sábado, 23 de outubro de 2010

Os Quarenta e Oito Preceitos Secundários

Os Quarenta e Oito Preceitos Secundários

Então Buda disse aos Bodhisattvas, “Agora que expliquei os Dez Preceitos Maiores( http://apenasconhecimento.blogspot.com/2010/10/os-dez-preceitos-maiores.html)vou falar-vos acerca dos quarenta e oito preceitos secundários.”

1. [Acerca de] Desrespeito para com Mestres e Amigos

Um discípulo de Buda que esteja destinado a tornar-se um imperador, um Rei Sábio Que Faz Girar a Roda ou um funcionário superior, deve primeiro receber os preceitos de Bodhisattva. Estará então sob a protecção de todas as divindades e espíritos, e os Budas ficarão satisfeitos. Assim que tenha recebido os preceitos, o discípulo deve desenvolver uma mente filial e respeitosa. Sempre que encontre um Mestre Mais Antigo, um monge ou um companheiro praticante de conduta e ideias iguais às suas, deve levantar-se e cumprimentá-lo com o máximo respeito. Deve então respeitosamente fazer oferendas aos monges-convidados. Deve estar pronto para penhorar a si mesmo, ao seu reino, cidades ou mesmo família, bem como às suas jóias ou outros pertences. Se, em vez disso, desenvolver em si presunção e arrogância, ilusão ou cólera, recusando levantar-se e cumprimentar o monge-convidado e fazer-lhe oferendas respeitosamente, comete uma ofensa secundária.

2. [Acerca de] Consumir Bebidas Alcoólicas

Um discípulo de Buda não deve intencionalmente consumir bebidas alcoólicas pois estas são fonte de incontáveis ofensas. Se oferece ainda que um copo de vinho a outra pessoa, a retribuição será não ter mãos durante quinhentos renascimentos. Como pode então consumir álcool? De facto, um Bodhisattva não deve encorajar nenhuma pessoa ou qualquer ser senciente a consumir álcool, muito menos consumir ele próprio quaisquer bebidas alcoólicas. Se, em vez disso, ele deliberadamente o faz ou encoraja outros a fazê-lo, comete uma ofensa secundária.

3. [Acerca de] Comer Carne

Um discípulo de Buda não deve deliberadamente comer carne. Não deve comer a carne de qualquer ser senciente. O comedor de carne perde a semente da Grande Compaixão, corta a semente da Natureza de Buda e faz com que os seres [animais ou transcendentais] o evitem. Aqueles que assim procedem são culpados de incontáveis ofensas. Se o discípulo deliberadamente come carne, comete uma ofensa secundária.

4. [Acerca d’] As Cinco Ervas Pungentes

Um discípulo de Buda não deve comer as cinco ervas pungentes – alho, cebolinho, alho porro, cebola e assa-fétida. Isto é válido mesmo se acrescentadas como tempero a outros pratos principais. Assim, se ele deliberadamente as consome, comete uma ofensa secundária.

5. [Acerca de] Não Ensinar o Arrependimento

Se um discípulo de Buda vir qualquer ser violar os Cinco Preceitos, os Oito Preceitos, os Dez Preceitos, outras proibições, ou cometer alguma das Sete Graves Ofensas ou qualquer ofensa que conduza às Oito Adversidades, seja qual for a violação dos preceitos, deve aconselhar o prevaricador a arrepender-se e emendar-se. Se, em vez disso, o Bodhisattva não procede assim mas continua a viver conjuntamente com o prevaricador na mesma assembleia, a partilhar as mesmas oferendas dos leigos, a participar nas mesmas cerimónias Uposattha e a recitar os preceitos - deixando de referir a ofensa dessa pessoa e de a encorajar a emendar-se, o discípulo comete uma ofensa secundária.

6. [Acerca de] Deixar de Solicitar o Dharma ou de Fazer Oferendas

Se um Mestre Mais Antigo, um monge Mahayana ou um irmão praticante vier de longe até ao templo, residência, cidade ou aldeia de um discípulo de Buda, o discípulo deve respeitosamente dar-lhe as boas vindas e visitá-lo. Deve prover todas as necessidades dele em qualquer altura, ainda que isso lhe possa custar três medidas de ouro! Além disso, o discípulo de Buda deve respeitosamente pedir ao mestre visitante que exponha o Dharma três vezes por dia curvando-se perante ele sem qualquer pensamento de ressentimento ou fadiga. Deve estar disposto a sacrificar-se pelo Dharma e nunca deixar de o requerer. Se não proceder desta forma, comete uma ofensa secundária.

7. [Acerca de] Faltar a Ensinamentos do Dharma

Um discípulo Bodhisattva novo na Ordem deve levar consigo cópias dos sutras apropriados ou dos códigos preceituais para qualquer lugar onde esses sutras, comentários ou códigos morais estejam a ser explicados, de forma a ouvir, estudar e inquirir acerca do Dharma. Deve deslocar-se a qualquer ponto, seja a uma casa, debaixo de uma árvore, num templo, nas florestas ou montanhas ou em qualquer outro sitio. Se deixa de proceder assim, comete uma ofensa secundária.

8. [Acerca de] Afastar-se do Mahayana

Se um discípulo de Buda renega os eternos sutras e códigos morais do Mahayana, declarando que não foram proferidos pelo Buda, mas em vez disso segue e observa os dos Dois Veículos e dos não-Budistas iludidos, comete uma ofensa secundária.

9. [Acerca de] Não Tratar dos Doentes

Se um discípulo de Buda vir alguém doente, deve constantemente cuidar das necessidades dessa pessoa como se estivesse a fazer oferendas a um Buda. De todos os oito Campos de Méritos, tratar dos doentes é o mais importante. Um discípulo de Buda deve tomar conta do doente até que este recupere, quer se trate do seu pai, mãe, mestre ou discípulo no Dharma e qualquer que seja o tipo de doença. Se, em vez disso, fica zangado e rancoroso e deixa de o fazer ou se recusa a socorrer doentes ou incapacitados nos templos, cidades e aldeias, florestas ou montanhas ou ao longo dos caminhos, comete uma ofensa secundária.

10. [Acerca de] Guardar Armas Mortais

Um discípulo de Buda não deve guardar armas tais como facas, tacos, setas, lanças, machados ou quaisquer outras armas, nem pode possuir redes, armadilhas ou quaisquer outros engenhos que possam ser usados para matar seres sencientes. Se o fizer deliberadamente comete uma ofensa secundária. *** Os primeiros dez preceitos secundários acabam de ser descritos. Os discípulos de Buda devem estudá-los e observá-los respeitosamente. Serão explicados em detalhe nos próximos capítulos. ***

11. [Acerca de] Servir de Emissário

Um discípulo de Buda não deve, para benefício pessoal ou por más intenções, actuar como emissário de um país em guerra ou fomentar confrontos militares provocando assim o massacre de incontáveis seres. Enquanto discípulo de Buda, não pode sequer movimentar-se entre forças militares, ou de um exército para outro, muito menos actuar como agente voluntário da guerra. Se o fizer deliberadamente, comete uma ofensa secundária.

12. [Acerca de] Envolver-se em Negócios Ilícitos

Um discípulo de Buda não deve deliberadamente negociar em escravos ou vender qualquer ser para servidão, nem deve negociar em animais domésticos, caixões ou madeira para caixões. Não deve envolver-se pessoalmente neste tipo de negócios, muito menos encorajar outros a fazê-lo. De outra forma comete uma ofensa secundária.

13. [Acerca de] Calúnia e Difamação

Um discípulo de Buda não deve, sem causa e com más intenções, caluniar pessoas virtuosas, tais como Mestres Mais Antigos, monges ou monjas, reis, príncipes ou outras pessoas rectas, dizendo que cometeram as Sete Graves Ofensas ou que quebraram os Dez Preceitos Maiores do Bodhisattva. Deve ser compassivo e filial e tratar todas as pessoas virtuosas como se fossem seu pai, mãe, irmãos ou outros parentes próximos. Se em vez disso os calunia e prejudica comete uma ofensa secundária.

14. [Acerca de] Atear Fogos

Um discípulo de Buda não deve, motivado por intenções negativas, atear fogos para limpar florestas e queimar vegetação nas montanhas ou planícies, durante o período que medeia entre o quarto e o nono mês do ano lunar. Esses fogos [são particularmente danosos para os animais durante esse período e podem alastrar] até às casas, povoados e cidades, templos e mosteiros, campos e culturas, bem como até às moradas [invisíveis] de divindades ou fantasmas. Não deve intencionalmente pegar fogo a qualquer espaço onde exista vida. Se o fizer deliberadamente comete uma ofensa secundária.

15. [Acerca de] Ensinar o Dharma Não Mahayana

Um discípulo de Buda deve ensinar a todo e qualquer um, desde discípulos, parentes ou amigos espirituais, até não-Budistas e seres malévolos, como devem receber e cumprir os Sutras e códigos morais do Mahayana. Deve ensinar-lhes os princípios do Mahayana e ajudá-los a desenvolver a Mente Bodhi - bem como as Dez Moradas, as Dez Práticas e as Dez Dedicações, explicando a ordem e a função de cada uma destas Trinta Mentes (níveis da mente). Se, em vez disso, o discípulo, com intenções malévolas e hostis, lhes ensina perversamente os sutras e códigos morais dos Dois Veículos, bem como os comentários de não-Budistas iludidos, comete uma ofensa secundária.

16. [Acerca de] Explicação Infundada do Dharma

Um Bodhisattva Mestre do Dharma deve primeiro, com uma mente sadia, estudar as regras de conduta, sutras e códigos morais do Mahayana e compreender a fundo os seus significados. Depois, sempre que algum noviço venha de longe para pedir instrução, deve explicar-lhe, de acordo com o Dharma, as práticas ascéticas do Bodhisattva, tais como queimar o próprio corpo, braço ou dedo [como um acto extremo na busca da Iluminação Suprema]. Se um noviço não estiver preparado para seguir estas práticas, não é um verdadeiro Bodhisattva. Além disso, um Bodhisattva deve estar disposto a sacrificar o seu corpo e entranhas em benefício de animais esfomeados ou espíritos ávidos [como acto extremo de compaixão na salvação dos seres sencientes]. Depois destas explicações, o Bodhisattva mestre do Dharma deve ensinar os noviços de forma metódica, de modo a despertar a mente deles. Se, em vez disso, em proveito pessoal, se recusa a ensiná-los ou os ensina de modo confuso, citando passagens fora de ordem ou contexto, ou os ensina de um modo que despreze as Três Jóias, comete uma ofensa secundária.

17. [Acerca de] Extorquir Doações

Um discípulo de Buda não deve, para conseguir comida, bebida, dinheiro, bens ou fama, aproximar-se ou fazer-se amigo de reis, príncipes ou altos funcionários e [valendo-se dessas relações] extorquir dinheiro, bens ou outros benefícios. Estas acções são chamadas impróprias, pedidos excessivos ou falta de compaixão e de sentimentos filiais. Um discípulo que proceda assim comete uma ofensa secundária.

18. [Acerca de] Actuar Como um Mestre Desqualificado

Um discípulo de Buda deve estudar as Doze Divisões do Dharma e recitar os preceitos do Bodhisattva frequentemente. Deve observar estritamente estes preceitos nos Seis Períodos do dia e da noite e compreender inteiramente os seus princípios e significado, bem como a essência da natureza de Buda. Se em vez disso, um discípulo de Buda, sem entender nem que seja apenas uma sentença ou um verso dos códigos morais ou as causas e condições relacionadas com os preceitos, faz de conta que os entende, está a enganar-se a si e aos outros. Um discípulo que não compreende nada do Dharma e no entanto actua como transmissor dos preceitos, comete uma ofensa secundária.

19. [Acerca de] Discurso Hipócrita

Um discípulo de Buda não deve, com intenções maliciosas, [bisbilhotar ou espalhar rumores e calúnias,] criar discórdia e desdém entre pessoas virtuosas. Um exemplo é depreciar um monge que observa os preceitos do Bodhisattva, quando ele [a fazer oferendas aos Budas] segura um pequeno queimador de incenso na sua testa. Um discípulo de Buda que assim proceda comete uma ofensa secundária.

20. [Acerca de] Deixar de Libertar Seres Viventes

Um discípulo de Buda deve ter uma mente compassiva e cultivar a prática de libertar os seres sencientes. Deve reflectir desta forma: "Através das eras do tempo, todos os seres masculinos foram já meus pais, todos os seres femininos foram minhas mães. Nasci deles. se agora os abater estaria a matar os meus pais e a comer a carne que já foi minha. Isto é assim porque todos os elementos, terra, água, fogo e ar - os quatro constituintes de toda a vida - foram previamente partes do meu corpo e da minha substância. Devo por isso cultivar sempre a prática de libertar os seres sencientes e incentivar outros a fazer o mesmo - conforme os seres sencientes renasçam para sempre, vida após vida. Se um Bodhisattva vê um animal que esteja prestes a ser abatido, deve procurar um meio de o salvar e de o ajudar a escapar ao sofrimento e à morte. Um discípulo deve sempre ensinar os preceitos do Bodhisattva para proteger os seres sencientes. No dia da morte do seu pai, mãe e irmãos ou no aniversário da morte, deve convidar Mestres do Dharma para explicarem os sutras e preceitos do Bodhisattva. Isto vai gerar méritos e virtudes e ajudar os falecidos quer a renascerem na Terra Pura e a verem o Buda, quer a assegurarem um renascimento num plano humano ou celestial. Se em vez disso um discípulo não o fizer, comete uma ofensa secundária. ***

21. [Acerca de] Ser Violento e Vingativo

Um discípulo de Buda não deve retribuir raiva com raiva, golpe com golpe. Não deve procurar vingança, mesmo que o seu pai, mãe, irmãos ou parentes chegados sejam mortos - nem deve fazê-lo mesmo que o governante ou rei do seu país seja morto. Tirar a vida a um ser para vingar a morte de outro é contrário aos sentimentos filiais [uma vez que estamos todos relacionados por eras de nascimento e morte]. Além disso, não deve manter outros na servidão, muito menos bater-lhes ou desrespeitá-los, criando assim mau karma da mente, fala e corpo, principalmente as ofensas da fala. Muito menos deve cometer deliberadamente as Sete Graves Ofensas. Por isso, se um monge Bodhisattva não tem compaixão e procura deliberadamente vingança, mesmo por uma injustiça cometida para com os seus parentes próximos, comete uma ofensa secundária.

22. [Acerca de] Ser Arrogante e Não Requerer o Dharma

Um discípulo de Buda que tenha abandonado a sua casa recentemente e ainda seja um noviço no Dharma não deve ser presunçoso. Não deve recusar instrução sobre os sutras ou códigos morais da parte de um Mestre do Dharma mais antigo, por causa da sua própria inteligência, instrução mundana, posição elevada, idade avançada, linhagem nobre, grande compreensão, grandes méritos, fortuna e posses, etc. Ainda que esses Mestres sejam de nascimento humilde, novos em idade, pobres ou sofram deficiências físicas, podem mesmo assim ter virtude genuína e compreensão profunda dos sutras e códigos morais. O Bodhisattva noviço não deve julgar os Mestres do Dharma com base nas origens familiares deles e recusar-se a pedir-lhes instrução sobre as verdades do Mahayana. Se assim fizer comete uma ofensa secundária.

23. [Acerca de] Ensinar o Dharma de Má Vontade

Depois da minha extinção, se um discípulo, com uma mente sadia, quiser receber os preceitos do Bodhisattva, pode formular o voto de o fazer perante imagens de Budas e Bodhisattvas e praticar o arrependimento perante essas imagens durante sete dias. Se então tiver uma visão isso é um sinal de que recebeu os preceitos. Caso contrário, deve continuar durante catorze dias, vinte e um dias ou mesmo durante um ano, à espera de presenciar um sinal auspicioso. Depois de presenciar tal sinal, pode, em frente das imagens de Budas e Bodhisattvas, receber os preceitos. Se não presenciou tal sinal auspicioso, mesmo que tenha aceite os preceitos perante as imagens do Buda, não os recebeu de facto. No entanto, a visão de um sinal auspicioso não é necessária se o discípulo receber os preceitos directamente de um Mestre do Dharma que os tenha, por sua vez, recebido. Porque assim é? Porque este é um caso de transmissão de Mestre para Mestre e por isso tudo o que é necessário é uma mente de extrema sinceridade e respeito por parte do discípulo. Se, no raio de 350 milhas, o discípulo não puder encontrar um Mestre capaz de lhe transmitir os preceitos do Bodhisattva, pode tentar recebê-los em frente das imagens de Budas e Bodhisattvas. No entanto, deve presenciar um sinal auspicioso. Se um Mestre do Dharma, com base no seu conhecimento extenso dos sutras e códigos morais do Mahayana ou de qualquer relação de proximidade com reis, príncipes e altos funcionários, se recusar a dar respostas apropriadas ao Bodhisattva estudante que procura o significado dos sutras e dos códigos morais, ou então responder de má vontade, com ressentimento e arrogância, comete uma ofensa secundária.

24. [Acerca de] Não Praticar os Ensinamentos do Mahayana

Se um discípulo de Buda não estudar os sutras e códigos morais do Mahayana assiduamente e não cultivar a visão correcta, natureza correcta e o correcto Corpo do Dharma, é como se tivesse abandonado as Sete Jóias Preciosas a troco de [meras pedras] - textos mundanos e dos Dois Veículos ou comentários não-Budistas. Fazer isso é criar as causas e condições que impedem a Via da Iluminação e cortam a sua própria natureza de Buda. É deixar de seguir o caminho do Bodhisattva. Se um discípulo procede intencionalmente desta forma, comete uma ofensa secundária.

25. [Acerca de] Liderança Inepta da Assembleia

Depois da minha extinção, se um discípulo servir como Abade, Mestre-do-Dharma Mais Antigo, Mestre dos Preceitos, Mestre de Meditação ou Tutor Convidado deve desenvolver uma mente compassiva e estabelecer pacificamente as diferenças no seio da Assembleia - administrando os recursos das Três Jóias, gastando com frugalidade como se os recursos fossem seus. Se em vez disso, criar desordem, provocar querelas e disputas ou dissipar os recursos da Assembleia, comete uma ofensa secundária.

26. [Acerca de] Aceitar Oferendas Pessoais

Quando um discípulo de Buda reside num templo, se um Bodhisattva ou monge visitante chegar aos salões de meditação, aos aposentos dos retiros de Verão, aos aposentos da Grande Assembleia ou às dependências privadas [reservadas para uso da Sangha], o discípulo deve acolher o monge visitante e providenciar-lhe os bens essenciais tais como comida e bebida, alojamento, cama, cadeiras e outros. Se o anfitrião não possuir os meios necessários, deve estar disposto a penhorar a si mesmo ou a cortar e vender a própria carne. Sempre que haja oferendas de refeições ou cerimónias em casa de leigos, os monges visitantes devem receber uma parte igual das oferendas. O Abade deve enviar os monges, quer residentes quer visitantes, a casa do benfeitor por ordem [de acordo com a sua antiguidade sacerdotal ou os seus méritos ou virtudes]. Se apenas for permitido aos monges residentes aceitar o convite e não aos monges visitantes, o Abade comete uma ofensa grave. Não é digno de ser um monge ou um filho de Buda e é culpado de uma ofensa secundária.

27. [Acerca de] Fazer Convites Discriminatórios

Um discípulo de Buda, seja um Bodhisattva monge, leigo ou outro benfeitor, deve, quando convidar monges ou monjas para conduzirem sessões de oração, contactar o templo e informar o monge responsável dizendo: “Convidar os membros da Sangha de acordo com a ordem própria é equivalente a convidar Arhats das dez direcções. Fazer um convite discriminatório ainda que [a um grupo de] quinhentos Arhats ou monges Bodhisattva não criará tanto mérito quanto convidar um monge comum, se essa for a sua vez”. Não existe lugar nos ensinamentos dos Sete Budas para convites discriminatórios. Proceder dessa forma é seguir práticas não-Budistas e contradizer o sentimento filial [para com todos os seres]. Se um discípulo deliberadamente faz um convite discriminatório, comete uma ofensa secundária.

29. [Acerca de] Seguir Modos de Vida Impróprios

Um discípulo de Buda não deve envolver-se no negócio da prostituição, vendendo os favores e encantos de homens e mulheres; também não deve cozinhar para si próprio, moer e triturar grão. Não deve actuar como adivinho ou fisiognomista [determinar as compatibilidades nos noivados], exercer a interpretação de sonhos e actividades afins. Nem deve praticar as artes mágicas, trabalhar como treinador de falcões ou de cães de caça, nem ganhar a vida a compor venenos de cobras mortais, insectos ou de ouro e prata. Estas ocupações são falhas de misericórdia, compaixão e de sentimentos filiais [para com os seres sencientes]. Por isso, se um Bodhisattva se envolver intencionalmente nestas ocupações comete uma ofensa secundária.

30. [Acerca de] Gerir Negócios Para os Leigos

Um discípulo de Buda não deve, com intenções malévolas, caluniar a Jóia Tripla. Não deve fingir respeitá-la e procurar instruções dela, ensinando a Verdade da Vacuidade, quando as suas acções estão no plano da Existência. Além disso, não deve também tratar de assuntos para os leigos ou actuar como intermediário ou apostador - criando assim o karma do apego. Além disso, durante os seis dias de jejum vegetariano, o discípulo deve abster-se completamente de toda e qualquer acção de matar, roubar ou quebrar os preceitos. De outra forma o discípulo comete uma ofensa secundária. *** Um Bodhisattva deve estudar e observar respeitosamente os dez preceitos anteriores. Estão explicados em pormenor no Capítulo respeitante às “Proibições”.

31. [Acerca de] Não Resgatar Clérigos em Conjunto com Objectos Sagrados

Depois do meu passamento, nos períodos malignos que se seguirão, existirão não-Budistas, más pessoas, ladrões e gatunos que hão-de roubar e vender objectos, estátuas e pinturas de Budas, Bodhisattvas e [aqueles a quem é devido respeito tais como] os seus pais ou manuscritos de sutras e códigos morais. Poderão até chegar a vender monges, monjas ou praticantes da Via do Bodhisattva [capturando-os como prisioneiros de guerra] para servir de empregados ou servos de funcionários e outros. Um discípulo de Buda, vendo estes factos lamentáveis, deve desenvolver uma mente compassiva e procurar formas de salvar e proteger todas as pessoas e bens, recolhendo fundos onde tal seja possível para este propósito. Se um Bodhisattva não procede assim, comete uma ofensa secundária.

32. [Acerca de] Ferir Seres Sencientes Um discípulo de Buda não deve vender facas, tacos, arcos, setas ou outros instrumentos letais nem manter escalas ou instrumentos de medida alterados. Não deve aproveitar-se de qualquer alta posição governamental que ocupe para confiscar propriedades e posses nem deve, com má intenção, restringir ou aprisionar outros ou sabotar-lhes o sucesso. Além disso, não deve criar gatos, cães, raposas, porcos ou outros animais como estes. Se intencionalmente os mantém, comete uma ofensa secundária.

33. [Acerca de] Assistir a Actividades Impróprias

Um discípulo de Buda não deve, com más intenções, assistir a lutas entre pessoas ou a confrontos entre exércitos, rebeldes, bandos ou outros. Não deve ouvir os sons de conchas, tambores, chifres, guitarras, flautas, alaúdes, canções ou outras músicas, nem deve tomar parte em qualquer forma de jogo, quer de dados, tabuleiro ou outros. Além disso, não deve praticar a leitura da sina ou adivinhação nem deve ser cúmplice de foras da lei. Não deve participar em nenhuma destas actividades. Se em vez disso participa nelas intencionalmente, comete uma ofensa secundária.

34. [Acerca de] Abandono Temporário da Mente Bodhi Um discípulo de Buda deve observar os preceitos do Bodhisattva todos os dias, quer esteja parado, a andar, sentado ou reclinado. Deve ser decidido quanto a manter os preceitos, com a força de um diamante, o desespero de um náufrago agarrado a uma pequena tábua a tentar atravessar o oceano ou com os princípios do “Bhiksu preso por ervas”. Além disso, deve sempre ter uma fé total nos ensinamentos do Mahayana. Consciente de que todos os seres sencientes são futuros Budas enquanto que os Budas são Budas realizados; deve desenvolver a Mente Bodhi e mantê-la em todo e qualquer pensamento, sem recuo. Se um Bodhisattva tem ainda que um simples pensamento em direcção aos Dois Veículos ou às doutrinas não-Budistas, comete uma ofensa secundária.

35. [Acerca de] Não Fazer Grandes Votos

Um Bodhisattva deve fazer muitos grandes votos - ser filial para com os seus pais e Mestres do Dharma, encontrar bons conselheiros espirituais, amigos e colegas que lhe ensinem os sutras e códigos morais do Mahayana bem como as Dez Moradas, as Dez Condutas, as Dez Dedicações e os Dez Chãos. Deve além disso fazer votos de compreender claramente estes ensinamentos de modo a poder praticar de acordo com o Dharma, mantendo decididamente os preceitos dos Budas. Deve, se necessário, abdicar da sua vida em lugar de abandonar esta decisão ainda que por um único momento. Se um Bodhisattva não faz votos como estes comete uma ofensa secundária.

36. [Acerca de] Não fazer Resoluções

Assim que o Bodhisattva tenha feito estes Grandes Votos, deve manter estritamente os preceitos dos Budas e fazer as seguintes resoluções: 1 - Prefiro saltar para um fogo abrasador, um abismo profundo ou uma montanha de facas do que envolver-me em acções impuras com qualquer mulher, violando assim os sutras e códigos morais dos Budas dos Três Períodos de Tempo. 2 - Prefiro envolver-me cem vezes com uma rede de ferro em brasa do que deixar este corpo, caso quebre os preceitos, usar as roupas oferecidas pelos fieis. - Prefiro engolir uma bola de ferro em brasa ou beber ferro derretido durante centenas de milhares de kalpas a deixar esta boca, caso quebre os preceitos, consumir comida e bebida oferecidas pelos fiéis. - Prefiro deitar-me numa fogueira ou numa rede de ferro em brasa do que deixar este corpo, caso quebre os preceitos, deitar-se em camas ou cobertores oferecidos pelos fiéis. - Prefiro saltar para um caldeirão de óleo a ferver e assar por centenas de milhares de kalpas a deixar este corpo, caso quebre os preceitos, receber abrigo em parques, jardins ou campos dos fiéis. 3 - Prefiro ser pulverizado da cabeça aos pés por um martelo de ferro a deixar este corpo, caso quebre os preceitos, aceitar respeito e reverência dos fiéis. 4 - Prefiro ter os dois olhos arrancados por centenas de milhares de espadas e lanças, a quebrar os preceitos ao olhar para formas belas. [Do mesmo modo, devo manter a minha mente sem ser maculada por sons, fragrâncias, comida ou sensações agradáveis.] 5 - Faço além disso o voto de que todos os seres alcançarão o estado de Buda. Se um discípulo de Buda não faz as grandes resoluções anteriores, comete uma ofensa secundária.

37. [Acerca de] Viajar em Áreas Perigosas

[Como monge], um discípulo de Buda deve levar a cabo práticas ascéticas duas vezes por ano. Deve sentar-se em meditação, de Verão e de Inverno, e fazer um retiro de Verão. Durante esses períodos, deve transportar sempre consigo dezoito bens essenciais tais como um ramo de salgueiro (para escovar os dentes), água de cinzas (para sabonete), os três mantos monásticos tradicionais, um queimador de incenso, uma tigela mendicante, um tapete de sentar, um filtro de água, roupa de cama, cópias de sutras e códigos morais bem como estátuas de Budas e de Bodhisattvas. Quando pratica austeridades ou quando viaja, seja por trinta ou por trezentas milhas, um discípulo de Buda deve trazer sempre consigo os dezoito bens essenciais. Os dois períodos de austeridades vão do 15º dia do primeiro mês lunar até ao 15º dia do terceiro mês e do 15º dia do oitavo mês lunar até ao 15º dia do décimo mês. Durante os períodos de austeridades ele precisa destes dezoito bens essenciais assim como uma ave necessita das suas duas asas. Duas vezes por mês, o noviço Bodhisattva deve assistir a uma cerimónia Uposattha e recitar os Dez Preceitos Maiores e os Quarenta e Oito Preceitos Secundários. Essas recitações devem ser feitas perante imagens de Budas e Bodhisattvas. Se apenas uma pessoa assiste à cerimónia, ele deve então proceder à recitação. Se duas, três, ou mesmo centenas de milhares assistirem à cerimónia, ainda assim apenas uma pessoa deve recitar. Todos devem ouvir em silêncio. O recitador deve sentar-se num nível mais elevado do que o da audiência e todos devem vestir mantos clericais. Durante o retiro de Verão, toda e qualquer actividade deve ser tratada de acordo com o Dharma. Quando praticar as austeridades, o discípulo Budista deve evitar áreas perigosas tais como reinos instáveis, países governados por reis malévolos, terrenos escarpados, lugares ermos e remotos, áreas habitadas por bandidos, ladrões, leões, tigres, lobos, cobras venenosas ou sujeitas a temporais, cheias e fogos. O discípulo deve evitar todas essas áreas perigosas quando praticar as austeridades ou cumprir o retiro de Verão. De outra forma comete uma ofensa secundária.

38. [Acerca de] Ordem dos Lugares na Assembleia. Um discípulo de Buda deve sentar-se no seu lugar próprio na Assembleia. Aqueles que receberam os preceitos antes devem sentar-se primeiro, os que receberam os preceitos depois sentam-se atrás. Quer seja velho, novo, um Bhiksu ou Bhiksuni, uma pessoa de posição, um rei, um príncipe, um eunuco ou um servo, etc., cada um deve sentar-se de acordo com a ordem em que recebeu os preceitos. Os discípulos de Buda não devem ser como os não-Budistas ou as pessoas iludidas que baseiam a sua ordem de sentar na idade ou se sentam sem qualquer ordem - de modo bárbaro. No meu Buda Dharma a ordem dos lugares é baseada na antiguidade de ordenação. Por isso, se um Bodhisattva não seguir a ordem dos lugares de acordo com o Dharma, comete uma ofensa secundária.

39. [Acerca de] Não Cultivar Méritos e Sabedoria

Um discípulo de Buda deve constantemente aconselhar as pessoas a estabelecer mosteiros, templos e pagodes em montanhas e florestas, jardins e campos. Deve também construir stupas para os Budas e edifícios para os retiros de meditação de Inverno e de Verão. Todas as condições necessárias para a prática do Dharma devem ser estabelecidas. Além disso, o discípulo de Buda deve explicar os sutras do Mahayana e os preceitos do Bodhisattva a todos os seres sencientes. Em tempos de doença, calamidades nacionais, guerra eminente ou aquando da morte dos pais, irmãos e irmãs, Mestres do Dharma e Mestres dos Preceitos, um Bodhisattva deve ler e explicar os sutras do Mahayana e os preceitos do Bodhisattva semanalmente durante sete semanas. O discípulo deve ler, recitar e explicar os sutras do Mahayana e os preceitos do Bodhisattva em todas as reuniões de oração, nos seus afazeres e durante períodos de calamidade - incêndios, cheias, tempestades, navios perdidos no mar em águas turbulentas e assolados por demónios. Da mesma forma, deve fazê-lo de modo a transcender o mau karma, os Três Mundos Inferiores, as Oito Dificuldades, as Sete Graves Ofensas, todas as formas de prisão ou o excessivo desejo sexual, raiva, ilusões ou doença. Se um Bodhisattva não procede como indicado, comete uma ofensa secundária. *** O Bodhisattva deve estudar e respeitosamente observar os nove preceitos mencionados acima, tal como é explicado no Capítulo “Altar de Brahma”.

40. [Acerca de] Discriminação na Transmissão dos Preceitos

Um discípulo de Buda não deve ser selectivo ou mostrar preferências na transmissão dos preceitos do Bodhisattva. Toda e qualquer pessoa pode receber os preceitos - reis, príncipes, altos funcionários, Bhiksus, Bhiksunis, leigos, leigas, libertinos, prostitutas, os deuses dos dezoito Paraísos de Brahma ou dos seis Paraísos do Desejo, pessoas assexuadas, bissexuais, eunucos, escravos ou demónios e fantasmas de todos os tipos. Os discípulos de Buda devem ser instruídos a usar mantos e a dormirem em roupas de cor neutra, obtida pela mistura das cores azul, amarelo, vermelho, preto e púrpura, todas juntas. Além disso, as roupas dos monges e monjas Budistas devem ser, em todos os países, diferentes das roupas usadas por pessoas comuns. Antes de alguém ser autorizado a receber os preceitos do Bodhisattva, deve-lhe ser perguntado: “Cometeste alguma das Ofensas Gravosas?” O mestre dos preceitos não deve permitir àqueles que tiverem cometido tais ofensas receber os preceitos. Aqui estão as Sete Ofensas Gravosas: Derramar o sangue de um Buda, matar um Arhat, matar o próprio pai, matar a própria mãe, matar um Mestre do Dharma, Matar um Mestre dos Preceitos ou quebrar a harmonia da Sangha. À excepção daqueles que tenham cometido Ofensas Gravosas, todos podem receber os preceitos. As regras do Dharma da Ordem Budista proíbem monges e monjas de se curvarem perante os pais, familiares, demónios e fantasmas. Quem quer que compreenda as explicações do Mestre dos Preceitos pode receber os preceitos do Bodhisattva. Por isso, se uma pessoa percorre trinta ou trezentas milhas em busca do Dharma e o Mestre dos Preceitos, com uma mente malévola e rancorosa, não lhos confere prontamente, esse mestre comete uma ofensa secundária.

41. [Acerca de] Ensinar com Fins Lucrativos

Se um discípulo de Buda, quando ensina outros e desenvolve a fé deles no Mahayana, descobrir que alguém em particular quer receber os preceitos do Bodhisattva, deve proceder como um mestre e instruir essa pessoa a procurar dois mestres, um Mestre do Dharma e um Mestre dos Preceitos. Estes dois mestres devem perguntar ao candidato se cometeu algum das Sete Ofensas Gravosas nesta vida. Se cometeu não pode receber os Preceitos, se não os cometeu pode receber os Preceitos. Se quebrou algum dos Preceitos Maiores, deve ser instruído a arrepender-se perante estátuas de Budas e de Bodhisattvas. Deve fazê-lo seis vezes por dia e recitar os Dez Preceitos Maiores e os quarenta e Oito Preceitos Secundários, prestando respeito com extrema sinceridade aos Budas dos Três Períodos de Tempo. Deve continuar desta forma até receber uma resposta auspiciosa, que pode ocorrer após sete dias, catorze dias, vinte dias, vinte e um dias ou mesmo um ano. Exemplos de sinais auspiciosos incluem: sentir o Buda afagar a coroa da cabeça do praticante, ver luzes, halos, flores e outros fenómenos raros como estes. Ao contrário de qualquer um dos Preceitos Maiores do Bodhisattva, se o candidato violou algum dos Quarenta e Oito Preceitos Secundários, pode confessar a sua infracção e arrepender-se sinceramente perante monges ou monjas Bodhisattvas. Depois disto, a sua ofensa será erradicada. O Mestre Oficiante, no entanto, deve compreender inteiramente os sutras e códigos morais do Mahayana, os Preceitos Principais do Bodhisattva bem como os secundários, o que constitui ou não uma ofensa, a verdade dos Significados Primordiais bem como os vários estágios da prática do Bodhisattva - as Dez Moradas, as Dez Condutas, as Dez Transferências, os Dez Chãos e a Maravilhosa e Uniforme Iluminação. Deve também saber que tipo e grau de contemplação é necessário para entrar e sair destes estágios e deve estar familiarizado com os Dez Membros da Iluminação bem como com as outras variadas contemplações. Se, sem estar familiarizado com o anterior e, devido a ganância por fama, discípulos ou oferendas, finge entender os sutras e códigos morais, está a enganar-se a si próprio e aos outros. Daí que, se actua intencionalmente como Mestre dos Preceitos, transmitindo os preceitos a outros, comete uma ofensa secundária.

42. [Acerca de] Recitar os Preceitos a Pessoas Malévolas

Um discípulo de Buda não deve, por ganância, recitar os grandes preceitos dos Budas perante aqueles que não os receberam, não-Budistas ou pessoas de opiniões heterodoxas. Com a excepção de reis ou governantes supremos, não deve recitar os preceitos perante essas pessoas. Pessoas que sustentam opiniões heterodoxas e não aceitam os preceitos dos Budas são animalescas por natureza. Não hão-de, em vida após vida, encontrar as Três Jóias. São tão insensíveis como árvores e pedras; não são diferentes de tocos de madeira. Daí que, se o discípulo de Buda recitar os preceitos dos Sete Budas perante essas pessoas, comete uma ofensa secundária.

43. [Acerca de] Pensar em Violar os Preceitos

Se um discípulo de Buda se junta à Ordem com uma fé pura, recebe os correctos preceitos dos Budas, mas desenvolve então pensamentos de violar os preceitos, é indigno de receber quaisquer oferendas dos fiéis, indigno de caminhar no solo da sua própria terra natal e indigno de beber a sua água. Cinco mil fantasmas bloqueiam constantemente o seu caminho, chamando-lhe “Ladrão!” Estes fantasmas seguem-no sempre até à casa das pessoas, povoações e cidades, varrendo as suas pegadas. Todos amaldiçoam um tal discípulo chamando-lhe “Ladrão no interior do Dharma”. Todos os seres sencientes desviam os seus olhos, sem o quererem ver. Um discípulo de Buda que viola os preceitos não é diferente de um animal ou de um toco de madeira. Por isso, se um discípulo viola intencionalmente os correctos preceitos, comete uma ofensa secundária.

44. [Acerca de] Não Honrar Sutras e Códigos Morais

Um discípulo de Buda deve sempre, com concentração, receber, observar, ler e recitar os sutras e códigos morais do Mahayana. Deve copiar os sutras e códigos morais em casca, papel, tecido fino ou tiras de bamboo, não hesitando em usar a sua própria pele como papel, o seu sangue como tinta e a sua medula para a misturar, ou até quebrar os seus ossos para servirem de aparo. Deve usar jóias preciosas, incenso sem preço, flores e outras coisas preciosas para fazer e adornar capas e caixas onde guardar os sutras e códigos morais. Por isso, se não fizer oferendas de acordo com o Dharma, comete uma ofensa secundária.

45. [Acerca de] Não Ensinar os Seres Sencientes Um discípulo de Buda deve desenvolver uma mente de Grande Compaixão. Sempre que entrar em casa de alguém, em aldeias, vilas ou cidades e vir seres sencientes, deve dizer em voz alta, ”Vocês, seres sencientes, devem todos tomar os Três Refúgios e receber os Dez Preceitos (Maiores do Bodhisattva)”. Quando calhar de passar por porcos, cavalos, vacas, ovelhas e outros tipos de animais deve concentrar-se e dizer alto, “Agora sois animais; deveis desenvolver a Mente Bodhi.” Um Bodhisattva, onde quer que vá, seja a escalar uma montanha, entrar numa floresta, atravessar um rio ou andar por um campo, deve ajudar todos os seres sencientes a desenvolverem a Mente Bodhi. Se um discípulo de Buda não ensina e salva, de todo o coração, os seres sencientes desta forma, comete uma ofensa secundária.

46. [Acerca de] Ensinar o Dharma de Forma Imprópria

Um discípulo de Buda deve ter sempre uma mente de Grande Compaixão para ensinar e transformar os seres sencientes. Seja em visita a doadores aristocráticos e abastados, seja pronunciando-se numa reunião do Dharma, não deve permanecer de pé enquanto explica o Dharma aos leigos, mas deve ocupar um lugar elevado em frente da assembleia. Um Bhiksu ao proceder como instrutor do Dharma não deve estar de pé enquanto se dirige à Quádrupla Assembleia. Durante essas palestras, o Mestre do Dharma deve sentar-se num lugar elevado, com flores e incenso à sua volta, enquanto a Quádrupla Assembleia deve ouvir num lugar mais baixo. A Assembleia deve respeitar e seguir o Mestre como filhos dedicados seguem os seus pais ou como os Brâmanes adoram o fogo. Se um Mestre do Dharma não segue estas regras enquanto expõe o Dharma comete uma ofensa secundária.

47. [Acerca de] Regulamentações Contra o Dharma

Um discípulo de Buda que tenha recebido os preceitos dos Budas com uma fé saudável e correcta, não deve usar uma qualquer posição elevada que possua (tal como rei, príncipe, funcionário, etc.) para minar o código moral dos Budas. Não pode estabelecer leis e regulamentações impedindo os quatro tipos de discípulos leigos de se juntarem à Ordem e de praticarem a Via, nem pode proibir a criação e feitura de imagens de Budas e Bodhisattvas, estátuas e stupas ou a impressão e distribuição de sutras e códigos. Da mesma forma, não pode estabelecer leis e regulamentações que coloquem tutelas na Quádrupla Assembleia. Se discípulos leigos altamente colocados se entregam a acções contrárias ao Dharma, não são diferentes de vassalos ao serviço de governantes [ilegítimos]. Um Bodhisattva deve receber respeito e oferendas de todos. Se em vez disso é forçado a submeter-se a funcionários, isto é contrário ao Dharma, contrário ao código moral. Por isso, um rei ou funcionário que tenha recebido os preceitos do Bodhisattva com uma mente sadia, deve evitar ofensas lesivas para as Três Jóias. Se em vez disso comete intencionalmente esses actos, é culpado de uma ofensa secundária.

48. [Acerca de] Destruir o Dharma Um discípulo de Buda que se torna monge com intenções sadias não deve, por desejo de fama ou de lucro, explicar os preceitos a reis e funcionários de uma forma [capciosa], fazendo com que os monges, monjas ou leigos que tenham recebido os preceitos do Bodhisattva sejam presos ou recrutados à força. Se um Bodhisattva age dessa forma, não é diferente de um verme num corpo de leão, comendo-lhe a carne. Isto é algo que um verme que viva fora do leão não pode fazer. Da mesma forma, apenas os discípulos de Buda podem abater o Dharma - nenhum não-Budista ou demónio o consegue.

Aqueles que receberam os preceitos do Buda devem protegê-los e observá-los tal como uma mãe tomaria conta do seu único filho ou um filho dedicado cuidaria dos seus pais. Não devem fazer cair o Dharma.

Se um Bodhisattva ouve não-Budistas ou pessoas mal intencionadas a maldizerem e desprezarem os preceitos dos Budas, deve sentir-se como se o seu coração fosse trespassado por trezentas setas ou o seu corpo apunhalado com cem facas ou sovado por cem paus. Preferiria sofrer ele mesmo nos infernos durante cem kalpas do que ouvir seres malignos desprezarem os preceitos do Buda. Quanto pior seria se o discípulo fosse a quebrar ele mesmo os preceitos ou incitar outro a fazê-lo! Por isso, se violar os preceitos intencionalmente, o discípulo comete uma ofensa secundária.


fonte: http://budadharma.paginas.sapo.pt/sutra_rede.htm