quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Paixões negativas e suas consequências


Três tipos de paixões negativas e suas consequências



[31] o Buda disse ao Bodhisattva Maitreya e aos devas e humanos, “A virtude e sabedoria dos shravakas e bodhisattvas na terra de Amitayus é indescritível. A sua terra é sublime, ditosa, serena e pura. Porque não haveis de praticar o bem diligentemente, reflectir na naturalidade da Via e perceber que ela está acima de todas as discriminações, presente sem limites? Cada um de vós deve fazer um grande esforço para a alcançar. Lutai para escapar do Samsara e nascer na Terra de Suprema Felicidade. Então, as causas dos cinco planos negativos terão sido destruídas, desaparecerão naturalmente e assim podereis progredir sem entraves na vossa busca da Via. A Terra Pura é fácil de alcançar, mas muito poucos o conseguem. Não rejeita ninguém, mas atrai os seres natural e infalivelmente. Porque não abandonais os assuntos mundanos e vos esforçais por entrar na Via? Se o fizerdes, obtereis uma vida infinitamente longa e de felicidade sem limites.

“As pessoas do mundo, de fraca virtude, lutam por assuntos que não são urgentes. No meio da maldade abjecta e de aflições extremas, afadigam-se penosamente pelas suas vidas. Quer sejam nobres ou corruptos, ricos ou pobres, novos ou velhos, homens ou mulheres, todos se preocupam com as suas posses e fortuna. Nisto não existe diferença entre o rico e o pobre; ambos têm as suas ansiedades. Com desânimo e tristeza crescentes, acumulam pensamentos de angústia ou, arrastados por desejos imperiosos, correm como loucos por todas as direcções e não têm tempo para descanso ou paz.

“Se, por exemplo, possuem campos, preocupam-se com eles. Estão também ansiosos acerca dos seis tipos de animais domésticos, tais como vacas e cavalos, acerca dos seus servos e servas, de dinheiro, bens, roupa e mobília. Com problemas crescentes eles suspiram repetidamente e a sua ansiedade aumenta e aterroriza-os. Infortúnios súbitos podem cair sobre eles: todas as suas posses podem ser destruídas pelo fogo, levadas por inundações, roubadas por ladrões ou tomadas por adversários ou credores. Então, uma dor lancinante aflige-os e perturba incessantemente os seus corações. A raiva apodera-se da sua mente, mantém-nos em constante agitação e apertando a suas garras, endurece os seus corações e nunca os abandona.

“Quando as suas vidas acabam em tais condições agonizantes, têm de deixar tudo e todos para trás. Mesmo nobres e homens de fortuna têm estas preocupações. Com muita ansiedade e medo suportam estas tribulações. irrompendo em suores frios ou febres sofrem uma dor ininterrupta.

“Os pobres e desfavorecidos estão constantemente desamparados. Se, por exemplo, não têm terras, são infelizes e desejam-nas. Se não têm nenhum dos seis tipos de animais domésticos, tais como vacas e cavalos, ou se não têm servos ou servas, dinheiro, fortuna, roupas, comida ou outros bens, são infelizes e querem também tudo isso. Se possuem algumas destas coisas, outras podem faltar. Se têm isto, não têm aquilo e assim desejam possuir tudo. Mas, mesmo que por qualquer acaso venham a possuir tudo isso, será brevemente destruído ou perdido. Então, deprimidos e desgostosos, lutam para obterem de novo essas coisas, o que pode não ser possível. Cismar nisto nada resolve. Exaustos física e mentalmente, tornam-se inquietos em todos as suas acções e a ansiedade persegue-os. Irrompendo em febres e suores frios, sofrem dor ininterrupta. Essas condições podem resultar na perda súbita das suas vidas ou numa morte prematura. Como não praticaram qualquer bem em particular, não seguiram a Via nem agiram virtuosamente, quando morrem, partem sozinhos para um mundo inferior. Ainda que estejam destinados a diferentes estados de existência, nenhum deles entende a lei do karma que para aí os envia.

"As pessoas do mundo, pais e filhos, irmãos e irmãs e outros membros da família e parentes, devem respeitar-se e amar-se mutuamente, abstendo-se de ódio e inveja. Devem partilhar coisas com os outros e não serem avarentos ou miseráveis, falar sempre palavras amigáveis com um sorriso agradável, e não se magoarem uns aos outros.

"Se alguém discorda dos outros e fica irado, por mais pequena que seja a má vontade e a inimizade nesta vida, um tal conflito pode não resultar imediatamente em destruição mútua. Mas a animosidade persistente e a fúria ficam impressas na mente, e deixam assim marcas indeléveis na consciência, de modo que os envolvidos nessas situações vão nascer ao mesmo tempo para se vingarem uns dos outros.

"Além disso, no meio dos desejos e apegos mundanos, cada um chega e parte sozinho, nasce e morre sozinho. Após a morte, prossegue para um estado de existência agradável ou desagradável. Cada um recebe as suas consequências kármicas e ninguém pode tomar o seu lugar. De acordo com os seus diferentes actos bons e maus, as pessoas estão destinadas a planos de felicidade ou de sofrimento. Inalteravelmente ligados ao próprio karma, partem sozinhos para esses reinos. Após chegarem ao outro mundo, não podem ver-se uns aos outros. A lei do bem e do mal persegue-os naturalmente e onde quer que possam renascer estão sempre separados pela escuridão e pela distância. Uma vez que os caminhos dos seus karmas são diferentes, é impossível prever quando chegará o momento do seu reencontro e assim é difícil encontrarem-se de novo. Poderão alguma vez voltar a ver-se?

"Porque não abandonam todos os esforços e os enredos mundanos enquanto são fortes e saudáveis, para seguirem o bem e procurarem diligentemente a libertação do Samsara? Se o fizerem, serão capazes de obter vida infinita. Porque não seguem a Via? O que existe neste mundo que possa ser desejado? Que prazer existe que valha a pena procurar?

"Assim as pessoas do mundo não acreditam em seguirem o bem e receberem a recompensa ou em praticarem a Via e alcançarem a Iluminação; tão pouco acreditam na transmigração e na retribuição pelas más acções ou na recompensa pelas boas, e rejeitam totalmente esta noção.

"Além disso, procedendo assim, apegam-se às suas próprias opiniões ainda mais tenazmente. As gerações seguintes aprendem com as anteriores a agir da mesma forma. Os pais, perpetuando as suas noções erróneas, passam-nas aos filhos. Uma vez que os pais e avós desde o princípio não praticaram acções boas, ignoraram a Via, cometeram acções insensatas e foram obscurecidos, insensíveis e duros, os seus descendentes são agora incapazes de perceber a verdade do nascimento-e-morte e a lei do karma. Não têm ninguém que lhes fale acerca disto. Ninguém procura conhecer a causa da sorte ou do infortúnio, da alegria e da miséria, ainda que estes estados resultem desses actos.

"A realidade do nascimento-e-morte é tal que a dor da separação é sentida por todas as gerações. Um pai chora a morte dos seus filhos, os filhos choram a morte dos seus pais. Irmãos, irmãs, maridos e esposas lamentam a morte uns dos outros. De acordo com a lei básica da impermanência, se a morte ocorrerá segundo a ordem de idades ou de forma inversa é imprevisível. Tudo tem de passar. Nada permanece para sempre. Poucos acreditam nisto, mesmo que alguns mestres os exortem. E assim o curso do nascimento-e-morte continua sempre.

"Porque são estúpidas e insensíveis, tais pessoas não aceitam os ensinamentos do Buda; falta-lhes precaução e pensam apenas em satisfazer os seus desejos. São iludidos devido aos seus apegos apaixonados, inconscientes da Via, mal orientados e presas da raiva e da inimizade, decididos a acumularem riqueza e a gratificarem os seus desejos carnais como lobos. E assim, incapazes de seguirem a Via, estão de novo sujeitos a sofrer nos reinos inferiores num ciclo interminável de nascimento-e-morte. Quão miserável e triste isto é!

"Na mesma família, quando um dos pais, filhos, irmãos, irmãs, marido ou mulher morre, os que ficam lamentam a sua perda e o seu apego ao falecido persiste. Profunda tristeza invade os seus corações e, tomados pela dor, pensam desgostosos nos que partiram. Os dias e os anos passam mas a sua angústia continua. Mesmo se alguém lhes ensina a Via, as suas mentes não despertam. Cismando nas queridas memórias dos falecidos, não se livram do apego. Ignorantes, inertes e presas da ilusão, são incapazes de pensar profundamente, de manter a compostura, de praticar a Via com diligência e de se dissociarem dos assuntos mundanos. Conforme erram aqui e ali, chegam ao seu fim e morrem antes de entrarem na Via. Então, que pode ser feito por eles?

"Porque são espiritualmente impuras, profundamente perturbadas e confusas, as pessoas entregam-se às suas paixões. Uma vez mais, muitos são ignorantes da Via e poucos se apercebem disso. Todos se ocupam sem descanso, sem nada em que se possam apoiar. Quer sejam morais ou corruptos, de alta ou baixa condição, ricos ou pobres, nobres ou plebeus, todos estão preocupados com os seus afazeres. Mantêm pensamentos venenosos, criando uma atmosfera de malevolência extensa e carregada. Planeiam actividades subversivas, contrárias à lei universal e aos desejos das pessoas.

"A injustiça e o vício seguem-se inevitavelmente e prosseguem o seu curso sem restrição ou vigilância até o mau karma se acumular até ao limite. Sem estarem à espera do fim das suas vidas, encontram a morte súbita e caem nos reinos inferiores, onde sofrerão tormentos dilacerantes durante muitas vidas. Não conseguirão escapar durante muitos milhares de kotis de kalpas. Que dor indescritível! Como isto é lamentável!"

fonte: http://budadharma.paginas.sapo.pt/amitaba_II.htm