terça-feira, 20 de março de 2012

As 37 Práticas de Todos os Bodhisattvas

As 37 Práticas de Todos os Bodhisattvas

As 37 Práticas de Todos os Bodhisattvas

De Gyalsé Thokmé Zangpo[1]

O Mestre vê todas as coisas que estão para além do vai e vêm,

E mesmo assim luta incansavelmente para o bem dos seres vivos –

Meu precioso guru inseparável do Senhor Avalokita,

Com respeito eu vos presto homenagem perpétua, com o meu corpo, palavra e mente.

Os perfeitos budas, que são a fonte de todo o beneficio e alegria,

Aparecem como seres através da realização do Dharma sagrado.

E isso depende de saber como praticar o Dharma,

Eu vou descrever as práticas de todos os herdeiros legítimos dos budas.

1. A prática de todos os bodhisattvas é estudar, reflectir, e meditar,

incansável, tanto de dia como de noite, sem nunca cair na ociosidade,

Para se libertar a si e aos outros deste oceano do samsara,

Tendo ganho este supremo vaso corporal - uma vida humana favorável e livre, que é tão difícil de encontrar.

2. A prática de todos os bodhisattvas é deixar para trás de si a sua terra natal,

Onde o apego à família e amigos nos subjuga como uma enxurrada

Enquanto a aversão aos nossos inimigos nos rói interiormente como um fogo escarlate,

E a escuridão ilusória eclipsa ou seja torna incompreensível, a linha de conduta que devemos seguir e o que deixar para trás.

3. A prática de todos os bodhisattvas é ir regularmente para lugares solitários,

evitando o que não é saudável, para que as emoções destrutivas gradualmente desaparecem,

e, na ausência de distracções, a prática virtuosa naturalmente se fortalece avançando rapidamente, com a consciência atenta e focalizada, adquirimos convicção nos ensinamentos.

4. A prática de todos os bodhisattvas é renunciar a todas as preocupações da vida,

Durante muito tempo fizemos amizades e relacionamentos com familiares, e

Agora todos nós temos que seguir caminhos separados;

Riquezas e bens tão penosamente adquiridos, devem ser deixados para trás;

E a consciência, a convidada que mora no nosso corpo, também um dia deve partir.

5. A prática de todos os bodhisattvas é evitar amigos destrutivos,

Na companhia dos quais os três venenos da mente ficam mais fortes,

E por causa deles cada vez estudamos, reflectimos e meditamos menos,

E tanto o amor como a compaixão esmorecem, até se extinguirem.

6. A prática de todos os bodhisattvas é estimar os amigos espirituais[2]

Pensando neles como ainda mais preciosos que o próprio corpo,

Pois são eles que nos ajudam a livrar-nos de todos os nossos defeitos,

E que fazem com que as nossas virtudes cresçam ainda mais,

tal como a lua crescente.

7. A prática de todos os bodhisattvas é tomar refugio nas Três Jóias,

Pois elas nunca deixam sem resposta , os protegidos que os apelam,

Os deuses comuns do mundo não podem ajudar ninguém

enquanto eles próprios estiveram na armadilha

do ciclo vicioso do samsara, não é assim?

8. A prática de todos os bodhisattvas é nunca cometer um acto prejudicial,

mesmo que isso ponha a sua própria vida em risco,

pois o próprio Sábio ensinou que as acções negativas

quando chega a hora nos levam ás múltiplas misérias dos mundos inferiores, tão difíceis de suportar.

9. A prática de todos os bodhisattvas é lutar para atingir o seu objectivo,

que é o estado supremo imutável, a libertação eterna,

pois a felicidade dos três reinos só dura um momento,

e logo se vai embora, tal como gotas de orvalho em colinas de ervas

10. A prática de todos os bodhisattvas é desenvolver o bodhicitta,

assim como proporcionar a liberdade a todas os infinitos seres sensíveis,

como seria possível encontrar a verdadeira felicidade enquanto,

as nossas mães que cuidaram de nós através dos tempo, carregam uma dor?

11. A prática de todos os bodhisattvas é fazer uma troca genuína

da felicidade pessoal e bem estar, por todos os sofrimentos dos outros.

Toda a miséria vem da procura da felicidade pessoal só para si,

Enquanto o estado de buda perfeito nasce do desejo do bem dos outros.

12. Mesmo se outros, sob a influencia de um grande desejo, roubarem,

ou encorajarem os outros a roubar todas as riquezas que tenho,

dedicar-lhes totalmente o meu corpo, bens e todos os meus méritos

do passado, presente, e futuro – esta é a prática de todos os bodhisattvas.

13. Mesmo se os outros quiserem cortar a minha cabeça,

embora eu nada tenha feito de mal,

tomar sobre mim rpóprio, com compaixão,

todos os males que eles acumularam – esta é a prática de todos os bodhisattvas.

14. Mesmo que os outros declarem a toda a gente

montes de coisas desagradáveis sobre mim,

retribuir-lhes, falando só bem deles,

com uma mente cheia de amor – esta é a prática de todos os bodhisattvas.

15. Mesmo que os outros exponham os meus erros escondidos ou digam horrores sobre mim, quando discursam em grandes conferências

pensar neles como amigos espirituais e inclinar-se

ante eles com respeito – esta é a prática de todos os bodhisattvas

16. Mesmo que os outros, de quem cuidamos como se fossem nossos filhos, se voltam contra mim e me tratam como inimigo,

olha-los com dedicação e afecto, tal como uma mãe olha o seu filho mal-humorado – esta é a prática de todos os bodhisattvas.

17. Mesmo se outros, iguais ou inferiores a mim em estatuto,

com arrogância, me desprezam, para os homenagear, tal como o faria ao meu mestre,

inclino a minha cabeça perante eles – esta é a prática de todos os bodhisattvas.

18. Mesmo sendo desamparado e ignorado por todos,

fraco devido a uma terrível doença e importunado por espíritos malignos, ainda assim tomar sobre mim todas as doenças de todos os seres e acções nefastas, sem nunca perder a bondade do meu coração – esta é a prática de todos os bodhisattvas

19. Mesmo sendo famoso e reverenciado por todos ,

e tão rico como Vaishravana, o deus da riqueza.

Ciente da futilidade de toda a glória e riquezas deste mundo,

E não ser vaidoso – esta é a prática de todos os bodhisattvas

20. A prática de todos os bodhisattvas é controlar a mente,

com as forças do amor generoso e da compaixão.

Pois a não ser que o adversário real – a minha própria ira – seja derrotada,

Os inimigos exteriores, mesmo que os conquiste, voltarão a aparecer.

21. A prática de todos os bodhisattvas é afastar-se imediatamente

das coisas que levam ao desejo e ao apego.

Pois os prazeres dos sentidos são tal e qual como a água salgada:

Quanto mais os provamos, mais a nossa sede aumenta.

22. A prática de todos os bodhisattvas é nunca alimentar conceitos,

que envolvem as noções dualistas de perceber e ser percebido,

sabendo que todas estas aparências são a própria mente,

cuja natureza intrínseca está para sempre

para além das limitações de ideias.

23.A prática de todos os bodhisattvas é não se agarrar a nada

E quando vê coisas que considera agradáveis ou desagradáveis,

Deve considerá-las como arco-íris num céu de verão –

Aparentemente bonitos, mas realmente desprovidos de qualquer substãncia.

24. A prática de todos os bodhisattvas é reconhecer a ilusão,

sejam eles confrontados com a adversidade ou infortúnio.

E como esses sofrimentos são como a morte de uma criança num sonho,

E é tão cansativo agarrar-se ás percepções ilusórias tendo-as como reais.

25. A prática de todos os bodhisattvas é ser generoso,

sem esperanças de recompensas kármicas ou expectativas de prémios.

Pois se aqueles que buscam a iluminação até dão os seus próprios corpos, será necessário mencionar simples objectos e bens exteriores?

26. A prática de todos os bodhisattvas é respeitar uma ética restritiva,

sem a mínima intenção de continuar na existência samsarica.

Sem disciplina nunca ninguém terá como certo o seu próprio bem estar,

E assim qualquer pensamento de como beneficiar os outros será absurdo.

27. A prática de todos os bodhisattvas é cultivar a paciência,

livre de qualquer traço de animosidade contra alguém,

como qualquer fonte de mal é como um tesouro principesco

para o bodhisattva que deseja ardentemente usufruir da riqueza da virtude.

28. A prática de todos os bodhisattvas é lutar com diligente entusiasmo –

a fonte de todas as qualidades – quando trabalham para o bem de todos os que vivem;

vendo que mesmo os shravakas e pratyekabuddhas, que só se esforçam para eles próprios – dedicam a ele todos os seus esforços, como se urgentemente tentassem extinguir fogos por cima das suas cabeças.

29. A prática de todos os bodhisattvas é cultivar a concentração,

que transcende superiormente as quatro absorções sem forma,

sabendo que as aflições mentais são ultrapassadas inteiramente

ao alcançar com esforço uma intuição interior, acompanhada por uma calma estável.

30. A prática de todos os bodhisattvas é cultivar a sabedoria,

para além das três esferas conceptuais, aliadas aos meios hábeis,

como não é possível atingir o nível perfeito do despertar

só através das outras cinco paramitas, sem a sabedoria.

31. A prática de todos os bodhisattvas é examinar-se

continuamente e livrar-se dos seus defeitos mal eles apareçam.

Pois a não ser que façamos o check in cuidadoso da nossa própria confusão,

Alguém parece evidenciar que prática o Dharma, mas opera contra ele.

32. A prática de todos os bodhisattvas é nunca falar desfavoravelmente

dos que caminham no grande veiculo,

pois se, sobre a influencia das emoções destrutivas,

eu falar das quedas dos outros bodhisattvas, o erro será meu

33. A prática de todos os bodhisattvas é abandonar o apego

aos patronos, à família e amigos,

pois o estudo, a reflexão e a meditação diminuem

quando à discussões e competições por honras e recompensas.

34. A prática de todos os bodhisattvas é evitar palavras duras,

que possam ser consideradas pelos outros desagradáveis

e detestáveis, porque a linguagem ordinária perturba a mente dos seres,

e arruina a conduta do bodhisattva.

35. A prática de todos os bodhisattvas é chacinar o apego

e todas as outras aflições mentais, mal elas emergem,

tomando como armas os remédios apoiados na atenção plena e na vigilância

pois uma vez que as kleshas se tornam familiares, são difíceis de evitar.

36. Resumindo, seja o que for que façamos,

examinemos sempre o estatuto da nossa mente,

sempre em estado de alerta e com atenção plena,

fazer o bem aos outros – esta é a prática de todos os bodhisattvas

37. A prática de todos os bodhisattvas é dedicar-se a atingir a iluminação

toda a virtude ganha ao esforçar-se nesses caminhos,

com sabedoria que purifica as três esferas conceptuais,

podendo assim fazer desaparecer o sofrimento dos seres infinitos

Aqui expus para aqueles que querem seguir o caminho do bodhisattva,

As 37 práticas que devem ser adaptadas pelos herdeiros legitimos dos budas,

Baseado nos ensinamentos dos sutras, tantras, e tratados,

E seguindo as instruções dos grandes mestres do passado.

Como a minha inteligência é pouca e pouco estudos fiz,

Este não é um texto que vá satisfazer os entendidos

Mas como confiei nos sutras e no que os santos ensinaram

Eu sinto que verdadeiramente estes são os treinos autênticos,

dos herdeiros legítimos dos budas

Mas, as ondas enormes da actividade dos bodhisattvas

São difíceis para a mente de uma pessoa simples como eu, de apreender,

E assim imploro a compreensão de todos os santos perfeitos

Por qualquer contradição, irrelevâncias ou outros falhas, nele contidas.

Através do mérito que ganhei, possam todos os seres,

Gerar o sublime bodhichitta, tanto relativo como absoluto,

E através disso, tornarem-se iguais ao Senhor Avalokiteshvara,

Transcendendo os extremos da existência e da imobilidade.

Este texto foi composto numa cave perto de Ngulchu Rinchen pelo monge Thokmé, um professor em escrituras sagradas e dialéctica, para o seu bem e dos outros.

| Dedicatória:

“Just as the Buddhas and the Bodhisattvas have followed the Bodhisattvas’ way of life and benefit sentient beings, may I also follow in their footsteps.”

"Tal como os Budas e os Bodhisattvas seguiram o estilo de vida dos Bodhisattvas, beneficiando todos os seres sensíveis, possamos nós também seguir os seus passos."

Jikmé Khyentse Rimpoche

“As the Buddhas and Bodhisattvas managed to develop a good heart towards all beings, may we also have the capacity to develop.”

"Tal como os Budas e Bodhisattvas conseguiram desenvolver um bom coração para com todos os seres, possamos nós também ter a capacidade de o desenvolver."

Tulku Pema Wangyal Rimpoche

Traduzido por chodon (conceição)

[i] NGULCHU THOGMÉ ZANGPO (1295 - 1369) Mestre celebre da tradição Kadampa, discípulo do grande Buton Rimpoché. Estudou no Mosteiro do Sakya. Transbordava de amor e compaixão para com todos os seres, era humilde e paciente, e quando dava ensinamentos sobre o Bodhicitta, o sofrimento dos seres estava tão presente no seu espirito que as lágrimas lhe rolavam pelos olhos. Acompanhava-o sempre um lobo, que o seguia como um cão fiel e que era vegetariano.

[ii] Madhiamikas, www.Siddhartha's Intent.org - - Gentle Voice : April 2006, ler: How to look for a Guru and be a Student by Dzongsar Khyentse Rinpoche