verdadeiro amor - para minha maior felicidade e para a maior felicidade de todos. Ao praticar o verdadeiro amor, poderei prosseguir de maneira mais bela no futuro.(*)

Muitos indivíduos, crianças, casais e famílias foram destruídos pela má conduta sexual. Praticar o terceiro treinamento para a mente alerta é curar a nós mesmos e nossa sociedade. Isto é viver com mente alerta. (...)

Na tradição budista falamos da unidade do corpo e da mente. O que quer que aconteça com o corpo também acontece com a mente. A sanidade do corpo é a sanidade da mente; a violação do corpo é a violação da mente. Quando estamos zangados, podemos achar que estamos zangados em nossos sentimentos, não em nosso corpo, mas isto não é verdade. Quando amamos alguém, queremos estar perto dele ou dela fisicamente, mas quando estamos zangados com alguém, não queremos tocar ou ser tocados por essa pessoa. Não podemos dizer que corpo e mente estão separados.

Uma relação sexual é um ato de comunhão entre corpo e espírito. Este é um encontro muito importante, que não deve ser feito de maneira casual. Você sabe que em sua alma há certas áreas, memórias, dor, segredos - que são privadas, que você só compartilhará com a pessoa que você mais ama e em quem mais confia. Você não abre seu coração e o mostra a qualquer um. Na cidade imperial há uma área em que ninguém pode entrar, chamada de cidade proibida; apenas o rei e sua família têm permissão de circular por ali. Há um lugar como este na sua alma, em que você não deixa ninguém entrar, exceto aquele que você mais ama ou em quem mais confia.

O mesmo vale para nosso corpo. Nossos corpos têm áreas que não queremos que ninguém toque ou das quais ninguém se aproxime, a não ser a pessoa que mais respeitamos, que mais amamos e em que mais confiamos. Quando somos abordados de forma grosseira, sem um mínimo de consideração, sentimo-nos ultrajados em nosso corpo e em nossa alma. Alguém que nos aborda com respeito, carinho e fina educação está nos oferecendo uma comunicação profunda, uma comunhão profunda. É apenas nestes casos que não nos sentimos nem um pouco machucados, ultrajados ou violados. Não podemos conseguir isso sem que haja amor e comprometimento verdadeiros. O sexo casual não pode ser descrito como amor. O amor é profundo, bonito e completo.

O amor verdadeiro contém respeito. Na minha tradição espera-se que marido e mulher respeitem um ao outro como convidados e, quando se pratica este tipo de respeito, seu amor e sua felicidade vão durar por longo tempo. Nas relações sexuais, o respeito é um dos elementos mais importantes. A comunhão sexual deveria ser como um rito, um ritual feito com mente alerta, com grande respeito, cuidado e amor. Se você é motivado por algum tipo de desejo, isto não é amor. Desejo não é amor. O amor é algo muito mais responsável. Há solicitude nele.

Temos de restaurar o significado da palavra "amor". Estamos acostumados a usá-la de forma vulgarizada. Quando dizemos: "eu amo hambúrgueres", não estamos falando de amor. Estamos falando do nosso apetite, do nosso desejo de hambúrgueres. Não deveríamos dramatizar nosso modo de falar e usar de forma errada palavras como essas. Dessa forma enfraquecemos palavras como "amor". Temos de fazer um esforço para curar nossa linguagem, usando com cuidado as palavras. A palavra "amor" é uma palavra linda. Devemos restaurar seu significado.

Estou determinado a não me engajar em relações sexuais sem verdadeiro amor e sem um compromisso profundo e de longo prazo apoiado pela minha família e pelos meus amigos. Se a palavra "amor" é compreendida em sua forma mais profunda, por que precisamos dizer "compromisso duradouro"? Se o amor é real, não precisamos de compromissos curtos ou duradouros, ou mesmo de uma cerimônia de casamento. O amor verdadeiro inclui o senso de responsabilidade, aceitar a outra pessoa como ela é, com todas as suas forças e fraquezas. Se gostamos apenas do que há de melhor na pessoa, isto não é amor. Devemos aceitar suas fraquezas e trazer nossa paciência, compreensão e energia para ajudá-la a se transformar. O amor é maitri, a capacidade de trazer alegria e felicidade, e é karuna, a capacidade de transformar a dor e o sofrimento. Este tipo de amor só pode ser bom para as pessoas. Não pode ser descrito como negativo ou destrutivo. Ele é seguro. Ele é garantia de tudo.

Deveríamos riscar a frase "compromisso profundo e de longo prazo" ou mudá-la para "compromisso breve"? "Compromisso breve" quer dizer que podemos ficar juntos alguns dias e depois disso o relacionamento acaba. Isto não pode ser descrito como amor. Se temos este tipo de relacionamento com outra pessoa, não podemos dizer que esta relação brota do amor e da solicitude. A expressão "compromisso profundo e de longo prazo" ajuda as pessoas a entender a palavra amor. No contexto do amor real, o compromisso só pode ser duradouro. "Eu quero amá-lo. Quero ajudá-lo. Quero cuidar de você. Quero que você seja feliz. Quero trabalhar pela felicidade. Mas apenas por alguns dias." Isto faz sentido?

Você tem medo de se comprometer - com os treinamentos, com o seu parceiro, com qualquer coisa. Você quer liberdade. Mas, lembre-se, você tem de estabelecer um compromisso duradouro de amar profundamente seu filho e ajudá-lo a vida toda, enquanto você viver. Você não pode simplesmente dizer: "Eu não te amo mais." Quando você tem um bom amigo ou amiga, você também estabelece um compromisso duradouro. Você precisa dele ou dela. Quanto mais com alguém que quer compartilhar sua vida, sua alma e seu corpo. A expressão "compromisso duradouro" não consegue expressar a profundidade do amor, mas devemos dizer alguma coisa que as pessoas consigam entender.

Um compromisso duradouro entre duas pessoas é apenas um começo. Também precisamos do apoio de amigos e de outras pessoas. É por isso que, na nossa sociedade, temos a cerimônia do casamento. As duas famílias se unem a outros amigos para testemunhar o fato de que vocês se uniram para viver como um casal. O sacerdote e a certidão de casamento são apenas símbolos. O importante é que o seu compromisso é testemunhado por muitos amigos e por ambas as famílias. Agora vocês terão o apoio deles. Um compromisso duradouro é mais forte e mais perene se feito no contexto de uma Sangha.

Os fortes sentimentos de um pelo outro são muito importantes, mas não são suficientes para sustentar sua felicidade. Sem outros elementos, o que você descreve como amor pode rapidamente transformar-se em algo amargo. O apoio de amigos e a união da família tece uma espécie de rede. A força dos seus sentimentos é apenas um dos fios desta rede. Com o apoio de muitos elementos, o casal será sólido como uma árvore. Se uma árvore quer ser forte, precisa de muitas raízes enterradas profundamente no solo. Se uma árvore tem apenas uma raiz, pode ser facilmente arrancada pelo vento. A vida de um casal também precisa ser apoiada por muitos elementos - família, amigos, ideais, prática e Sangha.

Em Plum Village, a comunidade de prática onde vivo na França, cada vez que temos uma cerimônia de casamento, convidamos a comunidade inteira para celebrar e trazer apoio ao casal. Depois da cerimônia, em cada dia de lua cheia, o casal recita as Cinco Consciências juntos, lembrando que os amigos em toda parte estão apoiando sua relação para que seja estável, duradoura e feliz. Quer o seu relacionamento seja legalizado ou não, ele será mais forte e mais duradouro se realizado na presença de uma Sangha - amigos que amam você e que querem apoiar você em espírito de compreensão e gentileza amorosa.

O amor pode ser uma espécie de doença. No Ocidente e na Ásia, temos a expressão "doente de amor". O que nos torna doentes é o apego. Apesar de ser um bloqueio interior, este tipo de amor com apego é como uma droga. Ele nos faz sentir maravilhosos, mas assim que estamos viciados não conseguimos ter paz. Não conseguimos estudar, fazer nosso trabalho diário ou dormir. Só pensamos no objeto do nosso amor. Estamos doentes de amor. Este tipo de amor está ligado à nossa propensão de possuir e monopolizar. Queremos que o objeto do nosso amor seja inteiramente nosso e apenas para nós. Isto é totalitário. Não queremos que ninguém nos impeça de estar com ele ou com ela. Este tipo de amor pode ser descrito como uma prisão, onde trancamos nosso ser amado e só lhe criamos sofrimento. A pessoa amada nós a privamos da liberdade - do direito de ser ela mesma e de aproveitar a vida. Este tipo de amor não pode ser descrito como maitriou karuna. É apenas a nossa propensão de fazer uso da outra pessoa para satisfazer nossas próprias necessidades.

Quando você tem uma energia sexual que o deixa infeliz, como se estivesse perdendo sua paz interior, deveria saber como agir para não fazer coisas que trazem sofrimento a outras pessoas e a você mesmo. Temos de aprender sobre isto. Na Ásia, dizemos que há três fontes de energia - a sexual, a da respiração e a do espírito. Tinh, a energia sexual, é a primeira. Quando você tem mais energia sexual do que precisa, vai haver um desequilíbrio no seu corpo e no seu ser. Você precisa saber como restabelecer o equilíbrio ou poderá agir irresponsavelmente. De acordo com o taoísmo e o budismo, existem práticas para ajudar a restabelecer esse equilíbrio, como a meditação ou as artes marciais. Você pode aprender as formas de canalizar sua energia sexual para realizações profundas nos domínios da arte e da meditação.

A segunda fonte de energia é khi, a energia da respiração. A vida pode ser descrita como um processo de queima. Para queimar, cada célula do nosso corpo precisa de nutrição e oxigênio. Em seu Sermão do Fogo, o Buda disse: "Os olhos estão queimando, o nariz está queimando, o corpo está queimando." Na nossa vida cotidiana, temos de cultivar nossa energia praticando a respiração adequada. Nós nos beneficiamos do ar e do seu oxigênio, e por isso precisamos estar certos de ter à disposição ar não poluído. Algumas pessoas cultivam seu khi parando de fumar e de falar, ou praticando respiração consciente depois de falar muito. Quando você fala, tome tempo para respirar. Em Plum Village, cada vez que ouvimos o sino da mente alerta, cada um pára o que estiver fazendo e respira conscientemente três vezes. Praticamos isto para cultivar e preservar nossa energia khi.

A terceira fonte de energia é thân, a energia espiritual. Quando você não dorme à noite, perde um pouco desse tipo de energia. Seu sistema nervoso fica exausto e você não consegue estudar ou praticar meditação bem, ou tomar boas decisões. Você fica sem a mente clara devido à falta de sono ou por preocupar-se demais. Preocupação e ansiedade secam esta fonte de energia.

Portanto, não se preocupe. Não fique acordado até muito tarde. Mantenha seu sistema nervoso sadio. Previna a ansiedade. Esses tipos de práticas cultivam a terceira fonte de energia. Você precisa dessa fonte de energia para praticar bem a meditação. Uma conquista espiritual requer o poder da sua energia espiritual, que surge através da concentração e de saber como se preserva esta fonte de energia. Quando você tem uma energia espiritual forte, você precisa apenas focá-la em um objeto e você terá uma conquista. Se você não tem thân, a luz da sua concentração não vai brilhar com intensidade, porque a luz emitida é muito fraca.

De acordo com a medicina asiática, o poder de thân está ligado ao poder de tinh. Quando gastamos nossa energia sexual, leva tempo para restaurá-la. Na medicina chinesa, quando você quer ter um espírito e uma concentração fortes, você é aconselhado a abster-se de relações sexuais ou de comer demais. Você toma ervas, raízes e remédios para enriquecer sua fonte de thân e, durante o período em que estiver tomando remédio, é aconselhável abster-se de relações sexuais. Se a sua fonte de espírito é fraca e você continua a ter relações sexuais, diz-se que você não consegue recuperar sua energia espiritual. Aqueles que praticam a meditação deveriam tentar preservar sua energia sexual, porque precisam dela durante a meditação. Se você é um artista, pode querer praticar a canalização de sua energia sexual, junto com a sua energia espiritual, para a sua arte. (...)

"Responsabilidade" é a palavra-chave no terceiro treinamento para a mente alerta. Em uma comunidade de prática, se não houver má conduta sexual e se a comunidade praticar bem este treinamento para a mente alerta, haverá estabilidade e paz. Este treinamento para a mente alerta deveria ser praticado por todos. Vocês se respeitam, se apóiam e se protegem uns aos outros como irmãos e irmãs de Dharma. Se não praticarem este treinamento para a mente alerta, vocês podem tornar-se irresponsáveis e criar confusão na comunidade local e na comunidade mais ampla. Todos já vimos isso. Se um(a) professor(a) não consegue abster-se de dormir com um de seus alunos, ele ou ela vai destruir tudo, possivelmente por várias gerações. Precisamos da mente alerta para ter este senso de responsabilidade. Abstemo-nos de uma má conduta sexual porque somos responsáveis pelo bem-estar de muitas pessoas. Se formos irresponsáveis, podemos destruir tudo. Praticando este treinamento para a mente alerta, manteremos a Sangha bela.

Nas relações sexuais as pessoas podem sair machucadas. Praticar este treinamento para a mente alerta é uma forma de impedir que nós mesmos e os outros sejamos feridos. Normalmente achamos que é a mulher que sai machucada, mas o homem também fica profundamente ferido. Devemos ter cuidado, especialmente nos compromissos de curta duração. A prática do terceiro treinamento para a mente alerta é uma forma eficaz de restaurar a estabilidade e a paz dentro de nós mesmos, na nossa família e na nossa sociedade. Deveríamos tirar um tempo para discutir problemas relacionados à prática deste treinamento, como a solidão, a propaganda e até mesmo a indústria do sexo.

O sentimento de solidão é universal em nossa sociedade. Não existe comunicação entre nós e as outras pessoas, mesmo em família, e o nosso sentimento de solidão nos impele a ter relações sexuais. Acreditamos ingenuamente que ter uma relação sexual vai nos fazer sentir menos sozinhos, mas isto não é verdade. Quando não há comunicação suficiente com a outra pessoa em termos de coração e espírito, uma relação sexual só vai aumentar a distância e destruir ambos. Nossa relação será tempestuosa e de sofrimento mútuo. A crença de que ter uma relação sexual vai ajudar a nos sentir menos sozinhos é uma espécie de superstição. Não nos devemos deixar enganar por ela. Na verdade, nos sentiremos mais solitários depois.

(Do livro “Os cinco treinamentos para a mente alerta” – Thich Nhat Hanh)

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